The New Shadow se passaria em Gondor, ou pelo menos começaria ali, na casa de Borlas, o filho mais novo de Beregond, o sentinela da Cidadela que se tornou Capitão da Companhia Branca, a guarda de Faramir, após a Guerra do Anel. Existe um problema em se datar a história; contudo, Tolkien originalmente a colocou 100 anos após a Queda de Sauron, ao início do reino de Eldarion, mas anos mais tarde mudou o tempo para 100 anos após a ascensão de Eldarion ao trono. Contudo, Tolkien manteve Borlas como personagem principal, e alguém pode perguntar porque ele fez isso. Borlas deveria estar com cerca de 200 anos, o que é um tempo inacreditavelmente longo mesmo para um Dúnadan viver, a menos que fosse descendente de Elros. Provavelmente Borlas teria se tornado o neto ou bisneto de Beregond.
Borlas estava preocupado com os rumores de um culto estranho e secreto que estava ganhando popularidade em Gondor. Tornara-se moda entre os jovens Gondorianos fingirem serem Orcs, tendo atitudes de Orcs [como destruir árvores sem razão aparente]. Mas agora os homens estavam sussurrando sobre um novo líder, Herumor [que significa "Senhor Negro" em Quenya], ao redor do qual um culto se formara [Tolkien o chamou de culto Satânico, e presumivelmente seria uma restauração da adoração a Melkor]. A história continua não muito além de Borlas recebendo uma carta de Saelon, um jovem que cresceu com o filho de Borlas, para que comparecesse a um encontro secreto [sem dúvida dos seguidores de Herumor]. Não fica claro se Saelon era um membro do culto tentando recrutar [ou assassinar] Borlas, ou se ele estava engajado em alguma campanha contra o culto e pedia a ajuda de Borlas.
Tolkien decidiu que poderia ter escrito um thriller sobre a descoberta e destruição do culto, que estaria planejando a queda de Eldarion. Mas tal história não o interessou, embora certamente pudesse ter interessado a seus vários leitores. Borlas poderia não ter continuado como personagem principal, mas ter sido o instrumento em iniciar ou catalisar quaisquer que fossem as contra-medidas que os seguidores de Eldarion pudessem vir a tomar contra o culto.
A Terra-média seria sem dúvida um lugar muito diferente do mundo descrito em O Senhor dos Anéis. Se nós assumirmos a última datação da história, cerca de 220 da Quarta Era, que permaneceu fixa, podemos deduzir algumas poucas coisas sobre o estado do mundo. Por exemplo, em The Peoples of Middle-earth nós aprendemos que Durin VII o rei dos Anões que estava destinado a restaurar os Anões barbalonga em Moria, seria provavelmente o filho de Thorin III Elmo-de-pedra, o filho de Dain II Pé-de-ferro. Thorin III nasceu em 2866 da Terceira Era e teria cerca de 153 anos quando seu pai morreu na Guerra do Anel. Thorin provavelmente não viveu até o final do reinado de Aragorn [embora Gimli, que nascera em 3879 da Terceira Era, viveu]. Portanto, Durin VII tornou-se Rei sob a Montanha por volta do ano 100 da Quarta Era.
Quando os Barbalonga retornaram a Moria? Talvez no início do reino de Durin, mas provavelmente não antes da morte de Aragorn. Sem dúvida o evento ocorreu antes do ano 172 da Quarta Era, quando Findegil fez a última anotação na Cópia do Thain do Livro Vermelho do Marco Ocidental. Então, a recuperação de Moria provavelmente aconteceu entre os anos 120 e 172. Tal evento pode ter resultado, talvez, na última guerra com Orcs antes do tempo de The New Shadow. Borlas, o idoso protagonista de The New Shadow, poderia ter percebido "o velho mal", que aparentemente era o mal representado pelos verdadeiros Orcs, antigos servos de Sauron, e outras criaturas. Talvez ele tivesse lutado contra essas criaturas em sua juventude.
De fato, em uma carta que Tolkien escreveu para um leitor em 1963, ele apontou sobre Faramir: como "Princípe de Ithilen, o mais nobre após Dol Amroth no revivido estado Numenoriano de Gondor, prestes a ter prestígio e poder imperiais, não era um "serviço de guarda de jardim"… até que muito tivesse feito pelo Rei restaurado, o Príncipe de Ithilien seria o guarda-limites de Gondor, em seu principal posto avançado do leste – e também tinha muita responsabilidade em reabilitar o território perdido, e em limpá-lo dos foras-da-lei e orcs remanescentes, isso sem citar o terrível vale de Minas Ithil [Morgul]" [Tolkien, "Letters", p. 323].
