-Então, decidiram partir…- disse Éomer, pesarosamente, diante á notícia que o homem á sua frente acabara de olhe dar. Sentiu seu coração afundar no peito -Não ficaram para lutar conosco?
-Sinto muito, Éomer, mas nossa demanda exige pressa.- Reafirmou, com firmeza, Aragorn
-Então, só posso desejar-lhes toda a sorte do mundo….- Ele se levantou, falando lenta e pausadamente -E…quando a sua missão já tiver sido cumprida com êxito, poderemos nos reunir para celebrar, e talvez…- ele envergou o olhar na direção de Miyoru, agora pronta para retomar a viagem. Ele escolhia cada palavra com cuidado -Tenhamos algo mais para celebrar.
Legolas sentiu uma súbita fúria tomá-lo. Por Elbereth, ele nunca cansaria de cortejá-la? Imediatamente censurou-se por esse tipo de pensamento, forçando-se a lembrar que Miyoru não lhe pertencia, aliás, ele lembrou, amargo, era não era nada sua. Mas sua face não se tornou menos amarga, quando Éomer o olhou, avaliando sua reação.
-Bem…- interrompeu Gandalf -Com certeza, teremos grandes festejos, quando a missão estiver cumprida, mas por hora, nos cabe apenas terminá-la…-
-Você têm a minha benção, e meus melhores cavalos, agora, vão, antes que seja tarde…
Assim, sob a benção de Éomer, eles se retiraram do salão, para encontrarem Éowyn e Faramir os esperando, com cavalos para lhes oferecer
-Sejam fortes, meus senhores. Tenho certeza que conseguiram uma vez mais trazer-nos a paz.- Éowyn disse, dúbita com sua antiga personalidade escudeira e sua atual condição de curadora
-Eu devo encontrá-los em Gondor, em breve. Mas não os acompanharei nessa viagem.-
Aragorn trocou algumas palavras com ele, enquanto Miyoru se despedia alegremente de Éowyn, até ser chamada a atenção por Legolas, já em cima de seu cavalo;
-Quer montar comigo, Miyoru?
-Eu aceito.- disse Gimli, antes que ela pudesse esboçar qualquer reação. E muito embora fosse visível que ela realmente considerou a hipótese de jogá-lo de cima do cavalo e montá-lo em seu lugar, ela controlou seus impulsos mais rebeldes, apenas colocando as mãos na cintura. Aragorn riu da atitude e lhe disse para ir com ele, ao que ela prontamente aceitou. E, dessa forma, eles partiram do Abismo de Elmo, em direção á Isengard.
-Ne…eu vou dar uma volta!- gritou Miyoru, para suas costas onde estava o acampamento
-Espere, Miyoru, vamos com você!- anunciou Merry, sendo acompanhado por Pippin
-Nós vamos também!- Sam e Frodo resolveram acompanhá-los, silenciando um grito que morreu na garganta de preocupação, que Legolas diria para eles não se afastarem, então ele se voltou para Aragorn
-Eu não gostaria que eles fossem, Aragorn. Estou com um mau pressentimento…
-Besteira!- bradou Gimli -Que mal pode acontecer? Qualquer coisa eles berram e já estaremos em cima dos malditos que os atacarem.
-Sei que está certo…mas mesmo assim…
-Passolargo!Legolas!Aragorn!GAndalf!Gandalf- berravam Frodo, Merry e Pippin, enquanto corriam em direção ao grupo
Eles pararam um pouco e olharam para os pequenos, vindo um tanto distante deles.-O que foi? Aconteceu alguma coisa?
-MIYORU!-berrou Merry-Malditos, desgraçados!- bradava Pippin-Miyoru- explicou Frodo, esbaforido-Foi raptada. Sumiu.
-O qu? – disseram os três, já se voltando para eles.-Como isso aconteceu?-O que mais vocês sabem?
-Nada…ela mandou a gente não espiar enquanto ela tomava banho..e…quando voltamos, nós só…- Frodo se virou para Merry, que estendeu para Legolas uma fita. Uma fita de cabelo, cor de luar…
-Nos achamos vestígios…- explicou Merry-Eles eram de Isengard, tenho certeza!- afirmou Pippin-Então.- disse Aragorn, decidido, firme como uma rocha -Iremos para Isengard.
