A Divisão de Arnor

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Escrito por Fábio Bettega

Na disputa pela sucessão em 861 os Dunedain de Arnor foram confrontados com a escolha entre dividir o reino ou uma guerra civil. Tanto a natureza da disputa e suas consequências não têm paralelo na história Numenoriana. A despeito da brevidade de informações sobre a crise, é possível explorar mais profundamente o assunto e levantar alfumas especulações sobre fatores políticos e pessoais que influenciaram a divisão de Arnor.
 
 
 
Os Fatos Conhecidos

As fontes contém diversas referências específicas à desintegração política do Reino do Norte."Sobre os Anéis de Poder e a terceira Era" é um trabalho feito por alguém vivendo na Quarta Era. Ele dá uma visão ampla da Era anterior e é genericamente acurada, embora existam pequenas distorções devidas à estilo épico do autor. Ele dá está descrição do evento:

"E aconteceu nos dias de Earendur, o sétimo rei, que secedeu Valandil, que os Homens do Oeste, os Dunedain do Norte, tornaram-se divididos em pequenos reinos e nobreza." [Silmarillion, p.356]

Os Contos dos Anos consistem de entradas analísticas, mesclando notas factuais em ordens cronológicas. Foi redigido no Condado por Merry e sua família, usando conhecimento de Valfenda e Gondor. Ele nos dá a data da divisão como 861 da Terceira Era, embora a descrição deste evento consista apenas de

"Morte de Earendur, e divisão de Arnor".

O Livro Vermelho do Marco Ocidental contém o guia para a Guerra do Anel e muito mais de interesse dos sábios da Terra-média. Ele foi compilado ao final da Terceira Era/ início da Quarta Era por Bilbo e Frodo do Condado. Seus famosos autores tiveram acesso ao conhecimentos dos Elfos e Dunedain de Eriador. Ele dá registros mais detalhados sobre os eventos de 861:

"Após Elendil e Isildur existiram oito Alto Reis de Arnor. Após Earendur, devido a dissenssões entre seus filhos o reino foi dividido em três…" [Senhor dos Anéis, Apêndice A]

O Livro Vermelho vai além e descreve os limites dos novos reinos, Arthedain, Rhudaur e Cardolan e suas relações hostis.

 
Causas e Consequências

O último registro levanta uma série de questões. Qual era a base das reinvidicações dos irmãos de Amlaith? Eles deram uma olhada ávida no palantir e viram um futuro consigo mesmos como reis, plantando em seus corações a semente da ambição? O Conselho amenizou a disputa? Se Amlaith tivesse uma reinvidicação suerior, como seus irmãos poderiam conseguer coroas separadas? Estava a política regional em jogo, como seus lordes sedentos de poder impelindo seus candidatos preferidos ao trono? Estas são questões que nunca saberemos as respostas, mas aqui está meu palpite…

Amlaith é descrito na lista da linha real de Arnor como "o filho mais velho de Earendur". Os motivos pelos quais Amlaith, o primogênito, poderia ter sido desafiado são incertos. O filho mais velho sucediam-se sob a lei Numenoriana. A possibilidade que Amlaith não tenha sido filho de Earendur, isto é, resultado de um caso de sua mãe, é improvável porque a descendência sem quebras dos chefes dos Dunedain do Norte desde Elendil é uma linha importante da história de Tolkien.

Outra possível razão seria que Amlaith tinha um obstáculo físico que lançava dúvidas em sua habilidade de reinar. Em nossa história recente, a sociedade Celta demandava que um rei fosse puro de corpo e sem deformidades físicas. Se um candidato sofresse uma injúria física, como perder uma mão, ele não era julgado capaz de reinar [veja o destino do Rei Nuada em Lebor Gabala]. É plausível que a lei Numenoriana poderia ter uma condição similar e que Amlaith ou nasceu com uma deficiência ou também sofreu algum ferimento sério antes da morte de seu pai. Contudo, Professor Tolkien, em uma nota de rodapé no Palantiri, fez uma referência de passagem sobre as disputas sobre o alto reino de Arnor, na qual ele registra "Os Reis de Arthedain… eram claramente aqueles com a reinvidicação justa." [Unfinished Tales]

Este relatos implicam que os Reis de Arthedain tinham o "justo direito" não apenas devido à diminuição da Linha de Isildur nos outros dois reinos, mas porque seu ancestral na disputa original, Amlaith tinha o justo direito. Isto levanta questões sobre a base de suporte dos irmãos mais jovens e suas reinvidicações. Finalmente, se alguma coisa lançava dúvida no direito de Amlaith de reinar, com certza não se extendia à seus descendentes.

