-A febre dela baixou muito já e…
-ENTÃO POR QUE ELA NÃO ACORDA?
Miyoru abriu os olhos lentamente. Os gritos e vozes do lado de fora a tinham acordado, mas quando ela tentou se levantar "Ai…que dor de cabeça." ela se deitou de novo e tentou descobrir onde estava. "Aparentemente eu arriscaria que estou em uma barraca e só de yukata. Yare, tente se lembrar… você estava nadando naquela neve toda, quando algo aconteceu. E eu vim parar aqui. Por Kami-sama, estou gelada até os ossos! Mas aqui já não é mais tão frio… onde será que eu estou?"
Ela olhava o chão e ao redor quando alguém entrou na barraca. Três pessoas. -Veja, Legolas, ela está bem.
-Faz muito tempo que você está me dizendo isso.
-Realmente e…
"Muito tempo? Ah, não. Chega dessa doninhagem." -Parem de se preocupar à toa.
Ao ouvirem isso, ou três se voltaram para ela, que estava se levantando -Eu já estou muito bem.
-A senhorita não está, não.- disse Aragorn, se aproximando para tentar colocá-la na cama novamente
-Eu estou sim. E não quero atrasar ainda mais esta missão.- ela já estava recolocando seu kimono e prendendo seu obi.
-Miyoru?- Merry meteu a cabeça para dentro da cabana para vê-la, então colocou a cabeça para fora de novo e gritou -Venham cá! Miyoru já está bem! – ele mal acabou de dizer isso, Frodo, Pippin e Sam vieram correndo para a tenda
-Senhorita Miyoru!
-É bom vê-la forte.
-Que bom que a senhorita já está bem.
-É! Nós ficamos fazendo companhia para a senhorita sempre que podíamos!
-É?-perguntou sorrindo, jogando sua mochila nas costas e prendendo a espada na cintura -Eu estou muito agradecida, meu pequenos amigos.- ela se virou para Aragorn, Gandalf e Legolas -Podemos partir ainda hoje.- e passou pelo meio deles, saindo da barraca
-Mas Miyoru…
-Nada de mas, Legolas-san!- ela fez um gesto de não quero saber com os braços, sem olhar para trás.
Aragorn deu um sorriso e disse -Acho que só nos resta arrumar as coisas e partir. Essa garota é impossível, não acha, Legolas?
-Ahn? Disse alguma coisa, Aragorn?- Perguntou o elfo, despertando de seus pensamentos
Aragorn sorriu e disse -Nada, Legolas, nada. Venha me ajudar a recolher as coisas.
Gandalf, que apenas observava silencioso, soltou um sorriso pelo canto dos lábios.
-O que estamos fazendo aqui?- Perguntou Miyoru, fazendo uma careta para o lugar onde estava
-Estamos procurando um anel.
-Hai. E o que um anel estaria fazendo nesse buraco?- ela perguntou, se desviando de um pouco de terra que havia caído ao seu lado.
-Buraco? Ora, espere para ver, sua coisinha estúpida e mal educada, e verá que não há lugar mais fantástico!- disse Gimli, indignado, referindo-se a cidade dos anões, a qual eles chegariam depois de cruzarem as pontes que tinham destruído da última vez
-Vou esperar ansiosamente…- ela disse, com um desinteresse descarado.
-Gandalf- perguntou Frodo, tentando mudar o rumo da conversa – Por quê passamos por cima de Caradhras para depois voltar por dentro de Moria? Parece o caminho oposto que fizemos da outra vez.
-E é, Frodo. Estamos tentando confundir nossos inimigos, que sem dúvida nos esperam no portão de Moria.
-E as pontes que destruímos, como vamos atravessá-las?
-Eh, bem…-
-Por quê acabamos de chegar numa.- disse Sam, apontando para Khaza-dûm, logo à frente deles
-Isso é um problema.- comentou Aragorn, preocupado -Como faremos? Não podemos simplesmente pular, estaríamos saltando para a morte. E mesmo se atirássemos alguém, não chegaria lá…- ele colocou a mão no queixo, pensativo.
Miyoru avançou até chegar na ponta de Khazad-dûm, antes do buraco imenso que Gandalf tinha feito para matar o balrog.
-Hum… Ajuda se tiver alguém do outro lado?
-Como assim?- Perguntaram os hobbits, que também já estavam lá
-Não vá me dizer que pode pular esse buraco com a força de suas pernas!- riu Gimli, debochando da garota.
-Baka…- ela se abaixou na ponta, olhou para a parede debaixo da ponte quebrada do outro lado "Será? Bem, com certeza ELE conseguiria… falta descobrir se eu conseguiria também."
-Legolas?- perguntou Aragorn -Será qu-
-Não. Eu não alcançaria a outra ponte. Bateria na parede abaixo dela.
