Categoria: Michael Martinez

  • Estratégias de Sauron – Passos para a Derrota (Parte II)

    Na Primeira Era, Morgoth tentou
    derrotar seus inimigos Eldarin jogando tudo o que fosse possível contra
    eles. Logo, seus exércitos conseguiam sucesso misto. Mesmo a Nirnaeth
    Arnoediad provou ser uma vitória tão cara que Morgoth não pode
    conseguir a vitória definitiva dos exércitos élficos e seus aliados.
    Ele tomou controle de Hithlum e da Marcha de Maedhros, restaurou suas
    tropas em Dorthonion, e tomou controle total sobre a parte superior do
    Sirion. Mas Falas, Nargothrond, Doriath (e Brethil, que tecnicamente
    era parte de Doriath), e Gondolin tiveram que ser tratadas
    separadamente.

     

     

     
    Na Segunda Era, Sauron tentou duplicar os sucessos
    dúbios de Morgoth com ataques repentinos, tentando adquirir grandes
    vitórias militares. Ainda, ele não tinha as vantagens de Morgoth.
    Apesar de que muito da Terra-Média esteve sobre o controle de Morgoth,
    Sauron teve que continuar a manter seu império. E apesar de que a
    fortaleza-chefe de Morgoth, Angband, estava perto de seus aliados,
    Sauron posicionou-se em Mordor com a intenção de lançar agentes que
    trabalhassem ao mesmo tempo para os eldar no norte e os numenoreanos no
    sul.

    A colonização numenoreana não avançou para o extremo
    norte já que Sauron forjou o Um Anel por volta do ano 1600. As grandes
    fortalezas do Pelargir, no baixo Anduin, e Umbar não seriam
    estabelecidas em menos de 600 anos. O poder numenoreano era no máximo
    uma ameaça futura distante de conflito. Mas quando Gil-galad chamou
    Númenor para ajudar na guerra iminente, os numenoreanos investiram
    perto de 100 anos fortificando posições perto dos rios Gwathlo e Lhûn.
    Enquanto Sauron começava a mover suas forças para o Norte, seus
    inimigos tinham linhas múltiplas de defesa.

    Mas não quer dizer
    que Sauron foi derrotado. As histórias deixam claro que Sauron dominou
    Tharbad e abriu caminho sobre Eregion com relativa facilidade.
    Ost-en-Edhil foi possuída por algum tempo, possivelmente em torno de um
    ano. Os esforços de Elrond de reforçar Eregion falharam e ele teve que
    se retirar para o norte. Sauron mandou em exército para tirar Elrond do
    caminho. E, aparentemente, ao mesmo tempo em que ele estava destruindo
    Eregion, sauron mandou um exército para o leste das Montanhas Nevoentas
    para expulsar os povos Eldar e Edain, o último desses que foram grandes
    aliados dos anões Barbalonga.

    Então, Sauron não somente deu a
    seus inimigos grande tempo para se preparar para a guerra, ele espalhou
    bem suas forças quando lançou a guerra. Gil-galad foi capaz de
    consolidar muitas de suas forças sobreviventes no Lhûn depois de ser
    empurrado do rio Baranduin. Sauron derrotou Eriador, mas Tolkien nota
    que Sauron matou ou expulsou os homens e elfos vivendo na região. Os
    expulsos alcançaram o acampamento de Elrond em Imladris ou o reino de
    Gil-galad. As duas regiões foram reforçadas pela campanha crescente de
    Sauron.

    No final das contas, foi precisa uma intervenção
    massiva de Númenor para derrotar Sauron, mas a lição que ele aprendeu
    da guerra foi que Númenor ia dar mais trabalho que Lindon. Tolkien nos
    diz que a guerra entre os elfos e Sauron nunca acabou depois daquele
    dia, apesar de Sauron ter alterado seus objetivos estratégicas. Ele
    começou conquistando mais territórios no leste. E, gradualmente,
    enquanto Sauron estendia seu poder para o sul ele entrou em confronto
    com colônias numenoreanas ao longo das costas meridionais da
    Terra-Média. Númenor vinha colonizando a Terra-Média desde o ano 1200,
    mas por todo o ano 1800 os numenoreanos começaram a estabelecer
    fortalezas, cobrar tributo dos povos locais, e conquistando terras
    ocupadas. Númenor virou um poder rival que Sauron tinha que conter. Em
    fato, provou-se ser impossível para este derrotar Númenor no campo de
    batalha, e ele finalmente os derrotou através de um subterfúgio que
    trouxe destruição para Númenor e a morte de grande parte de seu povo.

    E ainda, apesar da queda de Númenor, Sauron não tinha se livrado ainda
    da ameaça numenoreana. Elendil e seus Dunedain Fiéis exilados
    estabeleceram reinos em Arnor e Gondor, na Terra-Média setentrional.
    Apesar de ser apenas um resto da nação poderosa que fora e que
    humilhava Sauron militarmente, os Dunedain Fiéis eram poderosos demais
    para serem aniquilados rapidamente. Sauron entendeu isso quando tomou
    Minas Ithil e foi empurrado para fora de Osgiliath. Vocês podem até
    ouvi-lo pensando: "Opa, isto estava fora dos planos". Se ele esperasse
    mais 100 anos, Arnor e Gondor teriam ficado mais poderosos, mas Sauron
    teria restabelecido total controle sobre sua rede de aliados e assuntos
    de estado. Ele teria muito mais recursos à disposição do que possuía
    quando atacou Gondor em 3429.

    Esperando demais, atuando cedo
    demais — esses eram os erros que Sauron cometeu na Segunda Era. Ele
    permitiu a seus inimigos o tempo para crescer fortes enquanto ele mesmo
    dispersou suas forças e criou guerra em muitas frentes. Depois de sua
    derrota, Sauron teve 1000 anos para refletir sobre suas falhas e
    fraquezas. E quando ele ficou forte o bastante para reencarnar, ele
    entendeu que para conseguir tomar controle da Terra-Média, ele tinha
    que trabalhar vagarosa e cuidadosamente. Ele tinha que aumentar seus
    poderes enquanto acabava com seus inimigos.

    O primeiro passo
    era escolher um porto seguro. Mordor foi ocupada por Gondor, que no 11º
    século da Terceira Era quase chegou ao topo de sue poder. Não tinha
    chance de lutar pelo controle de Mordor com os Dunedain nesta era. E
    ainda, Sauron precisava estar perto de seus inimigos. A Grande Floresta
    Verde, porém, oferecia uma posição atrativa. As densas florestas
    ofereciam uma privacidade relativa e alguma defesa, e a região de Amon
    Lanc, por muito tempo abandonada pelos elfos, seria fácil de se
    fortificar.

    Sendo o Necromante de Dol Guldur (o novo nome que
    os elfos deram para Amon Lanc), Sauron construiu um grupo de servos do
    mal que se espalharam pela floresta. A Grande Floresta Verde ficou tão
    aterrorizante que os homens a renomearam Floresta das Trevas. E à
    medida que Orcs, Trolls, Wargs, aranhas e outras criaturas se juntavam
    em Dol Guldur, Sauron renovou seus contatos com alguns servos orientais
    que serviram a ele no passado. Induzindo alguns dos Orientais a migrar
    para o sul da Floresta das Trevas, Sauron começou uma onda de migrações
    que aconteceram em Eriador. Os Hobbits, criando moradia nos Vales do
    Anduin por muitos anos, cresceram com medo já que o influxo de
    Orientais ameaçava seus vizinhos, e começaram a ir para terras mais
    seguras, no oeste.

    Perto do ano 1300, Sauron mandou o Rei dos
    Nazgûl para o norte, a fim de estabelecer o reino de Angmar. Angmar
    serviu a dois propósitos. Primeiro, era uma base remota de operações
    que trabalhava contra os povos de Arnor que viviam nas proximidades.
    Sauron não precisava se preocupar em estabelecer e proteger longas
    linhas de suprimentos. Segundo, Angmar pareceria somente mais uma terra
    inimiga aos elfos e dunedain. Um único inimigo implacável traria muita
    atenção. Mas se reinos hostis surgissem em vários lugares, ninguém
    teria certeza do que estaria acontecendo. Havia Sauron retornado, ou
    seus servos apenas ficaram mais ambiciosos e poderosos? Inspirar a
    dúvida e a demora em seus inimigos deu tempo para que Sauron crescesse
    em força.

    Mas apesar de Angmar ter vantagem sobre as divisões
    que nasceram em Arnor (dividida em três reinos menores pelos Dunedain
    em 863), Dol Guldur ficou isolada do leste. Enquanto Sauron contemplava
    o que poderia fazer com os reinos do norte, Minalcar estabeleceu as
    diferenças entre os homens do Norte e os Orientais atacando as terras
    perto do lado sul da Floresta Das Trevas, terras que Gondor clamou há
    muito tempo, mas viraram moradia dos Orientais e de muitos homens do
    Norte. Minalcar destruiu ou mandou embora os Orientais perto do mar de
    Rhûn, e se aliou com o reino de Rhovanion, leste da Floresta das
    Trevas, comandado por Vidugavia.

    A falha de Minalcar em atacar
    Dol Guldur é curiosa. Possivelmente, Sauron estava usando seus
    Orientais como uma farsa, e o Necromante de Dol Guldur acabou com
    Minalcar como se fosse uma pequena ameaça (ou ameaça nenhuma) para
    Gondor. Ainda, Sauron tinha que esperar que seus Orientais recuperassem
    seus números. Mas pode ser que ele sentiu que um novo tipo de cultura
    oriental foi criada. Nos últimos séculos, Tolkien nos disse, haveria
    guerras entre os Orientais. O controle de Sauron sobre os povos do
    leste poderia não estar completo, ou então ele sentiu que os melhores
    guerreiros seriam aqueles que sobreviveram a grandes contendas e
    guerras.

    Mas Gondor também era poderosa. Mesmo quando os
    Fratricidas morreram, e os Eldacar levaram seus inimigos para o sul,
    Sauron não tinha como ter vantagem no conflito. Estava muito longe de
    Umbar, onde os rebeldes procuraram abrigo, para fazer contato com os
    dissidentes. Apesar de ser um porto seguro, Dol Guldur era bem
    confinante. A Grande Praga de 1636, que Sauron lançou no leste e
    direcionou para o oeste, abriu novas oportunidades para ele. Gondor
    perdeu tanta gente que não poderia mais sustentar os exércitos em
    Mordor. Quando os dunedain saíram, orcs e outras criaturas entraram.
    Mas ao invés de se mudar para lá, Sauron meramente usou Mordor como
    corredor para expansão. Ele provavelmente mandou agentes para o sul
    para fazer alianças com os haradrim.

    200 anos após a Grande
    Praga, os Carroceiros atacaram os homens do norte e Gondor. Os povos do
    oeste foram derrotados e Sauron conseguiu domínio da Floresta das
    Trevas e de Mordor. O Lorde dos Nazgûl trouxe então a derrota final à
    Arthedain, o últimos dos reinos dos Dunedain. Mas apesar de Lindon e
    Imladris continuarem no norte, e os dois terem papéis significantes na
    derrota de Angmar, Sauron tornou sua atenção para Gondor, suja
    intervenção foi responsável pela derrota de Angmar. Os reinos do norte
    foram destruídos, mas eles eram a menor das ameaças.

    Assim,
    quando os anões de Khazad-dûm acordaram o Balrog em 1980, eles
    inesperadamente mudaram o balanço de poder no norte. Apesar de
    Khazad-dûm não ter tido (aparentemente) um papel importante nas guerras
    contra Angmar, ele estava na Última Aliança de Homens e Elfos contra
    Sauron, e então enfrentou Sauron novamente. A destruição da civilização
    anã efetuada pelo Balrog, e a fuga subseqüente de muitos elfos de
    Lothlórien, virtualmente asseguraram que Sauron não tinha quase nenhum
    inimigo de poder significante no norte. Tolkien sugere que foi por
    causa da presença do Necromante no sul da Floresta das Trevas que
    Galadriel resolveu intervir em Lothlórien. Se ela e Celeborn não
    tivessem restaurado a ordem ao reino élfico, não teria ninguém para
    opor Dol Guldur exceto por alguns homens das florestas e alguns povos
    pequenos chamados Eotheod, o restante do outrora poderoso reino de
    Rhovanion, Vidugavia. O reino de Thranduil no norte da Floresta das
    Trevas continuou forte, mas ele não participou de nenhuma grande guerra
    desde a Segunda Era.

    O século XX da Terceira Era provou ser um
    período tumultuado para Sauron e seus aliados. A perda de Arthedain e
    Khazad-dûm deveria ter alarmado os eldar e os Istari. As perdas de
    Gondor para os Orientais e a fuga final dos Eotheod para os Vales do
    Anduin assegurou que o oeste não tinha força para impulsionar o fluxo
    de guerreiros para a Floresta das Trevas e Mordor. E o problema com os
    Nazgûl em 2002, quando eles atacaram Minas Ithil, que durou apenas dois
    anos, foi um sinal que o mal derrotado no norte sofreu pouco.

    Apesar de tudo, Dol Guldur, mesmo com má reputação, parece não ter
    feito muito neste período. Os reis de Arnor e Gondor concluíram no meio
    do século XX que uma vontade única estava orquestrando suas quedas para
    um propósito desconhecido. Pelo século XXI, os Sábios (lordes dos Eldar
    e Istari) concluíram que o poder de Dol Guldur era o candidato mais
    provável para Inimigo-Mor. Mas quem era o Necromante? Os Sábios
    suspeitavam ser um Nazgûl. Apesar de tudo, o Lorde dos Nazgûl era o Rei
    Bruxo de Angmar. Os Nazgûl dominaram Minas Ithil. Nazgûl obviamente
    estavam ativos na Terra-Média. Mas alguns, provavelmente incluindo
    Galadriel e Gandalf, temiam que o Necromante fosse Sauron. Logo, em
    2063, Gandalf investigou Dol Guldur e Sauron fugiu para o leste.

    Pelos próximos 400 anos, que os Sábios diziam ser a Paz Vigilante,
    Sauron preparou novas forças. Os Balchoth, parecidos com os
    Carroceiros, cresceram em proeminência no leste. Os Uruks nasceram em
    Mordor. Umbar, destruída por Gondor no século XIX, foi recriada com
    novas forças totalmente leais a Sauron, e ele finalmente começou a
    desafiar o controle numenoreano dos mares. A influência de Sauron entre
    os Haradrim aumentou.

    Quando ele viu ser a hora certa, em 2460
    Sauron retornou para Dol Guldur com novas forças, e Minas Ithil lançou
    os Uruks contra Ithilien. Sauron mandou Orcs e Trolls para colonizar as
    Montanhas Nevoentas. E os Corsários de Umbar começaram a atacar Gondor.
    O retorno à Dol Guldur, porém, implica que Sauron ainda temia a união
    de seus inimigos. Os Anões Barbalonga estavam fortes novamente. Os
    Eotheod ficaram mais numerosos, e havia outros povos humanos nos Vales
    do Anduin que se aliavam com Gondor. Lothlórien virou uma marca do
    poderio élfico, e Thranduil controlava o norte da Floresta das Trevas.
    Sauron provavelmente procurou deixar seus inimigos do norte
    desbalanceados enquanto o Nazgûl, os Balchoth e Corsários acabavam com
    os recursos de Gondor.

    Mas Sauron também voltou para Dol
    Guldur por outro motivo: o Um Anel. Ele acreditava que este fora
    destruído. Até ele perceber que não era bem assim. Ele investiu grande
    parte de sua força no Anel. Se ele fosse destruído, provavelmente ele
    teria ficado fraco demais para ficar poderoso de novo. Sua força
    continuou a voltar, porém, e século após século ele conseguiu enxertar
    sua vontade sobre mais pessoas e criaturas. Em alguns pontos, a
    sobrevivência do Anel virou um fato óbvio para Sauron. Sauron não
    apenas sobreviveu à derrota, como estava se recuperando do anel.

    E então virou um dever de Sauron recuperar o Anel antes que seus
    inimigos o encontrassem e o usassem contra ele. Ele nunca imaginou que
    alguém pudesse destruir o Anel, mas havia na Terra-Média Eldar
    poderosos que, se viessem a ter o Anel, poderiam usá-lo para construir
    exércitos contra ele novamente: Círdan, Elrond, Galadriel, Celeborn.
    Eram todos parentes dos antigos reis elfos, e tinham alto conhecimento
    e força. E o que Sauron sabia ou suspeitava dos Istari? Com certeza
    eles eram imortais. Eles já vagueavam por mais de 1000 anos.

    Quando Sauron soube do fim de Isildur, ele se posicionou em Dol Guldur
    para ganhar controle sobre os Campos de Lis para que seus servos
    pudessem procurar pelo Anel. Mas Sauron não entenderia por muitos
    séculos que o Anel estava bem do outro lado do rio, ou que ele foi
    encontrado, muito antes dele ter começado a procurar, por um Grado
    chamado Déagol, cujo primo Sméagol o assassinou e roubou o Anel.

    O ataque dos Balchoth contra o norte de Gondor em 2510 teve dois
    propósitos: primeiro, acabar com as forças de Gondor; segundo, limpar o
    caminho para a procura de Sauron pelo Anel. A borda norte de Gondor
    ficava perto demais de Dol Guldur para que eles mantivessem o segredo.
    Os objetivos de Sauron sofreram um revés, porém, quando Eorl liderou um
    exército de Eotheod para o norte, em auxílio de Gondor. A Batalha nos
    Campos de Celebrant não foi uma derrota ameaçadora para os Balchoth.
    Eles continuaram uma efetiva força guerreira para Sauron, mas o
    controle sobre os Meandros passou de Gondor para os Eotheod, ao invés
    de para Sauron. Gondor e Lothlórien continuaram, então, a ser uma
    grande ameaça aos seus planos.

    Ainda, quando Cirion cedeu
    Calernadhon para Eorl e seu povo, Sauron teve que alterar sua
    estratégia uma vez mais. Cirion consolidou suas forças em Anórien e
    Ithilien, e Calenardhon veio a ser controlada por um forte povo do
    norte, que Sauron percebeu não poder controlar. Os Rohirrim, como o
    povo de Eorl veio a ser chamado, não poderia ser simplesmente ignorado.
    E a oportunidade de cuidar deles veio no 28º século. Helm, rei de Rohan
    (como Calernadhon veio a ser chamado), consolidou seu poder sobre as
    terras ocidentais matando Lorde Freca e destruindo sua família. O filho
    de Freca, Wulf, se aliou com os Terrapardenses, cujos ancestrais
    serviram Sauron na Segunda Era.

    Em 2758, Wulf lançou um ataque
    à Rohan de Dunland. Ao mesmo tempo, Corsários de Umbar e outras partes
    de Harad atacaram o lado oeste de Rohan, e os Balchoth ou outros
    Orientais atacaram Rohan do leste. Até mesmo Gondor foi atacada,
    ficando então bloqueada de ajudar Rohan. Os Rohirrim foram derrotados
    em campo aberto e fugiram para as montanhas. Wulf tomou posse da
    maioria das terras. Sauron com certeza planejou o ataque, e o extenso
    período de frio, chamado o Longo Inverno, assegurou que o povo de Rohan
    (e Eriador) sofreriam terrivelmente. Mas se o objetivo de Sauron era
    destruir os Rohirrim neste conflito, ele falhou. Apesar de Helm ter
    perecido no Longo Inverno, seu sobrinho Frealaf derrotou Wulf e seus
    aliados, na primavera, com a ajuda de Gondor, que reprimiu os ataques
    do sul. Mas o conflito produziu outro problema, que Sauron preferiu
    ignorar.

    Em 2590, os Anões Barbalonga re-estabeleceram o Reino
    sobre a montanha de Erebor, que ficava a leste da parte norte da
    Floresta Das Trevas. Enquanto Erebor não era ameaça para Dol Guldur,
    ele se aliou ao Reino de Valle. Os dois reinos cresceram em riqueza,
    fama e poder. Em 2770 o dragão Smaug veio do distante norte e destruiu
    Erebor e Dale. Os anões sobreviventes se exilaram e a família real foi
    parar em Terra Parda. Em 2990, Thror, que era rei sobre a Montanha,
    decidiu retornar para o leste. Foi assassinado por Azog, chefe dos Orcs
    em Khazad-Dûm, que decapitou Thror e mutilou a cabeça do Rei-Anão.

    Thrain, filho de Thror, fez uma aliança entre todos os povos anões por
    uma guerra de 7 anos contra os Orcs das Montanhas Nevoentas. Apesar dos
    anões sofrerem grandes perdas, eles quase exterminaram os Orcs. O
    controle de Sauron sobre as Montanhas Nevoentas foi efetivamente
    destruído na guerra. Junto com sua falha de destruir ou tomar controle
    sobre Rohan, perder as Montanhas Nevoentas diminuiu as chances de
    Sauron de destruir Lothlórien ou achar o Um Anel.

