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Narya – Ultima Parte

CAPÍTULO XXXI
O Rei das Águias
Frodo caiu no chão, se contorcendo de dor.
–Vá buscar água, Pippin! – Ordenou Prímula. – Você, Sam, acenda uma fogueira. E você, Merry, venha comigo.
Pippin saiu correndo, com uma panela na mão (que ele havia pego na mochila de Sam, em busca de algum riacho que corresse ali por perto. Sam pegou alguns gravetos e acendeu uma fogueira com os fósforos que ele pegou na mochila de Prímula. Prímula e Merry saíram em busca de algumas ervas medicinais.
 
Havia um pequeno bosque perto dali, onde Prímula, Merry e Pippin entraram. Em pouco tempo Pippin voltou com a água, mas Merry e Prímula não conseguiam encontrar nenhuma erva conhecida. Mas de repente, Merry avistou uma pequena planta familiar.
–Athelas! – Gritou ele.
–O quê? – Perguntou Prímula.
–É athelas, Folha do Rei. Precisamos dela.
Os dois colheram alguns ramos da erva e saíram correndo, em direção a Frodo. Ao chegarem lá, Prímula pôs a panela com água no fogo, e quando começou a ferver, Merry e Pippin amassaram algumas folhas nas mãos e despejaram-nas dentro da água fumegante. Subiu ao ar um aroma de saúde, que fez com que todos se sentissem bem. Prímula despiu cuidadosamente a camisa de Frodo e pediu para que ele se deitasse de bruços.
Sam levou a panela para perto de Prímula, que despejou cuidadosamente a água com athelas sobre o ferimento, lavando-o. Instantaneamente Frodo se sentiu melhor. Ficou sem camisa por um tempo, até o sangue se coagular, e se sentou perto da fogueira, pois estava muito frio.
Todos por um tempo ficaram sentados diante da fogueira, para aliviar o frio, já que não podiam partir agora, com Frodo ferido. Ele vestiu a camisa novamente e se enrolou em cobertores. Todos aproveitaram a parada para comerem alguma coisa.
Algum tempo depois um grito agudo e forte cortou os ares. Olharam para cima e viram uma enorme águia pairando no ar sobre suas cabeças, a uns duzentos metros do chão.
Minutos depois a águia deu um mergulho nos ares e pousou, bem ao lado dos cinco viajantes. Prímula ficou amedrontada, mas os quatro hobbits a conheciam.
–Me lembro de você. – Disse Frodo. – Você é o Rei das Águias!
–Isso mesmo. – Disse a enorme ave.
–Vocês conhecem essa águia? – Perguntou Prímula.
–Claro! – Disse Sam – Ela salvou nossa vida.
–Sério? – Perguntou Prímula, surpresa.
–Sim, é verdade. – Respondeu a ave – Eu me lembro de tê-los tirado do topo de um vulcão, a Montanha da Perdição, quando ele estava em erupção.
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–Então você é um herói! – Exclamou Prímula.
–É verdade. – Disse Pippin – Devemos muito a ela. Essa águia e seus amigos ajudaram muito também na Guerra do Anel.
–Não me devem tanto agora. – Disse a Águia.
–Por quê? – Perguntou Merry.
–Foram vocês quem mataram aquele troll?
–Fui eu. – Disse Sam.
–Eu estava caçando-o, mas o perdi de vista quando ele entrou na floresta. Ainda bem que vocês o encontraram e o mataram por mim. Aquele troll estava fazendo muitos estragos por aí.
–Ficamos honrados em ajudá-lo. – Disse Sam.
–Agora sou eu quem gostaria de ajudá-los, em troca do troll morto. No que eu posso lhes servir?
Os quatro hobbits se olharam, e depois olharam para Prímula. Ela entendeu o que estavam pensando.
–Se não fosse muito incômodo… – Disse Frodo – Será que poderia nos levar até perto dos Portos Cinzentos?
–Claro! – Disse a ave – Não seria incômodo nenhum.
O Rei das Águias soltou cinco gritos estridentes, um após o outro, que soaram altos. Minutos mais tarde mais outras cinco grandes águias apareceram, sobrevoando suas cabeças, fazendo o vento frio se agitar.
–Se importam se eu não for pessoalmente levá-los? – Perguntou o Rei das Águias.
–Claro que não! – Disse Frodo – Podemos ir com seus amigos sem problemas.
–Então, — continuou a ave – boa viagem para vocês. – E levantou vôo. Prímula bateu uma foto.
As outras cinco águias pousaram no chão perto da fogueira, que agora estava apagada. Ficaram observando seu Rei no céu até ele desaparecer de vista. Depois viraram-se para os cinco viajantes.
