A entrevista é de Marco Schmidt
22 de Maio de 2010 – Nos reunimos com Sir Ian McKellen no Festival de Cinema de San Sabastían. Calmo e articulado, ele respondeu nossas perguntas – com a voz sonora de um shakespeariano, gesticulador e com o piscar de olhos malicioso de sua interpretação de Gandalf.
Marco Schmidt – Alec Guinness, um artista tão versátil quanto o senhor, queixou-se amargamente que as pessoas na rua aproximavam-se dele apenas por seu papel como Obi-Wan Kenobi em “Star Wars”. O senhor também reage assim quando muitas pessoas o reconhecem apenas por seu personagem Gandalf da Trilogia?
Ian McKellen – Eu sou um grande fã de Gandalf. Para mim, este gentil, amigável, brando e corajoso personagem é um modelo verdadeiro. Não tenho nada contra ele e nem por estar associado a tal personagem de um filme tão maravilhoso. Eu me irrito assim, apenas, quando me confundem com Michael Gambon, o ator que interpreta Dumbledore em “Harry Potter”. Então eu digo: “Não, eu interpreto o original de J. R. R. Tolkien, e não a cópia barata de J. K. Rowling!”
Se o senhor pudesse se encontrar com o senhor Tolkien: O que perguntaria a ele?
Eu gostaria de saber dele o que tem de especial nessa erva que os Hobbits fumam – e onde conseguir tal material.
O senhor atuará novamente como Gandalf na prevista versão cinematográfica de “O Hobbit”?
Sim. Peter Jackson atribuiu a direção a Guillermo De Toro, e seria perfeitamente compreensível se Guillermo quisesse mudar o elenco, para poder realizar suas próprias visões. Mas ele já me garantiu que estarei lá novamente. Ele e Peter Jackson são surpreendentemente semelhantes.
De que maneira?
Em todos os aspectos, não só externamente. Ambos têm uma imaginação extravagante, riem muito e não gostam de estar em Hollywood. Ambos são absolutamente obsessivos colecionadores. A casa de Guillermo é um museu dos grandes filmes de terror – ele, literalmente, vive com inúmeros monstros. E Peter, em sua casa, tem uma adega. De repente, se encostar na parede, ela vira e é assim: você está em um labirinto subterrâneo com esqueletos e ratos artificiais e música horripilante e, finalmente, chegamos à uma porta redonda, através da qual entramos em Bolsão. Imagine: a toca de Frodo Bolseiro, totalmente mobiliada, em tamanho real! Debaixo da terra! Inacreditável. Eu poderia passar uma noite lá.
Foi-lhe dado permissão para ficar com alguns dos adereços usados em O Senhor dos Anéis?
Sim, eles gentilmente me confiaram a espada de Gandalf [Glamdring]. No último dia de filmagem, secretamente, deixei ir com Gandalf alguns talheres. E eu também levei a chave de Bolsão. Ou seja, Peter Jackson, apesar de ter construído a toca hobbit em sua adega, não pode fechá-la! Confesso que mal posso esperar para que O Hobbit seja filmado. Acho que é por isso que gosto de estar com a agenda livre.
Não há planos concretos para o teatro e cinema?
Não. Há um grupo de dramaturgos britânicos contemporâneos, que eu aprecio muito, e tenho tentado explicar-lhes há anos que gostaria de atuar num projeto com eles. Infelizmente, meus esforços, em tudo, não têm sido bem sucedidos. Quando eu sugeri a Alan Bennet para escrever um papel para um agradável septuagenário, ele respondeu: “Obrigado, esta é uma ótima sugestão!” Poucos meses depois, eu leio no jornal: “Michael Gambon (69) desempenha o papel principal na estréia de nova peça de Alan Bennet”. Eu pensei: “Porra, tem coisa errada aí!”
Fonte: Frankfurter Allgemeine Zeitung
PS: Notem Michael Gambon (Dumbledore) sendo citado de novo (risos).