Os olhos de Miyoru brilharam. "Então, vai dar certo!" Ela se levantou, tirou a bolsa das costas e abriu. Sorria para si mesma, e os outros ficaram em silêncio, observando, o que afinal ela estaria fazendo? Ela pegou umas coisas nas duas mãos, umas dessezeis em cada. E do nada, as atirou contra a parede abaixo da ponte. Ficaram em duas filas, alternadamente, fincadas no flanco da ponte quebrada. Ela fechou a bolsa, deu meia volta e foi calmamente até onde começava a ponte, onde todos estavam. Então se virou e começou a correr com tudo para a borda.
Tomando impulso.
Quando se deram conta do que ela queria fazer, era tarde. Ela já tinha pulado. Gritaram, xingaram, mas naquele momento a concentração dela estava toda no momento em que começou a cair. A borda já se tornara inalcançável. Estava caindo. Caindo em direção á parede. "É agora." ela pensou, num milésimo de segundo "AQUI!"
-MIYORU!!
-NÃO!
-GAROTA!
-PARE!
-NÃO FAÇA ISSO!
-NÃÃÃÃÃÃÃO!
-MIYORUUUUUUUUUU!
Legolas começou a socar a parede do seu lado. Todos estavam chocados. Alguns com lágrimas já enchendo os olhos
-O mesmo abismo.- comentou Frodo, com voz vacilante, prestes a chorar
Aragorn deu um grito de dor, e Legolas se perguntava, ainda socando a parede, e apertando os olhos para esconder as lágrimas involuntárias "Por quê? Eu nem consegui te conhecer… Por quê? Você ouviu a gente dizer que não dava, que não conseguiria! Por que você fez isso?"
-Por quê?
De repente, todos se viraram, a ouvir uma risada ecoar. Pippin se aproximou da ponta, assustado com a risada. E então sorriu e gritou
-ELA NÃO ESTÁ MORTA! Venham ver!
Era verdade. Ela tinha se segurado num dos dardos que cravara na parede. E agora ria, perdida no sucesso de seu plano. Quando se control
ou, olhou para todos, parados na borda da ponte, olhando para ela.
-Ei, eu sou muito nova para me suicidar, né?- e começou a escalar os dardos. Tinha planejado tudo, desde que os jogou. Eles serviram de apoio, para ela subir á borda escalando-os. Quando se soergueu e ficou de pé do outro lado da ponte, ela sorriu e fez um sinal com a mão.
-É! Yatto! Não se preocupem, já vi muitas pessoas darem saltos assim. E escalar com dardos. Para mim foi quase que uma questão de somar 2+2.- e piscou.
-Você é louca!- comentou Pippin, da outra borda.
-Mas uma louca bem esperta!- disse, rindo, Aragorn.
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-Tem razão.- disse Gandalf, sorrindo -Foi muita esperteza. E agora, podemos amarrar uma corda na flecha de Legolas. Ele a atira para o outro lado, e Miyoru trata de prendê-la em um lugar firme. Dessa forma, faremos uma ponte de cordas.
-Eu estou de acordo.- Disse Legolas
-Eu também. Gandalf sempre tem boas idéias.- disse Aragorn, ainda sorrindo – Mas a Miyoru não fica nada a dever nesse assunto.
Dessa forma o plano foi executado. Quando a ponte já estava pronta, todos passaram sem problemas. Ou quase, uma vez que Legolas se viu obrigado a carregar Gimli nas costas.
-E agora?- perguntou Miyoru, terminando de recolher seus kunais e entregando as flechas a Legolas -Para onde?-
-Seguimos até a cidade dos anões.-
-E como vamos saber se o anel que vocês procuram não estava lá para trás?
-Esse anel tem um certo efeito sobre todos que já usaram o outro anel. Sendo assim, quando o anel estiver efetivamente perto, Frodo saberá.
-Eu saberei?- perguntou Frodo
-Sim, você saberá.
Eles seguiram até chegar na cidade dos anões. Gimli começou a discorrer para Miyoru sobre o lugar, o passado, as habilidades dos anões, etc… Mas todas as atenções se voltaram para Frodo, que teve uma tontura.
-O anel…está por perto.
Então se dividiram. Sam ficaria cuidando de Frodo, e os outros se espalhariam para procurar o anel. Mas era perigoso ficar sozinho, então se dividiram; Merry e Aragorn, Pippin e Gandalf, e Gimli, Miyoru e Legolas.
-Como eu ia dizendo, nós, os anões, somos excelentes artesãos, tanto que construímos esse lugar, que tem uma linda…- Gimli continuava falando sobre o lugar, até que Legolas comentou
-Estranho… antes, seríamos atacados por todos os lados. De cada buraco sairia um inimigo, mas agora tudo esta tão silencioso.
-Nem sempre o silêncio representa segurança. Pode ser que nesse exato momento tenha um ninja, ou um onmitsu, nos espiando.
-Então por que não mostra a cara? Que venha!- Gimli pegou seu machado e começou a apontar para lugar nenhum, falando vorazmente -Apareça, e eu Gimli, filho de Glóin, partirei você ao meio!
-Nem sempre o objetivo é lutar.- disse Miyoru impaciente – Não são máquinas estúpidas de matar, são espiões.-
-E o que eles fazem?