–Vão agora? – Perguntou uma delas.
–Agora? – Perguntou Frodo – Tudo bem, vamos agora.
As águias encolheram um pouco as pernas e abaixaram seus grandes pescoços, para que os quatro hobbits e Prímula pudessem subir. Cada hobbit subiu em uma águia, e Prímula subiu na maior delas (não muito maior, mas maior). Todos se sentaram nas costas das aves e seguraram, firmemente, em suas asas.
A águia de Frodo foi a primeira a levantar vôo. Logo depois as outras também subiram aos ares.
–Diga-me onde ir. – Disse a águia para Frodo.
–Vá para perto dos Portos Cinzentos. – Disse Frodo – Mas não muito perto, pouse um pouco antes.
–Está bem. – Disse a águia, voando em direção aos Portos Cinzentos.
As outras águias fizeram o mesmo trajeto, e foram voando, formando no ar uma seta, com a águia de Frodo na frente.
Frodo sentia o vento frio batendo contra seu rosto, fazendo com que seu cabelo se esvoaçasse, e tremeu. Segurava muito firme nas asas da águia, chegava até a machucar.
–Aperte menos. – Disse a águia. Frodo afrouxou as mãos, mas só um pouquinho.
Voaram pelo céu durante uma hora. A viagem que duraria dias durou somente uma hora. Desceram das águias tremendo, e agradeceram. Logo em seguida as aves levantaram vôo, e desapareceram no horizonte. Prímula não deixou de tirar uma linda foto.
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CAPÍTULO XXXII
Enquanto esperavam

–O que faremos agora? – Perguntou Sam – Acho que chegamos cedo demais.
–Esperaremos alguns dias. – Respondeu Frodo.
–Mas é perigoso ficar por aqui muito tempo. – Disse Pippin, quase que desesperado.
–Pippin tem razão. – Disse Merry – Precisamos montar alguma cabana em algum lugar seguro.
–Que tal em cima de uma árvore? – Opinou Prímula – Quando eu era pequena eu fazia muitas casinhas em árvores.
–Nós não gostamos muito de sair do chão… – Disse Frodo – Mas acho que desta vez não devemos arriscar, é melhor em cima de uma árvore do que no chão, onde os animais ferozes podem facilmente nos encontrar.
–Então, — disse Sam – se faremos uma cabana em uma árvore, é melhor que seja no grande salgueiro, onde Henrique esperará por vocês.
–Boa idéia! – Disse Pippin.
–Então vamos começar logo, – disse Merry – antes que apareça algo indesejado.
Procuraram o salgueiro onde Frodo e Sam tinham pela primeira colocado Narya no dedo. Demorou um pouco para encontrarem, mas encontraram. Frodo se ofereceu para
subir, para ver se havia espaço o suficiente.
–É bastante grande aqui em cima! – Gritou ele.
–E com que faremos a cabana? – Perguntou Sam.
–Não precisa ser necessariamente uma cabana, – disse Prímula – pode ser somente um abrigo. É provisório, só ficaremos aqui por três dias.
–E como faremos esse abrigo?
–Com galhos e pedaços de madeira que encontrarmos no chão.
Pippin e Merry começaram a procurar algumas toras e galhos, e encontraram muitos. Selecionaram os melhores e entregaram-nos a Prímula. Frodo, que continuava lá em cima, foi encarregado de pegar as toras que Prímula levantava e ajeitá-las entre os galhos, de modo que se formasse um chão. Depois, Sam e Prímula subiram também, para ajudarem a arrumar as toras. Logo depois Pippin e Merry também subiram, carregando as mochilas de todos.
Em pouco tempo a rústica cabana estava pronta, mas era um pouco desconfortável. A maioria do tempo eles passaram no chão, fizeram uma fogueira, comeram um pouco, e somente subiram quando anoiteceu.
Forraram o chão com cobertores, e o abrigo ficou razoavelmente confortável, e bem quentinho. Dormiram depressa, por que não havia nada para se fazer naquele lugar.
Na manhã seguinte Prímula acordou cedo, pois ouvira barulhos estranhos. Ela chacoalhou Frodo, que acordou assustado.
–O que foi? – Perguntou ele, ainda meio sonolento.
–Estou ouvindo alguns barulhos esquisitos. Parecem vozes, mas não falam a nossa língua, parece que estão cantando.
Em meio à conversa, Merry, Pippin e Sam acordaram também.
–O que foi? – Perguntou Sam – Por que não estão dormindo?
–Fique quieto. – Murmurou Prímula – Ouça.
