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Entrevista com Lee Pace, o Rei-Élfico Thranduil

O ator estadunidense Lee Pace, que interpreta o Rei-Élfico Thranduil em O Hobbit: A Desolação de Smaug, concedeu uma entrevista à revista francesa Effets-Speciaux.info onde falou sobre as bases para o desenvolvimento do seu personagem e as motivações e atitudes de Thranduil. Apesar de concedida antes da estreia do filme, a entrevista ajuda a compreender um pouco mais o personagem dentro do contexto da adaptação. Acompanhe!

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Os amantes da fantasia devem se lembrar do seu maravilhoso desempenho no filme de Tarsem [Singh], The Fall [Dublê de Anjo, no Brasil], e na série cult Pushing Daisies… Eles gostam mais quando você atua em fantasia, como fez novamente em O Hobbit?

Eu não sei se você sabe, mas Tarsem fez a pós-produção em seu país, em Paris … Com relação à fantasia, eu sempre amei esse gênero. Já se passaram três anos desde que participei das filmagens e pós-produção de O Hobbit, e devo dizer que foi uma experiência única, verdadeiramente extraordinária. Peter Jackson é um dos mais amáveis diretores que eu já conheci. Ele pode te inspirar e fazer você se destacar. Este é um artista ousado e extremamente talentoso, sempre progredindo e disposto a correr riscos. E ele sabe como deve contar uma história com sucesso para cativar pessoas de todas as idades e de todas as culturas ao redor do mundo. Acho que nem sempre percebem que realizador extraordinário ele é… Quanto a mim, foi um enorme prazer encarnar Thranduil, pois é um ser que tem muitas facetas, e de alta inteligência. Este é um elfo com uma personalidade muito complexa… Tem uma natureza sombria, triste… e é muito, muito, muito velho! (Risos) Eu aprendi muito interpretando Thranduil, que é também o primeiro personagem elfo escrito por Tolkien. [?]

Peter Jackson disse que seu desempenho em The Fall ficou gravado em sua memória. Ele ainda disse que com este filme, você acabou sendo sua primeira e única escolha para encarnar Thranduil… Isso quer dizer que você não teve que fazer um teste para o papel? 

Não, não. Embora isto seja algo extremamente lisonjeiro e muito agradável que Peter disse, eu ainda tive a audição em Nova York. Lemos algumas cenas e falei sobre o personagem, especialmente com [a roteirista] Philippa Boyens, que sabe tudo da obra de Tolkien. Expliquei-lhe quais eram os detalhes específicos que eu sabia sobre esse personagem. Mas o que eu fiz durante este tempo foi pedir uma visão geral de Thranduil e seus motivos. E o que Philippa poderia me descrever. Sabemos que no romance original, ele nunca deixa o seu reino da Terra-média para ir para o Oeste, para a terra dos elfos em Valinor. Ele prefere ficar onde está e continuar a desfrutar de sua imortalidade em seu palácio enorme – uma fortaleza.

Você pode falar sobre as motivações de Thranduil e seus objetivos para com o seu povo e para si mesmo? 

Devo dizer que ao trabalhar esse papel, eu acabei concordando com as opiniões do Thranduil, por várias razões. Se você se lembra do prólogo do primeiro filme, há uma cena em que você pode me ver com o avô de Thorin, e onde nós trocamos um olhar, quando Smaug ataca Erebor, e os anões precisam da ajuda dos elfos para defenderem-se contra este enorme dragão. No entanto, Thranduil segue o seu caminho com seus soldados, sem intervir. Para mim, o que significa aquele olhar é “você anão, você brincou com fogo. Você acumulou um enorme tesouro, uma riqueza fenomenal, e tanta ganância te trouxe problemas. E agora o que acontece com você é problema seu, não nosso. Você atraiu o dragão e você será queimado. Eu vi muitos séculos e sei que não posso fazer absolutamente nada para tirá-lo de lá… Eu avisei que isso ia acontecer. Mas você não me ouviu, porque você pensou que era mais esperto do que eu”. Nessa cena e em outras, nós compreendemos como os elfos são totalmente diferentes dos outros povos da Terra-média. Por sua imortalidade são as sentinelas da história, arquivistas do passado. Eles zombam de pequenos caprichos da vida, pessoas que acumulam fortunas e as perdem por sua ganância, aqueles que se queixam daquilo que eles têm ou deixam de ter… O que lhes interessa são conceitos atemporais. Elfos são forças da natureza, como árvores muito antigas que viram o passar de tantas vidas, tantas guerras, e ainda estão lá. Eles têm a serenidade de um leão que domina todos os animais da savana. Thranduil é assim, sempre deixando certa distância entre ele e as outras pessoas. Esta é a razão pela qual ele não interveio quando Smaug atacou Erebor. E, claro, quando ele vê estes treze anões chegarem à sua terra, porque eles têm a intenção de acordar e enfrentar este dragão temível, ele não pode deixá-los fazer: deve definitivamente detê-los! Não faz sentido dizer-lhes: “Agora já chega! Você já fez coisas estúpidas o suficiente!”