    Para não
    ficar totalmente frustrado, Sauron começou então a recuperar os outros
    Anéis do Poder que ele cedeu na Segunda Era. Os Anões tinham os Sete e
    os Nazgûl tinham os Nove. Mandar os Nazgûl devolverem seus anéis não
    era problema. Mas Sauron tinha que caçar os Reis-Anões um a um e pegar
    os Anéis deles. E, desses reis, apenas três tinham anéis. Quatro dos
    Anéis foram aparentemente destruídos por dragões. Thrain foi o último
    Portador Do Anel a cair nas mãos de Sauron. Apesar de Tolkien não
    explicar porque Sauron pegou os Anéis de volta, podemos concluir que
    era para aumentar sua própria força. Ou então pretendia, futuramente,
    distribuí-los para novos escravos. Glóin reportou para o Conselho de
    Elrond em 3018 que Sauron ofereceu 3 Anéis para o Rei Dain II, apesar
    de não podermos dizer que Sauron devolveu os Anéis para os anões.

    Ao que o Conselho Branco corria, no qual Galadriel se juntou aos Istari
    e lordes elfos depois que a Paz Vigilante acabou, Gandalf retornou para
    Dol Guldur em 2851. Foi lá, então, confirmado que o Necromante
    realmente era Sauron, e Gandalf descobriu que Sauron estava juntando os
    Anéis de Poder novamente, assim como procurava pelo Um Anel. Tais
    notícias alarmaram Saruman, que tinha ido morar na fortaleza gondoriana
    de Isengard depois do Longo Inverno. Saruman, neste momento, percebeu
    que o Um Anel poderia, sim, ser encontrado, e ele o queria para si. Ele
    começou a recrutar Orcs e Terrapardenses para servi-lo, e mandou
    espiões para procurar pelo Anel nos Campos de Lis.

    Apesar de
    Saruman apresentar uma ameaça pequena para Sauron, a procura pelo Anel
    descobriu outro problema. Enquanto Arnor foi completamente destruída
    (ou assim Sauron acreditava – ele não percebeu que descendentes de
    Isildur sobreviveram no norte), Gondor provava ser muito mais forte e
    resiliente, graças à aliança com os Rohirrim. O crescimento de um poder
    rival em Isengard poderia complicar, mas se Sauron pudesse encontrar o
    Um Anel ele poderia rapidamente conseguir controle sobre muitas pessoas.

    Em 2941, Sauron provavelmente se convenceu que o Um Anel não estava
    mais na região dos Campos de Lis. O Conselho Branco moveu-se contra ele
    e ele fugiu de Dol Guldur. Dizem que a Floresta das Trevas ficou um
    lugar mais calmo por um tempo. Tal transição implica que Sauron não
    fugiu simplesmente de Dol Guldur. Ele sugere que foi uma grande
    migração de orcs, homens e outras criaturas sobre seu controle.
    Enquanto alguns argumentam que a ação do Conselho Branco foi um tipo de
    ataque mágico, é mais provável que Lothlórien mandou um exército contra
    a Floresta das Trevas. Os Istari e os senhores elfos desafiaram o poder
    de Necromante diretamente, mas Sauron retraiu-se e então preservou
    grande parte de suas forças.

    A fuga sugere que Sauron não
    estava mais a fim de arriscar seus exércitos principais em combate
    aberto. Por outro lado, no norte, Bolg (filho de Azog) lançou uma
    campanha contra um pequeno grupo de anões liderados por Thorin, filho
    de Thrain, que retornou a Erebor. Após a morte de Smaug, elfos, homens,
    anões e orcs se convergiram para a montanha, para recuperar o tesouro
    que Smaug guardou à 170 anos. Estava Bolg seguindo ordens de Sauron, ou
    Sauron perdeu o controle sobre os orcs das Montanhas Nevoentas? Se
    Sauron aprovasse ou permitisse à Bolg lançar o ataque, então ele o
    supriria com recursos o suficiente para executar uma ação que, além de
    segurar uma base no norte, poderia ser usada para atacar Thranduil. Mas
    isso também deixaria Sauron sem ajuda próxima das Montanhas Nevoentas.
    Se Bolg ganhasse controle sobre Erebor, Sauron estaria em posição para
    acabar com Thranduil e trazer reforços para atacar Lothlórien num
    minuto. Mas quando Bolg retirou os exércitos órquicos, Lothlórien tinha
    uma oportunidade única de ação.

    Se Bolg fosse o comandante de
    Sauron no norte, Sauron poderia retornar para Mordor com todas as
    forças de Dol Guldur. Ao invés de espalhar seus recursos pelas três
    maiores bases (Mordor, Dol Guldur e Erebor), Sauron poderia consolidar
    sua força em duas regiões bem protegidas, que poderiam ser suprimidas e
    reforçadas pelo leste. Então, por não ter arriscado tudo, a derrota de
    Bolg em Erebor somente atrasou os planos de Sauron. Tolkien diz que
    três quartos dos Orcs do norte pereceram na Batalha dos Cinco
    Exércitos. Levaria décadas para que eles pudessem se recuperar
    totalmente. Enquanto isso, enquanto os homens do Norte refaziam o Reino
    de Dale e os Anões Barbalonga reconstruíam o reino de Erebor, Sauron
    retornou para Mordor.

    Sauron se declarou abertamente em 2951.
    Ele agora se sentia confiante o bastante, apesar de sua falha em
    recuperar o Anel, para agüentar qualquer ataque que o Oeste lançasse
    sobre ele. O efeito psicológico do "Estou de volta" sobre os elfos não
    deve ser subestimado. Muitos dos elfos simplesmente perderam a fé.
    Talvez muitos deles acreditassem que Sauron tinha recuperado o Um Anel,
    ou que estava quase encontrando. Pelo ano 3000 anões começaram a se
    mover para o oeste, e trouxeram do leste relatos de movimentos de
    povos, guerras predatórias e o poder crescente de Sauron. Muitos dos
    eldar restantes fizeram uma onda massiva de migração para o Mar,
    deixando a Terra-Média para sempre. Os Elfos Silvan continuaram
    decididos, mas Lindon e Imladris nunca mais puderam reconstruir
    exércitos.

    À medida que os orcs das Montanhas Nevoentas
    recuperavam seus números, novos inimigos ameaçavam a borda leste de
    Dale. Mordor forjou novas alianças com os Orientais e os Haradrim, e
    Saruman caiu no encanto de Sauron quando o mago usou o Palantír que
    encontrou em Isengard para espiar Mordor. Apesar da fidelidade de
    Saruman para com o oeste já ter se esvaecido, até agora ele se opunha a
    Sauron. Foi útil para Saruman ajudar o Conselho Branco a livrar Dol
    Guldur em 2941. Ele queria procurar pelo Anel livremente. Perto da
    Guerra do Anel, Saruman encontrou os restos de Isildur, mas não o Anel
    (que, com certeza, foi levado para o Condado).

    Gondor
    continuava a decair ante os repetidos ataques de Mordor e Harad, mas a
    força militar de Gondor já não era vital para a estratégia de Sauron. O
    Anel virou a prioridade-mor de Sauron. Ele finalmente soube de Sméagol
    do destino do Anel, e em 3018 ele mandou os Nazgûl para o Condado para
    recuperar o Anel e trazê-lo de volta. Apesar dele estar se preparando
    para a guerra, e que ninguém acreditava que ele podia perder, Sauron
    precisava ter certeza que seus inimigos não usariam o Anel contra ele
    antes que ele lançasse a guerra. Seus capitães poderiam mudar de lado
    caso alguém poderoso o bastante para usar o Anel aparecesse e tomasse
    posse deste.

    A grande lista de reinos e tribos que Sauron
    juntou assegurava-o de qualquer vitória em qualquer guerra em que
    ninguém usasse o Anel. A recuperação do Anel o assegurava, então, de um
    controle indisputável sobre a Terra-Média. Os elfos que sobraram não
    eram fortes o bastante para desafiá-lo. Os Dunedain definharam e eram
    poucos demais para chegar a ter os poderosos exércitos que comandavam
    no auge de seu poder. E os homens do norte, apesar de fortes em lugares
    como Dale, os Vales do Anduin, e Rohan, estavam divididos em reinos
    demais e incapazes de formar uma aliança forte o bastante para
    desafiá-los.

    Em 3018, Sauron esteve preste a atacar Dale e
    Erebor, passando pela Floresta das Trevas, e limpar os Vales do Anduin
    dos homens, elfos e anões. Mesmo Lothlórien provavelmente não
    sobreviveria por muito tempo. Gondor, por outro lado, possuía força o
    suficiente, especialmente se reforçado por Rohan, para agüentar ao
    menos um ataque massivo. O dever de Saruman ele prevenir ou adiar o
    reforço de Rohan. Os orcs das Montanhas Nevoentas poderiam atacar os
    Beornings, os Homens das Florestas, Lothlórien, e sem dúvida alguma
    Imladris e Eriador. Dol Guldur, agora reconstruída, poderia deixar
    Thranduil dificultado. Não tinha chance dos povos do norte formarem uma
    aliança no último minuto e chegar em auxílio de Gondor. Todas as peças
    estavam no lugar. Vitória era certa. O Senhor do Escuro estava se
    divertindo.

    A análise de Gandalf das intenções e prioridades
    de Sauron (revelada no Conselho de Elrond em 3018 e no último debate
    dos capitães do Oeste em 3019) oferece um discernimento das estratégias
    mutantes de Sauron na Terceira Era. Quando ele acordou e assumiu uma
    força física uma vez mais, Sauron acreditou que ele fora ferido pela
    destruição do Um Anel. Determinado a se vingar de seus inimigos, e
    talvez reconquistar o controle sobre a Terra-Média, ele começou o
    trabalho de dividir e enfraquecer seus inimigos. Seus tenentes
    trouxeram a destruição de Arnor. O Balrog (direcionado por Sauron, ou
    mesmo por pura sorte) destruiu Khazad-dûm e grande parte de Lothlórien.
    Os Orientais e Haradrim enfraqueceram Gondor, reduzindo-o de um império
    extremamente poderoso a um estado murcho, ainda orgulhoso mas temeroso
    e com uma paranóia de ameaça e derrota. E muitos dos elfos restantes
    fugiram da Terra-Média quando viram que a batalha final estava para
    começar

    Descartando problemas ocasionais, em 3019 Sauron
    estava confiante de sua habilidade de adquirir vitória suprema sobre a
    oposição. Ele sabia que o Um Anel ainda existia, e ele sabia quem o
    possuía. Ele temia que alguém mais tomasse o Anel e usasse contra ele.
    O grande perigo, ao ver de Sauron, estava na possibilidade que a
    divisão e as brigas poderiam surgir entre seus exércitos. As forças que
    ele conseguiu poderiam se virar contra ele. Aragorn e Gandalf
    concluíram, então, que a chance de Frodo em concluir a sua missão
    dependia do medo de Sauron. Eles fizeram Sauron acreditam que um novo
    Senhor do Anel, presumavelmente Aragorn, estava aparecendo.
    Penetrantemente atento ao que o atraso custou a ele na Segunda Era (e
    talvez fazendo-o sentir que não estava agindo tão cedo), Sauron lançou
    um ataque massivo contra Gondor na esperança de capturar o Anel. E
    quando esse ataque falhou, ele lançou tudo o que ele tinha num assalto
    selvagem que ele acreditava que iria trazer rapidamente o Anel para ele.

    Como deve ter sido devastante para Sauron a verdade, quando Frodo
    clamou o Anel na cova de Sammath Naur, que ele, o mestre da
    manipulação, foi um tolo. Todo seu planejamento cuidadoso e manobras
    sagazes por dois mil anos foram para nada. Força massiva, poder
    impressionante, e as estratégias mais sutis foram sabotados pela
    completa equivocação de Sauron quanto aos fatos que ele descobriu. Ele
    acreditava que seus inimigos queriam ser como ele. Se ele entendesse
    que eles simplesmente queriam se livrar dele e de todos os Lordes
    Negros para sempre, ele teria ficado mais retraído. Em tal mundo,
    Sauron estaria sem ação por um tempo. Ele ainda teria que temer que
    alguém tomasse o Anel e o usasse contra ele. Mas ele também temeria que
    eles o destruíssem. Ele teria que refazer sua estratégia. Não devemos
    duvidar que ele deveria ter feito isso, e que o Conselho de Elrond
    acertou no ponto quando concluiu que eles tinham uma única chance de
    derrotar Sauron.

  • Shhhhhh! É um Anel Secreto!

    Eu sou questionado sobre muitas perguntas a respeito do mundo de Tolkien e certas vezes, eu apenas arquivo as mais interessantes para futura referência. Mas outro dia alguém me perguntou algo que eu não acreditava nunca ter passado pela minha cabeça. Quem sabia sobre os anéis? Um leitor muito astuto ressaltou a mim que Boromir reconheceu o Anel imediatamente, Faramir compreendeu que havia um Anel que envolvia Gandalf e Denethor parecia saber de tudo sobre o Anel…Quando se trata exatamente disso, todos que entram em contato com Frodo parecem saber sobre o “Anel precioso” (como Bombadil o chamou).

     

    Se eu puder pegar emprestada uma das comparações que Tolkien tanto detestava, é quase equivalente para todo frentista de posto de gasolina da Rota 66 pedindo a J. Robert Oppenheimer se ele pode dar uma olhada no Fat Man e Little Boy enquanto ele dirige para Los Alamos. O Anel de Sauron era para ser um grande segredo, no entanto, muitas pessoas que Frodo encontrou pareciam saber sobre ele. Gildor Inglorion compreendeu o que estava acontecendo (e como ele sabia que Frodo estava “suportando um grande fardo sem conselhos“, como Glorfindel diz, não é explicado em nenhum lugar).

    Como poderia ser que tantas pessoas soubessem algo sobre o Um Anel ao fim da Terceira Era, principalmente considerando-se que estava limitado ao conhecimento daqueles que estavam mais envolvidos com ele por três mil anos?

    A resposta deve estar nos dias de Elendil e Gil-Galad, quando eles primeiro formaram sua grande aliança. Tolkien escreveu muito pouco sobre o que realmente aconteceu, mas sabemos que Sauron atacou Gondor e tomou Minas Ithil. Isildur escapou com sua mulher e filhos. Anárion fortificou o Anduin e repeliu as forças de Sauron enquanto Isildur navegava para Arnor. Ali Isildur consultou-se com Elendil, que em troca, consultou-se com Gil-Galad.

    Até esse tempo, podemos ter certeza, o total conhecimento dos Anéis de Poder estava limitado somente aos Elfos. Mas o quanto eles sabiam em geral? Qualquer Elfo mais velho saberia que existiam Anéis de Poder, ou o conhecimento era confinado a um grupo seleto? Bom, não há fatos para responder a essas questões. Isto é, não há nenhum ensaio ou nota de Tolkien já publicados que expliquem como o conhecimento sobre os Anéis se espalhou. Elrond contou às pessoas em seu conselho a história completa dos Anéis. “Uma parte de sua lenda era conhecida por alguns aqui, mas a lenda completa por nenhum”, Tolkien escreve no “Conselho de Elrond”.

    Isso parece extraordinário. Nem mesmo Gandalf saberia toda a história dos Anéis? Bem, Gandalf não sabia da tradição do Anel até Bilbo aparecer, então talvez ele estava ainda alcançando o conhecimento. Mas a impressão é que a estória de Elrond foi rotulada como: “Segredo de Estado, Necessidade de saber e VOCÊ não precisa saber!” Exceto para ele, Galadriel e Círdan (e talvez Celeborn, mas todos sabem que ele era um forasteiro).

    Quando Sauron primeiro se aproximou dos Elfos na Segunda Era, muitos suspeitaram dele, de acordo com a história descartada de Celeborn e Galadriel em Contos Inacabados. Galadriel não reconheceu Sauron (que se nomeou Aulendil por conta própria, apesar de que em outro lugar dizem que ele se nomeou Annatar). Ela desconfiou de um Maia que apareceu de repente e afirmou estar agindo em prol dos interesses dos Valar. É interessante que nenhuma tentativa foi feita para confirmar essa história com Valinor. Os Númenoreanos retornaram a Terra-Média em 600 da Segunda Era e Sauron começou a procurar por alguns bons trouxas alguns séculos depois. Devido a tal questão, os Eldar deveriam ter sido capazes de rezar para os Valar por algum tipo de conselho.

    Então parece estranho começar com o fato de que as credenciais de Aulendil/Annatar nunca foram checadas. Talvez alguém tentou espiona-lo, mas talvez havia tantos Maiar que os antigos Noldor coçaram suas cabeças e falaram: “Bom, talvez…” Eu não posso deixar de pensar no prefeito em “The Music Man”, mandando os quatro conselheiros da cidade para descobrir quais eram as credenciais do Professor, e ele os transforma em um quarteto de barbeadores. Talvez Sauron era bastante como Robert Preston, especialmente dada à propensão dos Elfos para canções. Talvez Maglor foi mandado para verificar as credenciais e Sauron o perguntou por que parecia tão deprimido e…

    O fato é que Sauron meneou seu caminho em Eregion numa época em que havia muitos Elfos por todos os lados da Terra-Média. O reinado de Gil-Galad se estendeu das costas de Lindon até o rio Brandevin. Os Nandor, Sindar e Noldor estavam aparentemente vagando ao redor do resto de Eriador. Muitos dos Noldor e Sindar estava vivendo alegremente em Eregion, comercializando com os Anões, construindo cidades e fazendo o que quer que os Elfos façam. No outro lado das Montanhas Sombrias os Sindar estabeleceram dois ou mais reinos entre os Elfos Silvan. E Edhellond era um canto calmo e refúgio ao sul das Ered Nimrais (Montanhas Brancas). Era, sobretudo, um mundo muito Élfico. Os Homens apenas por acaso andavam por ali, mas à parte dos numenoreanos, os Homens não faziam muito.

    Sauron supostamente visitou mais de uma terra élfica em sua jornada por mentes élficas sugestionáveis. Presumivelmente os Elfos Silvan teriam tido pouco interesse na preservação da Terra-Média. E quanto a morrer? O que é a morte para eles? Talvez Eönwë tenha mencionado a probabilidade da morte dos Elfos, quando ele viajou convocando todos a Valinor, ou talvez não.

    Em Lindon, Elrond e Gil-Galad recusaram-se a tratar com Sauron. Eles nem ao menos admitiriam ele no reino. Sauron deve ter mandado uma carta ou mensagem oferecendo-se para ensinar os Eldar em questões elevadas e nobres. Talvez foi um pouco de arrogância da parte de Sauron em fazer tal oferta, mas a reação de Gil-Galad deve ter sido de surpresa. Ele era apenas um rapaz quando Beleriand estava sendo invadida pelo mar pelos Valar. O que ele sabia sobre Valinor e sua felicidade?

    Então pode ser que o povo de Gil-Galad era de fato composto, em sua maior parte, por Elfos mais jovens. Poucos dos Exilados originais realmente sobreviveram às Guerras de Beleriand. Destes, muitos aparentemente retornaram para o Oeste após a Interdição dos Valar foi dissipada. Então somente um punhado dos reais antigos Elfos deve ter permanecido na Terra-Média. Destes, a maior e mais bem conhecida era Galadriel, e por alguma razão, ela não ficou em Lindon por muito tempo; Então Galadriel devia estar em Eregion quando Sauron chegou farejando ao redor. De fato, é isso o que a história descartada conta, desde que ela e Celeborn eram (de acordo com esse relato) os soberanos originais de Eregion.

    Sauron dedicou sua atenção a “Celebrimbor e seus companheiros ferreiros, que formaram uma sociedade ou irmandade, muito poderosa em Eregi
    on, a Gwaith-i-Mirdain; mas ele trabalhou em segredo, desconhecido à Galadriel e Celeborn
    ”. Nesse relato, o sumário de Christopher Tolkien de um esboço que nunca foi totalmente publicado, Celebrimbor e a Gwaith-i-Mirdain tinham muitos segredos profissionais. Eles não dividiam seu conhecimento livremente com outros Noldor.

    Os Noldor, os Fëanorianos em particular, eram muito sigilosos, até mesmo em Valinor. Eles eram de um tipo que não pareciam se dar bem uns com os outros. Até mesmo seus primos Avari, os Tatyar, parecem ter sido mais divididos que os Nelyarin Avari (que eram relacionados com os Teleri, os Eldar que vieram dos Sindar). Fëanor nunca chegou a revelar muitos de seus segredos para os outros Elfos. Então quando ele morreu, muito da sua sabedoria morreu com ele. É claro que muito da sabedoria antiga foi perdida nas Guerras de Beleriand de qualquer maneira. Celebrimbor e seus companheiros devem ter sido os últimos herdeiros dos grandes segredos da Primeira Era. Ou eles podem ter sido um grupo de renascimento, pegando emprestado tudo o que podiam dos Anões e descobrindo coisas por conta própria.

    O resultado final foi que os Anéis de Poder eram um projeto originalmente secreto. A maioria dos Elfos não sabia nada sobre eles. As primeiras propostas de Sauron devem ter parecido um tanto quanto vagas, tirando proveito de suas dúvidas e preocupações de uma maneira geral. Não seriam vagas até que Sauron pudesse ter uma longa e sincera conversa de ambas as partes com Celebrimbor sobre o futuro dos Elfos que Sauron estaria apto para lançar o Grande Plano sobre o senhor Élfico. E não é provável que Celebrimbor tenha sido idiota. De fato, ele era provavelmente um dos Elfos mais inteligentes do início da Segunda Era. Sua penetrante sabedoria e insight se juntaram ao seu brilho. Isso teria feito dele um alvo crucial para a fraude de Sauron.