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Todos ficaram quietos, e ouviram as tais vozes de que Prímula falava. Realmente estavam cantando, e algumas palavras Frodo entendia.
–São elfos! – Exclamou Frodo.
–Elfos? – Perguntou Prímula.
–Sim, — disse Sam – eu já lhe falei sobre eles.
–Ah, sim. Eu me lembro.
Merry e Pippin curvaram-se para olhar para baixo, e quase caíram.
–Cuidado! – Disse Merry para Pippin.
–Você é quem deveria ter cuidado! – Disse Pippin.
–Os dois, fiquem quietos! – Disse Prímula – Ou os elfos irão nos matar.
Pippin e Merry olharam um para o outro e riram.
–O que foi? – Perguntou Prímula – Se vocês não têm medo de morrer, eu tenho.
–Morrer? – Disse Frodo – Elfos são amigáveis, e não matam ninguém, a não ser orcs.
–Que bom! – Suspirou Prímula.
As vozes pararam de cantar. Frodo resolveu descer da árvore, para falar com eles. Quando chegou ao chão, foi surpreendido por uma mão que lhe agarrou o braço. Frodo virou-se e viu que um belo elfo o segurava, e ao mesmo tempo outro apontava uma flecha para seu peito.
–Não atire! – Disse Frodo na língua dos elfos.
–Você fala nossa língua? – Perguntou um deles.
–Só um pouco. – Respondeu Frodo.
–Então é melhor falarmos na língua geral. – Disse o outro elfo, já falando na língua geral, no momento em que abaixava o arco e guardava a flecha.
–O que faz aqui? – Perguntou o elfo mais alto.
–Estava somente passando alguns dias aqui, com alguns amigos.
–Então peça para eles descerem da árvore.
–Como você sabe que eles estão em cima da árvore?
–Elfos têm uma boa vista, nós ouvimos e vimos vocês. São quatro pequenos e uma mulher.
–Exatamente! – Disse Prímula, descendo da árvore.
–Saudações. – Disse o elfo – Sou Ginrodel, e ele é Fildon.
–Prazer. Meu nome é Prímula.
–Esqueci de apresentar, sou Frodo. – Disse Frodo, apressando-se.
–E eu sou Sam. – Disse ele, descendo da árvore.
Merry e Pippin também desceram.
–Eu sou Pippin.
–E eu sou Merry.
Prímula finalmente entendeu porque Sam falava que elfos são puros e belos. Ela admirou-se ao ver de perto um elfo. Os cabelos dourados esvoaçavam-se ao vento, os olhos cinzentos brilhavam intensamente, eles pareciam leves, e suas vozes soavam como suaves melodias. Eram mais altos do que Prímula, embora só um pouco, seus rostos mostravam juventude e eternidade, embora tivessem vivido muitas centenas de anos.
Os hobbits, os elfos e Prímula ficaram conversando um pouco, e Frodo contou-lhes a história do Anel que levava ao futuro e ao passado.
–Onde está o Anel? – Perguntou Ginrodel. E Frodo o mostrou.
–Narya! – Exclamou Fildon.
–Conhecem esse Anel? – Perguntou Prímula.
–Todos conhecem. – Disse Ginrodel – Esse é um dos Três, foi feito pelos elfos.
–Mas não sabíamos que ele transportava pessoas pelo tempo. – Disse Findol. – Posso tocá-lo?
Frodo depositou o Anel sobre a mão estendida de Findol e levou um susto. Todos se assustaram, inclusive Fildon. O Anel havia se incendiado, mas continuava inteiro. As chamas elevavam-se rubras como a pedra, mas eram frias, e, segundos depois, se extinguiram.
–Foi exatamente isso que aconteceu com o Anel quando o embrulhei nas folhas de mallorn. – Disse Sam.
Fildon passou Narya para Ginrodel, e a mesma coisa aconteceu. Todos se surpreenderam, mas as runas do Anel não ficaram visíveis nem na mão de Findol nem na de Ginrodel. O elfo devolveu o Anel para Frodo.
–Incrível! – Exclamou Prímula – Nunca havia visto nada igual.
De repente o estômago de Sam roncou alto.
–Desculpem-me. – Disse ele – é que eu ainda não comi o desjejum.
–Nós também não. – Disseram Merry e Pippin.
–Então comamos juntos. – Disseram os elfos.
E todos compartilharam a comida, sentados na grama, e Prímula pôde experimentar lembas, que era o pão de viagem dos elfos. Ela adorou, pois tinha um gosto suave e natural, e era muito saboroso.
–Precisamos ir. – Disse Ginrodel, ao terminar de comer.
