O artigo destaca as distâncias médias entre Harad e Mordor a partir de um ponto pré-determinado no mapa, dando ênfase assim, a cartografia aplicada nas obras de J. R. R. Tolkien. A análise da discussão é baseada na trajetória dos exércitos de Harad até o Moranonn através de caminhos diferentes, tendo este, o objetivo da concentração de tropas e posteriormente um forte ataque a Gondor. Um fator fundamental para compreender os processos de intercâmbio entre os reinos de Mordor, Harad e Khand é o fator tempo, pois, as ligações entre esses três reinos, se deram em momentos antes, durante e depois da Guerra do Anel, em especial a Batalha dos Campos de Pelennor.
A cartografia é tida como uma ciência que procura por meio dos mapas e
cartas expressar as características da superfície terrestre e, pode-se
dizer que, o mapa é uma representação da superfície vista de cima.
Primeiramente deve-se ressaltar que o mapa utilizado para a pesquisa
foi o quarto do livro (RDR) que abrange uma parte considerável da Terra
Média. O mapa possui uma escala (2) gráfica, onde 3,2 cm é igual a 400
km. Esta foi convertida para a escala numérica, facilitando o cálculo
médio (uma amostragem) das distâncias reais de Harad até o Portão Negro
a partir de um ponto pré-estabelecido no mapa (ver mapa anexo).
Após a conversão, o valor da escala numérica é da ordem de 1/12.
500.000, ou seja, 1cm é igual a 12.500.000 de cm. O valor desta escala
foi obtido pelo valor da escala numérica padrão cartográfica que é
1/1000.
Como as distâncias reais foram obtidas pela medição através de uma
régua e dos cálculos padrões de cartografia, obteve-se os seguintes
valores:
Como o objetivo é saber a distancia real “média” (amostragem) tem-se:
D= d x E
D= 6,9 cm x 12.500.000 cm
D= 86.250.000 cm/100
D= 863 Km.
viajaria aproximadamente 863 km (inviável pela topografia do terreno);
pela estrada de Ithilien a distância seria próxima dos 1.200 km (a mais
viável) e, pelo trajeto oriental através das terras de Khand a
distancia é da ordem de 1.586 km devido o longo percurso à direita
pelas bordas setentrionais das Montanhas das Sombras e, depois, pelas
amplas terras do sudeste até atingirem o Lago Núrnen. Ainda assim,
viajará longos dias até chegarem à extremidade sul do planalto de
Gorghroth, esta que dista aproximadamente 363 km até o Morannon.
Como Sauron precisava agir com rapidez, o caminho mais curto seria
passando pela estrada de Harad através das terras de Harondor e
Ithilien. A estrada oriental que passa pelos domínios de Khand seria
inviável pela necessidade imediata de uma investida de Mordor em
Gondor.
Vale ressaltar que a derrocada de Isengard bem como a revelação do
herdeiro de Elendil inviabilizaria qualquer outra rota que fosse
contrária aos caminhos ocidentais rumo a Gondor. Se outra rota fosse
utilizada a conseqüência seria o atraso considerável de reforços
provenientes das terras ao sul de Mordor comprometendo ainda mais as
investidas de Sauron que já estavam entrando numa situação crítica
quando da chegada de Aragorn com seu exército ao Harlond.
Entretanto, se observarmos o mapa, o caminho oriental é mais viável
para os exércitos de Khand, que poderia dependendo da localização e da
época chegar a Mordor com mais precisão evitando assim, passar pelo
lado ocidental. De acordo com a obra, verifica-se uma lacuna plausível
que justifique a ligação entre os reinos.
Nem ele, nem Frodo sabiam coisa alguma sobre os grandes campos de
trabalho escravo mais ao sul daquele vasto reino, além da fumaça da
montanha, próximos às águas escuras e tristes do Lago Núrnen; nem das
grandes estradas que corriam para o leste e para o sul, levando a
terras que pagavam tributo a Mordor, das quais os soldados da Torre
traziam longos comboios de carroças com mercadorias, produtos de saques
e novos escravos (Tolkien, 2002: 197).
