Eu acho quem propôs a cena deve ter lido Tolkien. Na história de Turin Turambar em O Silmarillion, após Galurung ter destruído Nargothrond e remeteu Turin para o norte, para Dor-lomin em uma expedição sem esperanças, Morwen e Nienor deixaram a segurança de Doriath. Foram alcançadas por Mablung e uma companhia de Elfos cavaleiros que foram, apesar de tudo, persuadidos a acompanhar as mulheres até Nargothrond.
Lá pelo rio Narog Galurung criou uma névoa e dispersou a companhia de Mablung. Morwen é levada para longe por seu cavalao enlouquecido e os Elfos nunca mais tiveram notícias dela. Mas Nienor recupera seu bom senso e retorna até o Amon Ethir, a Colina dos Espiões, que fica diretamente a leste de Nargothrond [atravessando o rio]. “E olhando para o oeste,” é dito na história, “ela olhou diretamente nos olhos de Glaurung, cuja cabeça descansava no topo da colina.”
Era realmente um grande dragão.
Eu acho que muitos fãs poderiam dizer que dragões e Tolkien andavam lado a lado. Tolkien definitivamente gostava de contar histórias de dragões. Mesmo que surpreendentemente ele tenha nos contado apenas duas histórias completas sobre dragões. Em 1954 Naomi Mitchson perguntou a Tolkien algumas questões sobre a Terra-média após ter examinado todos os porões de O Senhor dos Anéis. Na Carta 144 ele respondeu a uma pergunta sobre dragões com:
Algumas respostas desgarradas. Dragões. Eles não pararam; uma vez que estiveram ativos em tempos muito mais tardios, próximos do nosso. Teria dito alguma coisa para sugerir o final dos dragões? Se sim, deve ser alterado. A única passagem que posso lembrar é no Vol. I p. 70: “não existe atualmente nenhum dragão na terra cujo fogo seja quente o suficiente”. Mas isso implica, eu acho, que continuam a existir dragões, apenas não da estatura primordial…
O primeiro conto sobre dragões, de Tolkien, está perdido desde há muito tempo atrás, e provavelmente não era muito longo, de qualquer forma. Dessa história ele pôde se lembrar apenas um detalhe, anos mais tarde, quando escreveu para W. H. Auden na Carta 163: “Eu tentei escrever uma história pela primeira vez quando tinha cerca de sete anos. Era sobre um dragão. Não me lembro de nada dela exceto um fato filológico. Minha mãe não disse nada sobre o dragão, mas apontou que não se podia dizer “um verde grande dragão” [“a green great dragon”], mas deveria se dizer “uma grande dragão verde” [“a great green dragon”]. Eu fiquei curioso em saber porquê, e ainda estou.”
Quando chegou o tempo de contar a história de um Hobbit, Tolkien precisou de um monstro maior do que todos os outros monstros. Ele tinha goblins e lobos e aranhas, mas ele queria alguma coisa mais aterrorizante, mais poderoso. Ele queria um dragão. De todas as criaturas encontradas em O Hobbit, apenas Smaug parece invencível exceto pela pequena área sem proteção em seu peito. Pode-se muito bem imaginar Beorning desafiando o dragões em sua forma de urso apenas para terminar queimado até torrar. Mesmo uma grande guerreiro e herói como Beorn era, ele não era desafio para um dragão.
Bard o Arqueiro, por outro lado, era descendente de antigos reis cujo reino foi destruído por Smaug. O destino estava ao seu lado, e o poder de falar com os pássaros. Mas talvez se Bard não tivesse a flecha negra que chegou a ele de seus ancentrais mesmo sua habilidade e coragem poderiam não ser suficientes para derrotar o grande dragão [que não era verde].
A flecha negra fora feita pelos Anões de Erebor antes de Smaug ter destruído seu reino. Porque seria uma arma poderoso contra dragões? Anões não gostavam de dragões, e os dragões certamente foram uma praga para os Anões. Mas a flecha era realmente um “flecha mata-dragões” ou era apenas uma flecha de qualidade excepcionalmente boa?