–Já? – Perguntou Prímula. – Ainda é cedo.
–É cedo, mas precisamos ir. – Disse Fildon.
E os elfos partiram, e enquanto andavam, cantavam uma doce melodia. Prímula, Sam, Merry e Pippin não entendiam, mas sabiam que a música falava sobre coisas belas. Os quatro hobbits e Prímula ficaram observando os elfos caminhando, até os perderem de vista.
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CAPÍTULO XXXIII
De Volta para o Futuro

Mais três dias se passaram, e esses dias foram tediosos. Não fizeram nada mais além de comer, andar pelas redondezas e conversar. Mas, finalmente, o dia marcado para voltarem ao futuro havia chegado. Prímula estava excitada, e ao mesmo tempo triste. Pippin, Merry e Sam estavam somente tristes. Frodo estava alegre; ele tinha certeza absoluta de que conseguiria convencer Henrique a vir com eles para o passado.
–Chegou a hora. – Disse Prímula.
–Tem certeza que quer ir? – Perguntou Sam.
–Eu preciso ir.
–Mas você pode voltar! – Disse Pippin.
–Talvez, mas é mais provável que eu não volte.
–Frodo vai convencer Henrique, você verá. – Disse Merry.
–T
alvez. Mas não fiquem tão esperançosos. Vão acabar se decepcionando. Não esperem por mim.
Os três hobbits ficaram cabisbaixos, mas Prímula teria de ir, eles querendo ou não.
Frodo tirou o Anel do bolso e ficou tateando-o e observando-o por alguns minutos, depois disse:
–Acho que chegou a hora, Henrique deve estar nos esperando.
Então se despediram. Prímula deu um beijo na testa de cada um dos três hobbits, e os abraçou. Ninguém escondeu a comoção, e todos derramaram lágrimas.
–É melhor eu ir, agora. – Disse Prímula, ainda entre lágrimas – Foi um prazer conhecê-los e viver com vocês, mesmo que por pouco tempo.
–Não teremos nenhuma lembrança sua? – Perguntou Pippin.
–Frodo trará fotografias. Eu tenho as suas também. Revelarei o filme hoje mesmo.
Dizendo isso, Prímula se preparou para colocar Narya, junto com Frodo.
–Espere! – Disse Frodo – Esqueci de dizer uma coisa.
–O que foi? – Perguntou Sam.
–Não vão embora! – Disse ele – Me aguardem aqui, pois amanhã estarei de volta.
–Está bem. – Disseram os três hobbits.
Após isso, não fizeram muito drama. Frodo já estava com o Anel no dedo, e Prímula enfiou seu dedo muito rapidamente, sem olhar para trás, para não chorar. Os dois viram um clarão e ouviram o mesmo estrondo ensurdecedor, mas os três hobbits nada viram nem ouviram.
Apareceram bem diante de Henrique, que estava sentado no chão, esperando. Ele levou um susto, mas passou logo ao ver quem eram. Prímula o abraçou carinhosamente e os dois se beijaram. Frodo somente deu a mão para Henrique.
–Vocês demoraram! Achei que não viriam mais.
–Nunca deixarei você. – Disse Prímula, manhosamente.
–Que bom! – Disse ele, e a abraçou novamente – Mas agora vamos, antes que chegue a hora do almoço.
Os três entraram no carro, que estava estacionado entre algumas árvores, fora da estrada. No meio do caminho, Henrique perguntou:
–E aí, gostou de lá?
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Prímula respondeu com um aceno de cabeça, dizendo que sim.
–Como é lá? – Perguntou.
–Não dá para explicar. – Disse ela – É melhor você ver as fotografias, mas lhe digo uma coisa: você que gosta de aventuras, iria adorar!
–É melhor ver de perto do que em fotografias. – Disse Frodo.
–Adorar? Aposto que não. Hobbits devem ter uma vidinha monótona e sem graça.
–Monótona? – Disse Prímula – Quase fui devorada por um lobo, e Frodo quase foi morto por um monstro gigante!
–Monstros? – Perguntou ele, com ar de zombaria – Só acredito vendo.
–Veja, se quiser. – Disse Frodo – Vá lá e comprove.
–E se não houver? – Perguntou. – E se eu chegar lá e nenhum de vocês quiser me trazer de volta, se não houver nada?
–Há fotografias! – Disse Prímula. – E esqueci de lhe dizer, também voamos em cima de águias maiores do que elefantes.
Nesse instante Henrique freou o carro abruptamente.
–O que foi? – Perguntou Prímula.
–Há fotos das águias também?
–Sim! – Disse Frodo.