    E essa fraude deve ter requerido séculos de trabalho. Sauron deve ter ensinado muito pacientemente aos Gwaith-i-Mirdain muitos segredos sobre a manufatura de várias coisas antes de ganharem sua total confiança. Tolkien nos oferece apenas um vislumbre dos tipos de artefatos que os Elfos eram capazes de fazer: os barcos de Lórien, as cordas e mantos dos Elfos Silvan e a bacia da Galadriel. Esses eram os mais modestos, aparentemente, assim como encantamentos diários, coisas de pouco interesse para os mestres ferreiros. Os Palantíri, criados em Valinor, devem ter sido o tipo de artefato que os Gwaith-i-Mirdain devem ter perseguido. Ou talvez eles se esforçaram para recriar as Silmarils, mesmo porque a Luz das Duas Árvores estava preservada somente na luz do Sol, da Lua e da Estrela de Eärendil.

    A explicação de Elrond sobre os motivos dos fazedores de anéis implica que eles eram muito nobres em seus objetivos: “Aqueles que os fizeram não desejariam força, ou dominação, ou acúmulo de riquezas; mas entendimento, ações e curas, para preservar todas as coisas imaculadas.” Nós compreendemos o desejo de “preservar todas as coisas imaculadas”. Os Elfos quiseram criar um pouco de Valinor na Terra-Média através da retenção dos efeitos do Tempo. Mas “entendimento, ações e curas” parece um pouco desnecessário. O que precisaria ser entendido, o que precisaria ser curado, que todos os talentos naturais dos Elfos não seriam suficientes para entender ou curar?

    Tolkien dá a entender em um ensaio que era a própria Terra-Média que precisava de cura. Estava poluída, manchada por Melkor, e danificada pela Guerra da Ira. Talvez os Gwaith-i-Mirdain tinham a esperança de criar algo que purificasse o elemento Melkor da Terra-Média. Irônica e tragicamente, eles confiaram nesse mesmo elemento para a criação dos Anéis.

    Há uma outra estória envolvendo Galadriel e Celebrimbor. Esse é o conto de Elessar, a pedra élfica que Galadriel deu a Aragorn em nome da Arwen. A estória é, certamente, inacabada, e Tolkien mudou de idéia sobre muitos detalhes. No final, Celebrimbor era para se tornar um ferreiro de Gondolin (mas a estória foi composta antes de Celebrimbor estar incorporado à família de Fëanor) e fez duas Elessar. Uma foi levada para o Oeste por Eärendil e a segunda repôs a primeira e chegou até Aragorn.

    O poder das Elessar estava envolvido com a cura e a preservação, e a segunda Elessar é dita como ter sido a maior criação de Celebrimbor depois dos Anéis de Poder. Deve ter sido um objeto muito potente, e a habilidade de Aragorn de curar muitas pessoas em Gondor deve, portanto, ser atribuída em certa medida pela sua posse de uma Elessar.

    Desta maneira, parece que os Gwaith-i-Mirdain passavam a maior parte do seu tempo construindo itens mágicos que os Elfos usavam para curar ou preservar pequenas partes da Terra-Média, ou, de outra forma, aumentar seus talentos naturais. A ajuda de Sauron deve ter aumentado a efetividade de seus objetos. Por um tempo eles devem ter transformado os Anéis menores meros “ensaios na arte antes de estar totalmente crescido”, como Gandalf diz. Ele os descreve como sendo “de vários tipos, alguns mais potentes e outros menos”. A frase “vários tipos” é curiosa. Talvez dê a entender que os Anéis menores tinham apenas poderes e propriedades específicas, enquanto os Grandes Anéis, os Anéis de Poder, possuíam muitas propriedades.

    Uma preocupação com a preservação e a cura teria dado a Sauron uma linha interna com os Elfos. Ele poderia introduzir mais e mais idéias e ajuda-los em avançar suas metas ao frustrar pequenos saltos. E então, um dia, ele seria capaz de implantar a idéia de criar artefatos poderosos novamente. Eu não acho que Sauron deva ter proposto essa idéia diretamente. Os elfos parecem ter se entusiasmado com tal projeto e, portanto, eles devem ter acreditado que era uma idéia deles mesmos. Uma fraude seria mais engenhosa desse modo. Mas também a fraude pareceria menos manipulativa na superfície, se Sauron estivesse meramente suportanto os Elfos em seus próprios esforços, ao invés de apenas dar a eles instruções explícitas sobre o que deveria ser feito.

    E então deve ter ocorrido um razoável número de conversas e planejamentos. Analisar os objetivos do projeto sozinho poderia ter levado meses ou anos. E Por quê? Porque os Gwaith-i-Mirdain provavelmente não queriam que ninguém soubessem o que eles estavam fazendo. As implicações morais do que eles esperavam tentar para retardar os efeitos do Tempo não seriam totalmente compreendidas. Os Anéis de Poder representavam uma nova tecnologia, cujo impacto sobre a sociedade ainda não havia sido medido – uma sociedade que, naquele momento, era dominada pelos Elfos.

    Além disso, a natureza secreta do projeto deve ter exigido o menor número de pessoas quanto fosse possível para estar inteiradas a ele. Pode ser que não mais qu
    e dezessete Elfos sabiam sobre os Anéis: Celebrimbor e dezesseis outros Gwaith-i-Mirdain, talvez constituindo todos os membros da sociedade. Muitas pessoas dizem que é melhor procurar pelo perdão que pedir. Os Noldor em particular parecem ter favorecido essa filosofia. Quando chegou o tempo de decidir se deviam fazer a tentativa, Celebrimbor e seus companheiros devem ter tido longas discussões sobre as conseqüências morais de fazer qualquer coisa. Talvez no fim eles justificaram sua decisão final ao pesar todo o bem que eles esperavam alcançar contra o possível dano que eles estavam arriscando. Afinal ninguém nunca suspeitou que Sauron pudesse traí-los.

    Então, antes dos Anéis serem feitos, os Gwaith-i-Mirdain devem ter tido boas razões para não revelar o que estava acontecendo a ninguém além da própria sociedade. Os Anéis, enquanto iam sendo produzidos, devem ter parecido anéis normais para os outros Elfos, se eles pudessem ser de fato notados. O véu de sigilo deve ter sido sobrecarregado com vergonha e culpa, assim que os Elfos perceberam a traição de Sauron. Imaginem como Celebrimbor deve ter se sentido, sabendo que ele forjou os Anéis em segredo, sabendo agora que Sauron era um antigo servidor de Melkor, agora com o seu próprio Anel Mestre. Quer Tolkien preservasse a rebelião de Celebrimbor (que foi registrada na história descartada de Galadriel e Celeborn) ou mudasse a estória, Celebrimbor teria que confrontar Galadriel com a verdade. Algo terrível havia acontecido, mas algo ainda pior estava para recair sobre os Elfos.

    Então, uma vez que Galadriel soube sobre os Anéis, ela aconselhou Celebrimbor a esconde-los. Os Elfos não aceitavam em seus corações o fato de ter que destruir seus próprios trabalhos. Dois anéis foram dados a Gil-Galad, que deve ter sido informado sobre tudo. Quaisquer que tenham sido os sentimentos sobre a imprudência de Celebrimbor, ele também escolheu não destruir os Anéis. O medo de desaparecer deve ter sido muito impregnante na sociedade Noldorin. Então devemos nos perguntar a quem foi contado primeiramente, Elrond ou Círdan? Por um lado, Celebrimbor, Galadriel e Gil-Galad deviam saber que haveria uma guerra. Sauron tinha acabado de tentar escravizar os maiores e mais poderosos dos Noldor. Ele falhou, sua cobertura foi arrancada, e os Elfos souberam que a Terra-Média tinha um Senhor do Escuro novamente. Não era o tipo de situação que exigia que Sauron se escondesse até que a tempestade acalmasse.

    De sua parte, Gil-Galad pediu ajuda aos Númenoreanos, mas não contou a eles sobre os Anéis. Tolkien menciona essa omissão nas relações Elfo-Dúnadan na Carta 211 (Letter211): “Eu não creio que Ar-Pharazon soubesse algo sobre o Um Anel. Os Elfos mantinham a questão dos Anéis bastante secreta, conforme podiam…" Então o apelo de Gil-Galad a Númenor deve ter sido muito cuidadosamente escrito. Ele tinha previamente requerido a ajuda de Númenor, enquanto Sauron estava atrapalhando toda a Terra-Média, incitando criaturas maléficas. Antes de Sauron decidir se estabelecer em Mordor, Gil-Galad estava apenas consciente de que algum poder maléfico estava organizando homens e antigos servidores de Morgoth. Mas ele não conseguia achar a fonte de suas preocupações. A revelação de Sauron como o forjador do Um Anel confirmou os piores medos de Gil-Galad. No mínimo ele tinha uma justificativa para começar uma guerra com Sauron.

    Númenor mandou homens e mantimentos à Terra-Média, e durante o curso de 100 anos, os Númenoreanos construíram fortes e estoques ao longo dos rios Lhun e Gwathlo. A estratégia total parece ter sido defensiva. Os Elfos sabiam que uma guerra estava se aproximando, mas não sabiam quando. Sauron era poderoso, mas ele não controlou a Terra-Média do jeito que Morgoth fez. E Númenor ainda não comandava os enormes exércitos e navios que um dia iria formar. Um ataque prematuro ainda não havia sido considerado, aparentemente. Talvez Gil-Galad ainda não soubesse onde se estabelecia o domínio de Sauron. Mordor não parecia tão longe de Eriador quando olhamos no mapa, mas havia uma grande distância de cerca de 1000 milhas entre Barad-Dûr e Lindon. E Gil-Galad podia ainda não saber até mesmo em que direção começar a procurar.

    Então os Elfos não falaram nada aos seus aliados sobre os Anéis de Poder, ou sobre o que a guerra era realmente. Isso pode ter sido apropriado para a política de sigilo deles de deixar Sauron atacar primeiro. Depois do ataque, justificaria o fato chamar Númenor para mais ajuda. Os Elfos seriam o grupo aflito. Eles já eram, considerando que Sauron havia tentado escravizar os Gwaith-i-Mirdain. Mas o motivo de queixa era moralmente fraco. Que interesse os Noldor tinham ao brincar com o Tempo de qualquer maneira? Porém, mais importante ainda, Gil-Galad parece não ter compartilhado a verdade com o seu povo. Eu duvido que muitos de seus conselheiros teriam conhecimento sobre os Anéis. Alguns dos Noldor podem apenas ter decidido jogar Celebrimbor e os Gwaith-i-Mirdain aos wargs que gastar seu sangue em outra guerra insana.

    É claro, quanto mais pessoas descobrem um segredo, menos secreto ele é. Gil-Galad tinha capitães com potencial para mandar ao leste a fim de reforçar Eregion. Por que ele escolheu Elrond? Círdan era um antigo senhor dos Eldar, tendo como experiência as guerras de Beleriand (de fato, ele era o único comandante de campo que sobrevivera às guerras). Glorfindel havia retornado a Terra-Média para ajudar na guerra, de acordo com um breve ensaio que Tolkien escreveu tarde em sua vida. Ele também seria uma boa opção para mandar a Eregion. Mas foi Elrond quem Gil-Galad mandou. Eu acharia que Elrond devia estar presente quando Celebrimbor contou a Gil-Galad sobre os Anéis. Não que os nobres de Gil-Galad teriam se rebelado, mas para que sobrecarregá-los com uma culpa que não era deles?

    Mas se o silêncio de Gil-Galad estaria condenando, o que Celebrimbor poderia ou deveria contar aos Elfos de Eregion? Muitos deles parecem ter escapado, por Moria ou fugindo por terra. No entanto, será que eles sabiam sobre o que era a guerra? Eu não acho que a tragédia da loucura de Celebrimbor seria aumentada se sua vergonha o tivesse proibido de confessar o que ele e os Gwaith-i-Mirdain haviam feito. Se eles não estavam contando nada aos Dúnedain pelo bem do sigilo, então também seria melhor não contar nada ao povo de Eregion. E então isso significa que os Anões de Moria não podiam saber sobre o que era a guerra. Tudo o que ia ser falado a todos era que o grande Senhor do Escuro estava chegando.

    E ele chegou. Sauron espalhou-se para o norte e atacou tudo o que viu. Ele não apenas invadiu Eregion, como também foi para os Vales do Anduin e as terras ao leste da Grande Floresta Verde. Os Homens do Norte se dirigiram para as florestas e montanhas. Sua cultura foi virtualmente apagada. Muitos Elfos também devem ter perecido. Eregion tombou rapidamente e Sauron a destruiu. Assim como muitos Elfos
    escaparam, muitos outros sofreram mortes horríveis enquanto Sauron procurava desesperadamente os Anéis de Poder. Se ele não podia ter os Elfos, ele certamente não queria que os Elfos tivessem sua Valinor na Terra-Média.

    A defesa de Ost-Em-Edhil (Fortaleza dos Eldar) deve ter sido particularmente amarga. Na história descartada de Galadriel e Celeborn, conta-se que Celeborn liderou um ataque. O propósito do ataque não é de fato estabelecido, mas pode indicar que Celeborn havia reconhecido a falta de esperança na situação. Celeborn pode ter comandado os Elfos mais inocentes, enquanto os Gwaith-i-Mirdain e seus seguidores teriam ficado para trás para dar resistência à cidade. A última posição de Celebrimbor pode ter sido uma tentativa de reparar o que ele havia feito. Mas ao invés de morrer em batalha e guardar os segredos dos Anéis para sempre com ele, foi dirigido novamente para os degraus da Casa dos Mirdain. Sauron deve ter dado ordens para captura-lo vivo a todo custo. Imaginem os orcs sacrificando a si mesmos, assim como seus ancestrais fizeram ao levar Húrin após a Nirnaeth.

    A perda de Eregion mais provavelmente significou que todos os Gwaith-i-Mirdain haviam perecido, e seu segredo vergonhoso foi preservado apenas pelos poucos senhores Eldarin que conheciam a contagem total. Os Gwaith nunca são mencionados novamente, em nenhum escrito. É interessante notar que outra sociedade, ou “escola”, os Lambengolmor (mestres de Línguas), sobreviveram à Guerra. Seu último membro foi Pengolod, que viveu em Eregion. Ele escapou, e após a guerra ele pegou um navio e deixou a Terra-Média. A destruição de Eregion parece indicar que muitos outros grupos antigos e eruditos também pereceram, ou sofreram tão terrivelmente que seus sobreviventes fugiram quando puderam. Numa nota encontrada no apêndice de “O Senhor dos Anéis”, Tolkien diz que os Eldar não tentaram nada de novo na Terceira Era. Pode simplesmente ser que não restou ninguém suficientemente talentoso nas artes sub-criativas para criar novos artefatos.

    No despertar da guerra, Gil-Galad teve que reconstruir seu reino. Lindon sobreviveu, mas, sem sombra de dúvidas, sofreu muitos danos. Elrond também sobreviveu. Ele nunca teve sucesso ao reforçar Celebrimbor, mas ao invés disso ele foi dirigido para o norte (talvez com Celeborn). Elrond havia reunido tantos Homens e Elfos quanto pode e resistiu em Imladris. Naquele tempo muitas pessoas aflitas teriam perguntado: “Por quê? Por que essa guerra aconteceu?” E Elrond não seria capaz de responde-las. No entanto, ele tinha que saber a verdade. Sua defesa foi leal e valente, mas foi talvez fortalecida por uma solução nascida da culpa e do desejo de reparar as decisões terríveis que Celebrimbor – seu amigo – havia feito. De certo modo, a Guerra dos Elfos e Sauron marca uma perda final da inocência dos Noldor. Na Primeira Era, aqueles Noldor que eram nascidos em Beleriand conheciam sua história e patrimônio. Na Segunda Era, nenhum realmente sabia a contagem. Era muito perigoso contar a qualquer um. Os Anéis parecem ter tido um efeito muito debilitante no julgamento das pessoas que sabiam sobre eles. Nem Galadriel ou Gil-Galad, que não tinham nada a ver com a forja dos Anéis, conseguiam achar forças para destruir os Três.

    Depois da guerra Gil-Galad convocou um Conselho em Imladris. Talvez ali ele finalmente revelou aos outros senhores Élficos o que realmente havia acontecido. Tolkien não nos conta quem compareceu, mas é possível que até mesmo os Númenoreanos foram excluídos do Conselho. Númenor ainda não estava realmente envolvida com a Terra-Média. Gil-Galad teria agradecido e recompensado os Númenoreanos profusamente, com certeza, mas ele não os contou sobre os Anéis de Poder. Seria presumido que Sauron teria achado os Nove e os Sete, uma vez que nenhum dos Elfos sobreviventes os possuíam. Não parece provável que os Elfos pudessem prever o que Sauron pretendia fazer com os Anéis. Por que eles permaneceriam calados se eles sabiam que os Homens e os Elfos poderiam estar sendo pressionados? E ainda, Gil-Galad e seus conselheiros devem ter percebido que Sauron poderia adquirir coisas terríveis com aparatos tão potentes. Então eles devem ter tomado uma postura do tipo “esperar para ver”.

    Mas a decisão dos Eldar de não contar a ninguém sobre o Anel dificultou os erros dos Gwaith-i-Mirdain. Pois agora Sauron era capaz de influenciar Anões e Homens com impunidade. Certamente, muitas pessoas perguntam como Sauron ainda podia se locomover sem ser rotulado como inimigo público número 1. Ele deve ter assumido uma nova aparência. Tolkien escreveu que sua forma real era de esplendor, humanóide, embora mais largo que um Homem. Ele parecia gigantesco. E ainda ele poderia ter tomado a forma de um Anão ou de um modesto Drúadan Ele poderia se aproximar virtualmente de qualquer um no disfarce perfeito, ganhar sua confiança, e, finalmente, dado um Anel a eles. Ou pior, ele pode ter incitado tentado as pessoas a procurar os tesouros perdidos dos Elfos. Ambos os Homens e Anões estavam querendo procurar tesouros. Eles provaram isso antes. Então os Dezesseis Anéis de Poder capturados podem ter sido bem engenhosamente deixados em lugares secretos, para um punhado escolhido de Homens e Anões acharem. E eles não te
    riam contado a ninguém sobre suas descobertas.

    O véu de sigilo, portanto, trabalhou para os fins de Sauron. Ele pode ter falhado ao tentar escravizar os senhores Anões que pegaram os Sete Anéis, mas ele ainda era capaz de corromper seus corações. Os Nove Homens que pegaram os Anéis de Poder se transformaram em espectros e se tornaram os servidores mais terríveis de Sauron. Os Homens que se espalharam pela Terra-Média não imaginariam o que eram esses espectros do Anel, mas os Númenoreanos teriam se lembrado que Sauron era um antigo mestre de fantasmas e feitiçaria. Os servidores do Escuro não necessariamente deviam ser chamados de espectros do Anel. Eles podem ser percebidos como espectros, demônios, ou alguma outra coisa.

    Ao passo que a Segunda Era avançara, os Númenoreanos se tornaram mais poderosos, mas então eles tornaram-se divididos. Então mesmo se Gil-Galad pudesse ter considerado revelar o segredo dos Anéis aos seus aliados, a crescente antipatia para com os Elfos entre os Reis e seus seguidores teria desencorajado tal política. Para que jogar lenha no fogo crescente? Os Númenoreanos podiam apenas tão facilmente ter culpado os Elfos por seus problemas como não.

    E, no entanto, os fiéis Númenoreanos ficaram ao lado dos Elfos. Eles até mesmo colonizaram terras próximas ao reino de Gil-Galad a fim de continuar a aproveitar a companhia dos Elfos. Quão freqüentemente poderia Gil-Galad e Elrond ter olhado nos olhos dos Homens que os acolheram com total confiança e amizade, e que nada sabiam sobre os Anéis? Séculos de tal amizade deve ter provado ser um grande fardo a eles.

    Finalmente, após Númenor ter sido
    destruída e todos esperarem que Sauron pudesse estar morto por algum tempo, ele reapareceu com um exército e atacou Gondor. E Isildur espalhou as notícias sobre o ataque a Arnor, e ali Elendil se consultou com Gil-Galad. Obviamente, Sauron não ia ser fácil de se matar, mas os Dúnedain conheciam sua história. Aparentemente, não havia registro de nenhum Maia retornando à vida na Primeira Era. A morte para eles também era uma experiência muito potente. Como Sauron poderia ter sobrevivido? Imaginem as faces culpadas que devem ter confrontado Elendil e Isildur se eles tivessem feito essas questões a Gil-Galad e seus conselheiros. “Ei, caras, vocês não estão nos contando tudo, estão?”.

