Enquanto O Hobbit: Uma Jornada Inesperada de Peter Jackson não é lançado, uma adaptação pouco conhecida de O Hobbit, realizada em 1966, foi colocada online na semana passada. Com duração de aproximadamente 12 minutos, esta versão, desenhada e roteirizada por Gene Deitch e Adolf Born, está anos-luz do romance de J.R.R. Tolkien e do estilo de Peter Jackson, porém vale a menção aqui a título de registro.
Para alguns, esta adaptação poderia ser descrita, à primeira vista, como kitsch ou ultrapassada, mas assume outra dimensão quando você conhece a história da sua construção.
Contatado em 1964 pelo produtor William L. Snyder, que tinha adquirido os direitos para adaptar O Hobbit por um período determinado em contrato, o animador e diretor norte-americano Gene Deitch (que já trabalhou em Tom & Jerry) começou a escrever um script para um longa-metragem. Residente em Praga, então Tchecoslováquia, Deitch não sabia que Tolkien tinha escrito também uma trilogia chamada O Senhor dos Anéis e para o roteiro de O Hobbit ele tomou grandes liberdades com o romance original.
Quando finalmente percebeu a existência do O Senhor dos Anéis, Gene Deitch tentou revisar o roteiro cheio de “surpresas”. Entre elas, uma princesa no meio da estória para acompanhar Bilbo e, talvez, livrá-lo da solteirice. Além disso, novas canções foram introduzidas e até a mudança do nome de algumas personagens ocorreu. Porém, a produção parou e Snyder ficou meses sem entrar em contato. Em maio de 1966, William L. Snyder, sem mais nem menos, disse que Deitch tinha um mês para terminar uma animação colorida de O Hobbit, porque os direitos expirariam em 30 de junho.
Com apenas 30 dias para desenhar e montar um filme pequeno, gravar vozes e projetar para poucos espectadores (uma exigência contratual) em uma sala em Manhattan, Nova York, Gene Deitch, infelizmente, teve que se virar com uma versão animada de 12 minutos, concebida em colaboração com o ilustrador tcheco Adolf Born. Snyder precisava terminar e entregar um filme (fosse como fosse) até 30 de junho de 66 ou perderia os direitos de O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Tudo acabou não passando de uma grande jogada e os direitos de SdA de Snyder, que nunca foi filmado por ele, foram vendidos logo depois por US$ 100,000, uma grana alta para a época. E o lucro de Deitch? Pífio!
Quando Gene Deitch já acreditava que o filme estava perdido para sempre, ele voltou para as suas mãos por meio do filho de Snyder, Adam. Deitch diz que, apesar de tudo, não têm ressentimentos contra o antigo patrão, que morreu sem fazer seus milhões, e que mantém hoje uma frutífera amizade com a sua família.
Isso é só um resumo, para conhecer a história em maiores detalhes, acesse o blog (em inglês) do próprio Deitch. Veja agora o filme:
Depois do famoso The Hobbit de 1977, de Arthur Rankin Jr. e Jules Bass, do O Hobbit russo de 1985 e do Hobitit finlandês de 1993, temos aí mais uma adaptação da obra de Tolkien retirada do fundo do baú.