O papel central da mitologia de Tolkien está designado à família de Finwë, o primeiro rei dos Noldor. Ao contrário dos Minyar (Primeiros), todos aqueles que migraram para Valinor e se tornaram conhecidos como os Vanyar, os Tatyar (segundos) e Nelyar (Terceiros), se dividiram em dois grupos. Aqueles Tatyar que se comprometeram a realizar a Grande Jornada se tornaram os Teleri, e Elwë e Olwë eram seus líderes. Portanto, Finwë, Elwë e Olwë eram somente reis dos membros de seus clãs que os seguiram na Grande Jornada. Os Elfos remanescentes, conhecidos coletivamente como os Avari, eram chefiados por outros (inominados) capitães.
O significado dessa distinção é que o isolamento de Finwë dos Tatyarin Avari fortalece a visão emergente de Tolkien que Finwë deveria ser um Elfo da primeira geração. Apesar de Tolkien nunca ter afirmado isso, deveria ser respeitável por parte da primazia de Fimwë, se todos os Tatyar aceitaram sua decisão de ir a Aman. Uma vez que Ingwë, Finwë e Elwë tiveram que persuadir seu povo para realizar a jornada, nós sabemos que eles não tinham o poder autocrático dos reis Eldarin, enquanto todos os Elfos viviam em Cuiviénen. A estrutura social da primitiva cultura élfica deve, portanto, ter sido substancialmente diferente daquela dos reinados Eldarin em eras posteriores. Fëanor também tentou persuadir os Noldor a segui-lo, mas ele estava fazendo um apelo emocional durante um tempo de crise, enquanto ele ainda estava sob a banição dos Valar. Sua legitimidade como rei era questionável, uma vez que Fingolfin ainda estava agindo tecnicamente como rei em Tirion. Na Terra-Média, Turgon não parece ter tido que persuadir seu povo para segui-lo quando ele se deslocou de Nevrast para Gondolin. Ele simplesmente fez essa decisão e todo o reino se mudou.
É desta maneira evidente que havia ali um processo de evolução na autoridade dos líderes Eldarin. É certamente discutível que uma sociedade menos sofisticada pode não ter providenciado aos Elfos mais velhos o poder dos monarcas. Mas se é esse o caso, então a suposição de que Finwë deve ter se identificado com Tata, o mais velho dos Tatyar, é mais adiante enfraquecida. Tal identificação não necessita ser limitada com a identificação de caráter com caráter. Não é aparente que Finwë deve ser um descendente de Tata e Tatië. Ele poderia ter vindo de qualquer família e ascendido à proeminência através de sua coragem e sabedoria.
No entanto, os Noldor, mais que qualquer outro povo élfico cuja cultura Tolkien escrevera, mantiveram um sistema muito patriarcal. Os reis Noldorin alcançaram uma autoridade quase absoluta sobre seu povo, bem como a autoridade que Melkor exercera sobre seus próprios assuntos. De um modo, os Noldor se tornaram uma paródia daquilo que eles mais desprezavam: o reino de Morgoth. Sua estrutura social deve ter sido compelida para tal autocracia por antigos costumes mais do que por experimentação. De fato, é sensato inferir a partir dos nomes de vários grupos Avarin que os Tatyar eram mais propensos a divisões que os Nelyar. Se for assim, então a habilidade de Finwë em reter a total lealdade de seu povo em Aman foi extraordinária. Fëanor era bem menos popular que seu pai.
Então, a autoridade autocrática dos últimos reis Noldorin indica que eles devem ter herdado uma autoridade primária de Tata. A personalidade de Finwë deve ter participado de um papel maior em estabelecer a autoridade, mais do que sua herança. Isto é, para os Noldor, descender de Finwë seria mais importante do que descender de Tata. Sem falar que os capitães originais dos Tatyar não devem ter descendido de Tata. Faz sentido que, se Ilúvatar selecionou Tata para ser o primeiro a acordar entre os Elfos, ele deveria ter as qualidades de um líder natural que Ilúvatar sentira que os Tatyar necessitariam. Tata deveria (se ele fosse um bom pai) criar seus filhos para serem bons líderes também. Liderança deveria ter se tornado o papel natural da família simplesmente porque a família exercia liderança. Portanto, se Finwë teve irmãos ou primos que decidiram não ir para Valinor, eles devem ter se tornado os líderes dos Tatyarin Avari.
A questão se Finwë tinha outros parentes é interessante, apesar de não ser necessariamente crucial para o entendimento da cultura Noldorin. Havia outras casas principescas entre os Noldor. Elas devem ter compartilhado uma aliança com a casa real através de descendência comum de Tata, mas Tolkien nunca explora o assunto em nenhuma obra publicada. Havia príncipes em Gondolin, como Glorfindel (de quem Gandalf comenta com Frodo que Glorfindel descende de uma casa de príncipes). Infelizmente, a história dos textos de Gondolin faz com que seja impossível determinar quantos príncipes havia em Gondolin, ou qual deveria ter sido sua relação (se é que havia) com os Finwënianos. Voronwë reinvidicou aliança com a Casa de Fingolfin. Um descendente comum de Tata pode explicar essa aparente discrepância. Um descendente através de uma filha de Fingolfin (um daqueles que foi ao exílio) deve também explicar a reinvidicação de Voronwë. Mas algumas pessoas discutem que a declaração de Voronwë pode somente explicar uma relação entre sua família e a família de Fingolfin.
Então Gondolin não nos oferece qualquer insight sobre as complexas hierarquias sociais dos Noldor. No entanto, Nargothrond é uma história diferente. Há pelo menos uma casa de príncipes que (aparentemente) não reinvidica aliança com os Finwënianos. Essa é a família de Guilin, cujo filho Gwindor iniciou a responsabilidade de chefe por lançar o desastroso ataque que iniciou a Nirnaeth Arnoediad. Gwindor também trouxe Túrin a Nargothrond, o que posteriormente levou ao fim daquele reino. Tolkien fala que Gwindor é “um príncipe muito valioso”. Em qualquer outro lugar, Gwindor é “um senhor de Nargothrond”. Seu posto é, no entanto, nobre, mas ele não é um Finwëaniano. Se a família de Guilin foi considerada nobre de tempos antigos ou foi elevada a esse status por Finwë ou um dos reis de Nargothrond, é um mistério.