Legolas olhou para a fita em sua mão. Ele não, não podia acreditar, mas… mas ela…uma boa guerreira! Sim sim, não teria como…mas é! Era a realidade, simples e aterradora, e tão assustadora e cruel que mesmo um pesadelo teria sido mais gentil… Seu raio de sol…de luar..e eles a tinham pego! Seus olhos se tornaram vermelhos, e amargos, para apartar as lágrimas. Uma parte dele lhe dizia que era para agir com calma, e a outra… a outra exigia que ele assassinasse todo e qualquer coisa que andasse do lugar onde estavam até Isengard! Seja quem for que teve a audácia de tocar em seu tesouro, teria o corpo transpassado por uma flecha antes que pudesse perceber o que lhe atingia. "Ninguém, absolutamente ninguém deveria sequer pôr seus olhos sobre ela!" e com esses pensamentos, e uma face tão sura que parecia ter sido esculpida num mármore frio, ele voltou a respirar. Estranho, pois não tinha percebido que tinha parado… Guardou consigo a faixa, e acompanhou os outros para Isengard
Miyoru abriu finalmente os olhos… Sua cabeça doía por causa da droga que usaram para dopá-la e levá-la até ali, mas quando ela tentou mover a mão para tocar sua cabeça, descobriu que não podia se mexer!
-Não, não…- uma voz masculina, oculta nas sombras falou -Não lhe daríamos a chance de fugir, hime-chan…ou devo dizer, princesinha?
A voz carregada de zombarias a fez despertar totalmente e esquecer-se da dor de cabeça -Quem é você, o que eu faço aqui, e exijo que me soltem imediatamente!
Uma risada desdenhosa ecoou pelas frias paredes cinzentas no lugar -Eu? Ora você me conhece…mas não esta face de mim… Você está…adiantaria lhe dizer o nome? Está na torre de Isengard. E não lhe soltarei, até que recebe ordens par tal. Mas agora…- O ser encapuzado se aproximou, deslizante, e num golpe rápido, rasgou-lhe parte das saias, e o corpete que prendia sua blusa ás saias. Miyoru deu um grito e tentou se debater, mas estava presa, em forma de X nas paredes, por correntes. Aquele ser nojento riu dela, e disse -Não, não farei nada…apenas lhe acho mais bonita assim, e…- ele passou a língua pelos lábios, então a forçou a um beijo. Os pensamentos de Miyoru, primeiro de nojo por ser tocada por esse alguém que ela não conhecia e já odiava, o asco, logo deram vazão á seus instintos. Foi rápido, e quando ela sentiu o gosto de sangue em sua boca, ele já tinha dado um pulo para trás e se afastado, pelo choque da dor…
-DESGRAÇADA!- o estranho levou a mão á boca, agora sangrando pela mordida que Miyoru tinha dado nele, enquanto ela, ria, um riso frio e triste como o tilintar de uma espada que cai no chão de pedra lisa. Ele, então, esbofeteou-a na face, e com uma corrente que ele trazia, chicoteou o corpo dela até que vergões vermelho estivessem por toda a pele
visível…apenas seu rosto, só recebera uma chicotada. E o tapa, é claro. Ela tentou se debater, mas logo seus pulsos, presos a grandes correntes de ferro, começaram a sangrar, pois eles que a sustentavam naquela posição. E o desgaste com as correntes estava-lhes arrancando a pele, deixando a carne apenas, e o sangue que lhe escorria pelos braços. O mesmo acontecia com seus tornozelos, igualmente presos. Mas quando ela achou que fosse começar a chorar de dor, o estranho ser parou.
O estranho deu as costas e saiu, pelo mesmo lugar nas sombras de onde surgira, e ela pode avaliar a situação. Estava prisioneira. Naquele aposento abafado não tinha janelas, apenas uma porta que, ela supunha, ficava nas sombras de onde o tal criatura saíra. Suas armas -absolutamente todas elas- estavam á sua vista, mas muito além do seu alcance. E, ela tinha certeza que aquele idiota voltaria. Maldito pervertido…
Ela jogou a cabeça para trás, batendo-a contra a parede fria. Não tinha qualquer esperança de fuga, ao mesmo não por enquanto…
-Como fui tão idiota a ponto de ser trazida para cá?- ela perguntou para o silêncio, que continuou tão úmidamente quente e abafado quanto antes.
