Arathain não tinha certeza de que aquela era a coisa certa a se fazer. Não tinha certeza de que deveria ter mentido para Bergil. Mas Arathain tinha certeza do que ele faria e nada nem ninguém o iria impedir de vencer Hannah naquele duelo.
Ele sabia que ela não era uma mulher comum, mas havia algo por trás daquela manta cinza que dava à aparentemente rude forasteira um ar de doçura que ele só tinha tomado conhecimento nas elfas, nunca naquelas pertencentes à raça dos homens. Como essa mulher podia ter tantos enigmas e sabia de tanta coisa que poucos poderiam saber? Essa era somente uma das muitas perguntas que se formavam na cabeça de Arathain.
A desculpa que ele deu para sair do acampamento foi que precisara cavalgar um pouco para arrumar as idéias. Já era quase a hora que Hannah disse que estaria na clareira e apesar de ser um excelente Guardião, não tinha achado uma clareira muito grande por ali.
Antes de sair do acampamento, porém, Arathain não pôde deixar de dizer a Bergil: – Se eu não voltar até o crepúsculo, você poderia entregar isso a meu pai o mais depressa possível – e então entregou uma folha com várias inscrições élficas – e por favor, não leia e nem mostre a mais ninguém.
– Por que você não voltaria? Por acaso partirá para uma jornada perigosa? – zombou Bergil
– Nunca se sabe, Bergil… não que eu pretenda…
E sem dizer mais uma palavra, montou em um belo cavalo preto, que ele pegara em Sinael e foi em busca da tal clareira.
Finalmente, achou. Tinham belas árvores, aparentemente muito velhas em volta. E estava vazia. Sentou entre as árvores do lado de fora e começou a pensar que isso poderia ser uma emboscada. Vai ver tudo o que Hannah (ou qualquer que fosse o nome dela) disse foi apenas para atrair o príncipe à aquele lugar, de onde surgiriam orcs a qualquer momento. Achou mais prudente então, não ser pego de surpresa. Levantou-se e apanhou Andúril da bainha.
– Não é uma emboscada. – disse Hannah, que de repente apareceu no meio da clareira. – Sei que tem todas as características de uma, mas como pode ver, estou sozinha.
– Não posso ter certeza de nada. – rebateu Arathain – não até você me dar provas de quem você é e de por que quer ver meu pai. Isso fazia parte do trato, ou você não se lembra de nosso trato? Eu lhe digo quem sou e você me diz quem é e a que veio.
– Já respondi à segunda indagação: vim pois preciso da ajuda de seu pai, e logo, da sua ajuda para chegar até ele. – disse a forasteira, que ainda vestia a manta cinza, agora sem o capuz a tampar-lhe os cabelos – Mesmo sem confiar em mim, você aparece para o duelo. Sinceramente, não achei que você viria.
– Pois eu vim. E vim para duelar e não para conversar.
Começou então, o duelo de espadas entre o futuro rei de Gondor e a estranha forasteira. Durante cinco minutos, foi quase que um empate, ninguém conseguiu vencer ninguém. Depois disso, Hannah deu o primeiro golpe que arrancou sangue do braço esquerdo de Arathain. A luta continuou e depois de mais ou menos três minutos do golpe inicial, Arathain colocou a lâmina de Andúril no pescoço de Hannah.
– Acho que agora estamos quites. Ambos já colocamos uma arma no pescoço de ambos. – disse Arathain, sorrindo
– Não tão cedo, filho de Aragorn. – disse Hannah. Logo após isso, ela se levantou, deu um chute nas costas de Arathain, que ao cair no chão, soltou Andúril. Hannah desta vez que deu um sorriso, o primeiro que Arathain a via dar – não é tão ruim como eu imaginei mas após tudo isso, deixar a espada cair deste jeito. Pode danificar A Espada Que Foi Reforjada. Não iríamos querer perder a maior relíquia da Terceira Era.
– Não vejo Andúril como relíquia. – rebateu o futuro rei, que agora estava em pé. Hannah pegou a Espada do chão
– É realmente muito bonita. – disse a forasteira. Ela de repente empunhou Andúril como se fosse dar um golpe bem do coração de Arathain. – Vejo que você se assusta facilmente… Então, me diga quem venceu nosso duelo?