O que podemos ter certeza é que, no entanto, os Finwënianos derivaram seu status especial do próprio Finwë. A monarquia Noldorin começou com Finwë e todos os reis legítimos dos Noldor exigiram a descendência dele. Mais ainda, nenhum príncipe Noldorin de fora da família já tinha estabelecido um domínio próprio. A estima cuja família de Finwë teve por seu povo foi forte o suficiente, tanto que eles limitaram sua escolha de reis somente para seus descendentes. Portanto, até mesmo se todos os capitães Tatyarin fossem descendentes de Tata, tal patrimônio era insuficiente para justificar um prestígio real.
O carisma de Finwë é também evidente pelo fato de que mais de uma mulher élfica o amava. Em “Leis e Costumes entre os Eldar” (“Morgoth’s Ring”, pg 207-253), Tolkien escreve: “Os Eldar casavam somente uma vez na vida, e por amor, ou pelo menos por livre arbítrio de ambas as partes…Casamento, exceto por raras chances ou destinos estranhos, era o curso natural da vida de todos os Eldar…Aqueles que deveriam depois se tornar casados, deveriam se escolher cedo na juventude, até mesmo quando crianças (e de fato isso acontecia de vez em quando em dias de paz)…”
Se o curso natural dos Eldar os levou a se casar somente uma vez na vida, então a habilidade de Finwë de atrair e amar mais que uma mulher era extremamente fora do comum. Sua personalidade deveria ser extremamente carismática. Não é justo falar que alguma coisa deva ter acontecido para Indis amar Finwë até mesmo quando ele estava casado com Míriel. Seu amor era sem dúvida puro e natural. Não há nunca uma dica de qualquer sinal de sombra ou corrupção em ambos Finwë ou Indis nas estórias relacionadas ao seu casamento. Até certo ponto, seu casamento é reconhecido como um sinal de cura para o pesar de Finwë sobre a morte de Míriel e a recusa de retornar à vida. Apesar da narrativa dizer que as coisas seriam melhores para os Noldor em geral se Finwë não se casasse novamente, o amor que ele e Indis compartilhavam parece ter sido tão forte e natural como o amor que seria encontrado em qualquer primeiro casamento entre os Eldar.
A personalidade distinta de Finwë deve, portanto, ter sido expressada em todos os seus filhos de uma maneira ou outra. Crescer em uma família de um líder que as pessoas devem ter idolatrado deve ter imbuído as crianças de Finwë com um senso de prestígio. Mas ver seu pai interagir com seu povo como um líder, e sem dúvida ouvi-lo palestrar sobre como governar ou liderar o povo deve ter providenciado uma educação espetacular a Fëanor, Fingolfin e Finarfin no equivalente Noldorin de uma pessoa culta. Finwë deve ter sido muito bom em julgar os humores dos outros e descobrir o que ele queria. Os Noldor assim desenvolveram um relacionamento muito próximo com seu rei, muito mais próximo (parecia) do que aquele entre os Vanyar e Ingwë ou entre os Teleri e Elwë e Olwë.
No entanto, Tolkien adicionou um pouco de divisão política lingüisticamente inspirada ao ambiente que produziu os Finwënianos. Isto é, em “The Shibboleth of Fëanor”, Tolkien documenta a transição consciente que a maioria dos Noldor incumbiram em seu diálogo entre o uso de um som (chamado Thorn, foneticamente relacionado à th) e outro (que tomava o lugar do som antigo). Os Vanyar, que aderiram à prática antiga, retiveram o antigo som. Fëanor aderiu ao antigo som como um símbolo de seu amor para com sua mãe. Finwë, por outro lado, tomou a nova pronúncia, talvez como um sinal de que ele estaria prosseguindo com sua vida. Indis também tomou a nova pronúncia, pois ela sentiu que estando unida aos Noldor, deveria falar como eles.
A intransigência de Fëanor derivou-se em parte da natureza teimosa que ele tinha herdado de sua mãe. Mas a decisão dos Valar de proibir o retorno de Míriel à vida para permitir que Finwë e Indis se casassem levou Fëanor a concluir que Indis era a fonte de sua infelicidade. Ele aparentemente não comparecera ao conselho onde os Valar debateram sobre os prós e contras de permitir que Finwë tivesse uma segunda esposa, então ele não entendia que foi a intransigência de Míriel que levou ao grande problema. Os Valar queriam somente o que era justo, e à vista deles (particularmente de Manwë), Míriel estava sendo muito egoísta. Ela tinha, portanto, perdido seus direitos como um ser vivo encarnado. Tudo o que Fëanor vira era o fato de que ele nunca falaria com sua mãe novamente, o que pareceria (em seu luto e raiva) uma promessa quebrada dos Valar. Apesar de tudo, os Elfos supostamente viveriam com a vida de Arda. Míriel deveria ter sido restaurada à vida por fim. Esse era o natural a acontecer com um Elfo.
Assim, quando Finwë e Indis se casaram, o ressentimento de Fëanor da intrusão de Indis na família assegurou que ele iria se isolar da família de Finwë. Quando Fëanor criou seus filhos, estes questionaram por que seus tios e tias falavam de uma maneira diferente da deles. Ele e sua família respeitavam a língua de sua amada mãe. Fëanor fez disso uma questão pessoal, e dessa forma alienou os contadores de estória Noldorin que iriam de outra forma ter aceitado e suportado seus argumentos contra a mudança lingüística. Como comparação, considere como (no idioma americano), muitas pessoas hoje utilizam o pronome “myself” incorretamente (de acordo com as regras antigas). Quando falamos de outra pessoa e de si mesmo, devemos usar “me” no objetivo e “I” no subjetivo. No entanto, muitas pessoas têm sido repreendidas por professores e parentes por usar “me” quando deveriam usar “I”, então acabaram substituindo “myself” por “me”.