Ela poderia, é claro, gritar pela ajuda daqueles que não eram mortais. Eles viriam, com certeza, em sua ajuda. Mas apenas se os chamasse… Mas algo dela dizia que não podia pedir e rogar a cada problema que aparecesse…maldito orgulho que atrofiava sua garganta e a impedia de gritar por aqueles que nunca deveriam ser chamados… Ela deixou, então, a cabeça pender tristemente para o lado, encostando sua bochecha no sangue quente que lhe escorria dos pulsos, machucados "Só espero que este orgulho seja forte o bastante para aquentar o que está por vir…"
-AAAAAAAArgh! Mestre, aquela maldita criança, el-
-Veja lá como fala!_ uma voz severa a interrompeu -Se você se machucou, foi bem-feito para você! Afinal, não deveria tê-la beijado.- a voz dele estava sobrecarregada de ódio -Afinal, desde quando você se atrai por mulheres?
-Pode ter certeza que não por todas!- ela exclamou, ofendida -Mas ela é diferente. Era um castigo pelo que eu tive que passar…além do que, ela parece despertar os instintos naturais…
-É, eu sei.- ele disse amargo -Mas agora, prepare a torre para se defender; eu duvido que eles não venham buscar seu precioso adorno de volta…-
-Adorno?
-Sim…- ele respondeu, calmamente, dando as costas para ela -Toda mulher, por maior que seja em grandeza, ao lado de um homem, se torna um adorno…
-Ora…- mas antes que ela terminasse ele já tinha se retirado. Bufou sozinha, e resolveu dar mais uma brincadinha com seu novo adorno…
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-Então, faremos dessa forma? Eu não imagino os poderes desse novo emissário…- disse Gandalf, apreensivo
-Só podemos fazer desse jeito.- simplificou Aragorn -O que acha, Legolas?
O elfo tinha se mantido em silêncio desde que partiram, há uma semana atrás. E até agora, ás portas da torre de Isengard, ninguém tivera a coragem de perguntar-lhe qualquer coisa, mas Aragorn tinha certeza que ele ouvira tudo com atenção.
-Se vocês não me acompanharem, eu entrarei lá sozinho.- ele respondeu, secamente. Gimli parecia estar pronto para responder-lhe algo, mas Aragorn, vendo que esta seria a única resposta que teria dele, o conteve. Respirou fundo, então concluiu -Acho que todos sabemos o que devemos fazer, e lembrem-se: Vocês não podem falhar!
Todos assentiram com a cabeça, fazendo o planejado. Iriam dar um jeito de burlar a vigilância tempo o bastante para que Legola se Aragorn pudessem entrar lá. Os ents os ajudariam, claro, mas havia ainda o perigo. E tudo podia sair tão barbaramente errado! Eles estavam arriscando, na verdade, toda a chance da Terra-média, ao invés de seguir em frente. Mas nenhum deles hesitara um segundo sequer em fazer isso, e ali estavam, esperando o sinal para irem para dentro da torre. Num dos últimos momentos, Aragorn olhou para Legolas, e deu um sorriso tenso.
-De que sorris?- perguntou Legolas, ainda seco.
-Meu caro amigo, que um dia eu possa contar com tanta lealdade!- Legolas ia responder-lhe alguma coisa, mas antes que este o pudesse fazê-lo, Aragorn deu o sinal para irem.
Miyoru ouviu passos. "Deve ser ele, para tomar-me que me resta de honra…" não abriu os olhos, mas sabia seu atual estado. Pendurada por correntes pesadas, presa á parede, como um troféu de caça. Seu pulsos e tornozelos estavam em pura carne, de tanto que ela se debatia tentando fugir. Mas sem sua espada, e alguém que ela não reconhecia, o maldito joronoko, rasgava uma parte de sua roupa todo dia. Agora, apenas um mínimo de pano cobria seus seios outra parte cobria da cintura a pouco mais que a metade da coxa. Tinha desistido de lutar, a agora só desejava que a matassem antes de tentar-lhe fazer de meretriz. Mas os passos não pararam…
Legolas e Aragorn abriram a porta rapidamente, esperando um ataque. Mas somente ao verem Miyoru lá dentro, ficaram meio que paralizados. Aragorn fez um sinal para que tirassem-na dali.