O conflito entre os Anões e os Dragões de Tolkien extende-se desde a Primeira Era. Os Anões de Nogrod e Belegost foram aliados dos Noldor contra Morgoth. Telchar de Nogrod fez um elmo moldado à imagem de Glaurung, pai dos dragões. Este elmo foi dado a Azaghal, senhor de Belegost, que o deu a Maedhros, que o deu a Fingon, que o deu a Hador, primeiro Senhor de Dor-lomin.
Enquanto Hador usou o elmo-Dragão ele foi invencível em batalha. Hador poderia não estar usando o elmo de dragão quendo liderou a ação de retaguarda para Fingolfin logo após a Dagor Bragollach. Hador e Gundor, seu filho mais novo, caíram ante os muros de Eithel Sirion, a mais poderosa fortaleza que protegia ums das principais passagens sobre o Ered Wethrin para Hithlum. Galdor, o Alto, filho mais velho de Hador, herdou o elmo de dragão junto com a nobreza de seu pai, mas “Narn i Hin Hurin” diz que “por azar Galdor não o usava quando defendia Eithel Sirion“, sete anos após a morte de seu pai, “pois o ataque foi repentino, ele correu de cabeça descoberta para os muros e uma flecha órquica atingiu seu olho.”
Hurin podia usar o elmo, mas devido à sua baixa estatura ele ficava desconfortável com ele, ele ele preferia olhar seus inimigos diretamente nos olhos. Então o elmo ficou em Hithlum quando Hurin cavalgou para lutar na Nirnaeth Arnoediad, e Morwen, sua esposa, enviou o elmo com seu filho Turin para Doriath. Quando Turin cresceu até a idade adulta e deixou Doriath, Beleg levou a ele o elmo de dragão e com essa herança de sua casa, Turin começou a granhar fama para si mesmo. Desafortunadamente, devido ao orgulho e desafio de Túrin, Morgoth lançou sua vontade contra as crianças de Húrin, e todos os esforços de Turin tornaram-se tristezas.
E chegou o dia em que Turin convenceu Orodreth a cavalgar para uma batalha aberta contra os exércitos de Morgoth, e Glaurung destruiu Orodreth e seu povo. Quando Turin retornou a Nargothrond ele usava o elmo e Glaurung estava com medo dele. Mas o drgão estimulou Turin a levantar o visor, e fazendo assim, expôs-se ao poder de Glaurung.
O elmo de drgão era, portanto, um artefato muito poderoso, e como ele Turin poderia ter tido uma chance em uma batalha contra Glaurung. Ele deveria tentar isso? Mesmo Glaurung não podendo enfeitiça-lo, o drgão teria sido tão vulnerável a Turin?
A primeira aparição de Glaurung dois séculos antes resultou em uma vitória para Fingon e os arqueiros Élficos de Hithlum. Eles cavalgaram ao redor do jovem dragão e o furaram
com muitas flechas, fazendo-o recuar para Angband. Galurung saiu-se melhor na Dagor Bragollach e indubitavelmente forjou sua vingança contra os Elfos com regozijo. Mas menos de uma geração depois ele liderou um grupo de dragões contra o exército de Maedhros na Nirnaeth Arnoediad e desta vez ele foi enfrentado pelos Anões.
Azaghal de Belegost foi de encontro a Glaurung e o feriu, embora este feito tenha custado a vida de Azaghal. Glaurung e suas crias recuaram do campo de batalha. Quando o dragão reapareceu mais tarde ele parecia evitar tentar esmagar guerreiros com sua barriga, como ele tentou esamagar Azaghal, que caiu por baixo dele.
Na confrontação final de Turin com Glaurung ele causou ao dragão um ferimento mortal de modo quase exatamente igual ao que Azaghal feriu a besta, e a espada que Turin usou fora feita por Eol, que aprendeu muito sobre forja de metais com os Anões de Nogrod e Belegost. Glaurung era esperto e cuidadoso, mas quando ele cruzou a ravina de Teiglin, ele não tinha a menor idéia de que Turin o esperava logo abaixo.