    Então a Última Aliança dos Elfos e Homens teve que ser formada na base da absolvição.Isto é, Gil-Galad teria que contar a Elendil e Isildur o que estava acontecendo. E da parte deles, Elendil e Isildur tinham que perdoar Gil-Galad. Não apenas por si próprios, mas por incontáveis gerações de Homens que não podiam falar por si próprios. Em adição, eles tinham que se dar conta do que aconteceu com os Anéis de Poder perdidos. Os Nazgûl eram conhecidos por aproximadamente mil anos. Naquele tempo, os senhores Eldarin que sabiam sobre os Anéis de Poder devem ter imaginado se havia alguma conexão. De fato, quando os Nove Homens que se tornaram os espectros ainda estavam vivos, Tolkien conta que eles eram grandes reis e feiticeiros. Se eles foram famosos, será que os Elfos ouviram falar sobre seus estranhos poderes? Havia alguma curiosidade sobre eles?

    Deve ter sido difícil para Gil-Galad saber tanto sobre os Anéis de Poder. Se Galadriel e ele não conseguiam achar o conhecimento que eles precisavam através de algum tipo de visão (como ela fez com o espelho em Lórien na Terceira Era), eles teriam que falar aos seus espiões e batedores o que procurar, ou eles apenas teriam que esperar e juntar bocados e pedaços de informações ao longo dos séculos.

    Alguns leitores são da opinião que a rima do Anel em “O Senhor dos Anéis” deve ter sido composta logo após a Guerra dos Elfos e Sauron. Mas quem quer tenha composto a rima teria que saber quais eram os destinos dos Sete e dos Nove. Até então, não há como demonstrar que os Elfos sabiam algo sobre os Sete antes de estarem livres para falar com os Anões. Os Anões certamente não estavam andando por aí contando às pessoas que eles tinham Anéis mágicos. Então os Nove reis-bruxos que surgiram entre os Homens devem ter sido conspícuos somente em sua longevidade e sua aproximada expectativa contemporânea de vida. E ainda, se os Elfos estavam procurando por sinais dos Anéis de Poder, eles estavam procurando por Dezesseis, não Nove, ou Sete Anéis. O fato de Sauron ter pervertido os Anéis antes de distribuí-los iria, mais para frente, complicar as coisas para os Elfos. Gil-Galad pode não ter realmente entendido o que estava acontecendo até Durin IV ser convidado para a aliança.

    Não sabemos com certeza se Durin IV era o Rei dos Longbeards no final da Segunda Era, mas há uma pequena evidência apontando para o seu nome. E a questão dele entrando na aliança não é fornecida. Parece que Gil-Galad e Elendil formaram sua aliança e então marcharam para Imladris. Dali, eles parecem ter mandado mensageiros para a Grande Floresta Verde, Lórien, Khazad-dûm e talvez outras regiões. Eu diria que é mais provável que Gil-Galad teria um segundo “conselho branco” em Imladris. Seria momentâneo como o Conselho de Elrond 3000 anos depois, ou talvez até mais. Nesse Conselho devem ter comparecido reis em atendimento e muitos senhores e príncipes. E seria a primeira vez que os Elfos falariam abertamente sobre os Anéis de Poder para todos os seus aliados.

    Seria natural para os convidados querer saber por que eles deveriam se unir à aliança. Sauron vinha aterrorizando a Terra-Média por um longo período de tempo. Mas a sua morte em Númenor e reaparecimento 100 anos depois indicou que ele não estava apenas indo embora. E devido ao fato do problema dos Anéis ter se originado na Terra-Média, pode ser que quaisquer apelos a Valinor tenham chegado em ouvidos surdos. Os Elfos criaram o problema e precisavam resolve-lo. Mas eles não poderiam fazer isso sozinhos. E não serviria para nenhum propósito para os vários reis não-Eldarin proferir recriminação após recriminação. Principalmente uma vez que Celebrimbor e os forjadores dos Anéis estavam todos mortos. As pessoas verdadeiramente responsáveis pelo problema já haviam pagado com as suas vidas, e seu legado estava se tornando um fardo equivalente para todos.

    Mas se os Elfos podiam enfrentar e admitir o que eles haviam feito, talvez os Anões fossem convencidos a confessar que foram dados Anéis aos seus ancestrais. Pode ser que Gil-Galad foi capaz, junto com a ajuda de Durin, trazer todos os Sete senhores dos Anões a Imladris. E ao ouvir que os Elfos tinham traído todos não uma vez, mas duas, a maioria dos Anões deve ter escolhido se afastar. Eles manteriam seus Anéis, que obviamente não iam prolongar suas vidas, ou transforma-los em espectros. E eles deixariam o mundo decidir seus próprios assuntos. Isso parece uma atitude bem típica dos Anões. Somente os Longbeards desenvolveram alguma real afinidade com os Eldar, mas os Nogrodians tinham um antigo motivo de rancor para com os Eldar. Os Quatro grupos do leste devem ter sido a minoria, mas eles certamente tinham pouca, senão nenhuma, conexão com os Elfos e os Dúnedain.

    Então, deve ser que a rima dos Anéis foi criada nos anos iniciais da Última Aliança. Mais provavelmente foi composta em Imladris, logo após (senão durante) qualquer outro conselho que Gil-Galad realizara com os outros soberanos da Terra-Média. A natureza dos Nazgûl e a possessão dos Nove Anéis desaparecidos deveriam ser inferidas, mas era, a essa altura do tempo, certeza de quem estava com os Anéis. E o melhor segredo guardado da Terra-Média já não era mais de fato um segredo. No entanto, Gil-Galad não teria divulgado quem possuía os Três Anéis. Para mantê-los em segurança, ele deu seus dois Anéis a Elrond e Círdan. No entanto, a rima dos Anéis diz que os Três foram concedidos aos reis Élficos. O compositor da rima, portanto, não poderia ter sabido onde os Três estavam. Ele (ou ela) deve ter acreditado que Gil-Galad, Oropher e Amdir possuíam os Três. Convenientemente, todos os Três morreram em guerra, e ninguém reinvidicou os Três de seus corpos. Então os Elfos e seus aliados devem ter ficado em dúvida sobre quem tinha os Três logo após a morte de Gil-Galad. E essa dúvida seria refletida na rima do Anel se tivesse sido composta após a morte de Gil-Galad.

    E isso nos traz à Terceira Era. A Última Aliança foi vitoriosa, e os vencedores semp
    re escrevem as histórias das guerras. Sábios em Arnor, Gondor, Khazad-dûm e outras terras devem ter registrado muitas coisas sobre guerras. As bibliotecas de Arnor foram eventualmente perdidas ou destruídas. A sabedoria de Gondor declinou, e a maioria de seu povo esqueceu a maior parte de sua história. Khazad-dûm foi tomada por um balrog, e a maioria do povo de Durin se dispersou ou foi morta. No entanto, algumas pessoas preservaram a sabedoria de antigos eventos aqui e ali. Se a maioria dos homens de Arnor e Gondor em certa época entendeu sobre o que era a Guerra da Última Aliança, eles teriam passado a sabedoria para frente. Pois ainda havia Anéis de Poder ali, e eles eram coisas perigosas.

    No fim da Terceira Era, Gandalf tinha poucos recursos para consultar em questões da sabedoria dos Anéis, mas Saruman havia sido o especialista. Ele pode ter achado muitos arquivos que Gandalf não tinha acesso. E Elrond deve ter tido muitas conversas com Saruman sobre os Anéis e aqueles que os fizeram. Ele, sem sombra de dúvidas, conhecera Celebrimbor pessoalmente, e deve ter conhecido alguns outros ferreiros do Anel. Outros membros da casa de Elrond, ou talvez senhores Élficos próximos, assim como Gildor Inglorion, podem ter sido capazes de contar a Saruman sobre a estada de Sauron em Eregion. Algo que Tolkien não nos conta é se Saruman acumulou sua própria biblioteca em Orthanc, após ele ter se estabelecido lá, com cópias de livros e pergaminhos, preservando o conto do Anel.

    Deve ter sido útil estudar o conto dos Anéis, para ser capaz de imaginar quem poderiam ser os próximos “caras maus”. Saruman (e os Eldar) não poderiam saber se Sauron pegou os Anéis de volta dos Nazgûl. Não até Gandalf descobrir que Sauron estava reunindo todos os Anéis, em 2851. Mas os Reis Anões estavam desaparecendo. Estavam eles sendo consumidos por dragões, ou caindo nas mãos de aventureiros? O conhecimento de Saruman teria sido muito útil para os Eldar e Istari, uma vez que eles precisavam entender o que Sauron havia feito com os Anéis. E eles precisavam saber quem podia brandi-los também.

    No final, o conhecimento dos Anéis deve ter escasseado nos cantos mofados da elite. Os sábios da Terra-Média tinham a tendência de vir de famílias abastadas. E assuntos de contos antigos, que poderiam um dia afetar o bem estar das nações, seriam cuidadosamente acumulados e cultivados pelos senhores dessas nações. Denethor era mestre de muitos segredos, e ele parecia estar totalmente consciente do que o Anel era. O intercâmbio que Gandalf comunica no Conselho de Elrond dá a impressão que Denethor não sabia sobre o pergaminho de Isildur, mas eu não estou convencido. Gandalf não estava exatamente dividindo suas preocupações com Denethor, então por que Denethor deveria ter dividido o que ele sabia sobre os Anéis? Denethor não tinha nenhuma razão para dar informações voluntárias, informações que ele não sabia que Gandalf estava procurando.

    Faramir, certamente, era leal a Gandalf, e pôde muito bem ter estado com Gandalf quando o mago estava remexendo entre os antigos registros. Se Gandald confiou em Faramir para ser discreto, então o príncipe pode muito bem ter visto o pergaminho em que Gandalf estava mais interessado, e, portanto, ele pode tê-lo estudado. Então quando Faramir conheceu Frodo e Sam, ele foi capaz de conversar sabiamente sobre o Um Anel. Ele não necessariamente divulgou tudo o que sabia de prontidão, mas Faramir parece ter concordado muito rapidamente com o plano de Gandlaf. Por que isso? Ao menos que tenham contado a ele a história completa da guerra da Última Aliança, Faramir deveria ser bem leigo. Boromir revela que ele sabia sobre o Anel no Conselho de Elrond, mas se surpreende ao saber que Isildur o pegou. É dele a declaração que “se alguma vez tal conto foi contado no Sul, já foi esquecido há tempos”, o que nos leva a crer que ninguém em Gondor lembra do Um Anel.

    A resposta deve ser que Boromir somente prestou atenção aos fatos do caso. Isto é, ele estava, provavelmente, somente interessado nos detalhes do poder, e não nas motivações que levavam à criação, nem nos eventos que o cercavam. Boromir era um guerreiro de coração e não muito um sábio de fato. Então Boromir passa uma primeira impressão pobre no leitor até então, enquanto os sábios de Gondor estão preocupados. Faramir conta a Frodo e Sam que a ele e seu irmão foi contada a estória de sua cidade e condados, e que os Stewards preservaram muita sabedoria antiga que somente poucas pessoas acessaram.

    O fato da existência do Um Anel (e a existência de um grupo geral de “Anéis de Poder” mágicos) era assim, se não parte da sabedoria comum, então um fato ainda bem conhecido aos soberanos e as classes elitistas da Terra-Média de uma época. Até mesmo Glóin parece saber algo sobre os Anéis quando ele fala no Conselho de Elrond, embora ele saiba menos sobre os Anéis Élficos do que ele indica saber. Pode ser que Dáin tinha aberto a biblioteca de Erebor e havia dado informações a Glóin. Mas Glóin era primo de Dáin, um membro da família real. Parece pouco provável que ele seria completamente excluído dos registros de família. Ele provavelmente sabia tanto sobre a história geral dos Anéis de Poder quanto os mais sábios nobres de seus dias.

    O conhecimento dos Anéis de Poder não estaria disponível entre as pessoas mais novas e nações. Os Homens do Norte eram antigos, mas suas culturas haviam evoluído e divergido através dos longos anos da Terceira Era. Os Rohirrim não mantiveram registros escritos, e eles não estavam interessados em questões antigas, exceto quando seus ancestrais figuravam como heróis de canções. Os Homens de Dale e os Woodmen de Mirkwood, mesmo se mantivessem alguns registros, não tinham de fato uma história antiga para sustentar um total relato sobre os Anéis de Poder. Arnor e seus reinos sucessores, Arthedain, Rhudaur e Cardolan, havían caído. Todos os que permaneceram foram os habitantes de Bri, os Hobbits do Condado e o povo de Aragorn. E os Hobbits não estavam muito preocupados com a história em absoluto, quanto mais com história antiga!

    E assim que os séculos passaram, os Anéis se tornaram menos e menos importantes para os povos da Terra-Média. Sauron os queria, e o Conselho Branco sabia que eles ainda causariam uma ameaça para os Povos Livres. Mas não havia novas buscas para encontra-los, pois as pessoas que sabiam dos Anéis sabiam que eles eram perigosos. Ou ao menos elas deviam saber que grandes e terríveis guerras foram travadas devido aos Anéis no passado. A história completa provavelmente era conhecida somente por Elrond, Galadriel e Círdan, e mais provavelmente, por Saruman e Gandalf. Talvez alguns outros membros do Conselho Branco conheceram o relato completo também.
    Para todos os outros, havia pedacinhos do conto passados de geração em geração.

    Então, quando o primeiro ataque de Mordor foi derrotado e Aragorn e Gandalf se encontraram com Éomer e os senhores de Gondor e Rohan, eles foram capazes de falar abertamente sobre o Um Anel. Gandalf parece até mesmo ter confidenciado a Theóden um pouco sobre a jornada do portador do Anel, quando ele trouxe o rei envelhecido ao seu lado e falou com ele. Já era suficiente mencionar o Um Anel. Os Senhores sabiam sobre o que Gandalf estava falando. Eles entenderam que um grande e poderoso talismã estava sendo arriscado. Eles entenderam, essencialmente, que a guerra toda estava realmente sendo travada devido ao Anel.

    Poderia-se dizer que gerações de nobres devem ter passado para frente o conhecimento mais básico sobre os Anéis de Poder de uma forma quase religiosamente dedicada. Quando todos os outros contos de dias antigos estavam perdidos ou esquecidos em meio a pergaminhos ilegíveis, os Homens se lembrariam de contar a seus filhos que, em uma certa época, havia um Senhor do Escuro que tinha um Anel terrível. E esse Anel era diferente de todas as outras coisas mágicas na Terra-Média. O conhecimento persistiu onde era mais preciso, então quando o dia chegou, serviu para aumentar a resolução dos Homens que tinham que enfrentar o Senhor do Escuro e rir na sua cara enquanto alguns Hobbits saíam correndo ao lado do Orodruin. Ninguém realmente precisava entender a história dos Anéis para lembrar que eles existiam. As pessoas estavam conscientes de que eles existiam, de uma forma geral e vaga. Mas os longos anos e as devastações arruinaram os Homens, Elfos e Anões que serviram para guardar o segredo contra a antiga vergonha dos Eldar.

    Tradução de Helena ´Aredhel´ Felts

  • Uma História da Última Aliança de Elfos e Homens, Parte 2

    A guerra real começou com o ataque à Minas Ithil, em 3429 S.E. [32]. Quando a cidade foi perdida, Isildur e sua família escaparam para Osgiliath [33]. De lá eles navegaram, deixando Anárion para defender o reino. Pode ser que nessa hora Isildur tenha parado em Edhellond, e passado para o norte em direção a Erech pra convocar o Rei das Montanhas para cumprir o juramento feito por seus predecessores; ou, pode ser que nesse momento Isildur tenha tomado o juramento do Rei, para ser cumprido posteriormente, quando o Oeste estivesse pronto para marchar contra Sauron [34].

    Em todo caso, Anárion aparentemente não foi incomodado pelos homens das Ered Nimrais, embora ele possa ter prudentemente montado uma vigília contra uma traição do oeste. De qualquer forma, a presença do porto élfico em Edhellond pode ter sido um conforto para os Dúnedain. Além disso, visto que Sauron havia reunido seus aliados em Mordor, os exércitos de Herumor e Fuinur não atacaram vindos do sul. Eles devem ter passado para o norte e para Mordor através do Passo de Nargil [35], se não eles marcharam para o norte ao longo das Ephel Dúath para ajudar no ataque a Osgiliath.
    Elendil e Gil-galad convocaram um conselho em 3430 S.E., onde a Aliança foi oficialmente criada [36]. O conselho deve ter sido uma grande reunião de senhores de Arnor, Gondor, Lindon, e outras terras. Além de Gil-galad e Elendil, podemos supor que Isildur e Círdan estavam presentes, e talvez também Elrond, Celeborn, Galadriel, Gildor Inglorion, e Glorfindel [37]. Os filhos de Isildur, Elendur, Aratan, e Ciryon podem ter estado presentes também; pelo menos Elendur provavelmente estava lá.

    Podem ter havido também emissários dos Vales do Anduin (se não dos próprios Durin IV, Oropher, e Amdír). Possíveis emissários dos Elfos incluiriam Thranduil e Amroth. Entretanto, é possível que a Aliança originalmente incluísse apenas Lindon, Arnor, Gondor, e Imladris.

    A Aliança só poderia ter um único propósito militar: marchar sobre Mordor e alcançar uma vitória completa e total contra Sauron. Eles sabiam que podiam derrotá-lo no campo de batalha, conforme isto fora realizado em mais de uma ocasião em guerras passadas. O verdadeiro problema deve ter sido sobre o que eles fariam uma vez rompidas as defesas de Sauron. Até quando ele poderia resistir à Aliança, e o que ele seria capaz de tramar contra seus inimigos enquanto sitiado em Barad-dûr? As forças de Sauron eram consideráveis, pois ele comandava não somente os Orcs e Trolls, mas também muitos homens, e seus principais servidores eram os Nazgûl.

    Gil-galad e Círdan marcharam para o leste saindo de Lindon em 3431 [38]. Elendil já havia reunido seu exército em Amon Sûl e ele esperou lá pela hoste élfica [39]. Mas eles pararam em Imladris por três anos, aparentemente para treinar e equipar seus exércitos, e talvez também para persuadir Oropher, Amdír, e Durin a unirem-se à Aliança, se eles ainda não o tinham feito [40]. Naquela época, Sauron deve ter estabelecido um exército nas terras entre a Floresta Verde e Mordor [41]. Tal expansão certamente teria sido persuasiva para com Oropher. pode ser que nessa época Elendil tenha mandado um exército a Gondor para fortalecer Anárion [42].

    Havia duas linhas de marcha prováveis para os exércitos da Aliança quando eles finalmente começaram a se mover em 3434. Pode ser que Oropher e Amdír tenham avançado pela costa oriental do Anduin, enquanto Gil-galad, Elendil, e Durin passavam a oeste de Lorinand em direção ao Parth Celebrant. Ou talvez Gil-galad e Elendil tenham atravessado o rio pela Men-I-Naugrim, usando o vau onde houve uma vez uma antiga ponte. Oropher pode ter precedido ou seguido eles em sua estrada para o sul, e Amdír e Durin teriam atravessado o Anduin com barcos (assim como Celeborn milhares de anos mais tarde quando ele atacou Dol Guldur).

    Sauron provavelmente encontrou as forças da Aliança em algum lugar próximo aos Meandros mas, vendo que era superado em número, ele recuou, destruindo o antigo domínio Entesco ao norte das Emyn Muil (posteriormente conhecido como “As Terras Castanhas”) em uma tentativa de retardar o avanço da Aliança [43]. A retirada para Mordor deve ter sido rápida, ainda sim a Aliança foi capaz de surpreender o exército de Sauron em Dagorlad. É possível que a força de cavalaria de Lindon [44] tenha forçado o exército de Sauron a parar e se reorganizar no norte de Udûn, e que as duas forças se prepararam para a batalha ao curso de um ou mais dias que se seguiram.

    Ainda que não tenhamos registro da Batalha de Dagorlad em si, podemos deduzir algumas prováveis formações. Gil-galad, sendo o líder da Aliança (ou, o mais provável, o mais velho dos quatro “iguais”), provavelmente comandava o centro. Visto que Elrond era o arauto de Gil-galad nesta campanha, é possível que os flancos de Gil-galad fossem comandados por Celeborn e Círdan (Glorfindel ou Gildor Inglorion podem ter comandado um flanco “Noldorin”).

    Sabemos que no curso da batalha, o exército de Amdír foi isolado da hoste principal e feito em pedaços nos pântanos [45]. Entretanto, podemos supor que Oropher tomou a face direita do campo, com Amdír guardando o outro flanco. Deste modo, os Elfos Silvestres de “idéias próprias” estariam em uma posição para apoiar Gil-galad sem serem cercados pelas próprias forças dele. Elendil e Durin podem ter, então, permanecido na face esquerda (leste) do campo.

    O que não podemos supor é se Anárion, com o exército de Gondor, estava presente na Batalha de Dagorlad. Teria Sauron dividido suas forças durante os anos anteriores para manter Anárion ocupado? Os únicos aliados possíveis que Anárion poderia ter convocado seriam os Elfos de Edhellond, dito serem na maioria de origem Nandorin ou Sindarin [46]. Eles não teriam constituído de modo algum uma grande força, e podem ter sido apenas um contingente do exército de Anárion.

