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Narn Vendeniel – Parte 01

Capítulo 1 – A Sombra em Endor

Talvez aquela fosse a única pessoa audaciosa o suficiente para desafiar Varda e que fizesse a Senhora das Estrelas responder suas perguntas.

Filha de reis, descendente dos Vanyar, aqueles que jamais pisaram em Endor, Vendeniel era a segunda filha de Fáne Othar. Ela tinha um irmão gêmeo, que nasceu pouco antes dela, e que teria direito ao trono Haryon Ingwë. Mas o fato era que Vendeniel não era uma dama comum. Era bela, uma das mais belas senhoras da ilha de Hennut. Tinha os cabelos longos e levemente ondulados, que desciam como uma cascata suave e dourada, que brilhava ao sol. Os olhos eram tão azuis, azuis como o mais limpo dos céus de verão, e sua pele era macia e muito clara. Mas como todos os Vanyar, Vendeniel tinha uma visível e brilhante aura prateada. E apesar de sua beleza, era uma guerreira, embora nas terras de Alem Mar não existissem perigos. Era adorada e temida, pois todos os navegantes tinham medo de serem interceptados pelos navios de Vendeniel.
Mas agora, longe do mar, Vendeniel entrava na residência de Varda, a Elbereth dos elfos do exílio. Ela tinha muitas perguntas e poucas respostas. Agora estava lá, na presença de Elentári e tinha certeza que poderia saber de alguma coisa ali.

 
– Salve Vendëniel de Hennut! disse Varda, sorrindo docemente. – Diga-me, herdeira de Fáne Othar, se vens até Valinor é por que queres algo. Vejo que tu estás aflita, criança.
– Salve, Varda, Senhora das Estrelas. – disse Vendeniel, curvando-se para a Valië. – Tenho muitas perguntas e poucas respostas.
– Então Vendeniel larga seu orgulho e vem adquirir sabedoria junto aos Valar! – riu-se Varda. E voltou novamente para o seu tom de voz doce e calmo. – Pergunte, então, criança, e quem sabe eu poderei responder-lhe.
Vendeniel deu um suspiro audível e começou a falar.
-Senhora Varda, sabes que sou uma navegante. Conheço bem os mares de Belegaer e seus raros navegantes. Porém os Elfos de Endor estão partindo, vindo para Eldamar. Eles migram em grande quantidade, e não falam seus motivos, sussurram sobre uma sombra no Leste, sobre o servo de Melkor que voltou.
Varda continuou a fitá-la, como se avaliasse se Vendeniel era digna de saber o que ocorria em Endor.
– E eu tenho certeza de que a senhora sabe o que está acontecendo.
– Vendeniel, isso não é uma brincadeira. Se eu lhe falar, você iria até lá, lutar e arriscar sua vida, para ter um pouco de aventura. Se este for o motivo, então não posso responder-lhe, pois são vidas que estão em jogo.
Vendeniel ficou séria. -Não quero aventuras, nem fama, nem reconhecimento, nem nada dessas coisas. Eles precisam de ajuda. Se os elfos partirem de Endor (o que já está acontecendo), quem vai defender Endor? Os anões? Os homens? E se o tal Servo de Melkor resolver cruzar o mar? O que faremos, sucumbiremos em meio à navios abarrotados de orcs, wargs, trolls e lobos?
– Então, criança, preste atenção nas minhas palavras.- disse Varda, sem olhar para Vendeniel.- Quando Elenna foi submergida, foi porque Sauron, antigo servo do Morgoth colocou os homens da ilha contra nós. Sauron é um maia, nos traiu e é extremamente nocivo. Muito tempo atrás, criança, ele enganou os Elfos de Celebrimbor e forjou um anel extremamente poderoso, no qual pôs sua vida, sua crueldade, todo o seu desejo de poder. E no anel estava escrito "Um Anel para a todos governar, um anel para encontra-los, um anel para a todos trazer e na escuridão aprisiona-los". Sauron dominou Endor e pôs a Terra Media numa terrível escuridão. Outros anéis élficos foram forjados, não tão grandes nem tão poderosos. Três anéis para os elfos, sete para os anões (e estes foram destruídos ou tomados por Sauron) e nove para os homens mortais, que seguiram Sauron e se transformaram nos Nazgûl, os nove espectros do anel.
– Mas isso foi há muito tempo, Senhora.- disse Veneniel.
– Sim, criança. Quando todos pensavam que tinha acabado, que Sauron havia vencido, Elendil do Ponente veio, e formou a Última Aliança entre Elfos e Homens, que lutou contra Sauron. Elendil caiu e Gil-Galad, um dos maiores dos reis dos elfos também foi destruído, e Isildur cortou o anel da mão de Sauron, e o tomou para si, subjugando o Senhor do Escuro. Mas Sauron não estava morto. Sua vida está contida no anel, e se o anel estiver intacto, o Senhor dos Anéis ainda estará vivo.
– E Isildur? O que aconteceu com ele? – perguntou Vendeniel.
– Isildur morreu. Foi atacado por orcs, tentou fugir usando o anel (que faz quem o usa ficar no mundo dos espectros, invisível para a maioria das pessoas) e este escorregou do seu dedo. Não conheço mais nada desta história, talvez em Endor existam pessoas que possam lhe dizer. Mas Sauron acordou, os Nazgûl se levantaram e agora estão atrás do anel, querem ele de volta. E uma segunda escuridão cobrirá a Terra Média, se isto acontecer.
Vendeniel ficou silenciosa.
– Não tens nada para fazer lá. Fique em Hennut! Navegue pelos teus mares, Vendeniel. Não é de meu agrado que partas.
Por um momento, Vendeniel estava indecisa. Sabia que ficar era o melhor a fazer, mas algo a dizia para partir. – Existe algo lá que me chama, Senhora. Eu entendo vossos conselhos e vos agradeço, mas eu venho pensando em ir para lá há muito tempo. Mas não queria partir sem conhecer o meu destino, o que ocorre lá.
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Varda deu um suspiro audível. -Então, se é o teu coração que lhe diz, vá, Vendeniel! Não tema os perigos, pois você encontrará muitos deles! Navegue em direção aos Portos Cinzentos, e Círdan lhe ajudará. Depois parta para o refúgio de Imladris, e lá você saberá o que lhe aguarda. Elrond Meio-Elfo lhe ajudará.
A Vanya sorriu. – Novamente, só posso agradecer-lhe, Senhora.
– Parta com minha bênção. disse Varda. parta com meus votos de boa sorte com meus desejos de sucesso. Em você corre o sangue da casa de Ingwë, e dele você herdou coragem e sabedoria! Agora, deixe-me ver sua espada!
Vendeniel desembainhou com cuidado sua bela espada, que lhe fora dada por seu pai, e que passava de geração em geração. Diziam que aquela espada fora forjada por Fëanor.
– Agora ela se chama Hennut Nárë, e é a Chama Benéfica que iluminará vosso caminho, por mais escuro que ele seja. Também abençôo-a, e quando a luz da lua ou do sol refletir nessa lâmina, os aliados sentirão sua força e coragem renovada, enquanto os inimigos fugirão.- Varda passou sua mão esguia pela espada e quando a teve de volta, Vendeniel reparou em seu brilho e em letras tengwar que apareciam, formando uma frase em Quenya que seria traduzida assim: "Vendeniel, Senhora de Hennut, Guerreira Navegante"