Quando Glaurung sentiu a dor ele pulou através da ravina e arrasou o lado mais distante, expelindo chamas até que se tornou muito fraco para continuar. A visão do dragão moribundo deve ter sido aterrorizante para qualquer um próximo. Turin simplesmente caminhou pela ravina e enfiou sua espada na barriga do dragão. E mesmo assim Galurung continuo vivo, e teve força suficiente para fitar os olhos de Turin novamente, e usar o restante de seu poder para sobrepujar a vontade de Turin e fazê-lo desmaiar.
Matar o velho dragão não foi uma tarefa fácil, e não existia guerreiro maior do que Turin, em seu tempo. Então Turin poderia ter realizado o feito sem o elemento surpresa? Eu acho que não. Simplesmente apunhalar Glaurung na barriga não era o suficiente. Azaghal fez isso, mas sua lâmina era muito curta. O ferimento teria que ser profundo e duvido que a maioria das armas teria penetrado tão profundamente. Os Noldor muito provavelmente não tinham dragões em mente quando faziam suas armas.
Os Elfos não se saíram expecialmente mal anos mais tarde quando os drgões ajudaram a destruir a cidade de Gondolin. O povo de Turgon tinha aprendido muito de Maeglin, o filho de Eol, sobre mineração e forja de metais. mas não quer dizer que eles tenham matado algum dragão. Realmente levou toda uma noite para que os dragões, orcs e Balrogs destruíssem a maioria do povo de Turgon. Estes dragões provavelmente não estavam completamente crescidos. Mas também pode ser que Gondolin simplesmente era mais bem defendida que Nargothornd, cujo exército havia perecido principalmente em campo aberto.
Portanto, desde a Dagor Bragollach o placar marcava dragões 4, elfos 0, anões 1/2. Turin continuava como o único indivíduo a ter matado um dragão até o final da Primeira Era. Então Morgoth liberou os dragões alados contra o Exército de Valinor. Se os dragões terrestres era formidáveis, os alados eram devastadores, e o Exército cedeu até que Earendil e as Águias de Manwë chegaram para a batalha.
Tolkien nãos nos fala quanto tempo a batalha durou, mas provavelmente não foi curta. Muitas Águias devem ter perecido mas também muitos dragões, incluindo o próprio Ancalagon. Ancalagon aparece apenas brevemente em O Silmarillion, mas Gandalf o menciona de forma sábia quando estava falando com Frodo. Deduzo, a partir da afirmação de Gandalf, que o grande dragão deve ter aterrorizado o Exército de Valinor por algum tempo. Ele não foi apenas nomeado, mas continuava sendo lembrado com um certo medo e temor cerca de 7.000 anos mais tarde.
Earendil deve ter tido algumas discussão impressionante para obter a permissão de Manwë para liderar um contra-ataque contra os dragões. Ele fora proibido de retornar à Terra-média, e a vontade dos Valar não era algo fácil de alterar. Então a situação em Beleriand [ou no que restou dela] deve ter sido desesperada. E pode-se perguntar como Earendil podia, de qualquer forma, lutar com dragões a partir de um barco voador? Ele tinha a Silmaril com ele, mas seria tudo? Ou ele tinha, como Bard milhares de anos depois, envergado um arco e uma flecha de grande potência Quem poderia ter feito o arco, o próprio Aulë?
A batalha de Earendil com Ancalagon durou um dia e uma noite. A luta deve ter coberto um vasto território, então apenas os Valar e Maiar poderiam ser capazes de ver o conflito final. Earendil deveria ser sido um ponto brilhante no céu, mas seu oponente deve ter feito chover fogo ao redor dele. O reprojeto Vingilot possuía escudos multi-fase moduláveis ou alguém o estava protegendo Earendil. Apesar de tudo, o marinheiro no céu deve ter sido duramente pressionado na ocasião. Pode não ter sido apenas um caso de caça ao dragão, para ele. Ele deveria conduzir o navio e calcular de onde Ancalagon atacaria da próxima vez.
A batalha de Earendil com Angalagon deve ter sido a mãe de todas as lutas dragão-herói, e a palavras falham ao descrever adequadamente o que pode ser vislumbrado apenas pela imaginação. Mas quando Ancalagon caiu e se tornou claro que tudo estava perdido, o que aconteceu aos dragões restantes? Teriam não mais de dois, um macho e uma fêmea, sobrevivido ao ataque final? E, se asim foi, porque os dragões não ressurgiram na Segunda Era?