– Eu venci. Se quisesse ter te matado na hora que apontei a espada para você, eu o teria feito. – disse Arathain.
– Arathain, a humildade é um dom que poucos possuem… – disse Hannah, ainda sorrindo
– E você não é um desses “poucos”… ou você se acha tão humilde que até tem orgulho de sua própria humildade? – disse Arathain, aumentando o sorriso de Hannah
– Bem diz o ditado popular “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”. Vamos raciocinar na direção certa, com somatório de pontos. Só hoje, eu já tive três oportunidades de te matar… isso sem contar ontem à noite. Você, em toda a sua vida teve apenas uma. Então quem ganha? Eu – disse Hannah, agora sem sorrir, mas mesmo assim, seus olhos revelavam divertimento – Mesmo assim, eu disse “a humildade é um dom que poucos tem”. Não me julgo um desses “poucos”, mas gostaria de ser um deles. E não, Futuro Rei de Gondor, não tenho orgulho de minha humildade, afinal, não me considero tão humilde assim. Por isso, para pararmos essa discussão vou considerar a partida como um empate. Acha justo?
– Justo não é mas o mundo também não é justo então eu concordo em considerar isso um empate. – disse Arathain, relutante a aceitar porém era isso ou perder, então um empate estava bom… – e esse homem que te venceu, quem era?
– Eu te disse que só um homem durante toda a minha vida tinha me vencido… isso é verdade, já que só perdi para esse homem. Estou excluindo os elfos… já perdi inúmeras vezes para elfos… – disse Hannah – mas você quer saber coisas sobre o homem que me venceu… não posso dizer o nome, mas digo que este homem é meu pai.
– E você não vai dizer o nome dele senão descubro o seu verdadeiro nome. – deduziu corretamente Arathain – não sei porque você simplesmente não me diz seu nome… iria facilitar muita coisa…
– E quem disse que as coisas mais fáceis são as melhores? Muitas vezes o desconhecido revela muito mais que o que nos é conhecido, Arathain… – disse Hannah, finalmente jogando Andúril para Arathain
– Hannah, sua espada está vermelha… – disse Arathain, reparando a lâmina na mão esquerda de Hannah
– O que? – ela olhou a espada e seus olhos revelaram profundo medo. A essa hora, já tinha escurecido e a claridade vermelha proveniente da espada da espada élfica era tão forte que fazia os olhos doerem. – Silêncio. Nem respire muito alto. encoste em uma árvore e não se mecha, até que eu diga “agora” e você começa a lutar – disse a forasteira, com um sussurro quase que inaudível – sem perguntas.
Arathain achou aquelas instruções muito estranhas, mas mesmo assim, não hesitou em segui-l
as, sem fazer perguntas, afinal Hannah ainda estava com aquela profunda expressão de medo e mais uma vez olhava para algo na sua manga, quando desapareceu atrás de uma árvore. Arathain fez o mesmo, em uma árvore ao lado.
De repente, apareceu algo que Arathain nunca tinha visto antes. Pareciam-se com desenhos de orcs, porém mais fortes e robustos. Ele lembrou do que imaginara sobre este encontro antes do duelo começar. Quase que com certeza aquilo fora tudo armação de Hannah ou de quem ela trabalhava para.
E agora ele estava ali, em meio a essas horríveis criaturas sozinho, sem ter ninguém em que confiar.
Porém, ainda tinha aquela horrível expressão de profundo pavor nos olhos de Hannah. Se ela que tivesse trazido todas essas criaturas para lá, por que aparentava ter profundo medo delas? Arathain estava pensando em tudo isso, quando uma das criaturas disse, na Língua Geral:
– Onde estão eles? – este parecia ser o chefe daquele grupo e revelava profunda raiva por “eles” não estarem ali
– O homem estava vindo nessa direção, mas nenhum sinal dela. -disse um outro “bicho”
– Ela está com ele, claro, idiota. – disse o chefe.
Nesta hora, Arathain olhou para Hannah. Ela estava olhando para o chão com um ar pensativo.
– Não tenho culpa disso. – disse Hannah a Arathain, só com os movimentos dos lábios – nenhum deles podem sobreviver, ou vão avisar aos outros que você está comigo. Eles provavelmente sabem que você é o príncipe. -AGORA!