Em outras palavras, ao invés de falar “They were speaking to my sister and me”, a maioria das pessoas fala “They were speaking to my sister and myself”. “Myself” é, de acordo com as regras gramaticais, um pronome reflexivo. Deve ser precedido somente por “I” ou “me”, e não utilizado sozinho. Agora, imaginem se o Príncipe Charles fosse lançar uma cruzada pessoal para corrigir cada pessoa que utiliza o “myself” incorretamente! Quanto tempo levaria antes que as pessoas decidissem que ele é arrogante o bastante para se respeitar? E imagine que enquanto o Príncipe Charles faz campanha contra o idioma vulgar, sua mãe, a Rainha, começa a usar o “myself” incorretamente. O amor e o respeito do povo para com uma monarca popular continuará intacto, porque ela estaria falando como eles e não faria tempestade em copo d´água acerca de uma questão tão pequena. No entanto, esse amor e respeito não seriam transferidos ao seu filho.
Fëanor assim elevou um desentendimento erudito ao status de ordem política. Todos aqueles Noldor que usavam a pronúncia nova eram contra ele, e todos aqueles que retiveram a pronúncia Thorn o apoiavam. Ironicamente, Fëanor ignorou os Vanyar, que eram praticantes da pronúncia Thorn, enquanto ele possuía uma aliança com os teleri, cuja fala era radicalmente diferente do Quenya falado pelos Noldor e Vanyar. Mais ainda, Finarfin reteve a pronúncia Thorn por motivos próprios. O “Shibboleth” diz que Galadriel mudou para a nova pronúncia, em parte devido a sua animosidade para com Fëanor.
Todas essas mudanças ameaçadoras de vida na pronúncia, desta maneira, simbolizavam a polarização das lealdades dos Noldorin. Porém, ainda mais importante, elas enfatizaram a transição entre a autoridade primitiva dos capitães Élficos e a autocracia dos reis Noldorin. Fëanor estava fazendo sua linguagem de seu modo, e ele reuniu com ele todos aqueles que se sentiram reunidos. Mas devido ao fato de ele ter sido uma pessoa tão maestral, ele chegou a dominar as decisões de seus seguidores. A transição de seus seguidores a quase autômatos políticos foi completada por suas participações voluntárias no ataque de Alqualondë. Eles devem ter pensado que estavam apenas roubando navios, mas quando a luta começou a ficar sangrenta, nenhum dos Fëanorianos pareceu ficar de lado e falado: “Esperem um pouco! O que estamos fazendo?”.
Em uma menor extensão, a divisão sobre a pronúncia deve ter influenciado os outros Noldor, não meramente para suportar Finwë e Fingolfin. A divisão deve tê-los forçado a ter um pensamento do tipo “nós e eles”. Alguns seguiram Fëanor e outros seguiram Finwë e Fingolfin. Subseqüentemente, o prestígio de Finwë entre os Noldor deve ter diminuído. Ele tinha, apesar de tudo, desonrado seu próprio filho ao não apoiar Fëanor. Deve ter sido um momento de orgulho para os Fëanorianos quando Finwë partira de Tirion para viver com seu filho em exílio. Apesar do papel de Finwë na disputa entre Fëanor e Fingolfin ser silencioso, seria somente um pequeno salto de imaginação retrata-lo controvertido, como quando ele tenta restaurar a paz entre seus filhos e descobre que os Valar tinham chegado para proferir sua própria justiça. Então, para adicionar ferida ao insulto, eles exilaram seu filho, não considerando tudo o que ele possa ter falado em nome de Fëanor (sem mencionar a tentativa de reconciliação de Fingolfin). Evidentemente, empunhar uma espada contra seu irmão em público é algo bem desagradável. Mas a autoridade de Finwë estava comprometida. Ele não podia dispensar a justiça dentro de sua família, muito menos entre seu próprio povo.
O ato da rebelião de Finwë foi o começo real da rebelião de Fëanor, apesar de todos os conflitos que precederam tal rebelião. A intromissão de Melkor deve ter inflamado o orgulho dos Noldor, mas era, no fim, a própria decisão de exilar Fëanor de Tirion, que ocasionou a seqüência final dos eventos em andamento. O que não é dizer que a rebelião deva ter ocorrido de outra forma. Fëanor deve, por fim, ter sido empurrado da beira apesar do que aconteceu. O assassinato de Finwë por Melkor jogou Fëanor numa profunda depressão final, que resultou no que pode ser caracterizado como sua loucura. Fëanor perdera toda a sua perspectiva racional, e devido a ele ter aperfeiçoado seus poderes de persuasão durante anos e devido ao fato de que os Noldor eram uma nação em luto pela morte inesperada de seu Rei e pela perda das Duas “rvores, Fëanor tinha esse como o momento perfeito para infectar seu povo com sua loucura.
A dinâmica da personalidade culta dos Finwënianos do modo como era, foi assim, fundada sobre um forte laço emocional entre os reis e o povo. Fëanor havia alienado a maioria dos Noldor quando Melkor assassinara Finwë, mas a miséria ama companhia, e Fëanor tinha muita companhia após Melkor e Ungoliant terem matado as Duas “rvores e atacaram Formenos. Todas as decisões justas e populares de Finwë através do equivalente de centenas de anos haviam preparado o caminho para o apelo emocional de Fëanor. Ele deve ter tido os poderes de um incrível locutor motivador para começar, mas Fëanor provavelmente não poderia ter influenciado os Noldor a unirem-se a ele em qualquer outra época da história. A morte de Finwë e o modo como Melkor capturara os Valar completamente sem guarda em seu próprio reino deve ter abalado a fé dos Noldor em Manwë e Varda.
No entanto, Fëanor não tinha nada a seu favor. Fingolfin, igualmente em luta por seu pai, e muito amado e respeitado pelos Noldor, discutiu contra Fëanor. O debate durou um longo tempo. Deveriam ter trocado palavras amargas e duras. O sarcasmo e ridicularização devem ter sido jorrados da língua de Fëanor rápida e furiosamente. Fingolfin deve ter parado de se conter por um tempo, e simplesmente descarregou tudo em Fëanor. Tudo o que nos é contado é que palavras violentas despertaram, e então mais uma vez a ira chegou próxima a beira das espadas. O que estava em jogo não era simplesmente o destino da nação Noldorin, nem mesmo a aliança dos Noldor. Questões pessoais estavam pressionando para frente e ambos Fëanor e Fingolfin estavam investigando (ou tinham investigado) eles próprios em questões de prestígio e poder pessoal. Isto é, Fingolfin nessa época sentia que ele deveria ser rei dos Noldor. Ele era, de certa maneira, quase orgulhoso e arrogante como seu irmão.