Aproveitando o assunto, que diabos é um dragão frio [cold-drake]? A única menção de um dragão frio é um breve fato no Apêndice A de O Senhor dos Anéis onde Tolkien diz que um rei Anão e um de seus filhos foram mortos por um dragão frio em frente a seus salões. As pessoas se perguntaram durante os anos quais seriam as diferenças entre um dragão frio e um dragão normal. Sistemas de jogos nos dizem que os dragões frios deve ser um dragão que lança ar frio, usando gelo como arma de sofro ao invés de fogo.
Não estou tão certo de que Tolkien tenha previsto várias armas de sopro. Os dragões frios podem simplesmente ter sido dragões que não lançavam fogo. Embora pareçam um pouco desapontadores, dragões não precisam lançar fogo para serem terríveis e poderosos. As pessoas têm problemas suficientes racionalizando como Morgoth poderia ter gerado dragões e depois dragões alados de dragões não-alados como Glaurung. Seus tamanhos massivos, a habilidade de apenas fita-lo nos olhos e mesmerizá-lo, sua incrível força – seriam armamentos suficientes para o típico dragão faminto. Apostando em lançadores de gelo, dragões de água, e todas as variantes do D&D trivializamos os monstros da Terra-média. Os dragões de Tolkien eram criaturas que você simplesmente não desejaria ter que lidar. Por exemplo, ninguém parece ter matado o misterioso dragão frio.
Os únicos dois dragões nomeados na Terceira Era foram Scatha e Smaug. Smaug, como se percebe, é retratado de forma destacada em O Hobbit. Podemos ler muito sobre ele
. Scatha, por outro lado, mal merece apenas uma nota de rodapé em um apêndice e um comentário de Éowyn no texto principal de O Senhor dos Anéis. O que se passa com ele? Scatha nem mesmo entrou no cânone até que Tolkien estivesse revisando as provas de O Senhor dos Anéis. Portanto, desafortunadamente, não temos muita história para contar aqui.
Mas nós sabemos que Fram era filho de Frumgar, que foi Frumgar quem liderou os Eotheod para o norte, no ano de 1977, para reclamar as terras lestes do que havia sido o reino de Angmar. Os Eotheod não deveriam saber que existiam dragões na área, ou sentiriam que não tinha outra chance a não ser partir de lá. Se Frumgar era um homem no pleno vigor no ano de 1977 então ele provavelmente morreu por volta do ano 2000. Mas quando Fram morreu? Minha aposta é que foi provavelmente em algum momento depois do ano 1981. Este foi o ano no qual os Anões deixaram Khazad-dum, e muitos deles fixaram-se mas Montanhas Cinzentas, que ficavam a leste das Montanhas Nebulosas.
Com Anões e Homens se mudando para a região, e com o legado de Angmar, um punhado de dragões do norte devem ter sido provocados. Mas porque teria havido ali apenas uns poucos dragões? Pode-se pensar que o Rei-bruxo de Angmar desejaria manter uma ou duas ninhadas em mão para ajudar nas guerras. Mas não existem menções de dragões inquietando os Dunedain em Eriador. nem sequer existia um dragão na guerra final de Gondor e Elfos. O amor de Tolkien pelos grandes monstros parece ter sido temperado com cautela. Como as Águias, que ele sentia que não deveriam ser abusados como dispositivos literários, o autor parece ter se refreado de atirar um dragão na mistura cada vez que um grande monstro era necessário.
Os dragões podem ter sido para Melkor o que as Águias eram para Manwë: emissários especiais com uma missão específica. Mas Melkor foi removido do mundo e sua vontade maligna diminuída. Alguns aspectos de Melkor [ou Morgoth] permaneceram em Arda, na Terra-média em particular, porque ele infundiu uma parte de sua força, seu espírito, porto todo o mundo e suas criaturas. Dragões, em particular, devem ter tido uma grande parte de seus espírito maligno. Isto faria deles criaturas “mágicas” e bastante poderosas [bem como totalmente malignas – então não existe esperança de encontrar um dragão bom na Terra-média]. Tolkien parece relembrar isso em “Narn i Hin Hurin”:
Embora andando por suposição [Nienor] encontrou a colina [de Amon Ethir], que estava de fato bem próxima, pela elevação do terreno aos seus pés; e lentamente ele escalou o caminho que conduzia para cima, a partir do leste. Enquanto subia a névoa tornava-se mais fina, até que ela finalmente pode sair dela para a luz do sol no pico nu. Então ela adiantou-se e olhou para o oeste. E lá logo na frente dela estava a cabeça de Galurung, que havia se arrastado para cima pelo outro lado; e antes dela estar ciente de ter olhado em seus olhos, que eram terríveis, sendo preenchidos com o cruel espírito de Morgoth, seu mestre.