Desta vez, foi realmente incrível o que aconteceu. Com um salto, Hannah e Arathain começaram a matar aqueles orcs ou seja lá o que aquilo fosse… Arathain olhou de relance para ver como Hannah estava indo. Ela parecia usar duas espadas e estava tendo um grande êxito em matar aquelas criaturas. Ele também estava indo bem, apesar de seu machucado no braço direito que Hannah causara em seu “duelo”.
Ao final de quinze minutos eles tinham acabado. Todas as coisas já jaziam mortas no chão.
– Não sei se você acreditou, mas não fui eu que trouxe esses orccianos para cá. Acho que provei, matando 17 deles… nossa sorte era que não eram orccianos adultos e nem dos mais poderosos. Caso contrário, uns dez acabariam conosco facilmente… – disse Hannah, enquanto contava os cadáveres no chão
– O que realmente são esses orccianos? – perguntou Arathain – Nunca vi referências sobre eles em nenhum livro e nem ouvi falar nessas criaturas durante toda a minha vida… são orcs?
– Não, são muito piores que orcs… não são daqui da Terra-Média, por isso você não poderia ver referências sobre eles em qualquer livro daqui… – disse Hannah, agora se levantando
– Você não acha suspeito, – disse Arathain – eles vieram do grande Mar e você também veio de lá. Sei pouco sobre eles e nada sei sobre você. Vocês tem muito em comum…
– Sim, nós temos coisas em comum. Mas não somos aliados, pois não costumo matar aliados, a não ser quando eles tentam me trair. E estes daí seriam muitos para me trair e eu já os teria matado antes. – disse Hannah, com voz de desinteresse. – todos formam uma conta de 32. isso significa que eu matei 17 e você 13, provando mais uma vez quem é o melhor com a espada… – e ela sorriu
– Eu estou com o braço machucado, se você não sabia…. – rebateu Arathain
– Sim, eu o machuquei – disse Hannah, ainda se divertindo, e agora andando até um lugar para se sentar, longe do mal cheiro dos orccianos. – mesmo assim, você resistiu. Agora vamos.
– Vamos para onde? – perguntou Arathain – Você não espera que eu vá a algum lugar com você, espera?
– Vamos para o castelo de seu pai. Escute o que estou dizendo. Tudo o que eu posso lhe adiantar é que se você não me ajudar, orccianos serão comuns na Terra-Média. – Mais comuns até do que homens de Gondor…
– Você espera que eu te guie até lá? – indagou o Guardião
– Sim, Arathain, seria mais fácil se você realmente me guiasse, mas se você realmente prefere vir como meu acompanhante, posso arrumar um jeito de chegarmos lá. – disse Hannah – é claro, que assim demoraria muito mais tempo…
– E se eu te disser que eu vou ficar em Sinael e continuar minha viajem com os meus homens, me esquecendo de você?
– Isso não é uma opção. Ou vem nos guiando, da maneira mais rápida ou vem me seguindo, da maneira mais difícil. – rebateu Hannah – E então?
– Eu vou te guiar, não pela ameaça que me fez, mas pela minha vontade de saber o que está acontecendo e, como de uma forma ou de outra, você vai conseguir chegar até lá, afinal todos sabem onde encontrar o Rei Elessar: em Minas Tirith. – disse Arathain – antes primeiro, tenho que voltar ao acampamento. Deixei um papel com Bergil…
– Dizendo a ele que era para entregar o papel ao rei, se você não chegasse lá antes do cair do crepúsculo. O papel já está a caminho. Eu dou um jeito no mensageiro. – disse Hannah – prometo que não o machucarei. – acrescentou, vendo a expressão no rosto de Arathain – volte para o acampamento enquanto queimo esses corpos e paro Amonrath.
– Como você sabe que Amonrath é o mensageiro?
– Eu simplesmente sei. Você vai ao acampamento, tranqüilizar Bergil e amanhã, antes do nascer do sol vou te buscar. Esteja lá no acampamento. Se você não estiver, eu vou te achar e te levarei a Minas Tirith nem que seja arrastado pelos cabelos. – disse Hannah, mais uma vez olhando por alguma coisa entre as mangas – Vai.