Neste empolgantes mas anárquicos momentos pré-filme dO Hobbit, quando surgem todo tipo de histórias e teorias bizarras, sugestões estranhas e coisas como “preferia ver O Silmarillion aO Hobbit” é sempre bom sentar e pesquisar um pouco em que pé as coisas estão e até que ponto podemos ter esperanças com relação a novos filmes, além dos já anunciados O Hobbit e uma prequência não-nomeada que ligaria O Hobbit a O Senhor dos Anéis.
No final das contas tudo depende de quem tem os direitos dos filmes. Nosso caro J. R. R. Tolkien vendeu ainda em vida para a United Artists em 1968 dos direitos a certos elementos tanto de O Hobbit como de O Senhor dos Anéis, como filmagem e montagem teatral. Esses direitos foram repassados a Saul Zaentz em 1976 que criou a Tolkien Enterprises, uma divisão da Saul Zaentz Company, para controlar tais direitos. É importante ressaltar que a Tolkien Enterprises não tem absolutamente nada a ver com Christopher Tolkien, demais herdeiros de Tolkien ou a Tolkien Estate (falarei desta adiante).
Foi a Tolkien Enterprises quem licenciou para a New Line Cinema o direito dos filmes tanto dO Senhor dos Anéis quanto dO Hobbit. No momento estamos presenciando uma certa avidez por parte da New Line por criar os dois filmes anunciados e a razão disto é que os direitos estão vencendo no próximo ano e voltando para a Tolkien Enterprises, que poderá ela mesma realizar os filmes ou licenciar novamente para quem ela desejar. Isso não quer dizer que a New Line tenha que finalizar o filme até o próximo ano, mas iniciar o projeto. Ou seja, nada impede que tenhamos um O Hobbit em 2008 realizado pela New Line sem o diretor Peter Jackson, o qual está envolvido em disputas jurídicas com a New Line que o estão excluindo do projeto, e um O Hobbit 2009 ou 2010 realizado pela Tolkien Enterprises com Peter Jackson.
Aliás, Saul Zaentz já deixou bem claro que uma vez os direitos retornando Peter Jackosn e nenhum outro é quem seria o direitor da Tolkien Enterprises. Mas como o mundo é pequeno demais para dois O Hobbit logicamente ocorrerá algum tipo de acordo daquele “toma lá-dá cá” com a Tolkien Enterprise forçando a New Line a aceitar Peter Jackson para consentir no alargamento dos prazos de dieito. Com relação a este assunto só reste ressaltar que nem Christopher Tolkien nem a Tolkien State têm qualquer poder de influência sobre a Tolkien Enterprise e sobre os filmes, ou seja, pode sair qualquer coisa que ao Christopher só resta espernear e mais nada.
Mas já passou a hora de esclarecer o que é a tal Tolkien Estate e que raios ela faz. Tolkien State é a empresa que legalmente gerencia os direitos autorais das obras de J. R. R. Tolkien com exceção dos direitos de filmagem e marketing dO Hobbit e dO Senhor dos Anéis, já citados acima. Ou seja, todo o resto. Tudinho até o último manuscrito. Os executores da Tolkien Estate – os chefes – são Christopher Tolkien (nascido em 1924), a esposa deste Bailie Tolkien (nascida em 1941) e o sobrinho de Christopher, Michael Tolkien (nascido em 1943). As datas de nascimento são importantes, explico além. O filho de Christopher Tolkien com a primeira esposa, Simon Tolkien, aparentemente foi excluído desse círculo ao apoiar publicamente Peter Jackson e seus filmes, embora isso seja veementemente negado tanto pelo pai como pelo filho… embora não se falem mais há anos.
Agora entra a informação importante referente a possíveis outros filmes, baseados em materiais como O Silmarillion ou mesmo trechos do Contos Inacabados e The History of Middle-earth. Os direitos destas obras todas estão com a Tolkien Estate, controlada com mão de ferro por Christopher Tolkien, e isso significa “nada de filmes, não obrigado”. Christopher Tolkien não acha que as obras sejam adaptáveis ao cinema e duvido que vá mudar de idéia tão cedo, nem as duas outras pessoas que compõe a “chefia”. Eu arriscaria ser um tanto quanto nefasto e afirmar que só sobre o cadáver dos três os direitos de filmagens poderiam ser vendidos, talvez por uma nova geração, mas apesar de Christopher já ser avançado em idade sua esposa e sobrinho não o são: têm umas boas décadas de vida ainda.
Uma esperança seria que as obras de Tolkien caíssem em domínio público, situação na qual não haveria mais necessidade alguma de autorizações ou direitos, mas o cenário não deixa muitas esperanças. No Reino Unido as obras entrarão em domínio público – inclusive aquelas publicadas postumamente – apenas 70 anos após a morte do autor, ou seja, 2043. Eu serei um respeitável senhor de 55 anos até lá e poderei ir ao cinema com meus netos ver a história de Túrin numa avançada projeção quadridimensional com 250 canais de som e imersão completa tempo-espaço.
Nos Estados Unidos a coisa é mais complicada e menos homogênea mas O Hobbit não entra em domínio público antes de 2034, O Senhor dos Anéis antes de 2049 e os textos póstumos antes de 2047.É, tudo isso pra chegar à triste conclusão de que, a menos que a Tolkien Estate mude radicalmente sua visão, não teremos quaisquer outros filmes além daqueles baseados em O Hobbit e O Senhor dos Anéis pelo menos até 2043. Espero que esse pequeno texto tenha auxiliado a desfazer alguns nós e esclarecer detalhes com relação a licenciamentos e filmes, embora a conclusão do mesmo não seja a que nós, fãs de Tolkien, gostaríamos.