–Então vou pensar no caso de vocês. Primeiro eu vejo as fotos, e depois, se forem convincentes, talvez eu vá.
Frodo não conseguiu conter a alegria, e no banco de trás, começou a comemorar consigo mesmo.
–Calma aí, baixinho! Eu não dei certeza de ir. – E voltou a acelerar o carro.
Prímula olhou para trás e piscou com um olho para Frodo, que retribuiu a piscada.
Chegaram rapidamente à cidade, e antes de almoçarem, Prímula deixou os filmes em um loja para revelar. Depois foram almoçar (coincidentemente no mesmo restaurante da primeira vez). Na hora de sair, Frodo reparou no jardim, que estava refeito, depois do estrago que ele causara.
Depois de almoçarem, Prímula pegou as fotos, mas não deixou Henrique ver, por mais que ele insistisse, antes de chegarem ao apartamento.
Ao chegarem em casa, os cachorros de Prímula fizeram uma festa. Os filhotinhos tinham menos de um mês, mas já estavam bem espertos. Só então, depois de abraços nos cachorros, Prímula deixou Henrique ver as fotos. Ele sentou-se ao sofá e começou a olhar.
A primeira fotografia era de Frodo, Sam, Merry e Pippin.
–Há mais nanicos lá? – Perguntou.
–Muitos! – Respondeu Prímula.
A segunda foto era de Bolsão, a pequena toca hobbit. As fotos seguintes eram de muitas tocas e lugares pequenos; mas Henrique se impressionou mesmo foi com a foto das crianças hobbits ao lado de Prímula. Elas pareciam pequenos bonequinhos que tinham vida.
Depois de muito examinar, chegou a vez de ver o troll. Ele se assustou.
–Como foi que vocês mataram esse monstro? – Perguntou, confuso.
–Depois nós contamos. – Disse Frodo.
Ele olhou também as fotos das águias e adorou!
–Vou pensar muito seriamente no caso. Deu até vontade de conhecer.
Frodo comemorou em voz baixa e levantou o polegar para Prímula.
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CAPÍTULO XXXIV
A Decisão

–Henrique, – disse Prímula – acho melhor você voltar para sua casa, pensar melhor e depois tomar uma decisão. Mas pense direito, está bem? Eu adoraria viver lá.
–Está bem. – Disse ele – Mas… Posso levar as fotos? É só para me ajudar a decidir.
–Claro! Leve!
–Obrigado. – Disse ele, pegando as fotos e depois saindo pela porta.
–Acho que conseguimos! – Disse Frodo para Prímula, quando Henrique fechou a porta.
–Não tenha tanta certeza, Frodo. – Disse ela – Eu também acho que ele está quase querendo ir conosco, mas ele disse que iria pensar.
–Ele disse que vai pensar só para não dizer diretamente "Adorei esse lugar! Vou agora mesmo se vocês quiserem!".
Prímula riu, Frodo também. Eles estavam tão ansiosos com a resposta de Henrique que não conseguiram falar sobre mais nada a tarde inteira, a não ser na volta para a Vila dos Hobbits. Sentaram-se diante da televisão para se distraírem um pouco. Frodo gostava de ver televisão.
Estavam sentados no sofá, quando de repente Latina deu um salto e pulou no colo de Frodo, que se assustou, mas depois passou a mão sobre sua cabeça, acariciando.
–Vamos levá-los? – Perguntou Frodo para Prímula.
–O quê? – Perguntou ela, que não estava prestando atenção no que Frodo dizia.
–Eu perguntei se vamos levá-los.
–Levar? Quem?
–Seus cachorros.
–É mesmo! Eu havia me esquecido. É claro que vou levá-los.
–Mas como vamos transportá-los conosco? – Frodo perguntou.
–Não havia pensado nisso.
–Pode ser que se os segurássemos no colo na hora de colocar o Anel, eles vão junto.
–Acho que não daria certo. Henrique estava abraçado em mim quando colocamos o Anel, e ele não foi junto.
–E se os colocássemos dentro das mochilas?
–Acho que não daria ce
rto. – Respondeu Prímula – Pelo que percebi, Narya transporta somente coisas materiais junto com as pessoas que o usam, os cachorros não iriam conosco.
–E se voltássemos para buscá-los? – Perguntou Frodo, com certa razão.
–Você tem razão! Isso é certeza de dar certo!
–Primeiro eu, você e Henrique voltamos para o passado; — disse Frodo – depois eu e você voltamos para buscar um cachorro, depois o levamos para o passado, depois voltamos para buscar outro, e assim por diante.
–Boa idéia!
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Mal tinham acabado de terminar o assunto quando a campainha tocou.