Será que ele quer proteger seu povo dos danos que o despertar do dragão poderia causar? 

Sim, eu acho que essa é uma das razões. Embora os elfos sejam imortais, eles podem morrer se forem gravemente feridos. Suas vidas longas são extremamente valiosas, e Thranduil não imagina colocando-os em risco por qualquer coisa. De qualquer modo, certamente não para dar a um futuro rei o que ele quer… Isso é o que eu acho interessante sobre esse personagem. Sua sabedoria determina um comportamento muito lógico. E, no entanto, Thranduil é um guerreiro cuja coragem, força e inteligência estão situadas na Terra-média lendária. Ele sobreviveu à Batalha da Última Aliança [vista no prólogo de OSdA: A Sociedade do Anel], onde seu pai [Oropher] foi morto. Atos de guerra em sua família são numerosos e gloriosos, e que remontam ao início dos tempos. Ele é um rei elfo cuja aura e vida são lendárias. Ele entende como as coisas são e como agir de acordo com a imortalidade, e ele espera deixar um legado imaculado para os seus sucessores. Ele conhece a sua própria força, e também sabe em que momentos ele não deve usá-la. E eu acho que essa forma de agir ouvindo apenas a sabedoria é fascinante.

Você  pediu para [os roteiristas] Fran Walsh, Philippa Boyens e Peter [Jackson] para orientá-lo na sua interpretação do Rei-Élfico?

Um dos prazeres que tivemos em fazer este filme foi a oportunidade de falar sobre esses personagens com a equipe durante o jantar. Isto permitiu-nos saber mais sobre a visão de Tolkien, e falar de partes da vida dos protagonistas que não são abordadas em O Hobbit, mas para entender melhor esses personagens. Philippa Boyens sabe todos os detalhes destas histórias e pode responder qualquer pergunta que possa fazer. Conversar com Peter também, ajudou a saber o que ele queria dizer sobre o seu personagem, e isso ajuda você a interpretar, indo e passando sentimentos e informações interessantes. Essas trocas têm me ajudado a saber que expressões, posturas e abordagens melhor concordam com Thranduil. Sua maneira de levantar as sobrancelhas também. Assim, saber o que Peter tem em mente quando ele conta essa história.

Você foi inspirado por algum governante real, líderes e reis, quando você começou a trabalhar como Thranduil? 

Sim, eu fui. Assim como outros elfos de grandes histórias de fantasia, como Oberon em Sonho de Uma Noite de Verão [de William Shakespeare] ou o Rei Pescador, guardião do Santo Graal. Mas eu não me esqueci de que Thranduil não está agindo como um rei humano. É muito diferente de nós, como são os espíritos dos bosques descritos no folclore norueguês, que são seres travessos que não se importam em ludibriar os homens. Quando eu estava na Nova Zelândia, fui caminhar por três dias em torno de um belo lago. A única câmera que eu tinha era o meu iPhone. Na primeira noite eu tentei encontrar meu celular para tirar fotos, e eu não consegui encontrá-lo em nenhum lugar, mesmo depois de ver e procurar em todas as minhas coisas de cima a baixo, ou na mochila ou na minha barraca. Na manhã seguinte, pegando todas as minhas coisas, eu tentei de novo, sem sucesso. A mesma coisa no dia seguinte e no dia seguinte. Na terceira noite, acordei de repente, porque senti um objeto duro em minhas costas. Era o meu iPhone, que havia ficado preso nas dobras do meu saco de dormir todo esse tempo. E eu senti que os elfos tinham me pregado uma peça, porque eu estava andando em uma floresta muito antiga, com árvores antigas, com belas formas. Era como se quisessem dizer: “Nós vivemos aqui, e nós não gostamos de vê-lo chegar com sua maquinaria moderna, para tirar fotos. Então, nós vamos levá-la para longe, para que você use mais seus próprios olhos, e mantenha tudo em sua própria memória”. Esse é o tipo de maldade que Thranduil pode mostrar!

Que ideias você teve ou sugeriu para a aparência e maquiagem, figurino e acessórios de seu personagem? 