    As forças de Sauron teriam sido retiradas dos Orcs e Trolls, provavelmente vivendo em sua maioria em Mordor naquela época; os Orientais, talvez muito primitivos; os Haradrim, governados por Númenorianos Negros e incluindo um grande número dos mesmos; e quaisquer Homens que possam ter vivido em Mordor (se algum). Conta-se que uns poucos Anões também lutaram por ele, embora nada seja mencionado de suas moradas ou casas [47].

    Se Anárion foi impedido de se unir imediatamente a Gil-galad por um exército no sul, Sauron pode ter tido somente alguns Haradrim na Batalha de Dagorlad. Assim, ele teria apenas dois exércitos: os Orientais e suas próprias forças de Mordor e Harad. O flanco esquerdo de Sauron pode ter sido a parte mais forte de seu exército, uma vez que ele foi capaz de impelir os Elfos Silvestres de Amdír, empurrando-os para os pântanos [48]. É possível que os Orientais não tenham ficado à direita de Sauron, mas talvez tenham ido contra o flanco oriental da hoste da Aliança (onde podem ter permanecido os exércitos de Arnor e Khazad-dûm). Esta estratégia teria ao menos dado uma oportunidade ao flanco esquerdo de esmagar os Elfos Silvestres enquanto o exército principal mantinha a atenção de Gil-galad no centro.

    Gil-galad pode ter usado uma estratégia cautelosa, contendo-se de atacar a fileira de Sauron. Talvez Sauron tenha repelido Amdír com um ataque e talvez tenha ele mesmo lançado o ataque. A vantagem em lançar o ataque estaria na chance de Sauron de dividir a hoste élfica e destruir os Elfos Silvestres. Uma vez que Amdír e mais da metade de seu exército foram mortos, as forças de Sauron nesta área foram bastante efetivas. Mas visto que Sauron, por fim, abandonou o campo [49], seu flanco direito deve ter desmoronado sob o ataque dos outros exércitos da Aliança. É possível que a força inteira que combateu Amdír nos pântanos tenha sido abandonada por Sauron na retirada.

    Embora não saibamos se partes do exército de Sauron sobreviveram à Batalha de Dagorlad, podemos estar certos de que suas forças foram muito diminuídas. Ele ainda aparentemente foi capaz de manter mais uma resistência fora de Barad-dûr, pois Oropher liderou um ataque prematuro a Mordor [50]. Os Elfos Silvestres podem ter se enfurecido com o massacre que ocorrera nos pântanos, e talvez Oropher tenha pensado que as forças de Sauron eram mais fracas do que realmente eram.

    Mas embora os Elfos Silvestres tenham novamente sofrido graves perdas [51], Gil-galad e a Aliança penetraram em Mordor, empurrando Sauron de Udûn por todo o caminho de volta a Barad-dûr, onde eles começaram o cerco de sete anos. Nessa hora Anárion deve ter levado o exército de Gondor para Mordor, talvez passando através das Ephel Dúath para assegurar que Sauron não pudesse escapar para o sul.

    A defesa de Sauron de Barad-dûr não foi passiva. Ele enviou muitos ataques [52]. A própria fortaleza usava armas de projéteis para infligir grandes perdas aos exércitos da Aliança, incluindo a tomada da vida de Anárion em 3440 [53].

    A breve descrição de Elrond da última luta entre Sauron e seus adversários indica que Gil-galad fixara uma posição em Orodruin. Esta parece ser uma distância bem grande de Barad-dûr, mas pode ser que, durante os anos do cerco, Gil-galad tivesse que lidar com forças fora de Barad-dûr, nas terras ao leste e ao sul. Sendo assim, então Orodruin teria se tornado um excelente posto de comando, mas isto também significaria que os exércitos da Aliança (enfraquecidos pelas batalhas no norte) deviam estar pouco espalhados.

    Desse modo, parece que, ou Sauron foi capaz de pegar Gil-galad de surpresa, ou ele liderou uma última e massiva investida contra Orodruin. Logo que Sauron alcançou as encostas da montanha de fogo, apenas Elendil permaneceu próximo o suficiente para ajudar diretamente o rei élfico, embora Elrond, Círdan, e Isildur estivessem mais próximos do que outros. Como Sauron conseguiu chegar tão perto de Gil-galad? Teria talvez o rei élfico oferecido a Sauron um desafio para um combate único (assim como seu avô Fingolfin desafiou Morgoth)? Sauron esperava matar Gil-galad e assim desencorajar seus inimigos?

    No evento, Gil-galad caiu ante o ataque de Sauron e foi Elendil quem desferiu o golpe “mortal” que derrubou o Senhor do Escuro. Sauron, apesar disso, devia ter guardado força suficiente e presença de espírito para se projetar sobre Elendil, uma vez que fora o calor de seu corpo que matou o rei Dúnadan. Isildur então subiu a encosta para cortar o Anel da mão de Sauron, mas ele fez isso sabendo que o espírito de Sauron escaparia ou ele foi atraído imediatamente pelo poder do Anel?

    O combate final deve ter resultado em uma perda de força de vontade quase completa entre os Orcs e Trolls sobreviventes [54]. Se quaisquer Orientais ou Haradrim continuaram a existir fora de Barad-dûr, eles ou fugiram ou lutaram até serem destruídos, como aconteceu com as forças de Sauron no final da Terceira Era [55]. Mas a própria Barad-dûr teve que ser demolida, e fortalezas foram construídas nas Ephel Dúath e em Udûn para manter uma vigilância sobre [56].

    A maioria dos líderes originais da Aliança nunca viu o final que eles se esforçaram tanto para atingir: Gil-galad, Elendil, Oropher, Amdír, e Anárion: todos pereceram. As forças élficas sofreram perdas terríveis, como aparentemente também sofreu o exército de Arnor. Nada é dito do que aconteceu com o exército e o rei de Khazad-dûm.

    Um dos prováveis benefícios da guerra para os Povos Livres foi a diminuição de Númenorianos Negros que, embora não destruídos, foram incapazes de estabelecer um grande reino como Gondor ou Arnor (a menos que este fosse Umbar, que eventualmente foi conquistado). Mas um dos grandes custos da guerra teria sido a virtual ruína da antiga civilização Beleriândica em Lindon. O povo de Círdan incorporou o restante do povo de Gil-galad em Mithlond e alguns podem ter se assentado em ou próximo a Imladris, mas a maioria dos sobreviventes abandonou a Terra-média [57].

    Arnor emergiu da luta enormemente enfraquecido. Gondor, entretanto, cresceu em poder daquela época em diante, e por mais de 1600 anos manteve uma vigília sobre Mordor contra o eventual retorno de Sauron. A Aliança falhou em atingir uma vitória permanente sobre Sauron, em grande parte porque no final Isildur falhou em destruir o Um Anel quando teve a chance. E ainda assim, tivesse ele seguido o conselho de Círdan e Elrond, o que seria dos Elfos na Terra-média? A tolice de Isildur foi o triunfo da Aliança, pois os Eldar foram assim capazes de usar seus três Anéis de Poder remanescentes por mais de 3000 anos para melhorar seu mundo.

    Tolkien escreveu que a Terceira Era era “os últimos anos dos Eldar. Viveram em paz por um longo tempo, controlando os Três Anéis, enquanto Sauron dormia e o Um Anel estava perdido; mas não tentaram nada de novo, vivendo de recordações do passado”. (O Retorno do Rei, p. 1148). Eles talvez não estabeleceram novos reinos, mas as canções élficas relatando as trágicas histórias de Nimrodel e a busca dos Ents pelas Entesposas mostram que os Elfos continuaram a prosperar e interagir com outros povos ao redor deles, muito após a guerra ter terminado.

    Fim da parte 2.

  • Questões Sobre os Beornings

    Beorn – John Howe

    Um dos mais fascinantes personagens de “O Hobbit” é Beorn, o raivoso madeireiro que vive sozinho exceto pela companhia de seus animais encantados. Beorn era um homem, embora com um toque de mágico de acordo com Tolkien, porque ele podia mudar sua pele [tornando-se um enorme urso]. As origens de Beorn estão ocultas em mistério. Gandalf diz a Thorin e Companhia mais de uma explicação sobre a origem de Beorn, e não é claro sobre qual delas é a verdadeira.

     

     Quando Gandalf e a Companhia de Thorin foram levados com segurança até a Carrocha pelas Grandes Águias das Montanhas Nebulosas, o mago conta a seus companheiros que existiam poucos povos vivendo na região. Existiam vilas de homens mais afastadas ao sul [provavelmente além da Antiga Estrada da Floresta], nos vales das montanhas e ao longo das margens dos rios. Este povo, que era chamado de “Homens da Floresta” em “O Hobbit” estava gradualmente retornando do norte. Eles eram parentes dos Homens da Floresta de Mirkwood de acordo com Tolkien no apêndice de “O Senhor dos Anéis”, mas dentre muitos povos pergunta-se se este era o povo que Beorn um dia veio a governar.

    Pode-se apenas supor, realmente, de onde os Beornings vieram ou como eles eram. Eram todos homens, embora talvez uns poucos fossem troca-peles como Beorn. Tolkien não revela se Beorn nasceu com a habilidade de falar com animais e trocar sua pele, mas ele diz que muitos dos descendentes de Beorn possuíram a habilidade de trocar de peles. Então, em algum momento, a troca de peles tornou-se hereditária ou o segredo foi passado de geração a geração.

    “O Hobbit” menciona que os dragões caçaram a maioria dos homens expulsando-os das terras no norte, e isto implica que os grandes ursos das montanhas do norte desapareceram quando os gigantes apareceram algum tempo antes da história acontecer. Beorn é associado com ambos ursos e homens do norte. Se os troca-peles não se originaram com Beorn então eles devem ter vivido nas montanhas, e Gandalf que uma vez ele ouviu por acaso Beorn expressando a esperança que ele tinha de um dia retornar para as montanhas.

    Bilbo encontrou realmente poucos Homens em “O Hobbit”. Sua primeira conexão com homens depois de ter cruzado as Montanhas Nebulosas foi o ataque pretendido pelo Goblins e Wargs. Gandalf ouviu por acaso os Wargs discutindo um possível ataque às vilas do sul da fortaleza Goblin do Passo Alto. A próxima conexão de Bilbo com homens foi Beorn, que protegeu e auxiliou Thorin e Companhia e sua expedição. Embora Gandalf tenha dito que poucas pessoas viviam perto da Carrocha, ele parece indicar que Beorn não era o único habitante local, e quando Bilbo e Gandalf retornaram com Beorn no próximo ano, ele convidou muitos homens a comemorar em sua casa. Então o povo de Beorn já existia ao tempo da história, apesar de poder ter sido reforçado pelos homens da floresta que estavam migrando para o norte.

    Não foi antes de Bilbo e dos Anões terem alcançado a Cidade do Lago sobre Esgaroth, o Lago Extenso, que eles encontraram mais homens. Estes homens, aparentados com os antigos homens de Valle [agora há muito destruída por Smaug], eram corajosos e fortes. Estes continuavam a viver relativamente próximos à desolação do dragão e ao leste de Mirkwood. Os homens da Cidade do Lago viviam em termos amigáveis com os Elfos do norte de Mirkwood [o povo de Thranduil e Legolas] e mantinham comércio com os homens que viviam mais ao sul no Rio. De fato, o comércio se estendia tão longe quando a terra longínqua de Dorwinion, localizada nas margens noroestes do Mar de Rhun.

    Embora nunca tenhamos ouvido mais sobre os homens vivendo ao sul da Cidade do Lago, quando Bard restabeleceu o reino de Valle, recrutou homens tanto do oeste quanto do sul. Mas Mirkwood ficava a oeste de Valle e da Montanha Solitária, e além de Mirkwood estavam os Beornings, que parecem ser muito poucos em número para ajudar a popular a cidade. Talvez Bard tenha recrutado homens dos Vales do Anduin, ou então existiam homens da floresta vivendo ao norte da caverna de Thranduil na calha leste da Floresta?

    Quando Tolkien escreveu “O Senhor dos Anéis”, encorpou a história destes homens do norte das Terras Ermas. Os Rohirrim tornaram-se uma facção sulista dos homens do norte, que eram todos associados com a Casa de Hador, a Terceira Casa dos Edain em Beleriand, por Faramir quando ele deu a Frodo e Sam uma breve lição de história sobre Gondor. Muito mais material do que o publicado no livro tinha sido preparado por J.R.R. Tolkien, que teve que cortar uma grande parte dos Apêndices para economizar espaço. Chistopher Tolkien publicou parte do material “perdido” no Unfinished Tales, junto a alguns ensaios tardios e histórias escritos por seu pai. O restante do material “perdido” foi finalmente publicado no “The Peoples of Middle-earth”, volume XII do “The History of Middle-earth”. É possível então investigar a história dos povos do norte durante todo o tempo até a Primeira Era.

    Quando Tolkien escreveu “O Senhor dos Anéis”, encorpou a história destes homens do norte das Terras Ermas. Os Rohirrim tornaram-se uma facção sulista dos homens do norte, que eram todos associados com a Casa de Hador, a Terceira Casa dos Edain em Beleriand, por Faramir quando ele deu a Frodo e Sam uma breve lição de história sobre Gondor. Muito mais material do que o publicado no livro tinha sido preparado por J.R.R. Tolkien, que teve que cortar uma grande parte dos Apêndices para economizar espaço. Chistopher Tolkien publicou parte do material “perdido” no Unfinished Tales, junto a alguns ensaios tardios e histórias escritos por seu pai. O restante do material “perdido” foi finalmente publicado no “The Peoples of Middle-earth”, volume XII do “The History of Middle-earth”. É possível então investigar a história dos povos do norte durante todo o tempo até a Primeira Era.

    Os homens do norte, freqüentemente chamados de Homens dos Vales do Anduin, aparentemente dividiam-se em dois grupos. Vamos chamá-los de grupo leste e grupo oeste. Originalmente, os da Casa de Beor [a Primeira Casa dos Edain] e os Marachs [a Terceira Casa] migraram para leste ao longo do mar interior. Os Marchs eram o grupo mais ao norte e eles aparentemente se fixaram nas terras entre os rios Carnen e Celduin. Após restabelecer contato com os da Casa de Beor, alguns dos Marachs continuaram a migrar para o oeste. A maioria dos Beorians os seguiu.

    Em Eriador os Beorians alcançaram os Marchs e fixaram-se por todas as amplas terras. A maioria dos Marachs continuou a jornada para o oeste, acompanhados por uma pequena parte dos Beorians. Sob seus líderes Beor e Marach, apenas uma pequena porção de ambos os povos realmente entrou em Beleriand. O resto permaneceu no leste em Eriador e por todas as Terras Selvagens.

    Os Edain das Terras Selvagens eventualmente formaram uma aliança com os Anões Barbalonga, o povo de Dúrin. Esta aliança, formada no início da Segunda Era para auxiliar a expulsar os Orcs e outras criaturas que fugiram da destruição de Angband para as terras do leste, prosperou por mais de mil anos até a Guerra dos Elfos e Sauron. Naquela guerra os povos Edaínicos foram quase destruídos, e apenas pequenos enclaves sobreviveram nas Terras Selvagens, tanto em Greenwood a Grande [mais tarde chamada Mirkwood] quanto nas montanhas.

    Estes homens que fugiram para as montanhas parecem ser os ancestrais dos Beornings e dos homens do norte que foram para o leste. O grupo leste fixou-se perto da área norte de Greenwood, e no começo da Terceira Era começaram a migrar para o sul ao longo da borda da floresta. Foi destes homens que os povos de Valle, Cidade do Lago e o reinado de Rhovanion descenderam. Em “O Hobbit” parece que os recrutas oeste de Bard podem ter vindo de uma comunidade de homens da floresta vivendo ao norte do reino de Thranduil. Não existe indicação que aqueles homens tinham parado de viver no nordeste da floresta.

    Os Beornings e Homens da Floresta, contudo, não são necessariamente um povo “puro”. No “The Disaster of the Gladden Fields” [publicado no Unfinished Tales], o sobrevivente solitário da companhia de Isildur foi auxiliado por homens da floresta vivendo nas bordas oeste de Greenwood, perto de Amon Lanc [mais tarde Dol Guldur]. Estes homens da floresta parecem ser alguns daqueles povos Edaínicos que fugiram para a Floresta durante a Guerra entre os Elfos e Sauron.

    Em “Cirion and Eorl” [também publicado no Unfinished Tales], Tolkien relata a parte mais tardia da história do Reino de Rhovanion. Este reino, situado ao leste do sul de Mirkwood, foi destruído pelos Carroceiros em 1860 da Terceira Era. O exército de Rhovanion foi destruído, mas alguns de sua cavalaria escaparam e fugiram para os Vales do Anduin. Mais tarde, muitos foras-da-lei vindo através da Floresta se juntaram a eles. Estes eram os ancentrais dos Eotheod. Embora seja possível que os foras-da-lei incluíssem muitas mulheres e crianças, parece altamente provável que os homens da cavalaria tiveram que casar com mulheres das vilas locais – eles misturaram-se com os homens da floresta que viviam em Mirkwood ou ao longo do rio.

    Cerca de 100 anos mais tarde, logo após o reino nortista de Angmar ter sido destruído, os Eotheod migraram para o norte, para os vales onde os rios formadores do Anduin corriam. Lá eles se fixaram por várias centenas de anos. Eles assim o fizeram, Tolkien nos conta no Apêndice dO Senhor dos Anéis, porque os homens estavam aumentando nos Vales do Anduin. Nem todos eram Homens do Norte. Alguns eram leais a Sauron, Orientais, aparentados aos Carroceiros. Os outros homens poder ter sido dos homens da floresta e possivelmente os ancestrais dos Beornings.

    Quando Eorl o Jovem conduziu os Eotheod para o sul cinco séculos mais tarde, alguns de seu povo permaneceram no norte. Estes cavaleiros escolheram – seja qual for a razão – não seguir Eorl? Possivelmente, mas se isso realmente ocorreu eles não deram origem a uma grande nação de guerreiros montados. Ao contrário, desapareceram na história e foram esquecidos. O que aconteceu com eles?

    Beorn como Urso na Batalha dos Cinco Exércitos

    Retornando aO Hobbit, devemos recordar que Gandalf mencionou os dragões como tendo expulso homens do norte. Como Smaug e Valle, os dragões podem facilmente ter destruído muitas cidades e vilas. O primeiro dragão conhecido no norte foi Scatha, mas este dragão foi morto por Fram, filho de Frumgar, o líder que conduziu os Eotheod para o norte por volta do ano 1977. De acordo com o Conto dos Anos em O Senhor dos Anéis, os dragões não começaram a se multiplicar novamente até cerca do ano 2570. A entrada declara especificamente que os dragões começar a afligir os Anões. Eorl tinha conduzido seu povo para o sul cerca de 60 anos antes, então poderia não restar muitos homens no norte distante. Mesmo que existissem alguns, estes deveriam ter sido expulsos para o sul pelos dragões.

    Nós também devemos considerar que uma das principais razões pelas Gondor pediu ajuda a Eorl e os Eotheod em 2509/10 era que os Vales sul do Anduin estavam se tornando perigosos para Gondor e seus aliados. Os Balchoth, ou povo Oriental aparentado aos Carroceiros, estavam então vivendo ao longo da borda sul da Floresta. Eles podem, portanto, ter destruído ou expulso muitos dos Homens do Norte restantes, então talvez apenas os Homens da Floresta restaram.

    Com os dragões vindo do norte e os Balchoth mantendo o sul, os Homens do Norte dos Vales do Anduin foram fortemente pressionados a encontrarem um local seguro para viver. Eles devem ter entrado em um longo período de declínio a este tempo, e não foi antes do trigésimo século que eles começaram a recuperar suas terras perdidas. Os Orcs começaram a colonizar as Montanhas Nebulosas no final do século 25, e eles foram uma ameaça significativa até a Guerra dos Anões e Orcs [2793-99].

    Em algum momento de todos esses anos e guerras, os Beornings devem ter se ramificado dos outros Homens do Norte. É concebível que eles fossem descendentes tanto dos Eotheod remanescentes quanto dos Homens das Florestas que foram para o norte antes que os dragões começassem a inquietar a região. Os cavalos e pôneis de Beorn não são apenas extraordinários [assumindo que o conto de Bilbo foi apenas levemente enfeitado com o objetivo de contá-lo], ele possuía um grande amor por eles – o qual lembrava a devoção dos Rohorrim a seus cavalos. É portanto concebível que os Beornings tenham mantido a tradição da montaria à cavalo.

    Da mesma forma que os Rohirrim viviam nas Ered Nimrais e pastoreavam seus rebanhos e manadas nos amplos campos gramados de Calenardhon, então, também os Beornings podem ter morado nas montanhas e pastoreado seus cavalos nas terras baixas. Então segue-se que se Beorn desejava retornar para as montanhas, ele deve ter sido expulso de lá pelos Orcs, e seu povo em geral pode ter sido destruído ou expulso pelos Orcs. Um guerra anterior com os Orcs poderia explicar o pouco número dos Beornings quando Bilbo e Gandalf os visitaram, mas as enormes perdas sofridas pelos Orcs das Montanhas Nebulosas na Batalha dos Cinco Exércitos poderia ter dado os homens do Vale do Anduin uma tão necessária trégua.

