Ícone do site Valinor

Caro Gandalf…

Em um dos muitos ensaios que ele escreveu sobre os Istari, J.R.R. Tolkien disse: "Entre os Homens (inicialmente), aqueles que tratavam com eles supunham que eram homens que haviam adquirido tradições e artes através de estudos longos e secretos". Essa é uma observação interessante, uma vez que muitas pessoas geralmente citam uma parte rejeitada de uma carta que Tolkien escrevera, na qual ele pensava que os Homens não poderiam ganhar magia através de tradução e estudos (ele se deu conta de que O Senhor dos Anéis invalidara esse ponto de vista, e escreveu "Mas os Númenoreanos usaram feitiços para forjar espadas?" na margem e decidiu não mandar esta parte da carta).

 

 

 

Tolkien provavelmente escreveu o ensaio sobre os Istari um pouco antes da carta a Naomi Mitcheson (Letters 154 e 155). Ele abandonou o ensaio, que seria uma parte de um catálogo extendido de O Senhor dos Anéis nunca publicado, quando se deu conta de que o projeto era muito pesado para a publicação inicial da estória (ele já tinha adaptado os apêndices propostos para obedecer à necessidade de espaço). A carta a Naomi Mitcheson representa um ponto tangencial, que ascendera rapidamente e perecera nas rochas do cânone publicado – uma ocorrência incomum nos meandros filosóficos de Tolkien através da Terra-Média. Mas o abandono do discurso sobre magia é, provavelmente, a melhor justificativa que os Tolkienologistas têm para argumentar a validade do ensaio sobre os Istari (que se contradisse a escritos posteriores). Mas o ensaio é, pelo menos, consistente em tema e contexto com a versão original de O Senhor dos Anéis.

Continuando a análise do ensaio, Tolkien disse: "(Os Istari) Apareceram pela primeira vez na Terra-Média por volta do ano 1000 da Terceira Era, mas por muito tempo andaram com aparência simples, como de homens já velhos, mas sãos de corpo, viajantes e caminhantes, adquirindo conhecimento da Terra-Média e de todos os que ali habitavam, porém sem revelar a ninguém seus poderes e propósitos".

Assim, os Istari foram inicialmente ignorados pelos Homens, até que a Sombra aumentou e a Terra-Média passou a ficar perigosa, ocasião em que eles começaram a se "intrometer" nos assuntos dos Elfos e dos Homens. Os Homens, por fim, perceberam que os Istari não morriam, então concluíram que eles deveriam ser Elfos. Essa conclusão só poderia ter sido elaborada após a Guerra de 1409. Nessa altura do campeonato, os Istari (provavelmente Gandalf e Saruman) que estavam envolvidos com os Dunedain e os Elfos de Eriador deveriam se tornar conhecidos, pelo menos para os líderes dos Elfos e Homens, e parece razoável supor que precisariam alguns séculos até que os Homens percebessem que aqueles dois caras não eram apenas Númenoreanos de vida longa, e sim, que eram alguma outra coisa.

Quando Faramir perguntou a Gandalf sobre ele próprio em Gondor, o Mago diz: "Tenho muitos nomes em diferentes lugares. Mithrandir entre os Elfos, Tharkûn para os Anões; eu era Olórin em minha juventude no Ocidente que está esquecido; no sul, Incánus, no norte, Gandalf…" Gandalf era o nome que os Homens do Norte deram a ele, e Tolkien tirou esse nome do Norueguês antigo, da Elder Edda, onde "Gandalfr" é o nome de um anão. O nome significa "Elfo da Peregrinação".

Outro nome entre os Homens nórdicos era Orald, o nome que deram a Tom Bombadil, um nome Anglo-Saxão que significa "Muito velho". O Anglo-Saxão e o Norueguês antigo já foram línguas intimamente associadas, até que uma mudança na fonética dividiu os diálogos do mundo nórdico. É, portanto, interessante notar que Tolkien dá nomes em Norueguês Antigo (o idioma que representava a língua de Valle e da Cidade do Lago) aos Istari mais associados a Eriador, e dá a Bombadil um nome Anglo-Saxão (idioma que representava a língua dos Rohirrim).

Podemos inferir que, talvez, ou o Westron de Eriador nos meados da Terceira Era estava mesclado com mais palavras nórdicas do que o Westron de Gondor, ou Gandalf e Bombadil passaram um bocado de tempo a mais nas Terras Selvagens. E vice-versa. O nome de Gandalf indica que ele não tinha negócios casuais com os Homens quando ele começou a ser notado significativamente entre eles. Eles decidiram que ele era um Elfo.

Às vezes eu penso que Gandalf estava à altura de um Elfo antes dele ser mencionado no Conto dos Anos. Ele provavelmente se encontrou com os Reis de Arthedain e Arnor em tempos de perigo – isso seria, provavelmente, durante a Guerra de 1409, a Grande Praga de 1636, a guerra de Araval com Angmar em 1851, e provavelmente no último século da existência de Arthedain, quando Araphant e Ostoher de Gondor restabeleceram as relações entre os dois reinos.

Pode-se apenas palpitar se Gandalf passara algum tempo entre os Éothed de outros Homens do Vale do Anduin. Será que ele inspirou Fram a encarregar-se de qualquer aventura que aparecesse, resultando na escravidão de Scatha, o Verme? Talvez não. É difícil imaginar Gandalf permitindo que um guerreiro valente e orgulhoso como Fram mandasse uma mensagem insultando os Anões como ele fez, a menos que a troca de descortesias tenha ocorrido após Gandalf ter se mudado.

