Você teve um amigo, ou passou em uma livraria, ou ouviu alguma banda que falava de uma tal obra literária chamada O Senhor dos Anéis. "Mas que diabos é isso?" você se perguntou.
Comigo aconteceu mais ou menos assim. Um amigo meu começou a me falar de um tal de Gandalf e de outro tal Frodo, e ficou estupefato ao saber que eu não sabia de quem se tratava. "Ora, você gosta de metal, lê prá caramba e não sabe disso?". Me senti numa certa passagem da Bíblia, se é que vocês me entendem… Então esse amigo me trouxe um CD do Blind Guardian e disse "ouça esta, esta e esta faixas, preste atenção nas letras. Semana que vem eu te trago o livro do qual falei." Escutei as músicas, prestei atenção nas letras e fiquei muito, mas muito curiosa.
Mas como não entendia nada, fiquei esperando o livro. Seria mitologia nórdica? Seria ficção d’algum autor desconhecido? Até o dia em que chegou o meu amigo com o livro.
Era época em que eu estava fazendo terceirão e pré-vestibular. Como eu já havia passado no vestibular e só precisava cumprir as horas no colégio, cumpria estas horas lendo um livro chamado O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel. Já sabendo por meio de meu amigo que seria não só um livro, mas três, para completar a história.
Depois disso, minha vida mudou. Não, não vou fazer propaganda de algum milagre de 0800. Vou falar da minha experiência pessoal com O Senhor dos Anéis, tentando explicar o porquê de eu sempre dizer que esse livro mudou a minha vida, o meu modo de ver as coisas e o meu modo de agir.
Pois bem. Conheci O Senhor dos Anéis em 1999. Depois disso, entrei para a universidade. Cursava Física, e achava incrível que ninguém gostasse d’O Senhor dos Anéis na faculdade. Fiquei sozinha com a minha mitologia, pairando no mundo inventando de Tolkien, ouvindo muitas piadinhas de pessoas que nem sabiam do que se tratava.
Na verdade, algumas poucas pessoas já tinham ouvido falar, mas nunca tinham lido. Talvez porque o interesse maior fosse por ficção científica (então eu ficava desenquadrada, porque na época nem assistido Star Wars eu tinha). Um professor meu, de Cálculo, me emprestou uma edição maravilhosa d’O Hobbit em inglês, e esse foi o meu primeiro contato com esse livro. Valeu professor!
Depois li O Hobbit em português, entendi melhor a história, comprei O Senhor dos Anéis para mim com muito esforço e abrindo mão de muitas coisas para conseguir dinheiro para comprar os livros…
Espera aí! Eu acho que a coisa começou a ficar "feia" nesse estágio. Eu fiquei doente no meio do ano de 2000, e a única coisa que me restava eram os livros. E que livros eu escolhi para fazerem parte do meu mundo que eu tinha que reconstruir? O Senhor dos Anéis.
Nesse tempo, eu conheci a Valinor, mas essa é outra história.
Agora vamos ao que realmente interessa. O que é um fanático por Tolkien? Será apenas aquele que lê tudo o que cai na mão, faz curso de Quenya, sabe todas as respostas para todas as perguntas? Não, eu respondo. Estes são realmente fãs de Tolkien, mas não são os únicos a se enquadrar nessa definição.
Pense você agora. Você está andando em um shopping muito feliz, paquerando a mulherada (ou os homens, é claro, como no meu caso) e se depara com uma livraria. "Ah", você grita "olha isso, olha isso!", diz, cutucando freneticamente o seu amigo do seu lado. Você viu uma edição d’O Senhor dos Anéis junto com O Hobbit em uma caixa, com capas coloridas, com desenhozinhos maravilhosos. É claro que parte da sua reação é taquicardia e boca seca, fora a decepção, de alguns, em não poder comprar a tal edição nova e bonitinha.
Você não tem uma edição comemorativa numerada de quando se deu o lançamento do primeiro filme e faz a sua melhor amiga colocar no testamento que, se ela morrer antes de você, ela vai deixar esse livro a você como herança (sim, isso aconteceu comigo).