-Observam. Colhem informações. E tem toda a paciência do mundo, para esperar o momento ideal, em que ele saiba o seu ponto fraco, e que este esteja mais visível, para então, atacar e matar rapidamente, num único golpe.
-Eu não tenho pontos fracos! Essa criatura vai ter que lutar de frente comigo!- brandiu Gimli, que ficou um pouco para trás, dando machadadas nos ar, enquanto Miyoru e Legolas continuavam procurando.
-Você já parece estar acostumada a esse tipo de coisa.
-Sim, estou.
-Aprendeu com a sua família, no outro mundo?
Ela parou e se virou para ele -Olha eu…eu não quero falar sobre isso.- Ela olhou dentro dos olhos de Legolas. E eles ficaram assim, se olhando. O que deu a Legolas a chance de saber muito mais sobre ela do que ela teria dito, mas muito menos do que ele próprio gostaria de ter descoberto, antes dela desviar os olhos.
-Está morto. É passado. Não se deve mexer nisso.
-Mas o passado nos ensina!- ela disse, então, falando com mais brandura completou -É o passado que nos torna as pessoas que somos hoje.- ele colocou as mãos nos ombros dela, escorregando para os braços, com delicadeza, mas ela, num tranco, se afastou um pouco, o suficiente para que ele não pudesse mais tocá-la -Tudo que o passado me ensinou foi a não me apegar a nada, nem a ninguém, se eu não quiser sofrer.
Legolas olhou para ela assustado com a reação que ela teve, então ela abrandou. Ergueu a mão para tocar a face dele, mas hesitou, e a recolheu para si novamente -Legolas-san, eu não pretendo me apegar a nada. Sou como um pássaro, a qualquer momento, eu apenas voarei para longe daqui.
Antes que ele pudesse respondê-la, Gimli os alcançou. E parecia sem sentido continuar a conversa na frente do anão, uma vez que Miyoru tinha voltado ao módulo feliz de sua existência. Eles continuaram andando quando de repente, ela ficou olhando para Gimli, depois olhou para o teto, para Gimli, para o teto. Então sorriu e começou a correr, dizendo -Venham! Eu já sei onde o anel está!
Correu até o lugar onde Frodo e Sam estavam, sendo seguida por Legolas e Gimli. Lá ela parou e disse -Legolas, me dá uma corda bem longa.- ele deu o que ela pediu, com uma interrogação estampada na face. Com a corda na mão, ela transpassou vários de seus dardos nela, então disse -Gimli, você tinha dito que dardos e flechas não fincam por aqui, certo?
-Sim, mas…
-Então o seu machado finca? É capaz de quebrar essa rocha?
-Ora, mas é claro que sim.
-E você é capaz de arremessá-lo longe?
-Tanto quanto uma flecha!
-Então me empreste ele aqui.- ela pegou o machado dele, e amarrou a corda com os dardos em uma ponta. Nesse meio tempo, Legolas, Frodo, Sam, e os outros que chegavam, apenas observavam
-Miyoru, o qu…
-Frodo, por favor, onde exatamente você sentiu a tontura?
Frodo apontou o lugar, então ela pediu para Gimli que fosse até lá e
conseguisse fincar o machado no teto. Ele, mesmo sem entender, fez o que ela pediu. Ao fazer isso, um barulho no teto e um brilho apareceram.
-Eu sabia! Agora, alguém pode subir lá e pegar o anel?
Apesar de todos estarem meio pasmados, Aragorn se ofereceu para escalar a corda pelos dardos. E assim eles ficaram de posse da primeira parte do anel. Miyoru e os hobbits ficaram comemorando, até que Gandalf lhe perguntou-Miyoru, como descobriu?
-Eu sei que sou muito esperta, mas na verdade, foi só um palpite baseado num pensamento que me ocorreu e iluminou tudo.
-Que pensamento?
-Ora, que os anões são
baixos!
Apesar de ninguém entender o raciocínio louco de Miyoru, todos deixaram as Minas de Moria comemorando, alegres, sua primeira vitória.
-Mas mestre! Como deixamos eles escaparem com o anel! Na hora que eles o conseguiram, eu podia ter aparecido das sombras e….
-Você não poderia nada. Teria sido morta, e não se esqueça que eles são superiores, em número e habilidade.
-Ms…
-Shhhhhhh… Não se esqueça que a sua principal função é observar.
-Essa NUNCA foi a minha função!
-Mas agora é. Nós esperaremos até que eles peguem o próximo anel e então…
-Então?
Ele não respondeu. Levantou-se e acariciou alguma coisa. Ela nem viu o que era, e não escutou o que ele disse.
-Hein, mestre?
-Nada. Pode ir.
Quando ela se afastou, ele recitou para si mesmo -"Aqui está o alecrim, que traz a recordação."
Nota:
-
Yukata = um kimono muito leve, normalmente usado para dormir. No caso da Miyoru ela usa debaixo de um kimono.
-
Obi = laço das costas, aquele cinto que prende o kimono.