Parte 1: O Gnomo
Com as trevas vem o silêncio. Mas o silêncio também atrai a loucura.
Silêncio ao redor de mim – silêncio mortal. Capturado na prisão de meus
mais negros pensamentos todos os portões que levavam de volta para o
mundo da luz estão fechados para mim. Toda esperança de libertação
ficou para trás, e atrás de mim vive a quase sem fim eternidade de
Arda. Separado de meus iguais – e abandonado por eles, eu vagueio como
um imortal irreconhecível entre os mortais. Sem destino como folhas ao
vento. Apenas o vento conhece meu lamento, apenas o mar entende minha
dor. Eles também se afastaram e não se mostram mais para mim. Estou
cansando e velho, mas não posso morrer. A maldição que sobreviveu do
juramento vive dentro de mim. Além do mar significa além de minha
esperança. Como muitas vezes minha vida de sofrimento foi causada por
uma seqüência de coincidências. Mas não são coincidências conseqüências
do destino? Tudo é predestinado, e ainda que eu seja apenas uma peça na
história turbulenta eu terei que sofrer para sempre por coisas que já
se foram. Ainda que meramente tenha seguido a vontade do Um. Eu destruí
a esperança. A áspera criatura que fica a atrás do mendigo que foi uma
vez um nobre. O guerreiro transformado em um imortal homem velho.
Sabedoria deu lugar para loucura. A voz que uma vez eu chamei de minha
própria era mais gentil que o vento selvagem, mais refrescante que a
límpida água da primavera. Mas gasta pelo pesar e tristeza agora soa
fina e rouca. Logo será melhor ficar em silêncio para sempre. Eu não
tenho mais nada, o poder da palavra era meu. Mas eu permaneci em
silêncio quando deveria ter falado e falei quando deveria ter
permanecido em silêncio. Palavras mortais escaparam de minha boca e
então eu realizei a finalidade de minha falha – danação! Constelações
familiares começam a desaparecer. Mesmo o oceano no céu parece cansado.
Mas o fim ainda está muito distante. E com ele libertação.
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