As ambições maquiavélicas de Fingolfin foram despertadas pelas mentiras de Melkor, que gerou dissensão entre os Noldor. Foi quando Fingolfin fez um apelo emocional ao seu pai para reprimir Fëanor por ter empunhado sua espada sobre Fingolfin. Fëanor acusou Fingolfin de abrigar ambição real. Pode ser que Fëanor estava lendo os desejos de seu irmão corretamente. Fingolfin, apesar de tudo, não falava estranhamente como Fëanor falava. Ele também não ficava por aí com espadas, ameaçando parentes na frente do rei e seu povo. Ele deve ter se julgado um candidato melhor para o reinado que seu irmão (apesar de que, naquela época, não havia razão para ninguém ficar pensando sobre quem deveria suceder ao seu pai). “Deixem que o melhor príncipe governe” era a ordem do dia, mas Fingolfin não era aparentemente melhor em evitar as manipulações de Melkor que Fëanor. Portanto, quando Finwë desistiu de sua coroa para compartilhar do exílio de Fëanor, Fingolfin não tinha outra escolha a não ser aceitar humildemente a pesada responsabilidade de governar a maioria dos Noldor em Tirion.
Dez anos de reinado devem representar uma estabilidade muito dependente. Fingolfin deve ter restituído a coroa para seu pai, mas ele não desejava renunciá-la a Fëanor. Quando Melkor assassinou Finwë, o reinado Noldorin entrou em disputa imediata. Apesar dos Valar não terem ainda restabelecido seu local entre os Noldor, Fëanor entrou em Tirion e convocou Finwë. Tal intimação era uma clara usurpação da autoridade real. Mais encolerado, Fëanor se declarou como o legítimo Rei dos Noldor. Fingolfin não abdicara sua própria autoridade, embora temporariamente isso era destinado a ocorrer. Como Finwë havia enfrentado os Tatyar muito tempo atrás e ofereceu a eles uma nova vida em Aman, Fëanor agora enfrentava os Noldor e propunha uma oferta similar de vida nova na Terra-Média. A antiga estrutura social não estava trazendo sentido. Fingolfin tinha que responder a Fëanor, mas se sua esperança era restaurar o reinado de Finwë através de suas próprias leis, isso provou ser inútil. A maioria dos Noldor não queria mais nada com os Valar e Valinor. Alguns deles foram convencidos a se unir à rebelião, apesar da afeição por Valinor. E uma menor parte da nação recusou a aceitar ambos Fëanor ou Fingolfin se eles estavam determinados a liderar os Noldor ao exílio, mesmo se Fingolfin somente concordasse em ir apenas para ter certeza de que Fëanor não deixaria que ninguém fosse morto.
No fim, Finarfin provou ser o único filho de Finwë com qualquer bom senso real. Ele aparentemente nunca caiu nas mentiras que Melkor semeara entre os Noldor. Quando um grande mentiroso espalha confusão, normalmente há algumas pessoas que ficam acima da discórdia, e Finarfin era esse tipo de indivíduo. Ele, também, tentou persuadir os Noldor a não seguir Fëanor ao exílio. E assim como Fingolfin, ele concordou em ir relutantemente, em maior parte porque seus filhos queriam tentar a sorte na Terra-Média, e porque ele temia o que poderia acontecer com as pessoas se elas fossem deixadas à mercê da liderança de Fëanor. Quando os Noldor atacaram Alqualondë e os Valar os condenaram a um destino terrível, Finarfin silenciosamente retirou-se da rebelião e procurou o perdão dos Valar (e, esperançosamente, dos Teleri, seu povo por casamento). No fim, o reinado foi outorgado a Finarfin, cujas mãos não eram manchadas de sangue e cujo coração tinha a menor ambição dentre os filhos de Finwë.
Outros membros da família de Finwë que receberam praticamente nenhuma atenção ao longo dos anos foram as filhas de Finwë com Indis. Finwë tinha filhas? Bem, isso é o que “The Shibolleth of Fëanor” nos passa. Findis foi, de fato, a filha primogênita de Finwë e Indis. Ela era aparentemente muito parecida com a sua mãe em temperamento. Indis ficou em Tirion quando Finwë se uniu a Fëanor em Formenos. Ela não participou de nenhuma parte no governo dos Noldor, parecia, e Findis parece ter permanecido próxima de sua mãe. Quando a notícia da morte de Finwë chegou a elas, ambas partiram e retornaram aos Vanyar.
Originalmente, Finwë teria três filhas com Indis. Christopher Tolkien menciona que, de 1959 até 1968, foi a época que seu pai preparara várias genealogias para os Finwënianos. No entanto, a segunda filha, Faniel, nunca é mencionada em “The Shibboleth”, e pode ser que Tolkien pretendia tira-la da família. Como dito no Shiboleth, Irien (originalmente chamada Irimë, a terceira filha) nasceu entre Fingolfin e Finarfin. Ela era também chamada de Lalwendë, e foi o nome que em Sindarin se tornou Lalwen. Fingolfin e Lalwen eram muito próximos, e ela o acompanhou no exílio. Não sabemos mais nada sobre ela, mas algumas pessoas se perguntavam se Aranwë, pai de Voronwë, não poderia ser o marido ou filho de Lalwen. Presumivelmente, Lalwen permaneceu em Hithlum e deve ter sido morta ou capturada após a Nirnaeth. E uma vez que ela era próxima a Fingolfin, ela deve ter ativamente apoiado suas reinvidicações para o reinado.
Fingolfin afirmou sua realeza ao usar seu nome paterno. Finwë nomeou seus três filhos a partir de seu nome: Curufinwë (Fëanor), Nolofinwë (Fingolfin) e Aranfinwë (Finarfin). Fingolfin, ao que parece, iniciou o costume de usar o nome de seu pai como um símbolo de autoridade real. Portanto, ele se autodenominava Finwë Nolofinwë, talvez durante o debate com Fëanor em Tirion, mais provavelmente após o ataque em Alqualondë. O Shibboleth diz: “Fingolfin prefixou o nome Finwë a Nolofinwë antes dos Exílios alcançar a Terra-Média. Isto foi devido a dedicação a sua reinvidicação de ser o capitão de todos os Noldor após a morte de Finwë, e então enraiveceu Fëanor de tal forma que essa foi sem dúvida uma das razões para de sua traição ao abandonar Fingolfin a roubar todos os navios.”
