Então vou trazer a pergunta que deveria estar no final de um review normal aqui para o começo: as expectativas foram atendidas?
E a minha resposta é: em grande parte sim. Naturalmente tenho minhas ressalvas, e vou fazê-las abaixo, pontuando algumas partes do filme. Se você ainda não o assistiu, não leia (i.e., spoilers ahead!).
A introdução é de tirar o fôlego. Talvez a melhor parte do filme, com cenários muito bem construídos, uma Erebor magnífica e a ótima sacada de não mostrar Smaug: apenas partes do lagartão aparecem, deixando todo mundo com altas expectativas, que deverão aguentar até os próximos filmes. Primeiro ponto pra você, PJ!
A transição do Bilbo velho contando a história para o Bilbo novo à porta de casa é bem bacana, e o diálogo com Gandalf ficou excelente. A discussão sobre o significado do “bom dia” arrancou boas risadas do público.
A reunião dos Anões em Bolsão também é muito bem retratada, e é possível sentir a perturbação de um Bilbo que nunca recebeu tais companhias para um jantar daqueles em seu lar. E as canções? Ótimas! Misty Mountains foi de arrepiar. PJ scores again.
Pulando para a parte em que Balin conta a história de Thorin: essa foi a primeira grande mudança que não me agradou muito. Azog maneta que fica vivo? Para quem não lembra das obras, Azog foi morto na Batalha de Azanulbizar por Dáin. Quem deveria aparecer mais tarde na história seria seu filho, Bolg. Mas essa escolha por um segundo antagonista para os filmes bagunçou um pouco a história. Por um lado, eu entendo o PJ: sustentar um filme de quase 3 horas sem um antagonista presente seria dureza. Para não cair no marasmo, a escolha foi dar ao filme várias cenas de ação, e nesse aspecto Azog tem um papel importante. Ok, vilão justificado. Mas ainda assim não curti muito. Talvez eu ainda mude de opinião com os demais filmes. Veremos. Aqui você não pontuou comigo, PJ.
Chegamos aos trolls e numa parte que eu julgava delicada: como retratá-los de modo a não parecerem tão bobos a ponto de descaracterizar os trolls que vimos na trilogia do Anel, mas ao mesmo tempo mantendo aquele elemento mais “infantil”? Seria preciso uma boa dose de sutileza. E acho que no fim das contas o PJ conseguiu dosar bem a mão. Outro ponto pro baixinho na direção.
Quanto ao Radagast: a caracterização visual dele me agradou, mas não o personagem em si. Ele passou mais um ar de lunático do que de um mago preocupado com a natureza. E aquele trenó puxado por coelhos foi um tanto quanto, hm, forçado. O Radagast que tem minha simpatia nos livros não a conseguiu na tela. Pô, PJ!
Vamos à Valfenda. A última casa amiga continua deslumbrante aos olhos. Temos uma pequena dose da antipatia entre elfos e anões, mas que logo se resolve com comida. E temos também o encontro de Gandalf com os demais membros do Conselho Branco: Elrond, Galadriel e Saruman. Em relação à trilogia do Anel Elrond pareceu-me exatamente igual, Galadriel teve um up no visual e Saruman causou-me uma estranheza inicial, possivelmente graças a uma barba um pouco mais escura. Nada que prejudicasse a sensação de ver quatro fodões da Terra-média juntos num debate.
Próxima parada: montanhas. Começando com uma cena que realmente não gostei: os gigantes. Talvez não seja nem pelo fato de que PJ resolveu interpretar literalmente aquilo que tinha sentido figurado (e eu não vou me aprofundar sobre esse ponto aqui), mas pela dimensão que ele deu à coisa. Gigantes do tamanho de montanhas envolvidos em um conflito que desde o começo parece completamente sem sentido e que torna a sobrevivência dos anões algo extremamente improvável. Sinceramente, pura encheção de linguiça pra ver se ganha mais uns pontinhos pra levar a estatueta de efeitos visuais.
Dentro da montanha, um misto de coisas boas e ruins. Por um lado, a representação da cidade dos orcs é muito boa, e eu gostei do Grão-orc-da-papada-grotesca – o feioso ficou muito parecido com a imagem mental que eu tinha do livro. Por outro, a fuga dos anões é recheada de momentos inverossímeis. Não dá pra engolir aquelas quedas abismais que não causam sequer um arranhão na companhia. Não é por se tratar de uma obra de ficção fantástica que você pode sair por aí extrapolando sem critérios o limite do que é real. Mesmo em uma obra de tom mais infantil como é O Hobbit, Tolkien tem um cuidado todo especial com esse tipo de coisa. Mas nosso amigo PJ, nesse ponto, perdeu a mão.
Ainda na montanha, também não me agradou a maneira como Bilbo encontra o Anel. Custava deixar igual à descrição dada no livro, que por sinal é igual àquela que vemos em A Sociedade do Anel? Não teria alterado em nada a compreensão dos leigos, e funcionaria como mais um elo entre os dois filmes (além da introdução). PJ vacilão!
Mas ao menos essa falha é compensada na sequência com um dos pontos altos do filme: as adivinhas no escuro entre Bilbo e Gollum. Gollum está ótimo, e ele fazendo lanchinho de orc foi uma sacada muito boa para dar ao contexto do personagem um tom mais sinistro. A dupla se sai muito bem na parte das adivinhas em si, e a parte final, quando Bilbo poupa a vida de Gollum, é o ápice. Claro que na hora todo lembrou da frase de Gandalf, mas o mais tocante é o close na cara do Gollum – quem não ficou com pena ao ver aquele olhar?
Por fim, a companhia sai da frigideira para o fogo, perseguidos por Azog e sua tropa de orcs e wargs, e temos mais uma cena saída da cabeça do PJ, mas que não ficou ruim. Não, eu não concordei com o Azog no filme como já disse, mas já que o orc albino é o principal antagonista desta primeira parte, então foi uma boa dar-lhe mais vulto usando-o nesse final – se PJ não o fizesse teria falhado em falhar. Thorin leva uma surra do orc (ou seria do warg?) e quanto tá todo ferrado, surgem as águias. É um momento de êxtase ver as aves gigantes chegando pra acabar com a farra dos orcs e salvar a companhia. E nem preciso dizer que elas ficaram belíssimas, né?
No fim das contas, o filme me agradou bastante (eu não senti as quase 3 horas passarem!), apesar de algumas falhas que me causaram desconforto. E ainda tem um ponto que não mencionei, mas merece destaque: a trilha sonora. Howard Shore fez mais um trabalho impecável, conseguindo recuperar a magia sonora que já nos deliciou na trilogia anterior, mas ao mesmo tempo imprimindo uma característica própria para essa nova. Toda vez que surgia o leitmotif da companhia eu me arrepiava!
Agora é esperar mais um ano para ver o que mais nos aguarda. Quem aí não está louco para ver Smaug, Beorn, a Cidade do Lago?
Minha nota: 8/10