    Beorn poderia, portanto, ter recrutado novos seguidores dentre os Homens da Floresta que estavam migrando para o norte para ampliar os números de seu povo, e uma vez que Gloin contou a Frodo que os Beornings mantiveram a Passagem Alta aberta ao tempo da Guerra do Anel, os Beornings parecem ter se tornado fortes o suficiente para terem retornado às montanhas.

    A cultura dos Beornings pode então lembrar aquela dos Rohirrim, mas em alguns modos deveria ser similar àquela dos Homens da Floresta. Quanto aos Homens da Floresta, contudo, não temos evidências diretas sobre seus modos de vida e costumes. Porém Tolkien descreveu um outro grupo de Homens da Floresta, na Primeira Era: o Povo de Haleth, que vivia de modo similar ao dos Beornings. Como Beorn, o Povo de Haleth freqüentemente vivia sozinho, ou apenas com poucas pessoas juntas. Eles construíam grandes cercas ao redor de suas casas, e a maioria vivia dentro da floresta, na floresta de Brethil.

    Tais similaridades podem ser apenas superficiais, Tolkien pode não ter previsto nenhum paralelo próximo entre as culturas do Povo de Haleth e o povo de Beorn; mas por outro lado, ele parece ter enfatizado o relacionamento entre os Rohirrim e os outros Homens dos Vales do Anduin. Fazendo isso, ele poderia estar sugerindo que as culturas de Rohan e dos Beornings não eram muito distanciadas.

    [Tradução de Fábio ‘Deriel’ Bettega]

  • Está tudo em famí­lia: Os Finwënianos

    O papel central da mitologia de Tolkien está designado à família de Finwë, o primeiro rei dos Noldor. Ao contrário dos Minyar (Primeiros), todos aqueles que migraram para Valinor e se tornaram conhecidos como os Vanyar, os Tatyar (segundos) e Nelyar (Terceiros), se dividiram em dois grupos. Aqueles Tatyar que se comprometeram a realizar a Grande Jornada se tornaram os Teleri, e Elwë e Olwë eram seus líderes. Portanto, Finwë, Elwë e Olwë eram somente reis dos membros de seus clãs que os seguiram na Grande Jornada. Os Elfos remanescentes, conhecidos coletivamente como os Avari, eram chefiados por outros (inominados) capitães.

    O significado dessa distinção é que o isolamento de Finwë dos Tatyarin Avari fortalece a visão emergente de Tolkien que Finwë deveria ser um Elfo da primeira geração. Apesar de Tolkien nunca ter afirmado isso, deveria ser respeitável por parte da primazia de Fimwë, se todos os Tatyar aceitaram sua decisão de ir a Aman. Uma vez que Ingwë, Finwë e Elwë tiveram que persuadir seu povo para realizar a jornada, nós sabemos que eles não tinham o poder autocrático dos reis Eldarin, enquanto todos os Elfos viviam em Cuiviénen. A estrutura social da primitiva cultura élfica deve, portanto, ter sido substancialmente diferente daquela dos reinados Eldarin em eras posteriores. Fëanor também tentou persuadir os Noldor a segui-lo, mas ele estava fazendo um apelo emocional durante um tempo de crise, enquanto ele ainda estava sob a banição dos Valar. Sua legitimidade como rei era questionável, uma vez que Fingolfin ainda estava agindo tecnicamente como rei em Tirion. Na Terra-Média, Turgon não parece ter tido que persuadir seu povo para segui-lo quando ele se deslocou de Nevrast para Gondolin. Ele simplesmente fez essa decisão e todo o reino se mudou.

    É desta maneira evidente que havia ali um processo de evolução na autoridade dos líderes Eldarin. É certamente discutível que uma sociedade menos sofisticada pode não ter providenciado aos Elfos mais velhos o poder dos monarcas. Mas se é esse o caso, então a suposição de que Finwë deve ter se identificado com Tata, o mais velho dos Tatyar, é mais adiante enfraquecida. Tal identificação não necessita ser limitada com a identificação de caráter com caráter. Não é aparente que Finwë deve ser um descendente de Tata e Tatië. Ele poderia ter vindo de qualquer família e ascendido à proeminência através de sua coragem e sabedoria.

    No entanto, os Noldor, mais que qualquer outro povo élfico cuja cultura Tolkien escrevera, mantiveram um sistema muito patriarcal. Os reis Noldorin alcançaram uma autoridade quase absoluta sobre seu povo, bem como a autoridade que Melkor exercera sobre seus próprios assuntos. De um modo, os Noldor se tornaram uma paródia daquilo que eles mais desprezavam: o reino de Morgoth. Sua estrutura social deve ter sido compelida para tal autocracia por antigos costumes mais do que por experimentação. De fato, é sensato inferir a partir dos nomes de vários grupos Avarin que os Tatyar eram mais propensos a divisões que os Nelyar. Se for assim, então a habilidade de Finwë em reter a total lealdade de seu povo em Aman foi extraordinária. Fëanor era bem menos popular que seu pai.

    Então, a autoridade autocrática dos últimos reis Noldorin indica que eles devem ter herdado uma autoridade primária de Tata. A personalidade de Finwë deve ter participado de um papel maior em estabelecer a autoridade, mais do que sua herança. Isto é, para os Noldor, descender de Finwë seria mais importante do que descender de Tata. Sem falar que os capitães originais dos Tatyar não devem ter descendido de Tata. Faz sentido que, se Ilúvatar selecionou Tata para ser o primeiro a acordar entre os Elfos, ele deveria ter as qualidades de um líder natural que Ilúvatar sentira que os Tatyar necessitariam. Tata deveria (se ele fosse um bom pai) criar seus filhos para serem bons líderes também. Liderança deveria ter se tornado o papel natural da família simplesmente porque a família exercia liderança. Portanto, se Finwë teve irmãos ou primos que decidiram não ir para Valinor, eles devem ter se tornado os líderes dos Tatyarin Avari.

    A questão se Finwë tinha outros parentes é interessante, apesar de não ser necessariamente crucial para o entendimento da cultura Noldorin. Havia outras casas principescas entre os Noldor. Elas devem ter compartilhado uma aliança com a casa real através de descendência comum de Tata, mas Tolkien nunca explora o assunto em nenhuma obra publicada. Havia príncipes em Gondolin, como Glorfindel (de quem Gandalf comenta com Frodo que Glorfindel descende de uma casa de príncipes). Infelizmente, a história dos textos de Gondolin faz com que seja impossível determinar quantos príncipes havia em Gondolin, ou qual deveria ter sido sua relação (se é que havia) com os Finwënianos. Voronwë reinvidicou aliança com a Casa de Fingolfin. Um descendente comum de Tata pode explicar essa aparente discrepância. Um descendente através de uma filha de Fingolfin (um daqueles que foi ao exílio) deve também explicar a reinvidicação de Voronwë. Mas algumas pessoas discutem que a declaração de Voronwë pode somente explicar uma relação entre sua família e a família de Fingolfin.

    Então Gondolin não nos oferece qualquer insight sobre as complexas hierarquias sociais dos Noldor. No entanto, Nargothrond é uma história diferente. Há pelo menos uma casa de príncipes que (aparentemente) não reinvidica aliança com os Finwënianos. Essa é a família de Guilin, cujo filho Gwindor iniciou a responsabilidade de chefe por lançar o desastroso ataque que iniciou a Nirnaeth Arnoediad. Gwindor também trouxe Túrin a Nargothrond, o que posteriormente levou ao fim daquele reino. Tolkien fala que Gwindor é “um príncipe muito valioso”. Em qualquer outro lugar, Gwindor é “um senhor de Nargothrond”. Seu posto é, no entanto, nobre, mas ele não é um Finwëaniano. Se a família de Guilin foi considerada nobre de tempos antigos ou foi elevada a esse status por Finwë ou um dos reis de Nargothrond, é um mistério.

    O que podemos ter certeza é que, no entanto, os Finwënianos derivaram seu status especial do próprio Finwë. A monarquia Noldorin começou com Finwë e todos os reis legítimos dos Noldor exigiram a descendência dele. Mais ainda, nenhum príncipe Noldorin de fora da família já tinha estabelecido um domínio próprio. A estima cuja família de Finwë teve por seu povo foi forte o suficiente, tanto que eles limitaram sua escolha de reis somente para seus descendentes. Portanto, até mesmo se todos os capitães Tatyarin fossem descendentes de Tata, tal patrimônio era insuficiente para justificar um prestígio real.

    O carisma de Finwë é também evidente pelo fato de que mais de uma mulher élfica o amava. Em “Leis e Costumes entre os Eldar” (“Morgoth’s Ring”, pg 207-253), Tolkien escreve: “Os Eldar casavam somente uma vez na vida, e por amor, ou pelo menos por livre arbítrio de ambas as partes…Casamento, exceto por raras chances ou destinos estranhos, era o curso natural da vida de todos os Eldar…Aqueles que deveriam depois se tornar casados, deveriam se escolher cedo na juventude, até mesmo quando crianças (e de fato isso acontecia de vez em quando em dias de paz)…”

    Se o curso natural dos Eldar os levou a se casar somente uma vez na vida, então a habilidade de Finwë de atrair e amar mais que uma mulher era extremamente fora do comum. Sua personalidade deveria ser extremamente carismática. Não é justo falar que alguma coisa deva ter acontecido para Indis amar Finwë até mesmo quando ele estava casado com Míriel. Seu amor era sem dúvida puro e natural. Não há nunca uma dica de qualquer sinal de sombra ou corrupção em ambos Finwë ou Indis nas estórias relacionadas ao seu casamento. Até certo ponto, seu casamento é reconhecido como um sinal de cura para o pesar de Finwë sobre a morte de Míriel e a recusa de retornar à vida. Apesar da narrativa dizer que as coisas seriam melhores para os Noldor em geral se Finwë não se casasse novamente, o amor que ele e Indis compartilhavam parece ter sido tão forte e natural como o amor que seria encontrado em qualquer primeiro casamento entre os Eldar.

    A personalidade distinta de Finwë deve, portanto, ter sido expressada em todos os seus filhos de uma maneira ou outra. Crescer em uma família de um líder que as pessoas devem ter idolatrado deve ter imbuído as crianças de Finwë com um senso de prestígio. Mas ver seu pai interagir com seu povo como um líder, e sem dúvida ouvi-lo palestrar sobre como governar ou liderar o povo deve ter providenciado uma educação espetacular a Fëanor, Fingolfin e Finarfin no equivalente Noldorin de uma pessoa culta. Finwë deve ter sido muito bom em julgar os humores dos outros e descobrir o que ele queria. Os Noldor assim desenvolveram um relacionamento muito próximo com seu rei, muito mais próximo (parecia) do que aquele entre os Vanyar e Ingwë ou entre os Teleri e Elwë e Olwë.

    No entanto, Tolkien adicionou um pouco de divisão política lingüisticamente inspirada ao ambiente que produziu os Finwënianos. Isto é, em “The Shibboleth of Fëanor”, Tolkien documenta a transição consciente que a maioria dos Noldor incumbiram em seu diálogo entre o uso de um som (chamado Thorn, foneticamente relacionado à th) e outro (que tomava o lugar do som antigo). Os Vanyar, que aderiram à prática antiga, retiveram o antigo som. Fëanor aderiu ao antigo som como um símbolo de seu amor para com sua mãe. Finwë, por outro lado, tomou a nova pronúncia, talvez como um sinal de que ele estaria prosseguindo com sua vida. Indis também tomou a nova pronúncia, pois ela sentiu que estando unida aos Noldor, deveria falar como eles.

    A intransigência de Fëanor derivou-se em parte da natureza teimosa que ele tinha herdado de sua mãe. Mas a decisão dos Valar de proibir o retorno de Míriel à vida para permitir que Finwë e Indis se casassem levou Fëanor a concluir que Indis era a fonte de sua infelicidade. Ele aparentemente não comparecera ao conselho onde os Valar debateram sobre os prós e contras de permitir que Finwë tivesse uma segunda esposa, então ele não entendia que foi a intransigência de Míriel que levou ao grande problema. Os Valar queriam somente o que era justo, e à vista deles (particularmente de Manwë), Míriel estava sendo muito egoísta. Ela tinha, portanto, perdido seus direitos como um ser vivo encarnado. Tudo o que Fëanor vira era o fato de que ele nunca falaria com sua mãe novamente, o que pareceria (em seu luto e raiva) uma promessa quebrada dos Valar. Apesar de tudo, os Elfos supostamente viveriam com a vida de Arda. Míriel deveria ter sido restaurada à vida por fim. Esse era o natural a acontecer com um Elfo.

    Assim, quando Finwë e Indis se casaram, o ressentimento de Fëanor da intrusão de Indis na família assegurou que ele iria se isolar da família de Finwë. Quando Fëanor criou seus filhos, estes questionaram por que seus tios e tias falavam de uma maneira diferente da deles. Ele e sua família respeitavam a língua de sua amada mãe. Fëanor fez disso uma questão pessoal, e dessa forma alienou os contadores de estória Noldorin que iriam de outra forma ter aceitado e suportado seus argumentos contra a mudança lingüística. Como comparação, considere como (no idioma americano), muitas pessoas hoje utilizam o pronome “myself” incorretamente (de acordo com as regras antigas). Quando falamos de outra pessoa e de si mesmo, devemos usar “me” no objetivo e “I” no subjetivo. No entanto, muitas pessoas têm sido repreendidas por professores e parentes por usar “me” quando deveriam usar “I”, então acabaram substituindo “myself” por “me”.

    Em outras palavras, ao invés de falar “They were speaking to my sister and me”, a maioria das pessoas fala “They were speaking to my sister and myself”. “Myself” é, de acordo com as regras gramaticais, um pronome reflexivo. Deve ser precedido somente por “I” ou “me”, e não utilizado sozinho. Agora, imaginem se o Príncipe Charles fosse lançar uma cruzada pessoal para corrigir cada pessoa que utiliza o “myself” incorretamente! Quanto tempo levaria antes que as pessoas decidissem que ele é arrogante o bastante para se respeitar? E imagine que enquanto o Príncipe Charles faz campanha contra o idioma vulgar, sua mãe, a Rainha, começa a usar o “myself” incorretamente. O amor e o respeito do povo para com uma monarca popular continuará intacto, porque ela estaria falando como eles e não faria tempestade em copo d´água acerca de uma questão tão pequena. No entanto, esse amor e respeito não seriam transferidos ao seu filho.

    Fëanor assim elevou um desentendimento erudito ao status de ordem política. Todos aqueles Noldor que usavam a pronúncia nova eram contra ele, e todos aqueles que retiveram a pronúncia Thorn o apoiavam. Ironicamente, Fëanor ignorou os Vanyar, que eram praticantes da pronúncia Thorn, enquanto ele possuía uma aliança com os teleri, cuja fala era radicalmente diferente do Quenya falado pelos Noldor e Vanyar. Mais ainda, Finarfin reteve a pronúncia Thorn por motivos próprios. O “Shibboleth” diz que Galadriel mudou para a nova pronúncia, em parte devido a sua animosidade para com Fëanor.

    Todas essas mudanças ameaçadoras de vida na pronúncia, desta maneira, simbolizavam a polarização das lealdades dos Noldorin. Porém, ainda mais importante, elas enfatizaram a transição entre a autoridade primitiva dos capitães Élficos e a autocracia dos reis Noldorin. Fëanor estava fazendo sua linguagem de seu modo, e ele reuniu com ele todos aqueles que se sentiram reunidos. Mas devido ao fato de ele ter sido uma pessoa tão maestral, ele chegou a dominar as decisões de seus seguidores. A transição de seus seguidores a quase autômatos políticos foi completada por suas participações voluntárias no ataque de Alqualondë. Eles devem ter pensado que estavam apenas roubando navios, mas quando a luta começou a ficar sangrenta, nenhum dos Fëanorianos pareceu ficar de lado e falado: “Esperem um pouco! O que estamos fazendo?”.

    Em uma menor extensão, a divisão sobre a pronúncia deve ter influenciado os outros Noldor, não meramente para suportar Finwë e Fingolfin. A divisão deve tê-los forçado a ter um pensamento do tipo “nós e eles”. Alguns seguiram Fëanor e outros seguiram Finwë e Fingolfin. Subseqüentemente, o prestígio de Finwë entre os Noldor deve ter diminuído. Ele tinha, apesar de tudo, desonrado seu próprio filho ao não apoiar Fëanor. Deve ter sido um momento de orgulho para os Fëanorianos quando Finwë partira de Tirion para viver com seu filho em exílio. Apesar do papel de Finwë na disputa entre Fëanor e Fingolfin ser silencioso, seria somente um pequeno salto de imaginação retrata-lo controvertido, como quando ele tenta restaurar a paz entre seus filhos e descobre que os Valar tinham chegado para proferir sua própria justiça. Então, para adicionar ferida ao insulto, eles exilaram seu filho, não considerando tudo o que ele possa ter falado em nome de Fëanor (sem mencionar a tentativa de reconciliação de Fingolfin). Evidentemente, empunhar uma espada contra seu irmão em público é algo bem desagradável. Mas a autoridade de Finwë estava comprometida. Ele não podia dispensar a justiça dentro de sua família, muito menos entre seu próprio povo.

    O ato da rebelião de Finwë foi o começo real da rebelião de Fëanor, apesar de todos os conflitos que precederam tal rebelião. A intromissão de Melkor deve ter inflamado o orgulho dos Noldor, mas era, no fim, a própria decisão de exilar Fëanor de Tirion, que ocasionou a seqüência final dos eventos em andamento. O que não é dizer que a rebelião deva ter ocorrido de outra forma. Fëanor deve, por fim, ter sido empurrado da beira apesar do que aconteceu. O assassinato de Finwë por Melkor jogou Fëanor numa profunda depressão final, que resultou no que pode ser caracterizado como sua loucura. Fëanor perdera toda a sua perspectiva racional, e devido a ele ter aperfeiçoado seus poderes de persuasão durante anos e devido ao fato de que os Noldor eram uma nação em luto pela morte inesperada de seu Rei e pela perda das Duas “rvores, Fëanor tinha esse como o momento perfeito para infectar seu povo com sua loucura.

    A dinâmica da personalidade culta dos Finwënianos do modo como era, foi assim, fundada sobre um forte laço emocional entre os reis e o povo. Fëanor havia alienado a maioria dos Noldor quando Melkor assassinara Finwë, mas a miséria ama companhia, e Fëanor tinha muita companhia após Melkor e Ungoliant terem matado as Duas “rvores e atacaram Formenos. Todas as decisões justas e populares de Finwë através do equivalente de centenas de anos haviam preparado o caminho para o apelo emocional de Fëanor. Ele deve ter tido os poderes de um incrível locutor motivador para começar, mas Fëanor provavelmente não poderia ter influenciado os Noldor a unirem-se a ele em qualquer outra época da história. A morte de Finwë e o modo como Melkor capturara os Valar completamente sem guarda em seu próprio reino deve ter abalado a fé dos Noldor em Manwë e Varda.

    No entanto, Fëanor não tinha nada a seu favor. Fingolfin, igualmente em luta por seu pai, e muito amado e respeitado pelos Noldor, discutiu contra Fëanor. O debate durou um longo tempo. Deveriam ter trocado palavras amargas e duras. O sarcasmo e ridicularização devem ter sido jorrados da língua de Fëanor rápida e furiosamente. Fingolfin deve ter parado de se conter por um tempo, e simplesmente descarregou tudo em Fëanor. Tudo o que nos é contado é que palavras violentas despertaram, e então mais uma vez a ira chegou próxima a beira das espadas. O que estava em jogo não era simplesmente o destino da nação Noldorin, nem mesmo a aliança dos Noldor. Questões pessoais estavam pressionando para frente e ambos Fëanor e Fingolfin estavam investigando (ou tinham investigado) eles próprios em questões de prestígio e poder pessoal. Isto é, Fingolfin nessa época sentia que ele deveria ser rei dos Noldor. Ele era, de certa maneira, quase orgulhoso e arrogante como seu irmão.

    As ambições maquiavélicas de Fingolfin foram despertadas pelas mentiras de Melkor, que gerou dissensão entre os Noldor. Foi quando Fingolfin fez um apelo emocional ao seu pai para reprimir Fëanor por ter empunhado sua espada sobre Fingolfin. Fëanor acusou Fingolfin de abrigar ambição real. Pode ser que Fëanor estava lendo os desejos de seu irmão corretamente. Fingolfin, apesar de tudo, não falava estranhamente como Fëanor falava. Ele também não ficava por aí com espadas, ameaçando parentes na frente do rei e seu povo. Ele deve ter se julgado um candidato melhor para o reinado que seu irmão (apesar de que, naquela época, não havia razão para ninguém ficar pensando sobre quem deveria suceder ao seu pai). “Deixem que o melhor príncipe governe” era a ordem do dia, mas Fingolfin não era aparentemente melhor em evitar as manipulações de Melkor que Fëanor. Portanto, quando Finwë desistiu de sua coroa para compartilhar do exílio de Fëanor, Fingolfin não tinha outra escolha a não ser aceitar humildemente a pesada responsabilidade de governar a maioria dos Noldor em Tirion.