Finafin não usou o nome Finwë. Curiosamente, o Shibboleth fala que Finrod criou o nome “Finwë Arafinwë”, ou Finarfin, após a morte de Fingolfin, numa época em que os Noldor se dividiram em reinados separados. Apesar de que essa afirmação pareceria contradizer “O Silmarillion” (que menciona explicitamente os reis dos Noldor anteriores à morte de Fingolfin), as intenções de Tolkien não são claras. Contudo, o uso do nome de Finwë como um prefixo se tornou uma prerrogativa real. De alguma forma, o nome de Finwë deve ter se tornado um sinônimo da palavra-título rei, e seria apropriado falar do governador dos Noldor como “O Finwë”. Após a Primeira Era, Gil-Galad teria sido o “Finwë” na Terra-Média.
As esposas dos filhos de Finwë receberam pouca atenção de Tolkien. A esposa de Fëanor, Nerdanel, era filha de um ferreiro chamado Mahtan em “O Silmarillion”. A família de Mahtan possuía cabelo castanho-avermelhado e ele deve ter sido o líder de uma comunidade de Noldor que morava perto dos salões de Aulë. Nerdanel tinha uma tez avermelhada, cujo filho Caranthir herdara. Numa nota adicionada ao “The Shibboleth of Fëanor”, o pai de Nerdanel é chamado Aulendur e Urundil, e fala-se que Aulendur suplantou Mahtan, que, no entanto, foi o nome que Christopher utilizou para ele em “O Silmarillion”. Outro nome para sua personagem, do qual Christopher não tem muita certeza, deve ter sido “Sarmo”. Ele usava uma auréola de cobre em volta de sua cabeça e gostava muito de cobre. Maedhros era aparentemente muito parecido com ele em temperamento e aparência, e também usava uma auréola de cobre. Quando Fëanor se tornou beligerante demais a ponto de Nerdanel não suporta-lo mais, ela retornou para a casa de seu pai. Aulë persuadiu Aulendur e sua família para não seguir Fëanor ao exílio. Nerdanel pediu que Fëanor deixasse os filhos mais novos em Aman, mas ele recusara. Ela então previu que os mais novos nunca chegariam a Terra-Média.
A esposa de Fingolfin era Anairë. Ela era uma Noldo, mas tudo o que sabemos é que ela era amiga de Eärwen (esposa de Finarfin) e que ela recusou a seguir Fingolfin ao exílio “em grande parte devido a sua amizade com Earwën”. Earwën era filha de Olwë de Alqualondë. Ela tinha cabelos prateados como outros membros de sua família. Numa primitiva história de Galadriel publicada em “Contos Inacabados”, Tolkien escreveu que Finrod “tinha também de sua mãe Teleri um amor pelo mar e sonhos de terras longínquas que ele jamais vira” Não está claro se Eärwen era antiga o bastante para ter nascido na Terra-Média, mas o texto parece dar a entender que os Teleri de Alqualondë (ou pelo menos Eärwen), não eram totalmente alheios a Terra-Média. Os Teleri haviam passado grande parte de seu tempo vivendo na ilha de Tol Eresseä antes de Ulmo comandar Ossë a ensina-los a arte da construção de barcos para que eles pudessem finalmente navegar até Aman e se unir aos Eldar ali.
Fëanor e Nerdanel tiveram sete filhos, como O Silmarillion nos fala: Maedhros, Maglor, Celgorm, Curufin, Caranthir, Amrod e Amras. O Shibboleth fala que seus nomes paternos (dados em Quenya) eram Nelyafinwë (“Finwë Terceiro”, como em Finwë III, Finwë o Terceiro), Karafinwë, Kurufinwë (Curufinwë no Silmarillion), Morifinwë, Pityafinwë (“Pequeno Finwë”) e Telunfinwë (“Último Finwë”). Fala-se que Maedros era o mais belo dos filhos, e Curufin era o favorito do pai porque ele era o mais parecido com Fëanor em espírito e habilidade. Curufin também parecia com sua mãe mais do que os outros filhos. Seus nomes maternos eram Maitimo, Makalaure, Tyelkormo, Atarinke (“Pequeno Pai”), Carnistir (“Cara Avermelhada”), Ambarusso e Ambarusso. Os dois Ambarussos eram gêmeos e Fëanor pedira a Nerdanel para dar a um deles um nome diferente. Ela escolhera Umbarto (“Destinado”), que Fëanor mudara para Ambarto (“Exaltado”), e ele deu esse nome ao mais novo.
“The Shibboleth of Fëanor” conta que Nerdanel pedira a Fëanor para deixar os gêmeos com ela, ou pelo menos um deles, quando ele estava preparando para a liderança dos Noldor ao exílio. Ele recusou, repreendendo-a por seguir o conselho de Aulë ao invés da vontade de seu marido, e Nerdanel profetizou que um de seus filhos não chegaria a Terra-Média. Quando Fëanor queimou os navios roubados em Losgar, ele reuniu seus filhos na costa e encontrou somente seis deles. Então Ambarussa contou a ele que Ambarto havia dormido em seu navio. “Aquele navio eu destruí primeiro”, Fëanor respondeu. “Então certo você estava em nomear o mais novo dos seus filhos”, Ambarussa respondeu, “e Umbarto o Destinado era a sua forma verdadeira”. Uma nota final diz que o nome de Ambarussa se tornou Amros em Sindarin (e não Amrod, como registrado no Silmarillion). Onde quer que o Silmarillion fale de Amros e Amras após a queima em Losgar, é mais correto entender que somente Amros estava presente.