O cérebro élfico de Legolas demorou a processar o gesto de Aragorn. Ele só tinha olhos para o horror final do seu pior pesadelo…seu raio de sol…estava horrível…"como…puderam? Como tiveram coragem!! Desgraçados!" Sua mente parecia tão horrorizado como ele jamais se sentira na vida. Queria ampará-la, num arrebatado gesto protetor que pareceu gritar no seu âmago, mas ela parecia tão ferida que ele temia mesmo tocá-la, com medo que isso fosse matá-la. Apenas o quase imperceptível subir e descer do peito com o movimento do ar dos pulmões lhes assegurava que ela ainda vivia.
Miyoru forçou-se a abrir os olhos, pronta para começar a xingar e blasfemar, uma vez que definitivamente não conseguiria lutar, pois estava muito fraca. Mas ao abrir os olhos e ver Aragorn, que a pegava nos braços, ela apenas sorriu, e voltou a fechar os olhos, exausta.-Vocês..vieram… ele disse… que não viriam…
-Nós sempre vamos estar perto para te ajudar Miyoru. – disse Aragorn, enquanto Legolas continuava em silêncio, o que parecia um sinal de pura dor. Seu coração estava dilacerado demais para que ele conseguisse achar uma frase racional para falar.
Ela sorriu um sorriso cansado e fechou os olhos murmurando -Aragorn-sama…Aragorn olhou para ela em seus braços, mas não pôde sorrir. O estado dela era deprimente, e tudo por pura inocência, ao que contaram os homens. Ela simplesmente acreditara que alguém que dissera conhecer Aragorn realmente fosse seu servo, e foi presa numa armadilha como um animal indefeso… Então ele sinalizou para que eles saíssem daquela torre -Legolas, como permitimos que isso acontecesse?
-Também não sei, Aragorn, mas gostaria de saber. – disse, olhando para o amigo. Não se conseguia distinguir muito bem o que hav
ia em seus próprios olhos, mas Aragorn sabia que estava sofrendo pelo estado em que Miyoru foi encontrada.
-Legolas..- ele chamara o amigo, mas não sabia o que falar – Não se preocupe, não deixarei que ela fique assim novamente, e…- ele deu um tiro no escuro -Os elfos sempre sentem a tristeza dos lugares, das pessoas…mas ela voltara a ser uma menina feliz, Legolas.
-Eu sei disso Aragorn – disse, esboçando um sorriso. – Eu já percebi que ela consegue encontrar forças por mais que seu corpo e mente estejam sofrendo. Isso passará, tenho certeza, mas ficará gravado tanto nas nossas memórias quanto à dela.
-Não. A memória dela é difusa, e ela esquece em algum lugar de seu ser as tristezas… Agora, veja, nossos amigos. Agora teremos que correr e espero não machucá-la.- Aragorn apertou-a contra o corpo e correu o mais rápido que pode, acompanhado por Legolas. Quando eles finalmente se acreditavam a salvo, Miyoru mexeu-se, como se fosse acordar, mas isso não aconteceu. Eles montaram os cavalos e se encontraram com os outros, indo para o mais longe que puderam de Isengard, até que resolveram acampar na beira do rio Entágua
-Parece que já podemos descansar um pouco. Mas é melhor manter a guarda, já que não estamos ainda muito longe.
Miyoru abriu os olhos, e invés das frias e cinzentas paredes de pedra, e viu o céu azul e vermelho do crepúsculo aberto acima dela e o barulho de água corrente ao seu lado. Respirou fundo, agradecida por estar salva, e se apoiou nos braços, levantando-se. O manto que a cobria escorregou e ela o prendeu novamente, fechando-o
-Miyoru, é melhor descansar um pouco, ainda não está muito boa. – repreendeu-lhe Aragorn. Legolas a observava apenas, mudo.
-Ora, essa, não me lembre do quão incapaz eu sou.- ela respondeu, rispidamente, para depois sorrir, e então começar a rir de nada
-O que foi, Miyoru, por que está rindo?
-Porque vocês são estranhos…se fosse no Japão, ao menos me dariam o alívio da morte, ao invés da vergonha de uma estupidez desse tamanho…e também não sabe que rir de tudo é desesp…- ela não terminou a frase, e começou a cair, suas pernas não mais a sustentando
-Miyoru! – Legolas corria até ela e conseguiu segurá-la ainda no ar.