–Aposto que é Henrique com as malas e tudo. – Disse Frodo.
Prímula abriu a porta, e era realmente Henrique que estava do lado de fora, com muitas malas ao lado.
–Resolveu? – Perguntou Prímula sem lógica, pois estava bem visível que Henrique já decidira ir.
–Estou pronto! – Disse ele. – Vou com vocês.
–Eu sabia! – Gritou Frodo.
Henrique entrou e sentou-se ao lado de Frodo no sofá.
–Eu vou, baixinho, mas não precisa ficar tão feliz.
–Não estou feliz por que você vai. – Disse Frodo, rindo – Eu estou feliz por que, você indo, Prímula também vai. Se você não fosse, ela também não iria.
–Mas… – Disse Prímula a Henrique – Você não precisa levar todas essas coisas.
–Como não? São minhas roupas, alguns objetos pessoais, uma televisão portátil, meu celular…
–Você não vai usar nada disso lá. – Disse Prímula – Lá não tem energia elétrica nem satélite para ver televisão, muito menos linha telefônica.
–Não havia pensado nisso.
–Mas é melhor pensar, — disse Frodo – e esvaziar sua mala, para que reste apenas uma mochila, pois a viagem é longa, quando se vai a pé.
–E nossos empregos? – Perguntou Henrique, com ar de preocupado para Prímula.
–Abandonaremos – respondeu ela, com ar de simplicidade.
–Sem avisar ninguém?
–Relaxe! Nós sumiremos do mapa pela manhã. Ninguém irá nos encontrar, a menos que procure no passado.
Henrique riu, e depois disse:
–Prímula, posso pegar uma faca?
–Para quê?
–Para servir de arma, caso nós encontremos um monstro pelo caminho. Adoraria ver um.
–Nem sonhe! – Exclamou Frodo – Não gosto de trolls nem de longe!
–Pode pegar. – Disse Prímula, rindo – Pode ser útil.
Depois de arrumarem as coisas, todos foram se deitar ansiosos. Henrique não conseguiu dormir no início, tamanha era sua excitação. Dormiu com a mochila debaixo dos braços, e sonhou com um troll enorme lutando com uma águia maior ainda.
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CAPÍTULO XXXV
Viagem de volta ao passado

–Acordem! Acordem! Vamos rápido, ou nos atrasaremos!
–O que foi? – Perguntou Prímula, esfregando os olhos. Ela olhou para cima e viu Henrique, em pé, totalmente disposto, já com o rosto lavado, os dentes escovados, o estômago cheio, e a mochila nas costas, e também com uma faca presa ao cinto.
–Que horas são? – Perguntou Prímula.
–Cinco e meia. – Respondeu ele – É melhor andarem logo.
–Mas ainda é cedo! – Disse Frodo, com os olhos inchados e o rosto vermelho.
–Cedo? – Disse ele – Não quero perder um só minuto naquela terra de monstros!
–Não vá pensar que encontrará muitos monstros lá. – Disse Prímula – Onde viveremos não há nenhum.
–Não importa. Estou pronto para ir, e quero partir agora!
–Então vamos. – Disse Frodo, levantando-se e pegando suas coisas – Só vou me trocar e comer alguma coisa.
Prímula também levantou-se e foi para o banheiro. Em poucos minutos ela já estava pronta, faltava somente comer alguma coisa, para não ter que sair em jejum. Frodo comeu o desjejum junto com ela, e Henrique ficou apenas sentado à mesa, para lhes fazer companhia, pois já havia comido.
–Agora podemos ir? – Perguntou Henrique, quando Frodo empurrou o prato para a frente.
–Podemos. – Disse ele.
–Vou pegar Latina e os filhotes. – Disse Prímula, levantando-se da mesa.
Frodo e Henrique ficaram esperando sentados no sofá, vendo televisão pela última vez.
–Acho que vou sentir saudades daqui. – Disse Henrique – Mas eu ainda prefiro uma vida com aventuras.
–Ainda bem. – Disse Frodo – Você vai gostar de lá, fique tranqüilo.
–Tomara.
Prímula voltou para a sala com os quatro cachorros nas coleiras, e a mochila em suas costas, pronta para partir.
Frodo e Henrique levantaram-se e jogaram suas mochilas sobre seus ombros.
–Andem! – Se apressou Henrique, já se dirigindo para a porta.
Prímula abriu a porta e ele saiu rapidamente. Frodo saiu logo depois, mas ela virou-se antes de sair e contemplou sua casa por uma última vez; então fechou a porta suavemente, mas não a trancou: deixou a chave pendurada do lado de fora, para alguém entrar e pegar suas coisas. Não precisaria de mais nada e não teria nada a perder.
