Alguém aí se lembra do mini-hominídeo [i]Homo floresiensis[/i], ou "hobbit" para os íntimos, descoberto na ilha de Flores, na Indonésia, e apresentado ao público no ano passado? Pois uma nova análise do interior da caixa craniana do bicho revela que provavelmente ele não ficava devendo muito em esperteza ou habilidade a qualquer Gamgi ou T�k. Reproduzo abaixo a matéria do meu colega e chefe Claudio Angelo, publicada na semana passada na Folha, sobre o tema: Pequenas cabeças nem sempre são sinônimo de idéias limitadas. A reconstituição do cérebro de um hominídeo de um metro de altura que habitou a ilha indonésia de Flores há 18 mil anos revela um indivíduo de comportamento sofisticado, capaz de planejar suas ações e tomar iniciativas -e que provavelmente era canhoto. O estudo parece resolver, ainda, uma das maiores controvérsias em torno do fóssil, batizado Homo floresiensis: ele descarta a hipótese, proposta por alguns pesquisadores, de que a criatura seja só um humano moderno portador de uma doença que causa uma redução no cérebro. Até prova em contrário, trata-se mesmo de uma espécie � parte. Um grupo internacional de cientistas liderado pela antropóloga Dean Falk, da Universidade do Estado da Flórida (EUA), usou técnicas de tomografia computadorizada para recriar virtualmente o sistema nervoso do Homo floresiensis, apelidado de "hobbit". O hominídeo-anão, cujos restos foram descritos por uma equipe australo-indonésia no ano passado, vem sendo considerado uma das descobertas mais sensacionais da antropologia nas últimas décadas, devido ao seu porte diminuto e � época em que viveu -até pouco tempo antes da invenção da agricultura. Os cientistas descobriram que, apesar de ter o tamanho de um chimpanzé (417 centímetros cúbicos, contra 1.500 centímetros cúbicos de um humano moderno), o cérebro do hominídeo de Flores tinha uma série de características que o aproximavam do Homo sapiens e do Homo erectus, espécie considerada o parente mais próximo do tampinha. Rugas Entre esses traços está um grau alto de enrugamento do córtex (área do cérebro relacionada � inteligência), que em humanos modernos significa mais área disponível para processar informações. Também foi localizada uma estrutura cerebral relacionada ao planejamento de ações futuras. O estudo do grupo de Falk, publicado ontem on-line na revista científica "Science" ([url]www.sciencexpress.org[/url]), ajuda a solucionar vários mistérios sobre o hominídeo de Flores. O primeiro diz respeito � aparente contradição entre o comportamento do "hobbit" -que fazia instrumentos de pedra e caçava elefantes-pigmeus- e o tamanho de sua cabeça. Na evolução humana, geralmente tamanho de cérebro é documento: os hominídeos foram ficando mais inteligentes � medida que esse órgão crescia. O anão de Flores, portanto, parecia contradizer o registro fóssil. "Eu achava que nós fôssemos encontrar um cérebro de chimpanzé", disse Falk ontem a jornalistas. "Eu estava errada." Apesar de o cérebro não se conservar num fóssil, ele deixa marcas nas paredes do crânio durante a vida. Foi olhando essas marcas que a pesquisadora americana conseguiu reconstituir em computador a forma do sistema nervoso central do "hobbit". Em seguida, ela comparou o molde virtual a modelos semelhantes de chimpanzés, australipitecos, humanos modernos saudáveis, pigmeus e portadores de microcefalia -doença que causa redução no tamanho do cérebro. Medições mostraram que o H. floresiensis tinha uma estrutura cerebral de hominídeo saudável. Falk afirma até mesmo ter detectado uma variação de tamanho numa parte do cérebro que no Homo sapiens está associada a indivíduos canhotos. "Eu juraria que esse indivíduo era canhoto? Não. Mas, se tivesse de apostar, diria que sim", afirmou a antropóloga � Folha, por telefone. O estudo parece encerrar a controvérsia sobre se ele é um mini-hominídeo ou apenas um humano moderno com microcefalia. "As formas do cérebro do H. floresiensis e de microcéfalos verdadeiros são totalmente diferentes. Mas há quem diga que esse pode ser um caso especial de microcefalia. O ônus da prova cabe a essas pessoas", afirmou Falk. Ela sugere, ainda, uma hipótese alternativa para a evolução do homem de Flores. Em vez de ser uma versão encolhida do Homo erectus, como geralmente se acredita, o "hobbit" pode ser uma espécie-irmã daquele, compartilhando um mesmo ancestral. "Ele pode ser descendente de um hominídeo pequeno que encontrou em Flores um refúgio."
"Hobbits" da Indonésia tinham cérebro avançado
Alguém aí se lembra do mini-hominídeo [i]Homo floresiensis[/i], ou "hobbit" para os íntimos, descoberto na ilha de Flores,