Suas opiniões, no entanto, deveriam ser altamente respeitadas entre os Elfos e os Senhores Mortais, e pode-se facilmente ter a impressão de que Gandalf vagava de reino a reino nos meados da Terceira Era, distribuindo conselhos como uma espécie de "Caro Fulano" ambulante. Sua feroz espirituosidade e sarcasmo não poupariam rei ou príncipe que, imprudentemente, o procurassem para obter conselhos mundanos.

Caro Gandalf,

Há rumores de que o Rei-Bruxo de Angmar está movimentando seus exércitos pelas colinas. O que o povo de Arthedain deve fazer?

Argeleb.


Caro Argeleb,

Você já pensou em deixar alguns barris de cidra forte para os Orcs? Você poderia emboscar todos, uma vez que estarão caindo de bêbados. Se isso falhar, então eu sugiro que você mande um mensageiro veloz até Círdan nos Portos, para ver se ele pode dispensar alguns marinheiros para uma expedição por terra. Não há nada que um Orc ame mais do que um barril de cidra élfica forte.

Gandalf.


Caro Gandalf,

Estamos em dificuldades aqui. Um mensageiro chegou de Minas Anor com uma gripe atemorizante. Parece que todo o interior contraiu essa praga maldita. Você por um acaso não teria alguns pós mágicos para nos ajudar?

Argeleb II


Caro Argeleb,


Conheci brevemente seu bisavô. Desagradável aquele negócio com os Angmarianos, mas no fim tudo ficou bem. Quanto aos pós – sinto muito não poder ajuda-lo. Estão em falta, pois acabei de borrifar o último nos Homens dos Vales do Sul do Anduin. No entanto, você deveria pensar em mandar todos para as colinas para trocar estórias até que tudo passe. O quer que você faça, não aceite mais mensageiros de Gondor por um tempo! Boa sorte e aqueça-se. Beba muito Miruvor! Estarei em Bri no próximo Yule, se é que até lá restará Bri.


Gandalf.



Caro Gandalf,

Estávamos começando a tentar recolonizar Gondor, mas agora parece que Criaturas Tumulares malignas infestaram as antigas colinas e não há ninguém capaz de enfrenta-las. Você estaria disponível para nos dar uma mão?

Araval.


Caro Araval,

Sinto muito saber dos seus novos vizinhos. Essas Criaturas podem ser muito irritantes e problemáticas. Infelizmente, eu estou esperando um longo tempo pela manicure em Lothlórien e não estarei disponível pelos próximos cem anos, mais ou menos. No entanto, estou mandando um camarada que não se importará em ter as Criaturas como vizinhos e fará o melhor para que o mal não se espalhe. Você acha, no entanto, que pode arranjar uma bela donzela jovem para ele, que não dê bola para nenúfares e canções bobinhas?

Gandalf.



Caro Gandalf,

Não tenho certeza se podemos resistir a Angmar por muito tempo. Ouvi dizer que Gondor teve problemas, mas eles não parecem estar tão mal. Você acha que podemos pedir ajuda a eles?

Araphant.

P.S.: Ainda estamos procurando por uma bela donzela. Infelizmente, todas parecem estar prometidas, quando as apresentamos ao velho Bombadil.



Caro Araphant,

Não se preocupe quanto a Bombadil. Ele é do tipo paciente e saberá quando encontrar a garota certa. Quanto as suas relações com Gondor, bem, me parece que você poderia pedir ajuda um pouco parcialmente. Ouvi dizer que eles têm uma donzela de personalidade forte que recusou cada pretendente. Arrume o jovem Arvedui e mande ele lá para pedir sua mão em casamento.

Gandalf.



Caro Gandalf,

Apenas queria escrever para dizer: "Muito Obrigado!" Firiel é a melhor coisa que já aconteceu comigo, e não digo isso apenas porque seu pai tem alguns exércitos realmente grandes. Eu posso prever coisas ótimas para Arnor.

Arvedui, futuro rei de Arnor e Gondor.


Caro Arvedui,

Bom saber que o casamento anda bem. Mas deixe as previsões para Malbeth e os Elfos, se possível. Eles estão nesse barco há um pouquinho de tempo há mais que você, e possuem melhor dom para isso.

Gandalf.


Caro Gandalf,

Isto é para informa-lo de que Arnor não necessitará mais de seus serviços. Nada pessoal, velho camarada, mas estivemos fora da cidade e não temos previsão para voltar. Obrigado por séculos de bons conselhos e felicidades em todos seus futuros esforços. Vença uma para os Dunedain!

Arvedui.

P.S.: Acho que agora entendo o que você tentava dizer. Preciso ir. Tenho que tratar com um homem sobre um cavalo.


Caro Arvedui,

Conforme esperado, sua carta chegou atrasada devido à sorte da guerra. Gostaria que você não a tivesse mandado pelo caminho de Bri. Eu fiz uma checagem em Fornost Erain, mas não achei ninguém, exceto alguns milhares de Orcs e Trolls. Tentarei ver se você está em Lindon. O que quer que você faça, não rume para o norte. Ouvi dizer que há um inverno terrível por vir.

Gandalf.



Caro Gandalf,

Dizem que você não está mais trabalhando em Eriador. Eu estava pensando se você não poderia dar uma passadinha aqui em Lothlórien no próximo século. Tenho um pequeno trabalho que eu gostaria que você fizesse e que seria um verdadeiro estímulo para sua carreira. Diga Olá para Elrond e Círdan, e estou ansiosa para ver vocês.

Galadriel.

P.S.: Como está a espera pela manicure?

Sair da versão mobile