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Mais um mestrado explora o mundo de Tolkien

É com prazer que volto às páginas da Valinor para anunciar mais um trabalho acadêmico de qualidade a abordar a obra do Professor. Trata-se de uma dissertação de mestrado que mostra como funciona a tradução do Livro Vermelho em "O Senhor dos Anéis".

 


A pesquisa foi realizada na FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP) por Dircilene Fernandes Gonçalves. Fomos colegas de mestrado — a orientadora de Dircilene também foi Lenita Rimoli Esteves, tradutora da atual edição brasileira de "O Senhor dos Anéis".

Talvez seja preciso explicar melhor o que a gente quer dizer com "tradução" — e não é a tradução do inglês de Tolkien para o português do Brasil. Acontece que, embora os leitores mais desatentos às vezes não percebam, o Professor se utiliza da chamada "ficção da tradução", um recurso literário antigo e muito difundido. Ele simplesmente "finge" que o SdA não foi escrito por ele, mas sim traduzido a partir de um antigo original que ele teria redescoberto.

O original, no caso, é o Livro Vermelho do Marco Ocidental, relato das aventuras de Bilbo e da Guerra do Anel escrito a "seis mãos" por Bilbo, Frodo e Sam. Tolkien teria traduzido esse antigo manuscrito, transformando a suposta língua original, o westron, no inglês moderno. Isso explicaria porque os hobbits autores do livro "falam" inglês e tem sobrenomes ingleses — uma língua foi trocada pela outra.

É claro que tudo isso não passa de uma construção engenhosa feita pelo autor, mas o importante é que ela passa a ser um elemento fundamental na criação de Tolkien — que tinha como um de seus objetivos criar um mundo que parecesse até assustadoramente real.

O trabalho de Dircilene mostra justamente como isso acontece na prática, levantando detalhes como "correções" que Tolkien faz a seu texto original (escrito pelos hobbits, cujo conhecimento às vezes é limitado) e até traduções feitas dentro da própria obra. (É o caso da tradução "de cabeça" que Frodo faz do famoso poema de despedida de Galadriel, conhecido como Namárië.)

Mas a dissertação também aborda uma série de outras questões intrigantes sobre a própria estrutura de "O Senhor dos Anéis", analisando também seu papel de mitologia e a maneira como ele retoma os antigos romances medievais. É um material até então praticamente inacessível para os leitores brasileiros, que vale a pena ser conhecido.

Portanto, sem mais delongas, quem estiver interessado pode baixar o PDF completo da dissertação de mestrado, cujo título é "Pseudotradução, linguagem e fantasia em O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien". Basta clicar aqui. Você será redirecionado para a página de download.

Ah, e antes que eu me esqueça, meus agradecimentos sinceros e profundos à Dircilene, cujo trabalho deve inspirar meu doutorado!

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