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Del Toro fala

Total Film: O Hobbit demorou muito mais para ser planejado que a maioria dos seus filmes…
 
Del Toro: Demorou quase um ano, o que é uma eternidade para mim, porque filmes como Hellboy geralmente me tomam apenas um terço desse  tempo. E se você levar em conta que temos por volta de três ou quatro vezes mais artistas…
Del Toro: Demorou quase um ano, o que é uma eternidade para mim, porque filmes como Hellboy geralmente me tomam apenas um terço desse  tempo. E se você levar em conta que temos por volta de três ou quatro vezes mais artistas…
Nós fizemos, literalmente, centenas de desenhos, dúzias de maquetes e testes de material.É um épico. É  nós ainda vamos planejar a fase de produção…
TF: Como foi escrever o roteiro? Supostamente tanto você quanto Peter jackson, Phillipa Boyens e Frank Walsh tiveram o mesmo trabalho, certo?
DT: Muitos meses atrás nos sentamos para decidir a estrutura e decidimos pelos dois filmes.
Nos encontrávamos as 9 da manhã e ficávamos reunidos até de tarde, […] até que em um momento nós nos separamos, […] ficando algo mais parecido com a forma que eu estou acostumado a trabalhar com co-roteiristas. 
Mas eu devo dizer que o melhor de tudo e o que fez a diferença foi a grande quantidade de ideias que eu tinha em um dia. Foi incrível. Poderíamos ter escrevido três ou quatro Hobbits.
TF: Você mencionou a divisão [em dois filmes]. O primeiro filme será O Hobbit na íntegra e o segundo terá coisas dos apêndices ou mesmo da sua cabeça ou algumas partes do livro ficarão para o segundo filme?
DT: Estamos respeitando a estrutura estabelecida pelo Professor Tolkien porque a ordem das aventuras em O Hobbit já é conhecida por gerações de crianças. Você não gostaria de mexer em coisas assim.
Mas vamos incorporar as idas e vindas de Gandalf, porque ele desaparece do livro com alguma frequência. Entãoo, diferente do que acontece no livro, nós veremos aonde ele vai e o que acontece com ele.
TF: Você e Peter Jackson são dois diretores visionários que lutam por essas "visões". O que acontece quando vocês batem de frente?
DT: Até agora não passamos por esse aperto. Nós discutimos e vencemos em diferentes níveis, mas acho que Peter vem sendo o produtor perfeito até agora.
Dos dois diretores que trabalharam comigo como produtores, os dois se chamavam Pedro: Pedro Almodóvar e Peter Jackson, e das duas vezes eu achei que eles foram produtores perfeitos porque eles entendiam que produtores não eram produtores/diretores..
Um produtor é um produtor: Se há uma emergência, se tudo dá errado, então o produtor pode, e deve, ter uma opinião forte, mas se tudo estiver bem: dentro dos prazos, do orçamento e com todas as ideias sólidas, não há porque fazer isso.
TF: Trabalhar com Peter Jackson não é tão diferente de trabalhar com Mike Mignola [escritor e desenhista de Hellboy] em Hellboy certo?
 
DT: Você disse tudo. Eu diria que Mike tem tanta opinião quanto qualquer diretor porque, afinal, é ele quem dirige nas páginas [de quadrinhos]. E Mignola, como Pedro e Peter, conhece o processo. Eles sabem que uma hora ou outra você vai ter de encarar a fera. Você vai ser o cara e só pode confiar em seus instintos. Você não vai poder ligar pra alguém quando estiver num lugar remoto: você vai ter que tomar uma decisão sozinho.
 
TF: Foi muito difícil mudar de Los Angeles para Wellington? Você agora está na Nova Zelândia em tempo integral, certo? 
 
