Dando prosseguimento ao tema abordado na coluna anterior, resolvi me concentrar nessa semana em um exemplo extremo de como a obra de Tolkien pode influenciar um estilo de música à primeira vista tão díspar de tudo o que representa a mitologia Tolkieniana, mas ao mesmo tempo, totalmente conexo à relação de bem e mal tão difundida ao longo dessas obras. Trata-se da banda de Black Metal norueguesa Burzum.
Para os que não possuem conhecimento avançado sobre esse estilo de música, basta nos atermos ao fato de que o Black Metal surgiu nos anos 80, propagado principalmente por bandas como Venom e Bathory que cansadas da ideologia “Sexo, drogas e Rock n’ Roll”, passaram a concentrar suas letras em temas baseados no satanismo e na mitologia nórdica pagã.
O Burzum surge na década de 90, e pertence a chamada segunda onda do Black Metal que teve como palco dominante a fria e soturna Noruega. Ideologicamente o Burzum não é uma banda satânica, pois seu mentor e único membro, Varg Vikernes (ou Count Grishnáckh) credita a figura de Satã a uma criação cultural judaico-cristã, cultura essa combatida pelo Burzum.
Varg exalta a mitologia nórdica e cultua Odin como seu Deus. Também é adepto das idéias neo-nazistas de superioridade racial. Em suas entrevistas Vikernes sempre deixou clara sua atração pela obra de Tolkien e a influência que as forças sombrias da Terra Média possuem sobre seu ser e sua obra.
Na parte lírica, ao contrário da maioria das bandas Tolkien-based, não se nota grandes referências à obra de J.R. A única música que faz menção a Tolkien é The Crying Orc, uma canção instrumental.
A influência tolkieniana na obra obscura do Burzum fica mais clara quando analisamos a origem do nome da banda criada por Varg. Burzum é a tradução para escuridão na língua negra contida na inscrição do Um anel: “…agh burzum-ishi krimpatul", "e na escuridão aprisioná-los".
Como senão bastasse, Varg Vikernes após matar Euronymous, um ex-companheiro de banda, se apresentou no seu julgamento com o nome de Conde Grishnáckh, nome de um dos Orcs ajudantes de Sauron, a quem Varg considerava como uma representação do próprio Odin.
Delírios à parte, fica claro que a gama de personagens justapostos em lados obscuros ou iluminados acaba por criar uma quantidade inesgotável de inspiração e identificação por parte dos leitores, o que muitas vezes leva a interpretações inusitadas, porém, válidas da obra de Tolkien. No ramo da música, essas interpretações ficam ainda mais claras quando escutamos os sons provenientes de tais interpretações. Se para muitos, a obra do Burzum não passa de criações de uma mente visivelmente perturbada ou disprovida de maiores talentos, para outros pode simbolizar o verdadeiro estampido dos tambores de orcs que marchavam em direção à conquista da Terra Média e a sobreposição da luz pela escuridão. Fato é que, quanto a esse tipo obscuro de intrepretações, o próprio Tolkien previu: "Em geral, pode-se ainda ouvir o mesmo tipo de fala [como a dos orcs] entre os que têm mentes de orcs; enfadonha e repetitiva, cheia de ódio e desprezo, há demasiado tempo afastada do bem para manter até mesmo o vigor verbal, exceto aos ouvidos daqueles para quem somente o sórdido soa vigoroso". (SdA, Apêndice F)
Vídeo: Burzum – The Crying Orc
É nóis!!!
Referências: http://www.ardalambion.com.br/