Quando Turin pediu aos Homens de Brethil que o ajudassem na luta contra o dragão ele disse: “Eu conheço algo sobre ele. Seu poder está especialmente no espírito maligno que reside nele do que em seu corpo, embora grande ele seja.” Eu por muito tempo pensei no que essas passagens poderiam significar. Morgoth teria aprisionado ou embutido algum espírito no corpo do dragão? Se sim, de onde ele veio? Apenas Iluvatar poderia criar um espírito, e Tolkien era preocupado com a idéia de que Iluvatar poderia criar alguma coisa que ele sabia que se voltaria para o mal, que deveria se tornar maligno. Claro, Iluvatar deveria saber que Melkor eventualmente se tornaria maligno. Então, de alguma forma é razoável dizer que se existe liberdade de escolha para o espírito, então Iluvatar poderia criá-lo. Mas existe liberdade de escolha para monstros como os dragões?
Uma explicação alternativa destas passagen é mais simples: o espírito mencionado é literalmente o espírito de Morgoth. Não a vontade primária de Morgoth, sua atenção ou consciência, se desejar, mas simplesmente uma parte de seu poder, sua força. O Um Anel proporciona um exemplo de como, quando o poder de um grande ser é parcialmente externalizado, a coisa parece ter uma vontade e cosciência como se fosse própia. O Um Anel tentava retornar para Sauron, e de muitas maneiras ele tentava corromper e controlar aqueles que o usavam, ou aqueles que potencialmente poderiam tomá-lo e usá-lo. Através dos anos muitas pessoas tentaram racionalizar como este Anel poderia agir por si mesmo se ele não era de fato um objeto consciente. Analogias com computadores foram formuladas, mas eu acho que tais analogias não entendem bem o ponto.
A energia primordial de um espírito Ainu é uma força encarnada. Ilúvatar deu vontade a estas forças, mas as vontades era apenas aspectos. Um espírito é uma coisa em si mesmo, mas Melkor e Sauron mostraram que eles podiam difundir seus espíritos, dividir suas essências entre múltiplas cascas físicas. Sauron pôs uma grande parte de si no Anel, mas ele permaneceu em sua forma encarnada, seu corpo. Era no corpo que ele continua residindo. E mesmo assim Sauron era capaz de perceber eventos e seres através do Anel, mesmo que de uma forma grosseira. Quando Frodo pos o Anel e usou a Alto Trono no Amon Hen, ele olhou para Barad-dur na visão que se estendeu ante ele e Sauron ficou consciente dele instantaneamente. Tolkien registra que Sauron estava ligado ao Anel enquanto este existisse, mas ele não estava em comunicação com ele. Ser separado do Anel seria como ter um braço dormente, talvez, embora continuemos a sentir formigamento nos dedos – mesmo na escuridão da noite – não podemos ter certeza de onde o mão está.
Em “Myths Transformed” explica este processo com mais detalhes, em um ensaio que explora a natureza dos Valar e Ainur em geral:
Melkor “encarnou” a si próprio [como Morgoth] permanentemente. Ele assim o fez para controlar o hroa, a “carne” ou matéria física, de Arda. Ele tentou identificar-se com ele. Um procedimento mais vasto e mais perigoso, embora de similar espécie às ações de Sauron com os Anéis. Portanto, fora do Reino Abençoado, toda “matéria” provavelmente possui um “ingrediente Melkor”, e aqueles que possuem corpos, nutridos pelo hroa de Arda, possui como que uma tendência, maior ou menor, em direção a Melkor: não existe nenhum deles totalmente livre em suas formas encarnadas, e seus corpos possuem um efeito sobre seus espíritos.