Todo esse processo ocorre de uma forma muito colaborativa. Eu, naturalmente, queria Thranduil com a aparência de um rei. Eu amei o primeiro traje que desenvolvemos, e você irá vê-lo em minha primeira cena no segundo filme. Esta é uma túnica dourada bordada com ornamentos de ouro sobre a qual é colocada uma capa volumosa, quase tão grande quanto a do retrato do rei Luís XIV, em que a capa forrada de pele ocupa muito espaço. Eu disse para Ann Maskrey, a nossa figurinista, que eu queria dar-lhe uma aparência muito impressionante. Ao vê-lo era necessário que a pessoa se sentisse imediatamente que quando ele diz alguma coisa, as pessoas ouvem e obedecem prontamente. Thranduil não tinha necessidade de discutir. Ele não busca a aprovação de ninguém. E se resistir a ela, então é um problema que é resolvido rapidamente a seu favor!

Nós vimos no filme anterior de O Hobbit [Uma Jornada Inesperada] como Thranduil se recusou a ajudar os anões quando Smaug atacou e roubou de seu palácio o vasto tesouro do seu reino… Você pode explicar como essa relação tensa entre elfos e anões evolui em A Desolação de Smaug

De fato, há uma grande disputa entre os nossos dois povos! (risos) Mas como ela se concentra em um ponto muito específico, a recusa de Thranduil quando Smaug ataca Erebor, não é como se fosse uma espécie de tensão banal entre as duas pessoas que suspeitam uma da outra. Thranduil e Thorin tem um problema para resolver, e os eventos que terão lugar no filme irão levá-los a resolvê-lo muito mais rápido do que eles pensavam.

Vimos que Thranduil é um líder muito difícil já no primeiro episódio… Que outros aspectos de sua personalidade vamos descobrir nesta sequência? Por exemplo, que tipo de relação Thranduil tem com seu filho Legolas e Tauriel, a nova elfa criada pelos roteiristas do filme? 

Como sabemos em O Senhor dos Anéis, Legolas irá juntar-se à Sociedade do Anel e vai participar na grande batalha contra as forças do mal. No entanto, Thranduil decide blindar sua fortaleza, a fim de proteger seu povo. Isto significa que existem grandes diferenças de opinião entre pai e filho. E dois opostos completos quanto a forma de gerir a sua riqueza e imortalidade. Ao receber tal presente, o que você escolhe fazer? Você protege o tesouro, ou correrá o risco de perder tudo o que você representa e o que você acha que está certo? Sobre este ponto, Thranduil e Legolas não concordaram, mas como são elfos, o amor familiar que os une é mais profundo do que dos seres humanos, porque eles tiveram mais tempo em suas vidas muito longas para entender como esse sentimento é essencial. É o mesmo para a sua compreensão da morte, o bem e o mal. Os elfos são seres sensíveis, muito intuitivos. Quando falo de sensibilidade, não é de sentimentalismo. Quero dizer que todos os seus sentidos são extraordinariamente aguçados. Thranduil pode sentir o movimento de cada ondulação das folhas ao vento, no Reino da Floresta, na Floresta das Trevas.

E sobre o seu relacionamento com Tauriel? 

Novamente, é complexo, uma vez que eles têm diferentes pontos de vista. Thranduil está intrigado com Tauriel, não por causa de uma atração romântica, mas porque ele respeita sua coragem e opiniões. Tauriel é parte do povo élfico, e Thranduil deve protegê-los. Ele sabe que Tauriel é uma guerreira excepcional, capaz de matar qualquer um. E ele gosta do que vê nas profundezas de sua alma, olhando em seus olhos.

Peter Jackson parece estar aberto a sugestões como diretor. Você já realizou as ideias que propôs a ele sobre o seu personagem?

Sim. Incluindo uma ideia que deve levar a um belo momento do segundo filme, mas eu não quero arruiná-lo revelando mais do que você já viu! Sem revelar muito, ela veio até mim pensando que Thranduil tem essa experiência, ele já teve a oportunidade de matar dragões no passado. Ele sabe como fazer isso. E ele também sabe as coisas horríveis que os dragões podem fazer com as pessoas.

 

Será que vamos ter a oportunidade de ver o lado heroico de Thranduil neste filme? Ele participa da batalha contra Smaug na Cidade do Lago?

hummm… Eu não quero falar muito. (Risos) Até agora, temos visto Thranduil abster-se de lutar, por sabedoria. Na verdade, veremos uma luta, e quando ele lutar, vai ser incrível.

Você já viu as pré-visualizações de suas cenas para ajudá-lo ensaiar antes de filmar? E incluindo a batalha da Cidade do Lago, com a destruição causada por Smaug?

Não. Começamos cedo na preparação dessas cenas de lutas, antes de nos mostrarem as sequências em pré-visualizações. Eu repeti e memorizei minhas acrobacias e lutas, e então nós filmamos logo após, juntamente com as cenas “normais”. A sessão foi organizada de maneira muito flexível para se adaptar às mudanças diárias no script, e também há o fato de que ambos os filmes originalmente planejados viraram três episódios. Tudo isso foi muito criativo, muito orgânico, e me permitiu aprender muito sobre o meu personagem durante estes três anos de colaboração com a equipe de filmagem.