    Dez anos de reinado devem representar uma estabilidade muito dependente. Fingolfin deve ter restituído a coroa para seu pai, mas ele não desejava renunciá-la a Fëanor. Quando Melkor assassinou Finwë, o reinado Noldorin entrou em disputa imediata. Apesar dos Valar não terem ainda restabelecido seu local entre os Noldor, Fëanor entrou em Tirion e convocou Finwë. Tal intimação era uma clara usurpação da autoridade real. Mais encolerado, Fëanor se declarou como o legítimo Rei dos Noldor. Fingolfin não abdicara sua própria autoridade, embora temporariamente isso era destinado a ocorrer. Como Finwë havia enfrentado os Tatyar muito tempo atrás e ofereceu a eles uma nova vida em Aman, Fëanor agora enfrentava os Noldor e propunha uma oferta similar de vida nova na Terra-Média. A antiga estrutura social não estava trazendo sentido. Fingolfin tinha que responder a Fëanor, mas se sua esperança era restaurar o reinado de Finwë através de suas próprias leis, isso provou ser inútil. A maioria dos Noldor não queria mais nada com os Valar e Valinor. Alguns deles foram convencidos a se unir à rebelião, apesar da afeição por Valinor. E uma menor parte da nação recusou a aceitar ambos Fëanor ou Fingolfin se eles estavam determinados a liderar os Noldor ao exílio, mesmo se Fingolfin somente concordasse em ir apenas para ter certeza de que Fëanor não deixaria que ninguém fosse morto.

    No fim, Finarfin provou ser o único filho de Finwë com qualquer bom senso real. Ele aparentemente nunca caiu nas mentiras que Melkor semeara entre os Noldor. Quando um grande mentiroso espalha confusão, normalmente há algumas pessoas que ficam acima da discórdia, e Finarfin era esse tipo de indivíduo. Ele, também, tentou persuadir os Noldor a não seguir Fëanor ao exílio. E assim como Fingolfin, ele concordou em ir relutantemente, em maior parte porque seus filhos queriam tentar a sorte na Terra-Média, e porque ele temia o que poderia acontecer com as pessoas se elas fossem deixadas à mercê da liderança de Fëanor. Quando os Noldor atacaram Alqualondë e os Valar os condenaram a um destino terrível, Finarfin silenciosamente retirou-se da rebelião e procurou o perdão dos Valar (e, esperançosamente, dos Teleri, seu povo por casamento). No fim, o reinado foi outorgado a Finarfin, cujas mãos não eram manchadas de sangue e cujo coração tinha a menor ambição dentre os filhos de Finwë.

    Outros membros da família de Finwë que receberam praticamente nenhuma atenção ao longo dos anos foram as filhas de Finwë com Indis. Finwë tinha filhas? Bem, isso é o que “The Shibolleth of Fëanor” nos passa. Findis foi, de fato, a filha primogênita de Finwë e Indis. Ela era aparentemente muito parecida com a sua mãe em temperamento. Indis ficou em Tirion quando Finwë se uniu a Fëanor em Formenos. Ela não participou de nenhuma parte no governo dos Noldor, parecia, e Findis parece ter permanecido próxima de sua mãe. Quando a notícia da morte de Finwë chegou a elas, ambas partiram e retornaram aos Vanyar.

    Originalmente, Finwë teria três filhas com Indis. Christopher Tolkien menciona que, de 1959 até 1968, foi a época que seu pai preparara várias genealogias para os Finwënianos. No entanto, a segunda filha, Faniel, nunca é mencionada em “The Shibboleth”, e pode ser que Tolkien pretendia tira-la da família. Como dito no Shiboleth, Irien (originalmente chamada Irimë, a terceira filha) nasceu entre Fingolfin e Finarfin. Ela era também chamada de Lalwendë, e foi o nome que em Sindarin se tornou Lalwen. Fingolfin e Lalwen eram muito próximos, e ela o acompanhou no exílio. Não sabemos mais nada sobre ela, mas algumas pessoas se perguntavam se Aranwë, pai de Voronwë, não poderia ser o marido ou filho de Lalwen. Presumivelmente, Lalwen permaneceu em Hithlum e deve ter sido morta ou capturada após a Nirnaeth. E uma vez que ela era próxima a Fingolfin, ela deve ter ativamente apoiado suas reinvidicações para o reinado.

    Fingolfin afirmou sua realeza ao usar seu nome paterno. Finwë nomeou seus três filhos a partir de seu nome: Curufinwë (Fëanor), Nolofinwë (Fingolfin) e Aranfinwë (Finarfin). Fingolfin, ao que parece, iniciou o costume de usar o nome de seu pai como um símbolo de autoridade real. Portanto, ele se autodenominava Finwë Nolofinwë, talvez durante o debate com Fëanor em Tirion, mais provavelmente após o ataque em Alqualondë. O Shibboleth diz: “Fingolfin prefixou o nome Finwë a Nolofinwë antes dos Exílios alcançar a Terra-Média. Isto foi devido a dedicação a sua reinvidicação de ser o capitão de todos os Noldor após a morte de Finwë, e então enraiveceu Fëanor de tal forma que essa foi sem dúvida uma das razões para de sua traição ao abandonar Fingolfin a roubar todos os navios.”

    Finafin não usou o nome Finwë. Curiosamente, o Shibboleth fala que Finrod criou o nome “Finwë Arafinwë”, ou Finarfin, após a morte de Fingolfin, numa época em que os Noldor se dividiram em reinados separados. Apesar de que essa afirmação pareceria contradizer “O Silmarillion” (que menciona explicitamente os reis dos Noldor anteriores à morte de Fingolfin), as intenções de Tolkien não são claras. Contudo, o uso do nome de Finwë como um prefixo se tornou uma prerrogativa real. De alguma forma, o nome de Finwë deve ter se tornado um sinônimo da palavra-título rei, e seria apropriado falar do governador dos Noldor como “O Finwë”. Após a Primeira Era, Gil-Galad teria sido o “Finwë” na Terra-Média.

    As esposas dos filhos de Finwë receberam pouca atenção de Tolkien. A esposa de Fëanor, Nerdanel, era filha de um ferreiro chamado Mahtan em “O Silmarillion”. A família de Mahtan possuía cabelo castanho-avermelhado e ele deve ter sido o líder de uma comunidade de Noldor que morava perto dos salões de Aulë. Nerdanel tinha uma tez avermelhada, cujo filho Caranthir herdara. Numa nota adicionada ao “The Shibboleth of Fëanor”, o pai de Nerdanel é chamado Aulendur e Urundil, e fala-se que Aulendur suplantou Mahtan, que, no entanto, foi o nome que Christopher utilizou para ele em “O Silmarillion”. Outro nome para sua personagem, do qual Christopher não tem muita certeza, deve ter sido “Sarmo”. Ele usava uma auréola de cobre em volta de sua cabeça e gostava muito de cobre. Maedhros era aparentemente muito parecido com ele em temperamento e aparência, e também usava uma auréola de cobre. Quando Fëanor se tornou beligerante demais a ponto de Nerdanel não suporta-lo mais, ela retornou para a casa de seu pai. Aulë persuadiu Aulendur e sua família para não seguir Fëanor ao exílio. Nerdanel pediu que Fëanor deixasse os filhos mais novos em Aman, mas ele recusara. Ela então previu que os mais novos nunca chegariam a Terra-Média.

    A esposa de Fingolfin era Anairë. Ela era uma Noldo, mas tudo o que sabemos é que ela era amiga de Eärwen (esposa de Finarfin) e que ela recusou a seguir Fingolfin ao exílio “em grande parte devido a sua amizade com Earwën”. Earwën era filha de Olwë de Alqualondë. Ela tinha cabelos prateados como outros membros de sua família. Numa primitiva história de Galadriel publicada em “Contos Inacabados”, Tolkien escreveu que Finrod “tinha também de sua mãe Teleri um amor pelo mar e sonhos de terras longínquas que ele jamais vira” Não está claro se Eärwen era antiga o bastante para ter nascido na Terra-Média, mas o texto parece dar a entender que os Teleri de Alqualondë (ou pelo menos Eärwen), não eram totalmente alheios a Terra-Média. Os Teleri haviam passado grande parte de seu tempo vivendo na ilha de Tol Eresseä antes de Ulmo comandar Ossë a ensina-los a arte da construção de barcos para que eles pudessem finalmente navegar até Aman e se unir aos Eldar ali.

    Fëanor e Nerdanel tiveram sete filhos, como O Silmarillion nos fala: Maedhros, Maglor, Celgorm, Curufin, Caranthir, Amrod e Amras. O Shibboleth fala que seus nomes paternos (dados em Quenya) eram Nelyafinwë (“Finwë Terceiro”, como em Finwë III, Finwë o Terceiro), Karafinwë, Kurufinwë (Curufinwë no Silmarillion), Morifinwë, Pityafinwë (“Pequeno Finwë”) e Telunfinwë (“Último Finwë”). Fala-se que Maedros era o mais belo dos filhos, e Curufin era o favorito do pai porque ele era o mais parecido com Fëanor em espírito e habilidade. Curufin também parecia com sua mãe mais do que os outros filhos. Seus nomes maternos eram Maitimo, Makalaure, Tyelkormo, Atarinke (“Pequeno Pai”), Carnistir (“Cara Avermelhada”), Ambarusso e Ambarusso. Os dois Ambarussos eram gêmeos e Fëanor pedira a Nerdanel para dar a um deles um nome diferente. Ela escolhera Umbarto (“Destinado”), que Fëanor mudara para Ambarto (“Exaltado”), e ele deu esse nome ao mais novo.

    “The Shibboleth of Fëanor” conta que Nerdanel pedira a Fëanor para deixar os gêmeos com ela, ou pelo menos um deles, quando ele estava preparando para a liderança dos Noldor ao exílio. Ele recusou, repreendendo-a por seguir o conselho de Aulë ao invés da vontade de seu marido, e Nerdanel profetizou que um de seus filhos não chegaria a Terra-Média. Quando Fëanor queimou os navios roubados em Losgar, ele reuniu seus filhos na costa e encontrou somente seis deles. Então Ambarussa contou a ele que Ambarto havia dormido em seu navio. “Aquele navio eu destruí primeiro”, Fëanor respondeu. “Então certo você estava em nomear o mais novo dos seus filhos”, Ambarussa respondeu, “e Umbarto o Destinado era a sua forma verdadeira”. Uma nota final diz que o nome de Ambarussa se tornou Amros em Sindarin (e não Amrod, como registrado no Silmarillion). Onde quer que o Silmarillion fale de Amros e Amras após a queima em Losgar, é mais correto entender que somente Amros estava presente.

    Dos filhos de Fëanor e Nerdanel, somente três tiveram esposas: Maglor, Curufin e Caranthir. Na nota sete, adicionada ao ensaio “Dos Anões e Homens” (“The Peoples of Middle-Earth”, pp. 295-330), Christopher cita uma nota que seu pai fez em 1966 após a segunda edição de Senhor dos Anéis ter sido publicada. Nela, Tolkien decidiu que Celebrimbor (chamado senhor de Eregion nos apêndices) deve ser o filho de Curufin, pois Maedhros e os gêmeos não tiveram esposas. Curufin, herdando a maior parte da habilidade paterna dentre os sete, passou sua habilidade (e provavelmente muita história) para Celebrimbor, que desaprovou o comportamento de seu pai em Nargothrond. Celebrimbor ficou para trás. A mulher de Curufin escolheu não seguir seu marido no exílio, então ela permaneceu em Aman dentre as pessoas governadas por Finarfin (e era, portanto, provavelmente uma Noldo). Não há menção de quaisquer outros netos de Fëanor e Nerdanel, e os destinos das esposas de Maglor e Caranthir não são dados.

    Fingolfin e Anairë tiveram quatro filhos: Findekano (Fingon), Turukano (Turgon), Irissë (Aredhel) e Arakano (Argon). Apesar de Anairë ter permanecido em Valinor quando Fingolfin foi ao exílio, todos seus filhos seguiram Fingolfin. Fingon liderou a vanguarda da multidão de Fingolfin, e ele foi acompanhado de sua mulher, Elenwë dos Vanyar. Irissë era próxima a Turgon como sua tia Irien (Lalwen) era próxima a Fingolfin. Irissë permanecera com o povo de Turgon até persuadir que ele a deixasse visitar Fingon em Hithlum. Em vez disso, após deixar Gondolin, ela fugiu de sua escolta e vagou ao leste em Nan Elmoth. Ali ela casou-se com Eöl e teve um filho, Maeglin, com quem ela retornou a Gondolin muitos anos depois.

    Arakano surgiu relativamente atrasado, provavelmente após a segunda edição de Senhor dos Anéis ter sido publicada. Ele é descrito como “o mais alto dos irmãos e o mais impetuoso”. Tolkien achou difícil designa-lo um papel na história completa em geral, e primeiro ele criou mortes para Arakano em Aman. Mas por fim Tolkien decidiu que a multidão de Fingolfin seria atacada por um exército de Orcs quando os Noldor passassem ao sul ao longo da costa da Terra-Média. Ali Arakano distinguiria e se sacrificaria por seu povo:

    Quando o começo do ataque dos Orcs pegou a multidão desprevenida como se ela estivesse marchando ao sul e as fileiras dos Eldar estavam abrindo caminho, ele saltou e cortou um caminho através dos inimigos, amedrontando por sua estatura e pela terrível luz de seus olhos, até chegar o capitão Orc e ele render-se. Então apesar de estar cercado e morto, os Orcs estavam consternados, e os Noldor os perseguiram com matança.

    O nome de Arakano assim nunca foi formalmente transformado para o Sindarin, “mas a forma Sindarim Argon foi mais para frente por vezes utilizada como um nome pelos Noldor e Sindar em memória de seu valor” (“Peoples of Middle-Earth”, p.345).

    Fingon também era impetuoso. Ele não apenas se apressou para ajudar Fëanor, ele liderou os ataques opostos contra as forças de Morgoth, quando quer que Hithlum fosse atacada. E quando Gwindor liderou sua companhia de soldados Nargothrondianos contra o exército de Morgoth na Nirnaeth, Fingon não podia mais se conter. Ao invés de esperar por Maedhros, como ele devia, ele pôs seu capacete, montou em seu cavalo, e encarregou-se para a glória, morte e derrota. Fingon era sem dúvida um dos maiores guerreiros dos Eldar, pois foi preciso mais do que um Balrog para mata-lo no fim, e suas realizações pessoais registradas no campo de batalha superaram àquelas de outros príncipes Élficos.

    Turgon era sem dúvida o mais sábio dos filhos de Fingolfin, e por uma razão não revelada, ele era um dos favoritos de Ulmo entre os príncipes Noldorin. Pode ser que, uma vez que Turgon tomou o governo sobre os Elfos Sindarin de Nevrast, Ulmo sentiu que Turgon seria o único rei Noldorin a encomendar a construção de navios com o propósito de procurar ajuda para Aman. O Shibboleth registra que a mulher de Turgon, Elenwë, pereceu em Helcaraxë. Ela e sua filha, Itaril se renderam, e Turgon resgatara Itaril, mas Elenwë foi esmagada pelo gelo. Parecia, através de uma observação enigmática no Shibboleth, que Irissë e Elenwë eram amigas muito próximas.

    Quando Fingolfin nomeou Findekano, ele não necessariamente usou o termo originário de “Finwë”, um antigo nome Élfico dado em uma época quando nomes eram outorgados a alguém conforme eles soavam. Nem, o Shibboleth nos conta, deve ter sido necessário. O uso de uma palavra similar honrava o nome ancestral. Findekano é descrito usando “seu longo cabelo escuro em grandes tranças amarradas com ouro”. Tolkien tinha várias considerações sobre a vida pessoal de Findekano. Apesar do Silmarillion nos contar que Gil-Galad era seu filho, Christopher Tolkien admite em ambas as obras “The War of The Jewels” e “The Peoples of Middle-Earth” que ele estava errado quando incorporou Gil-Galad no livro como um filho de Fingon. Christopher menciona que todas as tabelas genealógicas mostram Fingon com uma esposa não nomeada e dois filhos: Ernis (mais tarde Erien) e Finbor. Mas sua família foi retirada da genealogia final e Tolkien escreveu uma nota dizendo que Fingon “não tivera mulher ou filhos”.

    Deveria ser, sem dúvida, necessário interpretar algum destino deprimente para ambos Erien e Finbor, uma vez que Finbor seria o herdeiro de Fingon. Serviu para o propósito de Tolkien mover Gil-Galad para a família de Finarfin. Então, o Alto Reinado passou de Fingon, que não tinha filhos, para Turgon, e então para a família de Fingolfin (a linhagem masculina que terminava com Turgon) para a família de Finarfin.

    Os filhos de Finarfin e Eärwen eram Findarato Ingoldo (Finrod), Angarato (Angrod), e Newendë Artanis (mais tarde chamada Altariel, Galadriel). O Silmarillion coloca Orodreth (Artaher ou Arothir) entre os filhos de Finarfin, mas a decisão final foi que ele fosse filho de Angrod e Eldalote (Edhellos em Sindarin). Ela era uma Noldo, e Arothir nascera em Aman. O Silmarillion fala que Orodreth ficou ao lado de Finarfin quando este defendeu com os Noldor a decisão de não seguir Fëanor para o exílio.Seria totalmente inconsistente com a genealogia final para Arothir manter esse papel. Ele era um rei guerreiro relutante e somente gradualmente ele se permitiu influenciar pelas medidas agressivas de Túrin.

    A decisão final de Tolkien acerca de Finrod é intrigante. Em agosto de 1965, ele escreveu uma breve explicação sobre a descendência de Gil-Galad. O texto diz “Finrod deixou sua mulher em valinor e não teve nenhum filho no exílio”. A esposa de Finrod (não nomeada aqui) deve ser Amarie dos Vanyar. Mas a frase pode significar uma das três coisas: que Finrod e Amarië tiveram filhos que permaneceram em Valinor, que eles não tiveram filhos, ou que eles tiveram filhos após os Valar terem restaurado sua vida. É tentador racionalizar a afirmação de Gildor Inglorion, quem Frodo, Sam e Pippin conheceram no Condado, com sua declaração um tanto quanto ambígua. Isto é, Gildor contou a Frodo que ele era “da casa de Finrod”. Até aonde sabemos, havia somente um Finrod. Originalmente, o nome Finrod foi dado ao pai, e o príncipe que fundou o reino de Nargothrond foi chamado de Inglor. Mas ao revisar O Senhor dos Anéis para a segunda edição, Tolkien modificou Finrod para Finarphir (mais tarde se tornou Finarphin, Finarfin) e Inglor para Finrod. Mas ele não mudou o nome de Gildor.

    Se Gildor é realmente um descendente de Finrod, ele deve ter nascido em Valinor. Mas se é esse o caso, como ele chegou na Terra-Média, e quando? Tolkien parece ter omitido Gildor completamente. E as pessoas são rápidas a notar que Gildor nomeia a si mesmo como um Exilado (ou, melhor, ele diz, “Nós somos Exilados”). Como Gildor poderia ser um Exilado se ele nasceu após Finrod ter sua vida restaurada? A resposta para essa questão é simples: qualquer filho dos Noldor que foi para o exílio, e que estava vivendo na Terra-Média, seria um Exilado (um subgrupo dos Noldor) tanto quanto ainda era um Noldor. No entanto não há nenhum texto que associa Gildor com o renomeado Finrod/Finarfin ou o renomeado Inglor/Finrod (exceto seu próprio nome, que significa “parente de Inglor”).

    Uma nova dificuldade surgindo da conexão de Gildor com Finrod é que, se ele estava vivo na Terra-Média quando Gil-Galad perecera, não deveria ele ser apto para reinvidicar a Alta Soberania sobre os Noldor? Pode ser que tal reinvidicação seria julgada inválida, uma vez que o reinado passara para a linhagem de Orodreth (assim como passara da linhagem de Fëanor para a de Fingolfin e depois para a de Finarfin). O reinado poderia descer, mas não subir. No entanto isso é insatisfatório. Poderia ser também que Gildor tenha chegado com um dos Istari, apesar de ser falado que apenas Glorfindel chegou a Terra-Média após a Queda de Númenor. De fato, há uma frase associada ao Shibboleth que afirma que “pouco foi ouvido na Terra Média sobre Aman após a partida dos Noldor. Aqueles que retornaram para aquela direção nunca mais voltaram, desde a mudança do mundo. Eles foram para Númenor muitas vezes em seus primeiros dias, mas pequena parte das lendas e histórias de Númenor sobreviveram a sua Queda”.