Você pira muito com tatuagens e tem o monograma de Tolkien tatuado em algum lugar do seu corpo (o meu é tatuado na nuca). Além disso, você gosta tanto dos desenhos de Tolkien que tatuou o Smaug, d’O Hobbit em algum lugar do seu corpo (o meu é tatuado no quadril).
Você liga o seu computador e seu fundo de tela é o pôster mais recente de um dos filmes da Trilogia, ou então o desenho de seu desenhista Tolkien-based preferido. Seu cursor é uma espadinha que brilha e seu cursor de espera é um anel que fica rodando.
Se caderno tem um dos integrantes da comitiva na capa, tem figurinhas, você tem uma agenda d’O Senhor dos Anéis, caneta, papel para anotação, revistas, ou ao menos, se não tem, desejaria ter, todo esse tipo de quinquilharia.
Essa é para as meninas…
Passa aquele jovem rapaz bonito, esbelto, cabelos longos "Vanessa, olha, é o Legolas!" E depois que ele já está longe você vira para ela e diz "Van, o Legolas está sem cú!" E sua amiga entende (Só para constar, cú é arco em quenya).
E para os garotos… a mesma situação, podendo envolver Arwens e Éowyns e outras elfas.
Você vai muito ao cinema, certo? E, de um dia para o outro aparece um banner de 1,80m d’O Senhor dos Anéis pregado na parede. O que você faz? Enche o saco do gerente até ele te arranjar um. E, de lambuja, ele arranja um para os seus amigos também. Nós fizemos isso… O meu banner é do As Duas Torres, aquele que tem o Frodo em Osgiliath segurando o anel (e o que eu mais gosto é que aparece o Gollum pequeno lá em baixo, com o Sam e o Frodo, no Pântano dos Mortos…).
Uma coisa muito engraçada que aconteceu conosco (é que a minha turma de amigos toda é fã de Tolkien) foi uma noite que estávamos em uma discoteca e surge do nada um cara me passando uma cantada. Na hora "É o próprio Uruk-hai, só falta a mão branca na cara!" na frente do garoto, que certamente não entendeu bulhufas…
E quando a gente pensava que essa história de Uruk tinha acabado… No corredor da faculdade surge aquele cara grande, com cabelo sujo até o ombro, cara de galã de rodoviária, e o que a gente diz? "Uh, uh, somos Uruk-hai guerreiros!", isso, é claro, berrando e batendo no peito no corredor na hora do intervalo, justamente quando tem mais gente para ver.
Estávamos organizando uma festa (Ilyriä, Dirhil e eu – vocês podem conhecer essas figuras no Fórum Valinor http://forum.valinor.com.br) e o Dirhil estava telefonando para a dona da casa que queríamos alugar para a festa. Ajoelhadas, orando para Eru Ilúvatar estávamos eu e Ilyriä,
e, quando ele conseguiu a casa, o que nós gritamos? "Valeu Eru!" Se estivéssemos em algum lugar privado, isso seria completamente normal. Mas estávamos na praça em frente à faculdade, sob as vistas de dois sentinelas que provavelmente estariam pensando "esses aí ó… tãn-tãn…" Abraçamos árvores em louvor à Senhora de Lórien, cometemos a nossa heresia, uma das preferidas, que é a nossa versão da oração do Pai Nosso para Eru Ilúvatar…
Se eu for tentar contar sozinha todas as loucuras Tolkien-based que já fizemos, tenho certeza que vou esquecer as principais. Mas este texto só é um início. Em breve, com a ajuda dos meus amigos, vamos contando mais histórias, como quando nos vestimos de Nazgûl para tirar fotos no cinema, ou das versões para Tolkien que fazemos de músicas pop, entre muitas outras loucuras (bem, quem vê de longe, como os sentinelas da faculdade, considera loucura). Desta vez, quero contar com a participação de vocês, enviando as suas próprias loucuras Tolkien-based para o e-mail jardins_de_lorien@hotmail.com, para serem comentadas aqui, ok?
Agora me despeço, recordando a todos: não lavem o cabelo com espuma de banho de morango no espelho de Galadriel que ela fica louca da vida! (Ok, eu só não fiz isso ainda na minha banheira porque não encontrei espuma de banho de morango para vender…)