Embora Faramir provavelmente tenha completado a maioria das funções necessárias, senão todas elas, seus sucessores podem ter lutado contra os Orcs nas Ephel Duath, as Montanhas da Sombra. E pode ser que o Príncipe de Ithilien [Faramir ou seus sucessores] tenha comandado quaisquer forças expedicionárias enviadas para ajudar a livrar a área dos Orcs. Expedição semelhante pode ter sido feita aos Vales do Anduin, para auxiliar os Anões Barbalonga a limpar Moria. Borlas, como um oficial na Companhia Branca, teria sido um candidato ideal a membro em tal expedição. Embora Tolkien provavelmente teria alterado muito tal história, nós podemos supor que o jovem Borlas teria visitado Moria por volta do tempo no qual Findegil estava escrevendo a Cópia do Thain do Livro vermelho. Findegil pode ter tido conhecimento da intenção de Durin de retornar a Moria, mas o evento poderia não ter sido completamente concluído. Portanto, a informação no Livro vermelho é reduzida, mas ao tempo de The New Shadow seria uma antiga lembrança para o idoso Borlas.
Outra possível fonte para o antigo mal que Borlas reconheceu ao final do fragmento de The New Shadow poderiam ser os Espectros Tumulares. Estes eram criaturas malignas enviadas para habitar as antigas colinas de Tyrn Gorthad no noroeste de Cardolan após a Grande Praga ter destruído a maioria do povo de Cardolan. Tom Bombadil manteve vigilância sobre Tyrn Gosthad ao final da Terceira Era [ele expulsou um Espectro que havia capturado Frodo e seus companheiros], mas Gandalf lembrou no Conselho de Elrond que Bombadil apenas isolou a si mesmo, talvez, até
que existisse alguma mudança no mundo. A restauração do Reino de Arnor por Aragorn pode ter sido esta mudança.
Aragorn reconstruiu a antiga cidade de Annuminas ao norte do Condado, e visitou a região no ano 15 da Quarta Era. Gandalf contou ao Cervejeiro Carrapicho que, no devido tempo, muitas pessoas migrariam pela Estrada verde para recolonizar as antigas terras de Arnor. Aragorn parece ter se concentrado nas áreas norte primeiramente, mas a seu tempo Cardolan pode ter sido recolonizada também. Uma antiga tentativa durante o 19°. século da Terceira Era foi frustrada pelos Espectros, então Aragorn [ou Eldarion] provavelmente teria que lidar com eles em algum momento. Novamente, Borlas pode ter sido parte desta expedição.
E um Espectro faz certamente mais sentido para um culto Satânico do que a mera presença de orcs em Gondor. Sauron era associado com feitiçaria e necromancia, e era servido por muitos espíritos, não apenas os Nazgul. Embora os Nazgul tenham sido reduzidos à impotência quando o Um Anel foi destruído, os Espectros Tumulares e outros espíritos podem ter continuado a perturbar os vivos por muitos séculos ainda. Se Herumor e seus seguidores tivessem encontrado e envolvido-se com um Espectro, o terror que ele poderia exercer e o poder que ele possuiria seriam consideráveis.
O que era um Espectro? Tolkien na verdade não esclarece. Eles eram espíritos que originalmente vieram de Angmar e Rhudaur. No ano da Grande Praga [1636 da Terceira Era], Rhudaur havia sido abandonado há tempos, mas o povo das colinas que havia suplantado dos Dunedain em uma aliança secreta com Angmar praticava feitiçaria, e sem dúvida isto significa que eles invocavam e lidavam com espíritos ao serviço de Sauron. Os Espectros eram provavelmente estes espíritos, mas nós não sabemos que espíritos eles eram. É mais provável, pelos poderes exibidos pelo Espectro que capturou Frodo, que os espíritos fossem de elfos corrompidos [escravizados por Melkor na Primeira Era] ou Maiar menores, não tão poderoso quanto, digamos, um Balrog, nem mesmo como um Nazgul, mas mais poderoso que os espíritos dos Homens.