-Legolas…- ela olhou no fundo dos olhos dele e riu, apesar da dor -será que você só reage em situações estremas? Nem me dirigiu a palavra até agora.
-Me desculpe, Miyoru. Não pretendia aborrecê-la.
-ah, pare você!- ela nem percebeu que ele ainda a segurava, ou então não se importou -Pare de me tratar como se nos conhecêssemos agora.- ela olhou-o de lado, um tanto desolada -Eu te decepcionei?
-Não, nem um pouco. Só me fez ficar ainda mais admirado.
-Então porque me trata assim?Eu achei que fôssemos bons amigos!
-Assim como? E por acaso não somos?
-Está muito quieto…- ela cruzou os braços – e está estranho, inegável. Agora, o que você tem?
-Acredito que foi apenas o susto de encontrá-la…naquele estado.
Miyoru olhou para seu corpo, nos braços de Legolas…as feridas já tinham sido fechada, mas ninguém tentara lhe trocar a roupa. Colocaram um manto nela, que caiu quando ela se levantou.. Ela fez uma careta ao olhar para si mesma e voltou seu olhar para Legolas -Qual problema? Incomoda TANTO assim que eu não esteja ferida?
-Não, é que pelo jeito que a encontramos parecia que alguém a tinha machucado. E não queríamos que nada disso tivesse acontecido…
-Ah mas eles com certeza me machucaram. – ela fez uma careta, mas voltou ao normal e deu os ombros -Mas a culpa é minha que fui burra para cair na armadilha….
-Todos nós cometemos erros de vez em quando, Miyoru… Só nos resta admiti-los.
Ela olhou bem fundo nos olhos dele, com a voz cheia de admiração -Você não.
-Eu também.
-Ah é? Diga-me UM.
Ele pensou durante um tempo tentando recordar tudo o que fizera e analisava se havia algo que se arrependera.
-Viu? Não tem nada né?- a voz infantilmente triunfal o tentou.
Mas só havia uma coisa, muito recente, e estava bem ali a sua frente.-Tem sim. Uma coisa. Mas acho melhor não falar sobre isso.
Merry e Pippin chegaram, e Legolas se viu obrigado a soltar Miyoru.
Enquanto eles conversavam, Merry de repente riu e disse-Eu sei de alguém que veria seu sonho realizado ao te ver deste jeito…
Legolas ouviu esse comentário e olhou para Merry com o fio do olho. Será que estava sendo tão evidente assim, ou ele falava de Éomer?
-Na verdade, Merry, duas. – completou Pippin
Agora ele tinha certeza, era dele que se referiam. E também a Éomer. Ele apurou sua audição mas fechou os olhos para poder se concentrar melhor.
-Quer saber, Miyoru?- Perguntou Merry, instigando-a-
-Sim, sim!- ela parecia uma criança mesmo
-Bem…primeiro tem um rei, o que é bom, já que você tem grandes pretendentes. Éomer veria o seu raio de sol se você fosse a ele nesse estado…
Ao ouvir isso abriu os olhos. Se relembrara que ele mesmo tinha esquecido de contar um pequeno detalhe à Miyoru. Ele era um príncipe, o príncipe de Mirkwood. Mas também não sabia se tinha mencionado isso com Merry e Pippin, pois não gostava de ser tratado como tal. Ainda não tinha certeza se era dele que falavam, mas era provável que sim.-Acho melhor dormirem, pequenos, amanhã terão um longo dia e vão precisar de muita força.
-Tem razão, mas eu só vou trocar-me para poder conversar mais, já está esfriando.- disse Miyoru, se levantando e sumindo de vista
-AH, deixa a gente se divertir, Legolas. E Miyoru já dormiu demais!-Deixa, Pippin, talvez ele esteja com medo…
-Com medo, Meriadoc Brandebuque? Tem certeza do que diz?
– Tanto quanto tenho da existência da Miyoru na minha frente. Se você quiser, podemos explicar, mas pessoalmente, me agrada que ela saiba só de Éomer.
-E eu lhe agradeceria por isso. Mas acredito que seja mais receio o que está tentando dizer.