Dos filhos de Fëanor e Nerdanel, somente três tiveram esposas: Maglor, Curufin e Caranthir. Na nota sete, adicionada ao ensaio “Dos Anões e Homens” (“The Peoples of Middle-Earth”, pp. 295-330), Christopher cita uma nota que seu pai fez em 1966 após a segunda edição de Senhor dos Anéis ter sido publicada. Nela, Tolkien decidiu que Celebrimbor (chamado senhor de Eregion nos apêndices) deve ser o filho de Curufin, pois Maedhros e os gêmeos não tiveram esposas. Curufin, herdando a maior parte da habilidade paterna dentre os sete, passou sua habilidade (e provavelmente muita história) para Celebrimbor, que desaprovou o comportamento de seu pai em Nargothrond. Celebrimbor ficou para trás. A mulher de Curufin escolheu não seguir seu marido no exílio, então ela permaneceu em Aman dentre as pessoas governadas por Finarfin (e era, portanto, provavelmente uma Noldo). Não há menção de quaisquer outros netos de Fëanor e Nerdanel, e os destinos das esposas de Maglor e Caranthir não são dados.
Fingolfin e Anairë tiveram quatro filhos: Findekano (Fingon), Turukano (Turgon), Irissë (Aredhel) e Arakano (Argon). Apesar de Anairë ter permanecido em Valinor quando Fingolfin foi ao exílio, todos seus filhos seguiram Fingolfin. Fingon liderou a vanguarda da multidão de Fingolfin, e ele foi acompanhado de sua mulher, Elenwë dos Vanyar. Irissë era próxima a Turgon como sua tia Irien (Lalwen) era próxima a Fingolfin. Irissë permanecera com o povo de Turgon até persuadir que ele a deixasse visitar Fingon em Hithlum. Em vez disso, após deixar Gondolin, ela fugiu de sua escolta e vagou ao leste em Nan Elmoth. Ali ela casou-se com Eöl e teve um filho, Maeglin, com quem ela retornou a Gondolin muitos anos depois.
Arakano surgiu relativamente atrasado, provavelmente após a segunda edição de Senhor dos Anéis ter sido publicada. Ele é descrito como “o mais alto dos irmãos e o mais impetuoso”. Tolkien achou difícil designa-lo um papel na história completa em geral, e primeiro ele criou mortes para Arakano em Aman. Mas por fim Tolkien decidiu que a multidão de Fingolfin seria atacada por um exército de Orcs quando os Noldor passassem ao sul ao longo da costa da Terra-Média. Ali Arakano distinguiria e se sacrificaria por seu povo:
Quando o começo do ataque dos Orcs pegou a multidão desprevenida como se ela estivesse marchando ao sul e as fileiras dos Eldar estavam abrindo caminho, ele saltou e cortou um caminho através dos inimigos, amedrontando por sua estatura e pela terrível luz de seus olhos, até chegar o capitão Orc e ele render-se. Então apesar de estar cercado e morto, os Orcs estavam consternados, e os Noldor os perseguiram com matança.
O nome de Arakano assim nunca foi formalmente transformado para o Sindarin, “mas a forma Sindarim Argon foi mais para frente por vezes utilizada como um nome pelos Noldor e Sindar em memória de seu valor” (“Peoples of Middle-Earth”, p.345).
Fingon também era impetuoso. Ele não apenas se apressou para ajudar Fëanor, ele liderou os ataques opostos contra as forças de Morgoth, quando quer que Hithlum fosse atacada. E quando Gwindor liderou sua companhia de soldados Nargothrondianos contra o exército de Morgoth na Nirnaeth, Fingon não podia mais se conter. Ao invés de esperar por Maedhros, como ele devia, ele pôs seu capacete, montou em seu cavalo, e encarregou-se para a glória, morte e derrota. Fingon era sem dúvida um dos maiores guerreiros dos Eldar, pois foi preciso mais do que um Balrog para mata-lo no fim, e suas realizações pessoais registradas no campo de batalha superaram àquelas de outros príncipes Élficos.
Turgon era sem dúvida o mais sábio dos filhos de Fingolfin, e por uma razão não revelada, ele era um dos favoritos de Ulmo entre os príncipes Noldorin. Pode ser que, uma vez que Turgon tomou o governo sobre os Elfos Sindarin de Nevrast, Ulmo sentiu que Turgon seria o único rei Noldorin a encomendar a construção de navios com o propósito de procurar ajuda para Aman. O Shibboleth registra que a mulher de Turgon, Elenwë, pereceu em Helcaraxë. Ela e sua filha, Itaril se renderam, e Turgon resgatara Itaril, mas Elenwë foi esmagada pelo gelo. Parecia, através de uma observação enigmática no Shibboleth, que Irissë e Elenwë eram amigas muito próximas.
Quando Fingolfin nomeou Findekano, ele não necessariamente usou o termo originário de “Finwë”, um antigo nome Élfico dado em uma época quando nomes eram outorgados a alguém conforme eles soavam. Nem, o Shibboleth nos conta, deve ter sido necessário. O uso de uma palavra similar honrava o nome ancestral. Findekano é descrito usando “seu longo cabelo escuro em grandes tranças amarradas com ouro”. Tolkien tinha várias considerações sobre a vida pessoal de Findekano. Apesar do Silmarillion nos contar que Gil-Galad era seu filho, Christopher Tolkien admite em ambas as obras “The War of The Jewels” e “The Peoples of Middle-Earth” que ele estava errado quando incorporou Gil-Galad no livro como um filho de Fingon. Christopher menciona que todas as tabelas genealógicas mostram Fingon com uma esposa não nomeada e dois filhos: Ernis (mais tarde Erien) e Finbor. Mas sua família foi retirada da genealogia final e Tolkien escreveu uma nota dizendo que Fingon “não tivera mulher ou filhos”.
Deveria ser, sem dúvida, necessário interpretar algum destino deprimente para ambos Erien e Finbor, uma vez que Finbor seria o herdeiro de Fingon. Serviu para o propósito de Tolkien mover Gil-Galad para a família de Finarfin. Então, o Alto Reinado passou de Fingon, que não tinha filhos, para Turgon, e então para a família de Fingolfin (a linhagem masculina que terminava com Turgon) para a família de Finarfin.