Varda beijou a testa de Vendeniel e esta partiu. Foi sozinha em seu navio até a ilha de Hennut, que era o reino de seu pai. Ao chegar lá, explicou a situação para o pai e disse-lhe tudo o que a Elentári dissera. No fim, quatro pessoas decidiram ir com Vendeniel, quatro guerreiros poderosos e fiéis: seu irmão Haryon, e também seus primos, Fingwë e Findar, e também uma dama de companhia, que como Vendeniel, fora treinada nas artes da luta e navegação, Kalimë.

Enquanto o navio zarpava, Vendeniel observava as montanhas, as ilhas e torres das terras do Oeste. Estava indo para o exílio, para destruir um grande mal, como Féänor fizera há muito tempo atrás. Um pequeno verso veio em sua cabeça, que ela apressou-se em recitar:

A Elbereth Gilthoniel,
silivren penna míriel
o menel aglar elenath!
Na-chaered palan-díriel
o galadhremmin ennorath,
Fanuilos, le linnathon
nef aear, sí nef aearon!

A tradução aproximada deste verso na língua élfica mais utilizada na Terra Média, o Sindarin, ficaria "Ó Elbereth Inflamadora, reluzindo branca, cintilando como jóias, a glória da hoste estrelada se curva. Tendo vislumbrado além das terras de árvores entrelaçadas, a ti, Semprebranca, cantarei, deste lado do mar, aqui neste lado do oceano".

Mal chegamos em Endor e você já chama Varda de Elbereth! – disse Haryon, abraçando a irmã firmemente. Vendeniel nada disse.

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