-Ora, sinceramente, Legolas…-Pippin bebeu um pouco de água -Vocês não combinam.
-Com certeza não é questão de vontade. Mas não posso impedí-lo, entretanto.
-Mas eu acho que ela fica melhor com ele. Sem querer ser chato, mas é o que eu acho.
Legolas deixou que os cabelos caíssem por frente ao seu rosto, enquanto franzia a testa. Mas é claro que ela ficava melhor com ele, ele não tem 500 anos! Era o que pensa
va, ficando envolto novamente somente neles.
-Eu acho que não.- disse Frodo, surgindo na conversa -Arwen e Aragorn estão juntos, e não se vê felicidade maior.
"Tem razão, Frodo, não posso perder as esperanças. Não ainda." Sua testa já se aliviara um pouco, mas continuava envolto dos pensamentos. O que poderia fazer para conseguir o fim de sua angústia, ou pelo menos uma parte dela?
-AH, nada a ver, Frodo. E eu acho que ele gosta mais dela, quer dizer, tá na cara!
"Isso porque vocês não vivem no dilema em que estou." Se pudesse, falaria o que pudesse ali mesmo, mas não era tão fácil. Ser 486 anos mais velho do que uma pessoa a que se ama é um problema já bastante grande.
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-Nani, do que estão falando?- disse Miyoru, que apareceu da mesma forma que tinha saído, tentando entender sobre o que falavam, piscando curiosamente seus grandes olhos verdes.
-Estão discutindo qual dos seus pretendentes seria o melhor, Miyoru.
-Hein? Como assim pretendentes?- ela perguntou, estarrecida -Eu não tinha só o Éomer?
Ele deu um suspirou pequeno – Como o próprio Peregrin Tûk disse, são dois.
-Ah…- ela disse, compreendendo -Quem é o segundo?-Pippin se engasgou com a bebida e começou a rir. ENtão Merry disse.-Bem, Miyoru, um é um rei e…
-…o outro é um príncipe. – Completou Legolas. Se ela descobrisse por si mesma, talvez ainda tivesse alguma chance. Mas pela inocência sabia que não o faria.
-Bem, nós vamos dormir.- disse Frodo, quase arrastando os outros hobbits consigo -Boa noite.-
-Boa noite.
-Boa noite. Um rei e…e um príncipe?- Ela parecia simplesmente incrédula , e caiu de joelhos -Ninguém acreditaria se eu contasse…e o oni-sama dizia que eu era tão feia…
-Oni-sama? Quem é esse? – Legolas voltou a olhá-la.
-Um garoto lá da minha terra. Sabe, ele que cuidava de mim. Ele sempre disse que eu era feia e ninguém iria me querer, por isso eu tenho que ser muito grata a ele.
-Só posso acreditar que ele seja cego para te dizer isso.
Ela tentou esconder sua vermelhidão, falhando miseravelmente-Ahn…você me elogia demais…nem vou mais acreditar nos seus elogios.
-Que os céus me matem se estiver mentindo.
Ela ergueu os olhos para olhar para ele, logo desviando o olhar -Ora, então eu vou começar a ficar metida! Vou vestir aqueles vestidos que o Éomer me deu e sair por aí e os homens se jogarão aos meus pés, apenas pelo prazer de poder olhar para minha face sorridente e ouvir a minha voz!- ela disse, sarcástica e exageradamente
Legolas sorriu – Você não precisa mudar o que você é, pois senão não seria você.
-estou brincando, seu bobo!- ela se inclinou para frente, depois volta ao normal -Mas…eu não conheço nenhum príncipe.
-Conhece, mas não sabe. Já que ele não gosta de ser tratado como príncipe.
-Ah, sua brincadeira está me cansando.- ela abanou o mão, num gesto indisplicente -Ou vocês estão brincando, ou eu sou tremendamente burra, porque não vejo ninguém que me veja como mulher!
-Nem um nem o outro Miyoru, você é vista tanto como guerreira como por mulher para alguns.
-Mas como…como EU não percebo?
-Talvez um pouco de sua inocência ainda cubra seus olhos.
-Não sou inocente!- ela cruzou os braços, se sentindo ofendida
-Não tenha isso como um insulto, às vezes a inocência pode ser uma grande chave de felicidade.