Os filhos de Finarfin e Eärwen eram Findarato Ingoldo (Finrod), Angarato (Angrod), e Newendë Artanis (mais tarde chamada Altariel, Galadriel). O Silmarillion coloca Orodreth (Artaher ou Arothir) entre os filhos de Finarfin, mas a decisão final foi que ele fosse filho de Angrod e Eldalote (Edhellos em Sindarin). Ela era uma Noldo, e Arothir nascera em Aman. O Silmarillion fala que Orodreth ficou ao lado de Finarfin quando este defendeu com os Noldor a decisão de não seguir Fëanor para o exílio.Seria totalmente inconsistente com a genealogia final para Arothir manter esse papel. Ele era um rei guerreiro relutante e somente gradualmente ele se permitiu influenciar pelas medidas agressivas de Túrin.
A decisão final de Tolkien acerca de Finrod é intrigante. Em agosto de 1965, ele escreveu uma breve explicação sobre a descendência de Gil-Galad. O texto diz “Finrod deixou sua mulher em valinor e não teve nenhum filho no exílio”. A esposa de Finrod (não nomeada aqui) deve ser Amarie dos Vanyar. Mas a frase pode significar uma das três coisas: que Finrod e Amarië tiveram filhos que permaneceram em Valinor, que eles não tiveram filhos, ou que eles tiveram filhos após os Valar terem restaurado sua vida. É tentador racionalizar a afirmação de Gildor Inglorion, quem Frodo, Sam e Pippin conheceram no Condado, com sua declaração um tanto quanto ambígua. Isto é, Gildor contou a Frodo que ele era “da casa de Finrod”. Até aonde sabemos, havia somente um Finrod. Originalmente, o nome Finrod foi dado ao pai, e o príncipe que fundou o reino de Nargothrond foi chamado de Inglor. Mas ao revisar O Senhor dos Anéis para a segunda edição, Tolkien modificou Finrod para Finarphir (mais tarde se tornou Finarphin, Finarfin) e Inglor para Finrod. Mas ele não mudou o nome de Gildor.
Se Gildor é realmente um descendente de Finrod, ele deve ter nascido em Valinor. Mas se é esse o caso, como ele chegou na Terra-Média, e quando? Tolkien parece ter omitido Gildor completamente. E as pessoas são rápidas a notar que Gildor nomeia a si mesmo como um Exilado (ou, melhor, ele diz, “Nós somos Exilados”). Como Gildor poderia ser um Exilado se ele nasceu após Finrod ter sua vida restaurada? A resposta para essa questão é simples: qualquer filho dos Noldor que foi para o exílio, e que estava vivendo na Terra-Média, seria um Exilado (um subgrupo dos Noldor) tanto quanto ainda era um Noldor. No entanto não há nenhum texto que associa Gildor com o renomeado Finrod/Finarfin ou o renomeado Inglor/Finrod (exceto seu próprio nome, que significa “parente de Inglor”).
Uma nova dificuldade surgindo da conexão de Gildor com Finrod é que, se ele estava vivo na Terra-Média quando Gil-Galad perecera, não deveria ele ser apto para reinvidicar a Alta Soberania sobre os Noldor? Pode ser que tal reinvidicação seria julgada inválida, uma vez que o reinado passara para a linhagem de Orodreth (assim como passara da linhagem de Fëanor para a de Fingolfin e depois para a de Finarfin). O reinado poderia descer, mas não subir. No entanto isso é insatisfatório. Poderia ser também que Gildor tenha chegado com um dos Istari, apesar de ser falado que apenas Glorfindel chegou a Terra-Média após a Queda de Númenor. De fato, há uma frase associada ao Shibboleth que afirma que “pouco foi ouvido na Terra Média sobre Aman após a partida dos Noldor. Aqueles que retornaram para aquela direção nunca mais voltaram, desde a mudança do mundo. Eles foram para Númenor muitas vezes em seus primeiros dias, mas pequena parte das lendas e histórias de Númenor sobreviveram a sua Queda”.
Novamente temos aqui uma frustrante frase ambígua. “Aqueles que retornaram (para Aman) nunca voltaram, desde a mudança do mundo”. O que seria a mudança do mundo, senão o evento no qual Ilúvatar transformara o mundo, removendo Aman dos círculos do mundo e destruindo Númenor? A frase a seguir parece indicar que os Noldor (de Tol Eressëa) somente navegaram para o leste como para Númenor em seus anos primordiais. Mais ainda, a passagem não descarta completamente uma travessia para o leste por alguém de uma geração mais nova. De fato, em uma de suas últimas notas sobre Glorfindel, Tolkien decidiu que ele realmente retornou a Terra-Média por meio de Númenor em meados da Segunda Era, quando Gil-Galad estava se preparando para o ataque de Sauron no século XVII (A Guerra entre os Elfos e Sauron durou de 1695 a 1701).
Qualquer que seja a verdadeira relação de Gildor com os Finwënianos, ele não pode ser um descendente de Finwë que passou para o exílio com Fëanor e Fingolfin. Ele também nem pode ser um filho de Finrod nascido na Terra-Média. Se ele fosse um descendente de Finrod, apesar de que ele pode originalmente ter sido um filho de Finrod, seu nome, como preservado no cânone de Senhor dos Anéis indica que deveria haver um Inglor, que poderia talvez ser filho de Finrod e Amarië, nascido em Valinor após Finrod ter voltado à vida. Mas tais especulações não vão longe, faltando apoio textual.
A história de Galadriel é tão intrigante e complicada quanto à ancestralidade de Gildor. Tolkien mudou sua história mais de uma vez e, fazendo tais mudanças, Tolkien alterou suas relações com ambos Celebrimbor e Celeborn. Celeborn era originalmente um elfo da floresta, mas como o tempo ele foi modificado para ser um Elfo Sindarin com parentesco com Elwë, através de um irmão mais novo, Elmo. Porém, no último ano de sua vida, Tolkien decidiu que Celeborn deveria ser um neto de Olwë, nascido em Alqualondë. Parece que Tolkien esqueceu (em períodos de sua vida) as antigas restrições Eldarin contra o casamento entre dois primos de primeiro grau. (cujo princípio é referido na estória de Maeglin, apesar de, como publicado em “O Silmarillion”, essa estória é em maior parte trabalho de edição de Christopher e redução de materiais mais antigos).