Seja qual for a base do caso que seus irmãos trouxeram contra sua aptidão ao trono, é provável que o assunto tenha sido julgado pelo Conselho de Arnor. Com o Rei morto e a sucessão disputada, seria um serviço para os ministros chefes, príncipes e lordes do reino agirem em benefício da coroa. Em tal conselho as diferenças políticas e regionais de Arnor poderiam ser representadas, mas sem a voz dominante do rei para determinar o resultado final. A maioria do conselho parece ter suportado Amlaith como herdeiro, a julgar pela parte maior das possessões da coroa que ele herdou. Então como os outros dois candidatos ganharam coroas separadas? Eles poderiam possuir recursos pessoais [terras e guerreiros], mas como estes poderiam competir com aqueles do príncipe herdeiro e dos capitães do reino? Eles deveriam ter suportes no Conselho que recusaram a aceitar Amlaith como seu novo Rei. O reino então estava face-a-face com uma guerra civil.

É possível que a disputa na família real tenha servido apenas como um concentrador de tensões existentes dentro do reino entre a coroa e os feudos. Uma olhada no mapa mostra que foram as terras mais distantes da capital em Annuminas que desafiaram Amlaith [mas também a área de Tyrn Gorthad]. O fato de Amlaith ter retido as cidades reais de Fornost e Annuminas, todos os três Palantiri e a propriedade real entre as Colinas das Torres e a Velha Floresta poderia sugerir uma divisão ao longo das linhas da coroa/ nobreza rebeldes. A disputa entre os filhos permitiu a lordes de pensamento independente exercitar suas ambições com um escudo de legitimidade: eles não estavam desafiando o Alto-reinado mas agindo em benefício de seu ocupante de direito. esta defesa era importante em uma sociedade onde a rebelião não tinha precedentes e juramentos de fidelidade eram feitos pelos nobres a seu rei. Mesmo quando muitos senhores de Gondor se rebelaram contra a Coroa na rixa familiar do século 15, a luta foi travada pelo fato de saber quem deveria ser rei e não foi uma rejeição da Coroa em si.

Um fator encorajador deste conflito interno em Arnor pode ter sido a ausência de inimigos externos perigosos. Gondor na terceira Era era mais forte e mais estável que o Reino do Norte mesmo sendo ameaçado constantemente por povos do Rhun, Har
ad e mesmo Rhovanion. Arnor não encarou tal ameaça até sua própria divisão. O principal papel de um rei Numenoriano era o de líder de guerra. Na aus6encia de conflito existia menos espaço para a coroa demonstrar sua importância e para recompensar seus vassalos, ou para um grande senso de unidade em face de uma ameaça externa. Note como o surgimento de Angmar no início do reino de Malvegil [1272-1349] foi seguido por uma reunificação parcial de Arnor no reino de seu filho Argeleb I [1349-1356]. A guerra civil foi evitada em 861 mas os três novos reinos de Arthedain, Rhudaur e Cardolan não existiram em paz uns com os outros.

"Reis de pequenos reinos lutaram um contra o outro, e o jovem Sol brilhou como fogo no metal vermelho de suas novas e insaciáveis espadas." [Senhor dos Aneis, vol I]

Esta passagem invoca a imagem de um reino cujos governantes sucumbiram à luta pelo poder e glória. O "Anéis de Poder e a terceira Era" nos diz que Arnor foi "… dividido em pequenos reinos e nobrezas". Isto sugere que após a divisão de 861, maior desintegração ocorreu em Rhudaur e Cardolan, com senhores reduzindo ou desafiando totalmente a autoridade real. A morte da Linha de Isildur nestes reinos foi provavelmente acelerada por casamentos políticos para a sobrevivência da coroa e por conflitos com seus vassalos. Este enfraquecimento da autoridade real e crescimento da guerra foi um sinal do declínio da sociedade Dunedain do Norte, do qual o final da Alto-Reinado foi um sintoma inicial.

 
Nota sobre a cidade de Annuminas

Lendo os textos da história da Terra-média, nós sabemos que Annuminas foi abandonada como capital real em favor de Fornost Erain. Contudo, não existe uma data precisa para este fato mas sabemos com certeza que isto ocorreu entre 249 [o ano da morte do Rei Valandil] e 1409 [ver O Senhor dos Anéis, vol I, onde Elrond diz "…e os herdeiros de Valandil se mudaram e moraram em Fornost no Norte", e Unfinished Tales Parte IV-III, nota 16, que especificamente se refere ao Rei de Arthedain morando em Fornost no ano de 1409]. Então, podemos supor que a capital real foi mantida em Annuminas até a divisão em 861. Após isto ela foi movida para Fornost Erain, assim o Rei poderia estar mais próximo aos reis rivais de Rhudar e Cardolan. O fato do nome do primeiro Rei de Arthedain na Linha dos Reis ser dado como "Amlaith de Fornost" serve para reforçar a afirmação.

 
 
[tradução de Fábio ‘Deriel’ Bettega]
 
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