A partir desta fala, percebe-se que antes da consumação da Guerra do
Anel através da invasão aos Campos de Pelennor, havia entre Mordor,
Harad e Khand uma relação geopolítica que favorecia Sauron. Tal
supremacia se dava através de seus poderes tanto malignos como bélicos
sobre os dois reinos. Esta relação se deve, portanto, através do
intercambio pelas estradas (caminhos; idas e vindas) que ligavam Harad,
Khand ao reino das Trevas; caminho este que, não necessariamente era
usado para as intervenções militares.
Considerações finais
É importante ressaltar que o fator escala é uma variante imprescindível
para a determinação das distâncias, sejam elas em quilômetros,
hectômetros, decâmetros, metros, decímetros, centímetros ou milímetros.
Como foi verificada, a escala usada para a determinação das distâncias
é pequena, possuindo poucos detalhes. A vantagem desta escala, 1/12.
500.000, é a maior área de abrangência da Terra Média. Assim, não foi
levado em consideração, o traçado sinuoso (3) ao longo do trecho entre
Harad e Mordor. Para a determinação de traçados sinuosos é importante
fazer uso do curvímetro (4).
A utilização de uma escala maior, por exemplo, 1/10. 000, 1/30. 000 ou
1/50. 000 dentre outras colocaria um maior números de elementos humano
e físico naturais enriquecendo o nível de detalhe, mesmo que a área de
abrangência fosse menor.
O amplo conhecimento de J. R. R. Tolkien acerca de vários assuntos como
a política, geopolítica, história, biogeografia, literatura, mitologia
e a cartografia (objeto deste artigo) assim como o próprio período que
ele vivenciou (as conjunturas mundiais), contribuiu para que seus
trabalhos fossem profundamente detalhado em praticamente todas as áreas
de conhecimento.
O Autor é Geógrafo, pós-graduado em Estudos Ambientais pela PUC Minas,
professor pesquisador e ambientalista pela ACELN (Associação Cultura
Ecológica Lagoa do Nado) e conselheiro municipal de meio ambiente pela
prefeitura municipal de Belo Horizonte e pela Reserva da Biosfera da
Serra do Espinhaço (Reconhecida pela Unesco).
Notas
1. O presente texto foi produzido a partir das discussões apresentadas
no fórum da Valinor com o tema Trajeto do Exército de Harad.
2. De acordo com Santos (1989), a escala representa a relação entre o
tamanho dos elementos representados em um mapa e o tamanho
correspondente medido sobre a superfície terrestre.
3. No caso de torrentes, de caminhos e estradas em serras íngremes,
deve ser utilizado o curvímetro, aparelho que realiza, por meio de uma
pequena roda, a soma dos percursos. Deve-se salientar que esse método
bem como outros (podendo ou não ser mais precisos), quando utilizados
em cartas estão sujeitos a erros, porque sempre são medidas as
projeções horizontais das distâncias e não as próprias distâncias
(Santos, 1989: 6).
4. Ainda com relação ao curvímetro é importante salientar que este
instrumento pode ser mecânico ou eletrônico. Com ele, pode-se medir o
comprimento de um rio ou de uma estrada em um mapa, por exemplo, desde
que a altitude não varie significativamente, pois este não considera os
desníveis (Wikipédia, 2008).
Referências Bibliográfica
TOLKIEN, John Ronald Reuel Tolkien. O senhor dos anéis: o retorno do rei. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 5 – 441.
SANTOS, Maria do Carmo S. Rodrigues dos. Manual de fundamentos
cartográficos e diretrizes gerais para elaboração de mapa geológicos,
geomorfológicos e geotécnicos. São Paulo: Instituto de Pesquisas
Tecnológicas, 3-7, 1989.
CALDINI, Vera. ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico compacto. São Paulo: Editora Saraiva, 2006, 7.
http://pt.wikipedia.org – Consulta em 20/01/08