Ao analisarmos toda a história da Comitiva do Anel, perceberemos
inúmeros desafios, perigos, emoções, e principalmente algo que pode de
certa maneira passar desapercebido, o fator distância.
Todos os membros percorreram uma árdua caminhada rumo ao objetivo; este que estava mantido em segredo até certo ponto; que era aniquilar Sauron jogando o Um Anel nas lavas (1) da Montanha da Perdição, e para isso, tiveram que marchar para a terra onde o mal nunca dorme, um reino cheio de cinzas, desertos, com um ar “venenoso”, uma verdadeira desolação, um terror inaceitável para os padrões humanos e élficos. Mas essa marcha até Mordor nunca foi fácil devido aos diversos perigos (inimigos) que poderiam encontrar ao longo do caminho, mas existia um outro perigo já mencionado, a distância.
Este fator deve ser considerado, pois a Terra Média possui dimensões semicontinentais consideráveis para a realidade dos povos que a habitavam. Não era fácil, por exemplo, se deslocar de Imladris aos Portos Cinzentos, ou até mesmo as aventuras de Bilbo com Gandalf e os anões até o Monte Erebor. Eram caminhadas duras, desgastantes, cheias de terrenos com diferenças marcantes nas altitudes (2), planícies, planaltos, pântanos, florestas; as próprias mudanças biogeográficas (biomas) ao longo de toda a Terra Média. Esses fatores contribuem para colocar o fator distância como inimigo respeitável para determinas situações, como exemplo, a comitiva do anel rumo ao sudeste da Terra Média.
Partindo para uma apresentação mais exata, foram feitos cálculos para determinar um valor próximo do real, em quilômetros, percorridos pelos membros da comitiva do anel especialmente Frodo Bolseiro e Samwise Gamgi, objetos deste artigo.
Para isso, a primeira etapa considerável da viagem foi a partida da Vila dos Hobbits até a casa de Elrond em Imladris. Foi uma viagem longa e cheia de riscos para os pequenos, e a distância foi da ordem de 736 km. Após terem permanecido um bom tempo em Imladris Frodo e Sam juntamente com os demais membros partiram em direção ao sul, mas devido às circunstancias do destino, eles chegaram a Mória e percorreram mais 320 km. Partindo pela jornada no escuro a partir do Portão Oeste, foi percorrida uma distancia de 64 km (ou 40 milhas na própria fala de Gandalf no filme SDA). Após o desastre com o Balrog, os membros percorreram uma grande distância através dos contrafortes (3) orientais da cordilheira das montanhas sombrias em direção as Cataratas dos Rauros, nas proximidades de Amon Hen. Vale ressaltar que durante esse percurso a comitiva passou uma pequena temporada nas Florestas de Lothlórien; a distância foi na ordem de 560 km. Este foi um dos momentos mais infelizes da Sociedade, pois ocorreu o rompimento da mesma:
- Intervenção de Saruman através dos Uruk hai;
- A loucura de Boromir e sua posterior morte;
- Decisão de Frodo ir sozinho a Mordor;
- Seqüestro de Pip e Merry.
Com o rompimento da Sociedade, Frodo e Sam foram sozinhos para a terra do Senhor do Escuro através da margem leste do Grande Rio, o Anduim, até atingirem as desoladas colinas de Emyn Muil. A partir daí receberam mais um companheiro, o Gollum que os conduziu até o Morannon através dos contrafortes sudeste das Emyn Muil e pela região dos Pântanos Mortos. Todo esse percurso de Rauros até o Morannon media uma distância de 288 km. Os pequenos perceberam que era difícil entrar em Mordor pelo norte, resolveram então pegar uma rota alternativa, mas ao mesmo tempo tão perigoso quanto o Portão Negro. Partiram para o sul através da bela Ithilien do Norte fugindo do perigo imediato de dos horrores dos servos de Sauron. Por um tempo respiraram um pouco do ar puro novamente. Em todo esse percurso andaram 64 km e deste local até a encruzilhada foram mais 160 km, voltando novamente à desolação e a ameaça iminente do maior servo do Senhor do Escuro, o Rei Bruxo de Angmar já prestes a marchar com seus soldados a Minas Tirith. Da encruzilhada até o Orodruim foram mais 160 km de sofrimento e o desgaste ainda maior, pois, já estavam nos domínios de Mordor e com isso, andar os 160 km com o Um Anel pendurado no pescoço se tornou muitíssimo pesado (Pela aparência de Frodo, parecia que estava carregando nas costas o próprio Sauron tomado de sua forma física).
Após dias, meses de luta e caminhada, o objetivo de Frodo e Sam chegou ao fim, pois conseguiram a duras penas jogar o Anel no fogo da Montanha da Perdição. Com a derrocada de Mordor, os pequenos através da ajuda do Senhor das Águias foram resgatados e levados para Minas Tirith, somente aí foram mais 240 km, mas desta vez voando.
Após a coroação de Aragorn Frodo e Sam permaneceram uma temporada em Minas Tirith, mas como o Condado os chamavam de volta, resolveram retornar numa longa viagem até chegarem novamente à casa de Elrond. Este percurso foi de 1.120 km e por fim, de Imladris a Vila dos Hobbits novamente os 736 km.
O total aproximado que viajaram foi de 4.480 km, uma viagem longa e desgastante para os padrões da época e principalmente para os dois hobbits. O total que ambos viajaram ultrapassou a distância que o Brasil possui de Norte a Sul, ou melhor, do Oiapoque ao Chuí que totalizam 4.394,7 km.
Com certeza, depois de tanto sofrimento pela viagem e pelo fardo carregado tanto por Frodo quanto por Sam, ambos tinham o merecimento de partirem em períodos diferentes para as Terras Imortais para ofuscarem o passado sombrio no qual haviam passado.
Notas
(2) Significa uma distancia vertical de um ponto da superfície terrestre, em relação ao nível dos mares e oceanos. Geralmente se classificam as terras da seguinte maneira:
Terras Planas
I. Baixas – planícies
II. Elevadas – planaltos
Terras acidentadas
I. Pouco acidentadas (onduladas)
II. Muito acidentadas (montanhas)
(3) São as ramificações laterais de uma cadeia de montanhas, quase sempre em posição perpendicular, ou pelo menos oblíqua, ao alinhamento geral.
(4) Conhecida também como Isengard.
(5) Geógrafo, pós-graduado em Estudos Ambientais pela PUC Minas, professor pesquisador e ambientalista pela ACELN (Associação Cultura Ecológica Lagoa do Nado) e conselheiro municipal de meio ambiente pela prefeitura municipal de Belo Horizonte e pela Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (Reconhecida pela Unesco). E-mail: (apelliccionefh@hotmail.com).
Referências Bibliográfica
TOLKIEN, John Ronald Reuel Tolkien. O senhor dos anéis: a sociedade do anel. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 22-443.
TOLKIEN, John Ronald Reuel Tolkien. O senhor dos anéis: as duas torres. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 5-373.
TOLKIEN, John Ronald Reuel Tolkien. O senhor dos anéis: o retorno do rei. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 5-441.
SANTOS, Maria do Carmo S. Rodrigues dos. Manual de fundamentos cartográficos e diretrizes gerais para elaboração de mapa geológicos, geomorfológicos e geotécnicos. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 3-7, 1989.
CALDINI, Vera. ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico compacto. São Paulo: Editora Saraiva, 2006, 7.
GUERRA, Antonio Teixeira Guerra e GUERRA, Antonio Jose Teixeira Guerra. Dicionário Geológico – Geomorológico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, 648 p.