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As chamas impenetráveis

Os balrogs eram Maiar de
essência maligna e cruel que se converteram ao serviço de Melkor,
quando este decaiu e se transformou pela eternidade dos tempos em
Morgoth. Para qualquer combatente do Senhor das Trevas não existiam
oponentes piores do que os grandes dragões das Eras do Sol ou os
terríveis balrogs.
 
 
A arma mais poderosa que tais criaturas poderiam portar era
um chicote de línguas de fogo. Remetendo ao passado, há grande
proximidade entre os balrogs de Tolkien e as fúrias, espíritos da
vingança que tinham cobras nos cabelos, carregavam tochas e portavam um
temível chicote para surrar as suas vítimas.

 

Seres
embrenhados no fogo sempre foram atrativos para a imaginação humana. A
salamandra, por exemplo, foi abarcada durante toda a Idade Média pela
idéia de que poderiam caminhar sem se queimar pelo fogo e que poderiam
matar as pessoas sem nem ao menos tocá-las, era necessário que apenas
passassem pelos frutos de uma árvore e já estariam todos envenenados.
Voltando na Antigüidade, gregos e romanos acreditavam que dentro dos
vulcões existiam forjas do deus Vulcano que moldariam os espíritos
turbulentos da terra e do fogo para propósitos mais nobres em benefício
da humanidade. Também na Idade das Trevas, pensava-se que os vulcões
eram suspiros do inferno que arranjavam uma forma de perturbar os
cristãos.

Mas
Tolkien parece ter voltado a um tempo ainda mais remoto: a mitologia
anglo-saxã e nórdica. A Midgard (termo que inspirou Terra-Média) desses
povos era povoada no extremo norte pelos grandes gigantes de gelo e ao
sul por grandes gigantes do fogo. Segue-se um trecho do livro “Fontes
mitológicas de O Senhor dos Anéis” de David Day que ajuda a explicar de
forma muito clara essa crença antiga (e na qual tomei inspiração para
escrever este artigo):

“Na
mitologia nórdica, descobrimos que, nos confins de Muspellsheim [lar
dos gigantes de fogo], vive um guardião gigante e curvado, armado com
uma grande espada de chamas (…). Sempre vigilante, Surt [o gigante
citado] aguardava o som de Heimdall, o deus da luz, ao soprar Gjall, a
corneta dos deuses, para suscitar Odin e os outros deuses para
Ragnarok, ou Gotterdammerung (…)”.

No
final, Surt acaba por fazer algo que qualquer balrog de Tolkien
gostaria: queimar o mundo em chamas vorazes. Há nas obras de Tolkien
várias aparições dos balrogs, mas há dois casos clássicos: em Gondolin
e em Moria. Abordarei aqui o caso de Moria, pois apresenta uma
proximidade muito grande com a crença nórdica.

Durante
o Ragnarok há Freyr, deus do Sol e da Chuva, que duela sobre a Ponte do
Arco-Íris com Surt. É uma batalha titânica e na qual Freyr é derrotado,
este é o início do fim do mundo. Nas minas de Moria há Gandalf, o
Cinzento, que batalha com um balrog já desperto pela crescente malícia
de Sauron. O mago é aparentemente derrotado e, seguindo a antiga
tradição literária, deveria representar um presságio de desgraça na
Demanda do Anel.

É
claro que a ruína da ponte de Moria revela de forma simbólica o
rompimento da Sociedade do Anel e a morte do líder deveria significar a
destruição de todos. Mas é neste momento que Tolkien inova o seu épico:
a perda de Gandalf é a oportunidade para Aragorn ganhar espaço e
mostrar todo o seu poder, talento, inteligência e senso de liderança.
Também passamos a ver os hobbits mais independentes e com novas
posturas diante das dificuldades.

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