Quem assina ou compra a revista Galileu deve ter percebido que, na edição deste mês, há um inconfundível toque tolkieniano. Trata-se de uma materinha feita por este Cisne que vos fala sobre o livro "A Ciência da Terra-média", do biólogo britânico Henry Gee, editor da revista científica "Nature".
De quebra, há um destaque sobre "As Cartas de J.R.R. Tolkien", que devem ser publicadas em novembro próximo numa parceria entre a Equipe Valinor e a editora Arte & Letra. O lançamento é na Hobbitcon, em Sampa, no dia 15 de novembro (mais sobre isso em breve aqui na Valinor. Vocês não vão querer perder, certo?)
Bom, peço aos que puderem que prestigiem o trabalho e ajudem no leitinho das crianças. Vai aqui um aperitivo para dar uma idéia da pegada do texto:
Bafo de éter
Dragões provavelmente eram os monstros favoritos de Tolkien (embora não haja nenhum em O Senhor dos Anéis, há uma série deles em livros anteriores). Os mais chatos também diriam que estão entre os bichos mais inverossímeis que a mente humana já inventou. Mas Gee não é de desistir fácil. O que faria um animal de verdade “cuspir fogo”?
Bem, que tal éter dietílico? A substância, especula o biólogo, poderia ser produzida em glândulas salivares modificadas na boca do bicho, com a ajuda de bactérias – coisa que acontece com vários animais reais em diferentes situações. Ao ser ejetada com pressão da boca do bicho, entraria em combustão em contato com o ar. De quebra, a produção de éter explicaria outra capacidade dos dragões tolkienianos: “hipnotizar” a vítima. Como todo mundo sabe, o éter é um anestésico dos bravos.
Nosso dragão só falta voar. Essa é a parte difícil. Todos os vertebrados terrestres (e os dragões pertenceriam a essa categoria) têm só quatro membros, e, com as asas, um dragão precisaria de seis. Acontece que, nas últimas décadas, os biólogos estão descobrindo trechos de DNA conhecidos como genes homeóticos. Eles existem em quase todos os animais, e são responsáveis por replicar segmentos inteiros do corpo – como os pares de patas dos insetos, por exemplo. Até onde se sabe, eles não costumam fazer esse serviço em vertebrados, mas, caso o fizessem, o resultado poderia muito bem ser um dragão alado.
Ainda na categoria “monstros”, encontramos os mûmakil, ou olifantes – gigantescos primos pré-históricos dos elefantes usados como tanques pelos humanos “do mal” da saga. Nesse caso, parece que Tolkien acertou, mas Peter Jackson – o diretor da série no cinema – pisou na bola. No livro, os bichos não são muito mais que elefantes maiorzinhos, tal como o Mammuthus trogontherii, uma espécie de mamute que pesava 16 toneladas – seis a mais que os elefantes africanos de hoje. Já os do filme parecem dinossauros dos grandes. Um elefante provavelmente jamais cresceria tanto, porque, por ser de sangue quente, teria tremendas dificuldades para dispersar calor e acabaria “derretendo” por dentro.