Parte 1: Senhores do Destino. Será mesmo?

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Escrito por Fábio Bettega

Destino
Em pleno século XXI é difícil abordar certos temas sem que todos ao seu
redor caiam na gargalhada. Mas alguns anos atrás tais assuntos
provocavam medo e espanto entre o mundo até então como ele era. O
primeiro destes temas que irei abordar diz respeito às maldições –
tratados com cautela até mesmo na literatura.
 
 
Antes de qualquer coisa é preciso entender o que é Destino. Segundo uma definição geral das culturas, todos estamos de alguma forma condicionados a esta força. O Destino é o que rege os nossos caminhos, nossas escolhas e determinará cada segundo de vida até as nossas mortes; o tal é escrito por alguma divindade ou ser supremo.

Para a cultura islâmica dá-se o nome de “Maktub” (não há uma tradução exatamente correta para o português, porém o autor brasileiro Paulo Coelho dá o nome de “aquilo que está escrito”). Segundo esta crença, não é possível separar-se do que já foi escrito por Alá, há apenas a ilusão de que haja a possibilidade de alterar o curso da própria vida. Já para a religião católica e os cristãos de uma forma geral, crê-se no livre arbítrio e cada um são responsáveis pelas suas próprias escolhas e decisões.

De acordo com as histórias da Terra-Média de Tolkien, a principal maldição conhecida é aquela que foi lançada por Morgoth em Húrin e toda sua família. O desenrolar central da trama fica por parte de Túrin Turambar (Senhor do Destino), no qual a pior parte foi o casamento deste com sua própria irmã e a concepção desta.

O Um Anel também possui uma espécie de maldição, na qual todos aqueles que o usassem sempre tivessem o incontrolável desejo de o possuírem eternamente, e, no final, era sempre o Anel que acabava por dominar a vida de seus usuários e a desgraçá-los. Eis aí uma questão a ser analisada: diversas vezes durante a trilogia de DAS, Gandalf faz questão de enfatizar que é o Anel que escolhe a quem irá pertencer e não o contrário. Em “A Sociedade do Anel”, Gandalf e Galadriel incentivaram Frodo a seguir adiante na jornada para Mordor porque diziam ser o destino do hobbit. Todavia há uma grande contradição no mesmo livro, em uma fala de Galadriel: “Mesmo a menor das criaturas pode mudar o curso do destino”; sendo assim, existia entre os habitantes da Terra-Média a crença em uma predestinação (se o destino viria a se cumprir é outra história, por isso a existência do livre-arbítrio) – sobretudo em “O Silmarillion”, quando vemos Ilúvatar revelando o decorrer da história do Mundo criada pelos Ainur. É claro que algumas noções de Destino são mais fáceis de entender do que outras: por exemplo, os homens estavam fadados a morrer e deixar as Esferas do Mundo. Porém, Frodo estava destinado a ter ao mesmo tempo uma benção e uma maldição. É importante frisar que Tolkien abordou dois tipos de maldição: Túrin teve seu Destino selado em constante desgraça devido a Morgoth, mas Frodo optou por abandonar o Condado e aceitar toda a corja de inimigos, tristezas, perdas e sofrimentos que o Anel poderia causar se isso tudo significasse a destruição de Sauron.

Como se pode ver o conceito de amaldiçoar algo ou alguém está diretamente relacionado com interferir definitivamente nas opções de escolha das pessoas, de forma a impor-lhes um destino. È fato que Frodo sofreu muito com tudo o que aconteceu durante sua jornada com Sam para a Terra Negra, mas o próprio hobbit tornou-se mais sábio e soube reconhecer que muitas vezes é preciso o sacrifício de alguém para a felicidade do restante. A maldição do Anel e a facada do Rei dos Bruxos de Angmar jamais abandonaram Frodo totalmente, mas concedeu-lhe uma graça muito maior do que a ida para as Terras Imortais: ele viveu sua vida de acordo com o que achava certo e aceitou um de muitos caminhos como um destino.

 
 

Esta primeira parte abordou com foco principal os principais casos de destinos e maldições das obras de Tolkien, mas ainda há outros espalhados pelas obras. Na segunda parte será feita uma análise de outras obras literárias que também abordaram tais assuntos e suas semelhanças e diferenças com as obras de mestre Tolkien.

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