Ícone do site Valinor

Mooreeffoc

Fantasia é uma coisa complicada de se entender. Estava conversando com minha mulher e ela me perguntou por que você gosta de Fantasia?

É uma pergunta difícil de responder e eu nunca tinha pensado sobre uma razão para eu gostar. Voltando um pouco mais atrás, estávamos comentando sobre o ensaio “Sobre contos de fadas” do Tolkien, um texto que acabo sempre voltando. Talvez para tentar entender um pouco mais sobre o próprio Tolkien, entretanto acho que o principal é porque para mim, um escritor em começo de carreira, é reconfortante ver um dos maiores escritores de Fantasia dizendo que o negócio é difícil pacas.

 

A fuga da realidade é uma das críticas mais constantes a Fantasia,
ir para um mundo imaginário, onde nada é verdadeiro para ignorar a
realidade. É a maior besteira que já ouvi. Qualquer história de ficção
é um mundo imaginário, seja no Brasil, Japão ou em qualquer outro país
o que você está lendo é a visão de um escritor que imaginou [vejam só]
personagens e lugares. Porém o mais importante é que os confrontos
humanos são os mesmos. Decidir ajudar ou não um amigo, é uma decisão
que em algum ponto de sua vida você precisa tomar. Assim Sam o fez.
Aceitar realizar uma tarefa por mais que você não queria acontece
sempre. Frodo passou por isso também. Poderia ser em Valfenda ou no
prédio de escritórios ali da esquina. E foi ai que minha esposa me
pegou. Mas por que a Fantasia se o que faz uma história não é o local,
mas os dilemas e decisões que as personagens tomam?

Tentei responder de alguma forma lógica, mas não consegui. Minha saída
foi a seguinte: Digamos que o diretor de uma grande companhia está
jogando sujo para roubar o emprego do presidente e assumir o comando da
empresa. Pode ser interessante? Claro. Mas digamos que o conselheiro do
Rei está fazendo o mesmo jogo para usurpar o trono. De repente a coisa
fica muito mais interessante. O conflito é o mesmo, ganância, poder.
Mas sou muito mais a versão do Rei.

Para terminar gostaria de citar mais uma vez o texto “Sobre contos de
fadas”. Em determinado momento Tolkien usa a palavra Mooreeffoc. A
história por trás desta palavra é que Dickens estava em um café e viu
na porta de vidro escrito Mooreeffoc. Que nada mais é do que
coffee-room de trás para frente. Porém seu significado é um pouco mais
profundo, esta palavra nos lembra de que existem milhares de coisas
novas quando vemos as coisas por uma outra perspectiva. Isto é
Fantasia. E talvez seja por isso que a coisa toda me atrai tanto. 

Sair da versão mobile