-Não para uma guerreira!- ela explodiu – Deixe a inocência para as belas mulheres que se escondem nas cavernas, eu só desejo liberdade e coragem.
De repente o sorriso saiu de seu rosto. – Matar não é uma coisa boa, Miyoru. Você pode ter a liberdade e coragem que quiser, mas não deixe que soe bem ser uma assassina.
-Ah, mas esse é o ponto.- ela disse, fazendo uma cara séria -As pessoas me acham doce e meiga, mas nessa vida eu só sei lutar. E já matei sim, e não digo que nenhuma das mortes foi desnecessária. Eu tive que escolher entre ser uma flor de estufa do dia ou uma lâmina afiada da noite. Fiz a minha escolha há muito tempo atrás, e continuo seguindo o meu cominho, como foi, é e será sempre, e agora…- ela olhou nos olhos dele, desviando rapidamente o rosto -Não tenho mais como voltar.
-Sempre há uma segunda chance, Miyoru. Mas não digo que você deva mudar o rumo de sua vida, pois a escolha foi sua. Mas acredite no que vou dizer, algum dia ainda, todas as vidas que você tirou irão pesar nas suas mãos e então você não irá querer ter escolhido esse caminho.
Ela deu um sorriso tão triste nessa hora -Você fala como alguém…que eu amei há muito tempo…
Ele olhou muito bem para ela. – Desculpe. Não queria deixá-la triste.
-Belas lembranças nunca são tristezas. E se perder um amor, é porque ele nunca seria seu.- ela sorriu para ele -Além do mais, é bom lembrar dele…
"Se perder um amor, é porque ele nunca seria seu…" – Se importaria em falar dele?
-Não.- ela deu um sorriso -O que quer saber?
-Somente como ele era, se não for incômodo.
-Não, claro que não!- disse ela, subitamente se animando -Ele era muito gentil, e educado, e sensível quando eu o conheci, mas no passado ele tinha sido o melhor de todos os samurais!- ela estava completamente extasiada em falar dele -Ela não era muito alto, e nem parecia ser muito forte, mas o era. E tão bonito, tão gentil… na verdade, ele era um homem muito mais velho. Tinha 31 anos quando eu nasci, mas eu nem me importava. Embora ele já amasse muito uma outra mulher; que era tão legal e gentil quanto ele.- ela falou isso com naturalidade, como se não se importava
"31 anos…Mas quem dirá 486?!" – Então nunca se importou com o fato das diferenças de idades?
-E você acha…- ela sorriu, cálida -Que o amor se perde no vácuo do tempo? Tempo é uma ilusão.
-Não. Não acho, só não sabia se você concordava comigo. – dando um sorriso meigo
-Mas veja eu, aqui, tendo delírios de amor. Justo eu, que nunca vou ser de ninguém!- ela disse, quase que para si mesma, olhando para o céu azul escuro, agora que anoitecera…
-Nem os mais sábios podem dizer exatamente o que vai acontecer-lhes no futuro, somente ter algumas pequenas premonições.
-Mas eu sei.- ela disse decisiva -Eu não consigo viver muito tempo no
mesmo lugar. Gosto de andar por tudo, de viver por aí, ser de todo mundo…e não ser de ninguém…
-Mas você acredita que isso nunca vá mudar?
-Não se muda a natureza das pessoas, além do mais… todo amor, um dia, acaba. E eu não gostaria de passar a odiar as pessoas que agora, eu amo…- ela se virou para ele -Mais vale a tristeza do adeus, do que a certeza do nunca mais.
-Mas o que vale mais para você, lembrar-se daqueles que já foram ou os momentos felizes em que você ficou com eles, por menores que fossem? Será que o que você não deveria fazer seria aproveitar mais esses momentos?
Ela perdeu o sorriso -Conheço a minha natureza Legolas. Mesmo se eu morasse com Aragorn, chegaria um tempo em que eu não agüentaria vê-lo, e acabaria fugindo. Mesmo com qualquer um.
-Gostaria de saber o por quê dessa natureza.
-Por que…porque não tenho ninguém desde que posso me lembrar…então eu me acostumei a solidão, a vagar por aí, livre como o vento. Nunca tive ninguém a quem me prender, então acho que meus sentimentos são muito superficiais.
-Mas há de existir alguém que possa mudar isso.