DT: Sim, eu só vou para LA muito raramente agora. Contudo, foi uma mudança extremamente para mim. Estou acostumado. Estou acostumado com Londres-LA da mesma forma que estou com Wellington-LA. Eu me esparramo na poltrona do avião e tenho 13 horas só para mim, então é um privilégio: eu escrevo, leio, preparo e-mails, então é, na verdade, um belo dia de trabalho.
 
E a grande vantagem entre LA e Wellington é que você, em essência, está no mesmo fuso-horário. Você perde um dia, mas vai dormir de noite em LA e acorda no outro dia em Wellington.
 
TF: Você tem tempo para espiar os filmes estranhos que passam no avião?
 
DT: Tenho! Mas eu tento assistir televisão, principalmente porque não precisa de uma tela grande.
 
TF: Você ama criar monstros e O Hobbit oferece algumas ótimas oportunidades. Temos o dragão Smaug, as aranhas da Floresta das Trevas, os wargs, Beorn…
 
DT: Como eu falei para a Weta, nós vamos manter o DNA com o mesmo ‘pool’ genético dos monstros da trilogia, mas isso resultará em personagens diferentes. Por exemplo: Na trilogia, a maioria das criaturas é bruta ou desarticulada, enquanto n’O Hobbit as criaturas falam: Smaug tem belas falas, o Grande Goblin tem belas falas, muitas criaturas têm belas falas. Então, tivemos que desenhá-las com uma outra abordagem, porque você não está apenas desenhando coisas assustadoras.
 
Eu também quis que os monstros d’O Hobbit fossem majestosos. Quis que os wargs tivessem certa beleza de forma que você não tenha uma definição clara de bonito-bom e feio-ruim. Alguns monstros são absolutamente maravilhosos.
 
TF: Smaug não vai ser como os dragões de, digamos, Reino de Fogo. Foi um grande desafio inbui-lo de personalidade?
 
DT: Eu acho que um dos designs que eu fiquei mais orgulhoso foi o de Smaug. Obviamente, foi o que mais demorou.
 
Na verdade, ele já está vivo: estamos terminando a coloração e um pouco da textura, mas a maior parte da estrutura levou quase um ano, tudo por causa das qualidades únicas do dragão.
 
No começo da produção eu tive uma ideia que faria Smaug diferente de qualquer dragão já feito. O problema era implementar essa ideia, mas acho que conseguimos.
 
TF: Que ideia era essa?
 
DT: Não posso te contar porque seria um spoiler enorme. Mas estou 100% contente com Smaug. Se existisse algo como 110%, estou lá.
 
TF: E as aranhas? Quão parecidas elas estão com Laracna de O Retorno do Rei?
 
DT: Bem, elas são crias de Laracna, mas ela era uma garota muito promíscua. Ela cruzou com muitos parceiros e insetos e aranhas são criaturas incrivelmente adaptáveis. Haverá aranhas… Parece uma sequência de Paul Thomas Anderson: Haverá Aranhas [Referência ao filme Sangue Negro, em inglês There Wil
l Be Blood,
traduzindo, Haverá Sangue]! Mas o visual delas está bastante impressionante, mas de maneira diferente do de Laracna.
 
Queria poder falar mais, mas seria outro spoiler. Elas são bem diferentes. Elas são mais criaturas das sombras, da florestas. Não vivem na terra, mas nas copas e já estão tão fisicamente ligadas ao habitat que se adaptaram.
 
TF: As cenas com Smaug e as aranhas vão ser assustadoras de verdade?
 
DT: Eu acho. Eu espero. Pelo menos é essa abordagem que estamos fazendo. Todo bom filme infantil sempre tem uma ou outra cena de terror, seja os primeiros de [Hayao] Miyazaki [A Viagem de Chihiro, O Castelo Animado] ou Disney. Quando eu era criança e li O Hobbit… Bem, você tem momentos como as cabeças de goblin em estacas do lado de fora da casa de Beorn.
 