Tolkien, mais além, explica que:
…Além disso, a erradicação final de Sauron [como um poder direcionando o mal] foi alcançada pela destruição do Anel. Tal erradicação de Morgoth não era possível, uma vez que seria necessário a completa desintegração da “matéria” de Arda. O
poder de Sauron não estava [por exemplo] no outo como tal, mas em um aspecto ou forma particular de uma porção particular do ouro total. O poder de Morgoth estava disseminado através de todo o Ouro, se em nenhuma parte absoluto [pois ele não criara o Ouro] em nenhuma parte estava ausente. [Era este elemento Morgoth na matéria, de fato, que era o pré-requisito para a “mágica” e outras perversidades que Sauron praticou com ele e sobre ele.]
Dragões têm uma afinidade por ouro. Eles gostam de reuni-lo em um grande monte e deitar sobre ele. A justificativa de Tolkien poderia ser que que eles eram, dessa forma, nutridos pelo elemento Morgoth que está presente no ouro, uma vez que ele é realmente mais forte no ouro do que em outras substâncias [como prata e água]. Isto poderia explicar como dragões eram capazes de persistir por grandes períodos de tempo sem comer nada. O ouro os sustentava, e é tão importante para eles como comida seria para um homem faminto em uma olha deserta. Poderia também explicar porque os dragões experimentaram um período de declínio. Seus poderes seriam diminuídos sem Morgoth para controlá-los, e até que pudessem acumular novos tesouros eles estariam muito fracos.
Pode ser que os dragões, quando fugiram de Beleriand, tiveram de fugir para as vastidões norte porque eles estavam simplesmente muito fracos para lidar com Anões, Elfos e Homens. Eles tinham se exaurido no suporte a Morgoth e sobreviveram com dificuldade. E uma dependência por ouro e pelo espírito de Morgoth pode explicar porque aparentemente existiam tão poucos dragões até perto do final da Terceira Era. Eles poderiam precisar de ouro para procriar. Morgoth certamente não deveria carecer de ouro em Angband, onde ele poderia minar as profundezas da terra por quaisquer minerais e metais que desejasse. E como os tesouros Élficos eram levados para ele, Morgoth seria capaz de gerar ainda mais dragões, maiores e mais poderosos do que as primeiras gerações.
Dragões seriam, dessa forma, essencialmente artefatos vivos. Especula-se como Morgoth poderia criar dragões. Isto é, que criaturas ele teria unido em um programa controlado de procriação para produzir dragões? Eu não acho que era isso que Tolkien intencionava, tampouco. Particularmente pode ser que ele anteviu Morgoth iniciando com poucas criaturas, digamos lagartos ou cobras, exercendo sua vontade sobre seus corpos. Seu objetivo poderia ter sido produzir uma prole que seriam os dragões. Glaurung era, então, um experimento, um protótipo, e Ancalagon era o modelo de produção final. Cada ninhada de dragões então produzidos teria sido imbuída com parte do poder de Morgoth. Eles tinham “vontades”, mas não necessariamente vontades independentes. Eles eram mais do que fantoches mas menos do que criaturas verdadeiramente sencientes.
Sem a ajuda de intervenção direta de Morgoth, a procriação para os dragões pode ter se tornado uma tarefa grande e onerosa. De fato, deixados por si mesmos, os dragões parecem ter sido menos eficientes do que quando liderando os exércitos de Morgoth. Glaurung levou um longo tempo para fazer seu caminho de Nargothrond para Brethil. Ele aparentemente queimou um caminho através da paisagem, queimando árvores e tudo mais, de vez em quando deitando e dormindo. A turbulência de fogo poderia ser apenas uma expressão da malícia do dragão, ainda que isto provavelmente asseguraria que ninguém permaneceria por perto para perturbá-lo durante as sonecas. Mas deve ter representado um incrível gasto de energia. Em “Narn i Hin Hurin”, Glaurung envia um exército para atacar Brethil e Turin destrói o exército. O dragão aguardou vários meses antes de se movimentar contra os homens da floresta pessoalmente. Ele poderia estar recarregando as baterias, por assim dizer, construindo suas reservas de energia.