Nos apêndices d’O Senhor dos Anéis, Tolkien diz que Thranduil e outros elfos ajudaram a destruir a fortaleza do mal em Dol Guldur e a limpar a Floresta das Trevas, livrando-a da vontade nociva de Sauron. Será que vamos ver estas cenas neste segundo episódio de O Hobbit?

Sem dizer muito, Thranduil sente tudo o que acontece na floresta, e a Floresta das Trevas e Dol Guldur estão muito perto do Reino da Floresta, do grande rei… Isto reflete nas terras do seu reino, como o personagem do Rei Pescador responsável por guardar o Santo Graal, e cujas feridas da guerra têm um impacto sobre a sua terra, que a enfraquecem e tornam-se inférteis… Há uma tal simbiose entre Thranduil e a floresta, ele não pode ignorar que um mal lá se espalha sorrateiramente. Uma vez em sua floresta intocada, Thranduil ficou um pouco desatento, e sofreu os efeitos provocados pelas forças das trevas. Ele é o testemunho da vinda do mal na Terra-média.

Quais foram as cenas mais difíceis de fazer por causa dos procedimentos técnicos e da preparação de cenas com efeitos visuais? 

Os tamanhos entre os diferentes tipos de personagens são sempre difíceis de fazer. Isso complica as cenas com os guerreiros anões. Os atores gostam de sentir a presença reconfortante do diretor quando atuam, porque eles sabem que se estão errados, ele pode dizer-lhes isso imediatamente. Mas quando uma produção desta magnitude é filmada, também, às vezes, você acaba na frente das telas verdes para transpor este ou aquele plano e ser integrado, com os efeitos visuais, em uma sequência maior, e então você tem que se policiar em lembrar-se das indicações no set que você já viu antes.

Quais são os seus momentos preferidos de seu personagem no filme? 

Um que vem imediatamente à minha mente é a cena em que recebo Thorin e os anões no meu palácio fortificado após a captura. Isto é muito duro, um tenso confronto entre dois reis. Há de um lado um rei que reina, e de outro um rei deposto de seu trono e da terra de seus ancestrais, que visa recuperar. Eu amei trabalhar nesta sequência com Richard Armitage [Thorin]. Acontece que esta é a primeira cena que eu fiz para O Hobbit, e eu me lembro que pensei : “Oh,  que  grande começo! “(Risos)

Quais foram os aspectos mais desafiadores do trabalho em O Hobbit

A coisa mais difícil é conseguir assimilar toda a abundante informação e as nuances desse rico universo e de passar muito tempo pensando em como interpretar seu personagem de forma mais precisa, falando sinceramente… Sabemos que esses filmes serão vistos por dezenas de milhões de pessoas ao redor do mundo, e nós queremos apresentar nosso desempenho impecavelmente, sólido, em todos os seus aspectos. Isto é o que devemos fazer para tratar o público com o respeito que merece. Não podemos simplesmente sair de um projeto como este dizendo que ninguém fez seu trabalho 120%, e não importa se você se esqueceu de lidar com alguma coisa que começou. Em todo caso, eu não trabalho assim! Eu queria saber tudo sobre Thranduil, e sendo dirigido por Peter Jackson, estava em boas mãos. O mesmo vale para Philippa Boyens e Fran Walsh. Eu estava cercado por aliados que me ajudaram a encarnar esse personagem o melhor que eu pude. Você sabe, eu acho que se O Senhor dos Anéis e o primeiro episódio de O Hobbit foram tão bem-sucedidos é porque o público viu que não eram filmes “pipoca”, como nós dizemos nos Estados Unidos. Estas são histórias fantásticas, certamente, mas com uma profundidade humana real, e que encontra ressonância em cada espectador.

Você guardou os acessórios ou próteses de seu personagem no final das filmagens?

Eu fiquei com minhas orelhas élficas protéticas, coloquei em um livro, como flores secas!

Quais são as lembranças mais incomuns que você tem sobre as filmagens de O Hobbit

Oh, provavelmente filmando cenas de batalha, porque se você soubesse quantas vezes eu caí do alce artificial que eu tinha que fingir montar, você me acharia indigno de fazer o Rei-Élfico! Tenho pavor do que será feito dessas imagens avassaladoras no disco bônus quando ele sair em DVD e Blu-ray! Balancei minha espada sobre a minha cabeça como um valente guerreiro, e eu perdi o equilíbrio e caí. E endireitando a coroa em minha cabeça… Foi de dar pena. (Risos)

Você cavalgou um alce animatrônico?

Sim, um alce animado. Mas antes, eu estava atuando em um cavalo chamado Moose, que era forrado e transformado em alce por computação gráfica. Moose ficará terrivelmente desapontado por não se ver no filme.

Fonte: Effets-Speciaux 1 e 2

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