Talvez aquela fosse a única pessoa audaciosa o suficiente para desafiar Varda e que fizesse a Senhora das Estrelas responder suas perguntas.
– Salve, Varda, Senhora das Estrelas. – disse Vendeniel, curvando-se para a Valië. – Tenho muitas perguntas e poucas respostas.
– Então Vendeniel larga seu orgulho e vem adquirir sabedoria junto aos Valar! – riu-se Varda. E voltou novamente para o seu tom de voz doce e calmo. – Pergunte, então, criança, e quem sabe eu poderei responder-lhe.
Vendeniel deu um suspiro audível e começou a falar.
-Senhora Varda, sabes que sou uma navegante. Conheço bem os mares de Belegaer e seus raros navegantes. Porém os Elfos de Endor estão partindo, vindo para Eldamar. Eles migram em grande quantidade, e não falam seus motivos, sussurram sobre uma sombra no Leste, sobre o servo de Melkor que voltou.
– Vendeniel, isso não é uma brincadeira. Se eu lhe falar, você iria até lá, lutar e arriscar sua vida, para ter um pouco de aventura. Se este for o motivo, então não posso responder-lhe, pois são vidas que estão em jogo.
Vendeniel ficou séria. -Não quero aventuras, nem fama, nem reconhecimento, nem nada dessas coisas. Eles precisam de ajuda. Se os elfos partirem de Endor (o que já está acontecendo), quem vai defender Endor? Os anões? Os homens? E se o tal Servo de Melkor resolver cruzar o mar? O que faremos, sucumbiremos em meio à navios abarrotados de orcs, wargs, trolls e lobos?
– Então, criança, preste atenção nas minhas palavras.- disse Varda, sem olhar para Vendeniel.- Quando Elenna foi submergida, foi porque Sauron, antigo servo do Morgoth colocou os homens da ilha contra nós. Sauron é um maia, nos traiu e é extremamente nocivo. Muito tempo atrás, criança, ele enganou os Elfos de Celebrimbor e forjou um anel extremamente poderoso, no qual pôs sua vida, sua crueldade, todo o seu desejo de poder. E no anel estava escrito "Um Anel para a todos governar, um anel para encontra-los, um anel para a todos trazer e na escuridão aprisiona-los". Sauron dominou Endor e pôs a Terra Media numa terrível escuridão. Outros anéis élficos foram forjados, não tão grandes nem tão poderosos. Três anéis para os elfos, sete para os anões (e estes foram destruídos ou tomados por Sauron) e nove para os homens mortais, que seguiram Sauron e se transformaram nos Nazgûl, os nove espectros do anel.
– Sim, criança. Quando todos pensavam que tinha acabado, que Sauron havia vencido, Elendil do Ponente veio, e formou a Última Aliança entre Elfos e Homens, que lutou contra Sauron. Elendil caiu e Gil-Galad, um dos maiores dos reis dos elfos também foi destruído, e Isildur cortou o anel da mão de Sauron, e o tomou para si, subjugando o Senhor do Escuro. Mas Sauron não estava morto. Sua vida está contida no anel, e se o anel estiver intacto, o Senhor dos Anéis ainda estará vivo.
– Isildur morreu. Foi atacado por orcs, tentou fugir usando o anel (que faz quem o usa ficar no mundo dos espectros, invisível para a maioria das pessoas) e este escorregou do seu dedo. Não conheço mais nada desta história, talvez em Endor existam pessoas que possam lhe dizer. Mas Sauron acordou, os Nazgûl se levantaram e agora estão atrás do anel, querem ele de volta. E uma segunda escuridão cobrirá a Terra Média, se isto acontecer.
Vendeniel ficou silenciosa.
– Não tens nada para fazer lá. Fique em Hennut! Navegue pelos teus mares, Vendeniel. Não é de meu agrado que partas.
Varda deu um suspiro audível. -Então, se é o teu coração que lhe diz, vá, Vendeniel! Não tema os perigos, pois você encontrará muitos deles! Navegue em direção aos Portos Cinzentos, e Círdan lhe ajudará. Depois parta para o refúgio de Imladris, e lá você saberá o que lhe aguarda. Elrond Meio-Elfo lhe ajudará.
– Parta com minha bênção. disse Varda. parta com meus votos de boa sorte com meus desejos de sucesso. Em você corre o sangue da casa de Ingwë, e dele você herdou coragem e sabedoria! Agora, deixe-me ver sua espada!
Varda beijou a testa de Vendeniel e esta partiu. Foi sozinha em seu navio até a ilha de Hennut, que era o reino de seu pai. Ao chegar lá, explicou a situação para o pai e disse-lhe tudo o que a Elentári dissera. No fim, quatro pessoas decidiram ir com Vendeniel, quatro guerreiros poderosos e fiéis: seu irmão Haryon, e também seus primos, Fingwë e Findar, e também uma dama de companhia, que como Vendeniel, fora treinada nas artes da luta e navegação, Kalimë.
A Elbereth Gilthoniel,
silivren penna míriel
o menel aglar elenath!
Na-chaered palan-díriel
o galadhremmin ennorath,
Fanuilos, le linnathon
nef aear, sí nef aearon!
A tradução aproximada deste verso na língua élfica mais utilizada na Terra Média, o Sindarin, ficaria "Ó Elbereth Inflamadora, reluzindo branca, cintilando como jóias, a glória da hoste estrelada se curva. Tendo vislumbrado além das terras de árvores entrelaçadas, a ti, Semprebranca, cantarei, deste lado do mar, aqui neste lado do oceano".
Mal chegamos em Endor e você já chama Varda de Elbereth! – disse Haryon, abraçando a irmã firmemente. Vendeniel nada disse.