-Duvido muito. Não há homem no mundo capaz de me botar arreios.
-Talvez ainda não o tenha encontrado, apenas.
Ela se virou para ele, e olhou bem fundo nos olhos dele, como se quisesse desvendar-lhe a alma.
Ele voltou a olhar no fundo dos seus olhos, perdendo-se na beleza deles.
-Legolas, você se preocupada demais com a minha liberdade para que eu consiga me sentir tranqüila…
-Só quero o melhor para você. Mas não pretendia inquietá-la.
-Você me inquieta naturalmente.- ela comentou, indisplicente
-Devo ter isso como elogio?
-Entenda como quiser.. sabe, normalmente eu não gosto que as pessoas me toquem. Mas… eu gostei de quando você…no castelo…- ela estava muito corada, mas não olhava para ele, mas para o céu azul.
Seu sorriso misturou-se em meio à satisfação. – Tive medo que se assustasse. Mas se gostou…
Ela apenas ficou mais corada – Eu deveria te matar por isso…é muito injusto você causar uma confusão mental em mim e ficar tão tranqüilo…
-Acredite, mas minha mente está tão confusa quanto a sua, apenas não o demonstro.
Ela voltou a olhar para ele. Para as estrelas no fundo dos olhos dele -Sabe, às vezes acho que você tem estrelas nos olhos…
-Estrelas? Que estranho. Nunca ninguém me disse tal coisa.
-Bem, estou dizendo agora.
-Digo antes de você.
-E gostou do que ouviu?-
-Muito.
-Que bom!- ela deu um sorriso infantil, hesitante se chegava mais perto dele ou não
Visando a dúvida dela, desencostou da árvore em que estava. – Algum problema?
-Não…- ela decidiu ficar no lugar em que estava -Apenas pensava; Legola, quantos anos você tem?20?Não, mais…26?
– 20, apenas? Isso é muito mais do que um elogio para mim. Mas passou muito longe da realidade…
-Então quantos você tem?
-500. – disse meio que sem graça.
Ela arregalou seus belos olhos verdes -Nossa. Então você deve ser muito sábio! Kami-sama, eu devia te tratar com mais respeito!
-Não, não, eu prefiro que me trate do jeito que fala agora. Não gosto muito de formalidades.
Ela sorriu, aliviada -Que bom, eu não queria te tratar de outro jeito, e… Ah, não! Agora que eu lembrei!- ela fez uma careta de autocensura, depois olhando para ele -Ah, Legolas-san, eu perdi a fita que você me deu… eles devem…devem ter queimado com o resto das minhas roupas…- ela parecia realmente sentida com isso
-Ah, não se preocupe, ela está bem aqui. – ele pegou a fita que tinha guardado – Quando vieram me dizer que tinha sido raptada, me entregaram a sua fita. – ele chegou mais próximo de Miyoru e estendeu-lhe a fita.
-Ah…Muito obrigada!- ela pegou a fita das mãos dele, ambos sentindo um frêmito quando as mãos se tocaram. ela mandou que a fita se enrolasse em seus braço, e ela o fez. Então ela deu um doce sorriso para Legolas – Você cuida muito bem de mim.
-Você é muito importante para mim, Miyoru.
-É…muito bom saber disso.- Ela não tinha se afastado, mas não arriscaria mais nada, apenas olhar par ele.
Ele a olhou no fundo dos olhos novamente. Poderia ficar horas apenas admirando-os, mas não havia como e sabia disso.- Miyoru…
Ela apenas continuou olhando para ele, esperando o que ele fosse dizer
-Eu… – ele tinha vontade de explodir em plenos pulmões e gritar para que o mundo todo ouvisse, mas tinha que se controlar.
Miyoru sorriu, e encostou sua testa na dele. Ela mesma iria dizer alguma coisa…
Aquele toque tinha sido como uma tentação para ele. Parecia que Elbereth estava pronta a testar-lhe toda a força e vontade que tinha.-Eu te…
-Não precisa dizer nada, Legolas-san. Como você tinha dito, somos bons amigos.- dizendo isso, ela se afastou correndo levemente, como uma gazela. Virando-se e sorrindo para ele antes de desaparecer em direção ao acampamento dos outros.
Ele sorriu para o nada.- Talvez…Eu apenas não esteja suficientemente preparado…