No Morgoth’s Ring, Christopher Tolkien publicou um ensaio de seu pai, onde J.R.R. Tolkien discutia o esvair-se dos Elfos. Após a derrota final de Melkor, Eonwe viajou por toda a Terra-média e novamente chamou todos os Elfos para que migrasse a Aman. Embora muitos recusassem, foram colocados sob a maldição dos Valar, de que deveriam se esvair e eventualmente tornar-se espíritos desincorporados se ao final não cruzassem o Mar. Este processo de esvair-se parece ter sido necessário para induzir os Elfos a deixarem a Terra-média, que estava em tempo de se tornar de posse dos Homens. Mas neste ensaio, Tolkien sugere que alguns Elfos se recusaram a deixar a Terra-média mesmo quando o esvair-se tornou-se inevitável, e a seu tempo se tornaram assombrações residindo em regiões que uma vez habitaram. Tais espíritos algumas vezes eram contatados por homens, através da feitiçaria ou necromancia, e eles poderiam até mesmo ter permitido a estes espírito possuí-los.
É concebível, portanto, que o culto Satânico tivesse alguma coisa a ver com a comunicação com Elfos que se esvaíram [assumindo que algum Elfos tivesse se esvaído a este tempo]. Por outro lado, Elfos podiam morrer por acidente ou na guerra, e quando isto acontecia, eles não precisavam responder ao chamado de Mandos se não desejassem eventualmente reencarnar. É dito que muitos dos Avari fizeram esta escolha, e o que era arriscado no tempo do reino de Melkor pode ter se tornado menos arriscado mais tarde. Então, alguns dos mais amargos e malignos Elfos poderiam ter permanecido na Terra-média após a morte, talvez envolvendo-se com o culto de Herumor.
A despeito da possibilidade de esvair-se, e a presença de espíritos Élficos, é mais provável que continuassem a existir alguns enclaves de Elfos na Terra-média ao tempo de The New Shadow. Legolas partiu cruzando o Mar quando Aragorn morreu, mas Tolkien não diz que todo seus povo partiu com ele. Alguns dos Elfos da Floresta podem ter permanecido em Ithilien por muitos anos. Thranduil parece ter permanecido satisfeito no norte de Greenwood [Mirkwood, que foi rebatizada após a Guerra do Anel]. O povo de Celeborn poderia ter permanecido muito tempo em Lórien Leste, o reino fundado por ele na parte sul da floresta, nas terras antes dominadas por Dol Guldur [que Galadriel e Celeborn derrotaram]. Celeborm foi viver em Valfenda com seus netos Elladan e Elrohir antes de finalmente partir através do Mar, e o ano de sua partida não é registrado. Então, poderiam existir alguns Elfos vivendo em Valfenda, e em Mithlond, embora alguns tenham sentido Círdan partindo com Elrond e Galadriel.
Dunland tornou-se parte de Rohan durante o reino de Éomer, talvez como conseqüência das ações dos Dunlendings na Guerra do Anel. Pode parecer estranho que os Rohirrim poderiam tentar coexistir com os Dunlendings, mas parece que eles compreenderam que teriam que aprender a viver juntos. Erkenbrand mostrou grande misericórdia para com os Dunlendings após a Batalha do Forte da Trombeta, e isto pode ter começado o processo de cura entre os dois povos, que tinham sido inimigos por mais de 500 anos.
As populações de Rohan e Dunland provavelmente se expandiram, e podem ter contribuído com muitos dos colonizadores que se fixaram em Eriador. Nós sabemos que o Condado se expandiu, pois colonizaram as Colinas das Torres e todo o Marco Ocidental, e é possível que toda a terra de Bree tenha experimentado um novo período de crescimento enquanto a atividade econômica aumentava, proporcionando tal ímpeto. Annuminas pode ter sido dependente do comércio com o Condado, mas se Fornost foi recolonizada Bree pode novamente ter se tornado um importante centro de comércio, notícias e viagens em Eriador.
O mundo de The New Shadow deveria ser mais abarrotado do que o mundo de O Senhor dos Anéis. Provavelmente existiriam menos Elfos perto do final do reinado de Eldarion, mas provavelmente existiam mais Anões. E Homens aumentariam e se expandiriam muito e amplamente, enquanto os Hobbits também prosperariam. Os planos de Herumor podem ter sido confinados às terras do sul, mas é mais provável para mim que Herumor estendesse sua influência tão distante e amplamente quanto possível. Mesmo os Hobbits do Marco Ocidental poderiam sentir algum traço de sua influência, mesmo que apenas em murmúrios medrosos comentassem a origem que não poderiam saber com certeza. Embora não houvesse grandes inimigos como Sauron para causar inquietação, a Quarta Era poderia, apesar de tudo, tornar-se um tempo perigoso para os Povos Livres novamente.
Tradução de Fábio Bettega