[…]Não tem como o ataque de um dragão sobre uma cidade não ser assustador. O mesmo serve para as aranhas: não tem como fazer aranhas gigantes botando pessoas em casulos parecer gentil.
 
TF: Você estudou aranhas de verdade? Tem algumas bem grandes na  Nova Zelândia!
 
DT: Nós estudamos. Temos uns dois caras na área de desenho que são fascinados por aranhas. Na verdade eles até fazem documentários e coisas assim e saem e pegam aranhas e tiram fotos das quelíceras e disso e daquilo com macro-lentes.
 
O problema com o desenho das aranhas é como você traduz o peso em leveza e pernas longas, porque as aranhas têm pernas longas. Laracna ficava perto do chão, então se movia como um tanque, mas nossas aranhas têm de ser pesadas, mas muito velozes.
 
TF: Você se sente bem perto de aranhas de verdade?
 
DT: Não. Eu adoro insetos e sou completamente fascinado por aranhas… Mas elas também me horrorizam completa e absolutamente. É algo que Peter e eu temos em comum.
 
TF: E a escala de O Hobbit. Você fez grandes cenas de ação em Predadores de Nova York, Blade II e nos dois Hellboy, mas nada que chegue perto do clímax que é a Batalha dos Cinco Exércitos…
 
DT: Não, e acho que é por isso que estou tão ansioso para fazê-la. Mas, ao mesmo tempo, na trilogia há tantas lutas e batalhas  que uma das primeiras coisas a se pensar é: Como fazer a ação d’O Hobbit ser diferente disso? Porque, quando a trilogia saiu, ainda era algo novo ver aqueles vales e fortalezas enormes serem tomados por guerreiros, mas depois da trilogia você teve Troia, Narnia e tudo o mais. Se tornou algo bem comum ver dois exércitos de computação gráfica se enfrentando.
 
Então nós pensamos em uma boa solução, eu acho, que vai fazer as batalhas se sobressaírem.
 
TF: Vai ser algo mais íntimo? 
 
DT: Queria poder fazer esse spoiler! Tudo que posso dizer é que temos um time incrivelmente bom de pessoas que sabem que não estamos fazendo outro Senhor dos Anéis. Não estamos tentando fazer uma quadrilogia ou pentalogia. Estamos tentado fazer dois filmes que fluam junto com os da trilogia, mas que se garantam por si só. Queremos evitar coisas que não façam parte do DNA, que não façam parte do léxico, mas não queremos que as pessoas pensem: ‘Ei, eu já vi isso!’, exceto em lugares onde a familiaridade é algo confortante, como a Vila dos Hobbits ou Valfenda, porque aí você quer se sentir voltando para casa, para um filme que você ama e trata com carinho.
 
TF: Você vai usar a mesma palheta de cores, escura e fértil,  da trilogia?
 
DT: Eu acho que O Hobbit é um pouco mais colorido e um pouco mais operático. E peculiar. Uma das coisas que são muito bem marcadas no livro são as estações, então estamos usando isso como base.
 
TF: Supostamente é um filme mais mágico. Ele vai ter um clima mais forte de conto de fadas? 
 
DT: De várias formas, é aquilo que você vê no livro. É quase uma música de câmara, como quando os trolls estão falando em cozinhar os anões. É uma música muito pequena, mas ao mesmo tempo é mágico e é quase uma comédia ver aquelas criaturas enormes falando sobre cozinhar anões.
 
TF: Não seria um filme de Guillermo del Toro se não tivesse um qualidade poética certo?
 
DT: Há muita magia no filme. Peter tem o olho de um verdadeiro historiador, levando em conta que a trilogia é extremamente precisa com um mundo que foi criado. Ele é como um arqueólogo cavando algo que existiu. Eu acho que O Hobbit tem um pouco mais de licença poética. Ele tem… Como posso dizer? Tem um pouco mais de extravagância.
 
Fonte: Total Film
 
Agradecimentos ao Snaga pela indicação da matéria. 
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