Apesar disso, podemos ter certeza de que Galadriel era filha de Finarfin e Eärwen, e que ela nunca se deu bem com Fëanor. No entanto, ela compartilhou dos sonhos de Finrod de outras terras, e ela era ambiciosa. Ela desejava governar seu próprio reino. Apesar de quer ela tenha seguido para o exílio com Fëanor ou (como conta a última estória de 1972) precedeu ele com Celeborn, Galadriel foi levada para o destino dos Noldor. Como seu povo, ela estava proibida de retornar a Aman. Também permanece certo que Galadriel, de alguma forma, se tornou proximamente ligada a Melian em Doriath por um tempo, e que ela e Celeborn passaram por Ered Lindon antes de Nargothrond e Gondolin terem sido destruídas.
A partida de Galadriel de Beleriand não é mencionada no Silmarillion. Eu suspeito que isso teria acontecido em alguma ocasião entre a Dagor Bragollach (455) e a Nirnaeth Arnoediad (473). Muitos Sindar do norte fugiram para o leste através de Ered Lindon durante ou imediatamente em seguida a Dagor Bragollach. A melhor oportunidade para Galadriel e Celeborn de partir seria quando esses Sindar estavam abandonando a guerra. Galadriel e Celeborn teriam sido acolhidos entre eles, e a desaprovação de Galadriel das medidas Noldorin deve ter induzindo-a a sair de Beleriand enquanto estava tudo bem.
Angarato (Angrod) trouxe sua esposa, Eldalote, e seu filho, Arothir (Orodreth), para o exílio. Eles se estabeleceram em Dorthonion com Aikanaro (Aegnor), que nunca se casou. Angrod possuía uma grande força e ele ganhou o apelido de “Angamaite” (mãos de ferro). Angrod pereceu na Dagor Bragollach, mas Arothir escapou e fugiu para o sul para se juntar a Finrod na Nargothrond.
Conta-se que Aikanaro (Aegnor) foi “renomado como um dos mais valentes dos guerreiros, muito temido pelos Orcs: em ira ou batalha a luz de seus olhos eram como chamas, apesar de que, de outra maneira, ele era de natureza generosa e nobre. Mas no começo da juventude a luz ardente podia ser observada; enquanto seu cabelo era notável: dourado como o de seus irmãos e irmãs, mas forte e duro, erguendo-se de sua cabeça como chamas”. Aegnor não teve esposa, mas emerge em “Athrabeth Finrod ah Andreth” (“Morgoth´s Ring) que ele se apaixonou por Andreth, uma sábia mulher Beoriana, enquanto ela era um tanto jovem. Apesar de ele desejar casar com ela, ele aparentemente confiou a Finrod (ou Finrod entendeu implicitamente) o fato de que ele previra sua própria morte em batalha, e ele não desejava deixa-la viúva, ou qualquer criança que ela poderia ter com ele órfã. Andreth viveu até envelhecer e deve ter vivido até a Dagor Bragollach, apesar da data de sua morte não ser registrada.
A genealogia dos Finwënianos envolve alguns nomes espalhados nas gerações seguintes: Celebrimbor, filho de Curufin; Idril (Itaril), filha de Turgon; Arothir (Orodreth), filho de Angrod e Eldalote; e Celebrian, filha de Galadriel e Celeborn. Idril se casou com Tuor e teve um filho dele, Eärendil. Ela era sábia o bastante para prever a necessidade de um caminho escondido para escapar de Gondolin, e seu cabelo era tão dourado quanto o de sua mãe Vanyarin. Arothir (Orodreth) permaneceu próximo de Finrod e estava entre os poucos nobres que apoiaram Finrod quando ele se sentiu obrigado a pagar sua dívida a Beren. Finrod fez de Arothir seu capataz em Nargothrond, e quando se ouviu falar da morte de Finrod, Arothir guiou Celegorm e Curufin fora do reino.
Arothir casou com uma dama Sindarin do norte, apesar de seu nome não ser registrado. Seus filhos foram Erenion (descendente de reis) e Finduilas. Finduilas era loira, e o próprio Arothir devia ter sido loiro. Apesar de que ela amava Gwindor, quando ela conheceu Túrin, ela não podia fazer nada além de se apaixonar por ele. E, no entanto, Túrin não correspondera aos seus sentimentos. Finduilas foi aprisionada quando Nargothrond rendeu-se a Glaurung e seus Orcs, mas os Orcs mataram-na e também os outros prisioneiros quando eles caíram numa cilada armada pelos Homens de Brethil.
Ereinion escapou do saque de Nargothrond e seguiu seu caminho ao sul para a desembocadura do Sirion. Dali ele chegou a Círdan na ilha de Balar e foi nomeado Alto Rei dos Noldor no Exílio. Sua mãe nomeou-o Gil-Galad.
A autoridade real de Finwë terminou com Gil-Galad. Mas a ambição dos príncipes Finwënianos parece ter parado com Gil-Galad também. Pois apesar dele ter estabelecido um reino poderoso em Lindon, que durara mais de 3000 anos, ele, aparentemente não teve uma esposa. Eärendil deixara a Terra-Média para sempre, e as ambições de seus ancestrais parecem somente ter sido realizadas por seu filho Elros, quem dada a oportunidade entre escolher a mortalidade e o reino dos Elfos, escolheu ser Rei de Númenor, porém mortal. Seu irmão Elrond escolheu ser do povo dos Elfos, mas nunca estabelecera seu próprio reino. Ele governara Imladris como um posto avançado do reino de Gil-Galad na Segunda Era e manteve-o como uma fortaleza do poder Eldarin na Terra-Média. Mas Elrond nunca teve o título de rei. Pode ser que, legalmente, ele sentia que não podia exigir um reinado, uma vez que Eärendil era filho de um homem mortal e não de um Rei Élfico.
Mas talvez Elrond reconheceu que o tempo dos Finwënianos Élficos tinha vindo e acabado. Por quatro mil anos eles governaram reinos poderosos na Terra-Média, e opuseram-se aos seus inimigos. Apesar de suas falhas, os Finwënianos forneceram grande sabedoria aos Homens, e através do casamento de Idril com Tuor eles outorgaram um antigo e nobre patrimônio às grandes casas de Númenor e seus reinos sucessores. Enquanto os príncipes Eldarin desapareciam, um por um, seus primos Númenoreanos ascenderam à cena principal e assumiram o papel central na obra em andamento da história da Terra-Média.
[Tradução de Helena ´Aredhel´ Felts]