Desceram pelo elevador e saíram pela portaria.
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–Onde vão? – Perguntou o porteiro, que como sempre, estava curioso e intrometido.
–Não interessa. – Disse Prímula, que não gostava muito dele.
–Não precisa ofender. Fiz apenas uma pergunta inocente.
–E como sempre anda curioso e intrometido. – Continuou ela, e Frodo e Henrique a olharam, surpresos.
–O que foi que eu fiz para você, menina? – Insistiu o porteiro – Por que está tão nervosa?
–Você sempre me deixou nervosa com esse seu jeito. Agora que tenho a oportunidade, direi tudo que pretendo, seu velho caduco.
–Olhe, eu vou abrir um processo contra você, por danos morais!
–Tente! – Disse ela, dando uma risada irônica – Só irá gastar dinheiro à toa. Sumirei do mapa daqui a algumas horas. Pode procurar se quiser, mas garanto que não me encontrará.
O porteiro amarrou a cara e se segurou para não dizer um palavrão. O comportamento de Prímula estava deixando-o confuso.
–Agora precisamos ir. – Continuou ela – Antes que fiquemos loucos com seus interrogatórios.
Prímula avançou alguns passos em direção à rua, mas depois virou-se e disse para o velho:
–Para não dizer que eu sou uma pessoa má: Pode ficar com meu apartamento e minhas coisas, não precisarei mais. A chave está pendurada na porta, que está aberta.
E continuou a andar em direção ao carro. O velho porteiro não sabia se a xingava, pois ela havia o humilhado, ou se a agradecia pela herança.
Frodo e Henrique a seguiram, e entraram no carro. Não disseram nada, pois Prímula estava muito ansiosa, e eles não queriam dizer uma só palavra que pudesse, sem intenções, ofendê-la.
–Eu dirijo. – Disse Prímula.
–Não! – Disse Henrique – Pode deixar, eu mesmo faço isso, você está um pouco fora de si.
–Não estou. Eu es
tava apenas desabafando o que guardei durante muitos anos: a raiva pelo intrometimento desse porteiro.
Henrique não disse mais nada, e acelerou o carro.
–Espere! – Disse Prímula – Preciso passar no hospital onde trabalho.
–O que foi? – Perguntou Henrique.
–Quero dizer algumas palavrinhas malcriadas para meu chefe. Não perderei a oportunidade.
Henrique riu, e dirigiu até o hospital. Prímula desceu, ficou lá dentro durante alguns minutos e depois voltou para o carro, com ar de triunfante. De cima do hospital, na sala mais alta do prédio, o chefe de Prímula saiu à janela, e gritou algo incompreensível, com os punhos fechados sendo sacudidos no ar.
–Vamos embora! – Disse Frodo, mal contendo o riso.
Henrique voltou a acelerar o carro e duas horas (aproximadamente) depois eles estavam no local combinado. Ele estacionou o carro no acostamento, e deixou os vidros abertos e a chave no contato, para que alguém que estivesse a pé pudesse levá-lo.
Os cachorros estavam estranhamente ansiosos, pulavam de um lado para o outro, e não pararam um minuto só quietos. Prímula os amarrou em uma árvore. A alguns passos dali Frodo, Prímula e Henrique se posicionaram e colocaram o Anel, os três juntos.
Eles apareceram exatamente do lado do salgueiro onde Sam, Merry e Pippin ainda dormiam.
–Suba! – Disse Prímula a Henrique — Eu e Frodo iremos buscar os cachorros.
Henrique fez um sinal com a cabeça dizendo que sim, e depois de olhar para os lados, começou a subir na árvore. Prímula e Frodo desapareceram, e pouco tempo depois reapareceram com Latina, depois voltaram a desaparecer, e voltaram com um filhote; e repetiram o processo mais duas vezes. Ela amarrou os cachorros no salgueiro e começou a subir. Frodo a seguiu.
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CAPÍTULO XXXVI
De volta para casa

Ao chegar lá em cima, Prímula e Frodo viram Henrique conversando alegremente com os três hobbits.
–Já nos conhecemos. – Disse Pippin a Prímula – Simpático o seu namorado.
–Simpáticos os seus amigos. – Disse Henrique a Frodo – Menos esse aqui. – E apontou para Sam – Estou brincando! – E passou a enorme mão sobre os cabelos encaracolados do hobbit, fazendo-os despentear.
Prímula e Frodo se aproximaram deles e se sentaram. Sam, Merry e Pippin comiam maçãs e bolos enquanto conversavam alegremente com seus amigos.