Tal limitação torna os dragões incapazes de tomar o mundo sem um grande poder por detrás deles. E também torna possível que pessoas vivam relativamente próximo aos dragões [como os Homens do Lago Comprido e os Elfos de Mirkwood Norte] sem ter que procurar proteção a cada dia. Os dragões, enquanto não fossem perturbados, poderiam sustentar-se em seus tesouros dourados até que fossem movidos à ação por algum motivo. Eles deveriam ter pouco instinto de reprodução, e talvez existisse um conflito entre a necessidade de reproduzir e a de simplesmente existir. Um dragão que tivesse uma cria poderia enfraquecer a si mesmo, talvez até mesmo morrer, a menos que tivesse um tesouro de ouro muito muito grande. Smaug parece ter sido o maior e mais bem sucedido dragão de sua geração. Mas se os tesouros de Erebor e Valle eram mais vastos do que qualquer coisa que sua espécie tenha acumulado desde o final da Primeira Era, ele pode ter ficado de certo modo embriagado com o poder, muito confuso para procurar uma parceira.
Uma depedência pelo ouro e a força de sobrepujar todas menos a mais poderosas das vontades também explica porque o Rei-Bruxo de Angmar seria incapaz de controlar ou criar dragões. Ele poderia simplesmente ser muito fraco para executar a tarefa. Sauron poderia ter sido capaz de exercer sua vontade plena e tomar controle dos dragões. Gandalf certamente temia muito isto de acordo com Tolkien, mas Sauron aparentemente recobrou quase toda a sua força perto do final da Terceira Era [menos a porção armazenada no Anel]. Quando Angmar surgiu por volta do ano 1300, Sauron continuava fraco e se escondendo em Mirkwood. Ele poderia não ser capaz de lidar com os dragões até muito mais tarde.
Mas o ressurgimento dos dragões no norte no século 26 pode ter sido uma indicação de que Sauron estava fazendo alguma coisa com eles. Ele retornou a Dol Guldur em 2460 “pode poder aumentado”, de acordo com o Conto dos Anos no Apêndice B de o Senhor dos Anéis. Os dragões reapareceram no norte por volta do ano 2570. Coincidência? Sauron certamente poderia ter arranjado para os dragões alguns poucos carregamentos de ouro. De fato, ele poderia ter começado a trabalhar em um programa de criação de dragões logo após ter deixado Dol Guldur em 2063 em preparação para seu eventual retorno.
Então parece que a história de Scatha foi um pouco casual. Os dragões seriam incapazes de causar destruição entre os povos do norte até que os Anões começaram a se fixar em grandes números nas Montanhas Cinzentas. Alguma colônia de Anões pode ter acordado Scatha e ele os matou, tomando seu tesouro. Uns poucos sobreviventes podem ter espalhado a história de que um dragão estaria vivendo nas montanhas. Então, o que trouxe Fram para a história? Teria ele partido para matar o dragão esperando ficar com o tesouro? Isto parece tão estranho para os heróicos Rohirrim e seus ancestrais, os Eotheod que ajudaram Gondor. Fram pode ter sido um homem orgulhoso e arrogante, com pouco amor pelos Anões, mas eu acho que não seria característico dele ser ávido e pretencioso o suficiente para ir à caça de dragão. Scatha deve
ter parecido uma ameaça real aos Eotheod.
Se, abastecido por um pequeno tesouro de Anões, Scatha decidiu procurar sua sorte no mundo, ele poderia ter entrado em conflito com os Eotheod. Como um Senhor, Fram deveria ter que tomar uma ação contra o lagarto, assim como Turin fez contra Glaurung na Primeira Era e Bard faria mais tarde contra Smaug. Homens bravos não saem procurando dragões a menos que sejam tolos ou desesperados. Scatha era chamado de “o grande dragão das Ered Mithrin”, então ele deve ter sido o mais poderoso dos dragões de seu tempo. Se ele acumulou um tesouro e ficou mais forte com ele, sua malícia pode tê-lo levado a um alcance cada vez maior.