–Fico feliz que vocês venham morar conosco. – Disse Merry.
–Conosco? – Perguntou Frodo – Mas você mora em Buqueburgo!
–Você se importaria se Pippin e eu fôssemos morar com vocês em Bolsão?
–De jeito nenhum! – Exclamou Frodo – Será um prazer! Quanto mais melhor!
Todos riram. Henrique de vez em quando dava uma espiada por cima dos galhos da árvore, e olhava para baixo.
–O que foi? – Perguntou Sam.
–Estou vendo se aparece algum monstro.
–Monstro? – Perguntaram Pippin e Merry juntos.
–É. Eu vi nas fotografias.
–Que fotografias? – Perguntaram eles.
Prímula retirou o álbum de fotos da mochila e mostrou-o para os três hobbits que ainda não o tinham visto. Eles adoraram as fotografias, e riram ao ver uma foto em que estavam de pé, na porta de Bolsão.
–Que tal irmos agora? – Opinou Henrique.
–Boa idéia! – Disse Frodo – Estou louco para voltar para Bolsão.
Todos arrumaram suas coisas e desceram da árvore. Merry e Pippin se assustaram ao descerem e depararem com os quatro cachorros.
–Que espécie esquisita! – Exclamou Pippin – Esses cães são pequenos e têm pêlos encaracolados.
–Se cachorros fossem humanos, — disse Merry – esses certamente seriam hobbits.
Os dois se abaixaram e acariciaram os cachorros. Prímula pegou Latina no colo, e Merry e Pippin pegaram dois dos filhotes. Sam pegou o outro, e assim eles partiram.
Caminhavam lentamente, e Henrique ia observando cada centímetro da nova terra. Durante a viagem, que durou dias, não encontraram nenhum perigo, para a tristeza de Henrique, mas a viagem foi bem alegre e descontraída. Frodo estava feliz por voltar ao Condado, e todos os outros se sentiram igualmente aliviados, menos Henrique, que estava esperançoso para encontrar algum troll ou uma águia ou um lobo.
Assim passou-se os dias, na mais bela tranqüilidade, o Sol brilhava por trás das nuvens, e o inverno já estava no fim. Foi em uma manhã de extrema luminosidade que chegaram à Vila dos Hobbits. Henrique ficou deslumbrado diante de todas aquelas pessoas pequenas vivendo harmoniosamente com a natureza; gostou dos rios, do moinho, das crianças.
–Homem grande! Homem grande! – Gritavam elas, conforme corriam atrás de Henrique. – A moça grande voltou! A moça grande voltou!
E a notícia de que duas pessoas grandes viriam morar na vila se espalhou como um rio que desce uma montanha, despertando curiosidade entre os hobbits, e alegria entre as crianças.
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Finalmente chegaram em Bolsão. Em frente à toca hobbit de Frodo estavam Bolly e Guess, que os esperavam. Foram apresentados a Henrique e todos entraram, para comerem alguma coisa e para descansarem. Bolly e Guess não estavam mais chateados com seus amigos; pelo contrário, estavam felizes em vê-los novamente, e gostaram muito de Henrique.
O dia passou rápido, e Bolly e Guess tiveram que ir embora. Depois de um chá, Frodo, Sam, Merry, Pippin, Prímula e Henrique foram se sentar diante da lareira, para conversarem.
–Sabem de uma coisa? – Disse de repente Henrique.
–O que foi? – Perguntaram.
–Eu não vi nenhum monstro.
Os outros se olharam, pensando que Henrique não gostaria da pequena Vila dos Hobbits, mas ele continuou falando:
–Mas eu adorei esse lugar! É tudo tão maravilhoso! Só me arrependo de uma coisa.
–Do quê? – Prímula perguntou.
–De não ter conhecido esses hobbits há mais tempo.
Risadas gostosas invadiram a sala. Todos estavam felizes e tranqüilos, mas a tarde e a noite passaram rápido e eles estavam cansados.
Foram deitar depois de bons banhos de água fumegante. Colocaram uma casinha de cachorro no quintal, para Latina e seus filhotes. Frodo havia arrumado outra cama para pôr no quarto em que Prímula dormira. Merry e Pippin dormiram em outro quarto, e Sam em outro. Frodo ficou com seu antigo quarto, o maior. Antes de dormir ele tirou Narya do bolso e guardou em uma pequena caixa. Antes de guardá-la em seu criado-mudo ele sussurrou para o Anel:
–Obrigado, Narya, por ter me trazido esses amigos tão maravilhosos.
Depois deitou e adormeceu profundamente.

FIM

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