A aventura de Fram pode ter sido similar à de Turin. Ele poderia ter recrutado uns poucos bravos companheiros para ajudá-lo a caçar o dragão. Talvez tenha havido mais de um encontro. Pode ter ficado apenas entre Scatha e Fram no final, tendo os companheiros de Fram morrido ou fugido em terror. Fram deve ter planejado algumas formas de matar o dragão, mais provavelmente perfurando-o por baixo. O confronto final deve ter sido uma batalha corajosa, de consequências incertas. As montanhas devem ter ecoado com os urros do dragão, e a noite deve ter se acendido por milhas ao redor com as chamas do dragão. Os Eotheod podem ter se aconchegado em suas casas e cantados canções para acalmar seus filhos. Os Anões teriam posto de lado seus martelos e harpas, e escutado a rocha de seus salões ressoar com o som do homem confrontando o dragão.
Ao final Fram derrotou o dragão, e viveu para ostentar o feito. E Tolkien escreveu que “as terras do norte ficaram em paz das grandes lagartos após isto“. Os dragões devem ter sofrido um golpe devastador com a perda de Scatha. Como quando Azaghal feriu Glaurung e os dragões recuaram para Angband com medo, assim os grandes lagartos devem ter voltado para a Urze Seca além das montanhas. Seria medo a única razão de evitarem os Homens? Ou seria o fato de que Scatha possuía o maior poder, e com sua morte aquele poder foi perdido para os dragões? Poderiam eles dividir forças para sobreviver, e se um dragão morria longe dos outros eles se tornavam mais fracos?
A partida de Smaug do norte pode explicar porque os dragões tornaram-se uma ameaça menor e não maior. Enquanto estavam juntos eles eram fortes. Mas quando o mais forte dentre eles partiu, seu total de força deve ter diminuído. Sua força soletiva tinha sido sustentada e nutrida por longos séculos de acúmulo e roubo de ouro dos Anões. Os Anões estiveram fugindo das montanhas por gerações, de qualquer forma. Qual o sentido de permanecer em uma terra onde é provável que você seja assasinado por um dragão? Se nós supusermos que Sauron estava por trás do ressurgimento dos dragões, então ele deve ter fica satisfeito com a conquista de valle e Erebor por Smaug. E como consequência da morte de Smaug teria havido a perda de grande parte do poder-dragão do norte.
É dito que quando Augustus Cesar soube que Quintillius Varus tinha sido derrotado pelos Alemães em Teutoberg Wald, e que três legiões romans foram massacradas, Augustus irrompeu pelo palácio gritando “Varus! Devolva minhas legiões!” Sauron pode ter sentido raiva e desespero similares quando soube da morte de Smaug. Ele não necessariamente tinha imbuído nos dragões alguma parte de sua força [a qual, sem o Anel, era preciosa e pouca]. Mas ele poderia ter gastado uma grande quantidade de recursos nutrindo-os. Tal retrocesso pode ter mudado radicalmente os planos de Sauron. Sua esperança de enviar tropas inrrompendo através do norte do munto teria diminuído.
A vitória sobre Smaug, portanto, anunciava algo mais do que a chance de restauração dos Anões Barbalongas à sua glória anterior. Assinalava a última vez na qual os dragões poderiam estar em aliança com um poder encarnado maior do que si mesmos. Sauron vou vencido menos de 100 anos mais tarde, e embora os dragões tenha sobrevivido sem ele eles estavam completamente por si mesmos. Ele podem ter começado o longo e lento processo de reconstruir suas forças sem ajuda. Mas eles nunca produziram novamente um Smaug ou Scatha, ou qualquer lagarto capaz de destruir um reino inteiro. No máximo eles podiam aterrorizr o campo ou assustar pequenas tribos. E eles estariam sem um propósito real. Embora alguma coisa da vontade de Morgoth tenha sobrevivido neles, não exestiria direção externa através de poderes como Sauron e não existia harmonia ou um senso real de comunidade entre eles.
Os dias dos dragões estariam então contados, e eventualmente se tornaria possível para os homens caçá-los e pegar seus tesouros. E estando sem tesouros eles eventualmente dormiriam para nunca acordar, e as últimas criaturas encantadas de Morgoth estariam restritas a um passado distante, folclore e lendas.