    Novamente temos aqui uma frustrante frase ambígua. “Aqueles que retornaram (para Aman) nunca voltaram, desde a mudança do mundo”. O que seria a mudança do mundo, senão o evento no qual Ilúvatar transformara o mundo, removendo Aman dos círculos do mundo e destruindo Númenor? A frase a seguir parece indicar que os Noldor (de Tol Eressëa) somente navegaram para o leste como para Númenor em seus anos primordiais. Mais ainda, a passagem não descarta completamente uma travessia para o leste por alguém de uma geração mais nova. De fato, em uma de suas últimas notas sobre Glorfindel, Tolkien decidiu que ele realmente retornou a Terra-Média por meio de Númenor em meados da Segunda Era, quando Gil-Galad estava se preparando para o ataque de Sauron no século XVII (A Guerra entre os Elfos e Sauron durou de 1695 a 1701).

    Qualquer que seja a verdadeira relação de Gildor com os Finwënianos, ele não pode ser um descendente de Finwë que passou para o exílio com Fëanor e Fingolfin. Ele também nem pode ser um filho de Finrod nascido na Terra-Média. Se ele fosse um descendente de Finrod, apesar de que ele pode originalmente ter sido um filho de Finrod, seu nome, como preservado no cânone de Senhor dos Anéis indica que deveria haver um Inglor, que poderia talvez ser filho de Finrod e Amarië, nascido em Valinor após Finrod ter voltado à vida. Mas tais especulações não vão longe, faltando apoio textual.

    A história de Galadriel é tão intrigante e complicada quanto à ancestralidade de Gildor. Tolkien mudou sua história mais de uma vez e, fazendo tais mudanças, Tolkien alterou suas relações com ambos Celebrimbor e Celeborn. Celeborn era originalmente um elfo da floresta, mas como o tempo ele foi modificado para ser um Elfo Sindarin com parentesco com Elwë, através de um irmão mais novo, Elmo. Porém, no último ano de sua vida, Tolkien decidiu que Celeborn deveria ser um neto de Olwë, nascido em Alqualondë. Parece que Tolkien esqueceu (em períodos de sua vida) as antigas restrições Eldarin contra o casamento entre dois primos de primeiro grau. (cujo princípio é referido na estória de Maeglin, apesar de, como publicado em “O Silmarillion”, essa estória é em maior parte trabalho de edição de Christopher e redução de materiais mais antigos).

    Apesar disso, podemos ter certeza de que Galadriel era filha de Finarfin e Eärwen, e que ela nunca se deu bem com Fëanor. No entanto, ela compartilhou dos sonhos de Finrod de outras terras, e ela era ambiciosa. Ela desejava governar seu próprio reino. Apesar de quer ela tenha seguido para o exílio com Fëanor ou (como conta a última estória de 1972) precedeu ele com Celeborn, Galadriel foi levada para o destino dos Noldor. Como seu povo, ela estava proibida de retornar a Aman. Também permanece certo que Galadriel, de alguma forma, se tornou proximamente ligada a Melian em Doriath por um tempo, e que ela e Celeborn passaram por Ered Lindon antes de Nargothrond e Gondolin terem sido destruídas.

    A partida de Galadriel de Beleriand não é mencionada no Silmarillion. Eu suspeito que isso teria acontecido em alguma ocasião entre a Dagor Bragollach (455) e a Nirnaeth Arnoediad (473). Muitos Sindar do norte fugiram para o leste através de Ered Lindon durante ou imediatamente em seguida a Dagor Bragollach. A melhor oportunidade para Galadriel e Celeborn de partir seria quando esses Sindar estavam abandonando a guerra. Galadriel e Celeborn teriam sido acolhidos entre eles, e a desaprovação de Galadriel das medidas Noldorin deve ter induzindo-a a sair de Beleriand enquanto estava tudo bem.

    Angarato (Angrod) trouxe sua esposa, Eldalote, e seu filho, Arothir (Orodreth), para o exílio. Eles se estabeleceram em Dorthonion com Aikanaro (Aegnor), que nunca se casou. Angrod possuía uma grande força e ele ganhou o apelido de “Angamaite” (mãos de ferro). Angrod pereceu na Dagor Bragollach, mas Arothir escapou e fugiu para o sul para se juntar a Finrod na Nargothrond.

    Conta-se que Aikanaro (Aegnor) foi “renomado como um dos mais valentes dos guerreiros, muito temido pelos Orcs: em ira ou batalha a luz de seus olhos eram como chamas, apesar de que, de outra maneira, ele era de natureza generosa e nobre. Mas no começo da juventude a luz ardente podia ser observada; enquanto seu cabelo era notável: dourado como o de seus irmãos e irmãs, mas forte e duro, erguendo-se de sua cabeça como chamas”. Aegnor não teve esposa, mas emerge em “Athrabeth Finrod ah Andreth” (“Morgoth´s Ring) que ele se apaixonou por Andreth, uma sábia mulher Beoriana, enquanto ela era um tanto jovem. Apesar de ele desejar casar com ela, ele aparentemente confiou a Finrod (ou Finrod entendeu implicitamente) o fato de que ele previra sua própria morte em batalha, e ele não desejava deixa-la viúva, ou qualquer criança que ela poderia ter com ele órfã. Andreth viveu até envelhecer e deve ter vivido até a Dagor Bragollach, apesar da data de sua morte não ser registrada.

    A genealogia dos Finwënianos envolve alguns nomes espalhados nas gerações seguintes: Celebrimbor, filho de Curufin; Idril (Itaril), filha de Turgon; Arothir (Orodreth), filho de Angrod e Eldalote; e Celebrian, filha de Galadriel e Celeborn. Idril se casou com Tuor e teve um filho dele, Eärendil. Ela era sábia o bastante para prever a necessidade de um caminho escondido para escapar de Gondolin, e seu cabelo era tão dourado quanto o de sua mãe Vanyarin. Arothir (Orodreth) permaneceu próximo de Finrod e estava entre os poucos nobres que apoiaram Finrod quando ele se sentiu obrigado a pagar sua dívida a Beren. Finrod fez de Arothir seu capataz em Nargothrond, e quando se ouviu falar da morte de Finrod, Arothir guiou Celegorm e Curufin fora do reino.

    Arothir casou com uma dama Sindarin do norte, apesar de seu nome não ser registrado. Seus filhos foram Erenion (descendente de reis) e Finduilas. Finduilas era loira, e o próprio Arothir devia ter sido loiro. Apesar de que ela amava Gwindor, quando ela conheceu Túrin, ela não podia fazer nada além de se apaixonar por ele. E, no entanto, Túrin não correspondera aos seus sentimentos. Finduilas foi aprisionada quando Nargothrond rendeu-se a Glaurung e seus Orcs, mas os Orcs mataram-na e também os outros prisioneiros quando eles caíram numa cilada armada pelos Homens de Brethil.

    Ereinion escapou do saque de Nargothrond e seguiu seu caminho ao sul para a desembocadura do Sirion. Dali ele chegou a Círdan na ilha de Balar e foi nomeado Alto Rei dos Noldor no Exílio. Sua mãe nomeou-o Gil-Galad.

    A autoridade real de Finwë terminou com Gil-Galad. Mas a ambição dos príncipes Finwënianos parece ter parado com Gil-Galad também. Pois apesar dele ter estabelecido um reino poderoso em Lindon, que durara mais de 3000 anos, ele, aparentemente não teve uma esposa. Eärendil deixara a Terra-Média para sempre, e as ambições de seus ancestrais parecem somente ter sido realizadas por seu filho Elros, quem dada a oportunidade entre escolher a mortalidade e o reino dos Elfos, escolheu ser Rei de Númenor, porém mortal. Seu irmão Elrond escolheu ser do povo dos Elfos, mas nunca estabelecera seu próprio reino. Ele governara Imladris como um posto avançado do reino de Gil-Galad na Segunda Era e manteve-o como uma fortaleza do poder Eldarin na Terra-Média. Mas Elrond nunca teve o título de rei. Pode ser que, legalmente, ele sentia que não podia exigir um reinado, uma vez que Eärendil era filho de um homem mortal e não de um Rei Élfico.

    Mas talvez Elrond reconheceu que o tempo dos Finwënianos Élficos tinha vindo e acabado. Por quatro mil anos eles governaram reinos poderosos na Terra-Média, e opuseram-se aos seus inimigos. Apesar de suas falhas, os Finwënianos forneceram grande sabedoria aos Homens, e através do casamento de Idril com Tuor eles outorgaram um antigo e nobre patrimônio às grandes casas de Númenor e seus reinos sucessores. Enquanto os príncipes Eldarin desapareciam, um por um, seus primos Númenoreanos ascenderam à cena principal e assumiram o papel central na obra em andamento da história da Terra-Média.

    [Tradução de Helena ´Aredhel´ Felts]

  • Explorando a Quarta Era de Tolkien

    Muitas pessoas têm curiosidade sobre o que teria se desenrolado se Tolkien tivesse continuado sua história. Desafortunadamente para os fãs curiosos, Tolkien achou que o encanto da Terra-média morreu com Aragorn. Após seu tempo "as dinastias descendentes de Aragorn tornaram-se apenas reis e governadores – como Denethor ou pior." [Tolkien, "Letters", p. 344].

     

    Tolkien iniciou uma história situada na Quarta Era, cujo título era The New Shadow [A Nova Sombra]. Deveria ser uma continuação para O Senhor dos Anéis, mas ele abandonou o trabalho depois de algumas poucas páginas, sentindo que não existia mais nada a dizer que fosse fantástico e encantador. Não existia mais uma personificação do mal no mundo. Não existia mais um inimigo universal. Sauron e Melkor haviam sido ambos derrotados e tornados impotentes, então os Povos livres não estavam mais sob o risco de serem subjugados contra suas vontades, do mesmo modo que nenhum homem poderia dominar outros.

    The New Shadow se passaria em Gondor, ou pelo menos começaria ali, na casa de Borlas, o filho mais novo de Beregond, o sentinela da Cidadela que se tornou Capitão da Companhia Branca, a guarda de Faramir, após a Guerra do Anel. Existe um problema em se datar a história; contudo, Tolkien originalmente a colocou 100 anos após a Queda de Sauron, ao início do reino de Eldarion, mas anos mais tarde mudou o tempo para 100 anos após a ascensão de Eldarion ao trono. Contudo, Tolkien manteve Borlas como personagem principal, e alguém pode perguntar porque ele fez isso. Borlas deveria estar com cerca de 200 anos, o que é um tempo inacreditavelmente longo mesmo para um Dúnadan viver, a menos que fosse descendente de Elros. Provavelmente Borlas teria se tornado o neto ou bisneto de Beregond.

    Borlas estava preocupado com os rumores de um culto estranho e secreto que estava ganhando popularidade em Gondor. Tornara-se moda entre os jovens Gondorianos fingirem serem Orcs, tendo atitudes de Orcs [como destruir árvores sem razão aparente]. Mas agora os homens estavam sussurrando sobre um novo líder, Herumor [que significa "Senhor Negro" em Quenya], ao redor do qual um culto se formara [Tolkien o chamou de culto Satânico, e presumivelmente seria uma restauração da adoração a Melkor]. A história continua não muito além de Borlas recebendo uma carta de Saelon, um jovem que cresceu com o filho de Borlas, para que comparecesse a um encontro secreto [sem dúvida dos seguidores de Herumor]. Não fica claro se Saelon era um membro do culto tentando recrutar [ou assassinar] Borlas, ou se ele estava engajado em alguma campanha contra o culto e pedia a ajuda de Borlas.

    Tolkien decidiu que poderia ter escrito um thriller sobre a descoberta e destruição do culto, que estaria planejando a queda de Eldarion. Mas tal história não o interessou, embora certamente pudesse ter interessado a seus vários leitores. Borlas poderia não ter continuado como personagem principal, mas ter sido o instrumento em iniciar ou catalisar quaisquer que fossem as contra-medidas que os seguidores de Eldarion pudessem vir a tomar contra o culto.

    A Terra-média seria sem dúvida um lugar muito diferente do mundo descrito em O Senhor dos Anéis. Se nós assumirmos a última datação da história, cerca de 220 da Quarta Era, que permaneceu fixa, podemos deduzir algumas poucas coisas sobre o estado do mundo. Por exemplo, em The Peoples of Middle-earth nós aprendemos que Durin VII o rei dos Anões que estava destinado a restaurar os Anões barbalonga em Moria, seria provavelmente o filho de Thorin III Elmo-de-pedra, o filho de Dain II Pé-de-ferro. Thorin III nasceu em 2866 da Terceira Era e teria cerca de 153 anos quando seu pai morreu na Guerra do Anel. Thorin provavelmente não viveu até o final do reinado de Aragorn [embora Gimli, que nascera em 3879 da Terceira Era, viveu]. Portanto, Durin VII tornou-se Rei sob a Montanha por volta do ano 100 da Quarta Era.

    Quando os Barbalonga retornaram a Moria? Talvez no início do reino de Durin, mas provavelmente não antes da morte de Aragorn. Sem dúvida o evento ocorreu antes do ano 172 da Quarta Era, quando Findegil fez a última anotação na Cópia do Thain do Livro Vermelho do Marco Ocidental. Então, a recuperação de Moria provavelmente aconteceu entre os anos 120 e 172. Tal evento pode ter resultado, talvez, na última guerra com Orcs antes do tempo de The New Shadow. Borlas, o idoso protagonista de The New Shadow, poderia ter percebido "o velho mal", que aparentemente era o mal representado pelos verdadeiros Orcs, antigos servos de Sauron, e outras criaturas. Talvez ele tivesse lutado contra essas criaturas em sua juventude.

    De fato, em uma carta que Tolkien escreveu para um leitor em 1963, ele apontou sobre Faramir: como "Princípe de Ithilen, o mais nobre após Dol Amroth no revivido estado Numenoriano de Gondor, prestes a ter prestígio e poder imperiais, não era um "serviço de guarda de jardim"… até que muito tivesse feito pelo Rei restaurado, o Príncipe de Ithilien seria o guarda-limites de Gondor, em seu principal posto avançado do leste – e também tinha muita responsabilidade em reabilitar o território perdido, e em limpá-lo dos foras-da-lei e orcs remanescentes, isso sem citar o terrível vale de Minas Ithil [Morgul]" [Tolkien, "Letters", p. 323].

    Embora Faramir provavelmente tenha completado a maioria das funções necessárias, senão todas elas, seus sucessores podem ter lutado contra os Orcs nas Ephel Duath, as Montanhas da Sombra. E pode ser que o Príncipe de Ithilien [Faramir ou seus sucessores] tenha comandado quaisquer forças expedicionárias enviadas para ajudar a livrar a área dos Orcs. Expedição semelhante pode ter sido feita aos Vales do Anduin, para auxiliar os Anões Barbalonga a limpar Moria. Borlas, como um oficial na Companhia Branca, teria sido um candidato ideal a membro em tal expedição. Embora Tolkien provavelmente teria alterado muito tal história, nós podemos supor que o jovem Borlas teria visitado Moria por volta do tempo no qual Findegil estava escrevendo a Cópia do Thain do Livro vermelho. Findegil pode ter tido conhecimento da intenção de Durin de retornar a Moria, mas o evento poderia não ter sido completamente concluído. Portanto, a informação no Livro vermelho é reduzida, mas ao tempo de The New Shadow seria uma antiga lembrança para o idoso Borlas.

    Outra possível fonte para o antigo mal que Borlas reconheceu ao final do fragmento de The New Shadow poderiam ser os Espectros Tumulares. Estes eram criaturas malignas enviadas para habitar as antigas colinas de Tyrn Gorthad no noroeste de Cardolan após a Grande Praga ter destruído a maioria do povo de Cardolan. Tom Bombadil manteve vigilância sobre Tyrn Gosthad ao final da Terceira Era [ele expulsou um Espectro que havia capturado Frodo e seus companheiros], mas Gandalf lembrou no Conselho de Elrond que Bombadil apenas isolou a si mesmo, talvez, até
    que existisse alguma mudança no mundo. A restauração do Reino de Arnor por Aragorn pode ter sido esta mudança.

    Aragorn reconstruiu a antiga cidade de Annuminas ao norte do Condado, e visitou a região no ano 15 da Quarta Era. Gandalf contou ao Cervejeiro Carrapicho que, no devido tempo, muitas pessoas migrariam pela Estrada verde para recolonizar as antigas terras de Arnor. Aragorn parece ter se concentrado nas áreas norte primeiramente, mas a seu tempo Cardolan pode ter sido recolonizada também. Uma antiga tentativa durante o 19°. século da Terceira Era foi frustrada pelos Espectros, então Aragorn [ou Eldarion] provavelmente teria que lidar com eles em algum momento. Novamente, Borlas pode ter sido parte desta expedição.

    E um Espectro faz certamente mais sentido para um culto Satânico do que a mera presença de orcs em Gondor. Sauron era associado com feitiçaria e necromancia, e era servido por muitos espíritos, não apenas os Nazgul. Embora os Nazgul tenham sido reduzidos à impotência quando o Um Anel foi destruído, os Espectros Tumulares e outros espíritos podem ter continuado a perturbar os vivos por muitos séculos ainda. Se Herumor e seus seguidores tivessem encontrado e envolvido-se com um Espectro, o terror que ele poderia exercer e o poder que ele possuiria seriam consideráveis.

    O que era um Espectro? Tolkien na verdade não esclarece. Eles eram espíritos que originalmente vieram de Angmar e Rhudaur. No ano da Grande Praga [1636 da Terceira Era], Rhudaur havia sido abandonado há tempos, mas o povo das colinas que havia suplantado dos Dunedain em uma aliança secreta com Angmar praticava feitiçaria, e sem dúvida isto significa que eles invocavam e lidavam com espíritos ao serviço de Sauron. Os Espectros eram provavelmente estes espíritos, mas nós não sabemos que espíritos eles eram. É mais provável, pelos poderes exibidos pelo Espectro que capturou Frodo, que os espíritos fossem de elfos corrompidos [escravizados por Melkor na Primeira Era] ou Maiar menores, não tão poderoso quanto, digamos, um Balrog, nem mesmo como um Nazgul, mas mais poderoso que os espíritos dos Homens.

    No Morgoth’s Ring, Christopher Tolkien publicou um ensaio de seu pai, onde J.R.R. Tolkien discutia o esvair-se dos Elfos. Após a derrota final de Melkor, Eonwe viajou por toda a Terra-média e novamente chamou todos os Elfos para que migrasse a Aman. Embora muitos recusassem, foram colocados sob a maldição dos Valar, de que deveriam se esvair e eventualmente tornar-se espíritos desincorporados se ao final não cruzassem o Mar. Este processo de esvair-se parece ter sido necessário para induzir os Elfos a deixarem a Terra-média, que estava em tempo de se tornar de posse dos Homens. Mas neste ensaio, Tolkien sugere que alguns Elfos se recusaram a deixar a Terra-média mesmo quando o esvair-se tornou-se inevitável, e a seu tempo se tornaram assombrações residindo em regiões que uma vez habitaram. Tais espíritos algumas vezes eram contatados por homens, através da feitiçaria ou necromancia, e eles poderiam até mesmo ter permitido a estes espírito possuí-los.

    É concebível, portanto, que o culto Satânico tivesse alguma coisa a ver com a comunicação com Elfos que se esvaíram [assumindo que algum Elfos tivesse se esvaído a este tempo]. Por outro lado, Elfos podiam morrer por acidente ou na guerra, e quando isto acontecia, eles não precisavam responder ao chamado de Mandos se não desejassem eventualmente reencarnar. É dito que muitos dos Avari fizeram esta escolha, e o que era arriscado no tempo do reino de Melkor pode ter se tornado menos arriscado mais tarde. Então, alguns dos mais amargos e malignos Elfos poderiam ter permanecido na Terra-média após a morte, talvez envolvendo-se com o culto de Herumor.

    A despeito da possibilidade de esvair-se, e a presença de espíritos Élficos, é mais provável que continuassem a existir alguns enclaves de Elfos na Terra-média ao tempo de The New Shadow. Legolas partiu cruzando o Mar quando Aragorn morreu, mas Tolkien não diz que todo seus povo partiu com ele. Alguns dos Elfos da Floresta podem ter permanecido em Ithilien por muitos anos. Thranduil parece ter permanecido satisfeito no norte de Greenwood [Mirkwood, que foi rebatizada após a Guerra do Anel]. O povo de Celeborn poderia ter permanecido muito tempo em Lórien Leste, o reino fundado por ele na parte sul da floresta, nas terras antes dominadas por Dol Guldur [que Galadriel e Celeborn derrotaram]. Celeborm foi viver em Valfenda com seus netos Elladan e Elrohir antes de finalmente partir através do Mar, e o ano de sua partida não é registrado. Então, poderiam existir alguns Elfos vivendo em Valfenda, e em Mithlond, embora alguns tenham sentido Círdan partindo com Elrond e Galadriel.

    Dunland tornou-se parte de Rohan durante o reino de Éomer, talvez como conseqüência das ações dos Dunlendings na Guerra do Anel. Pode parecer estranho que os Rohirrim poderiam tentar coexistir com os Dunlendings, mas parece que eles compreenderam que teriam que aprender a viver juntos. Erkenbrand mostrou grande misericórdia para com os Dunlendings após a Batalha do Forte da Trombeta, e isto pode ter começado o processo de cura entre os dois povos, que tinham sido inimigos por mais de 500 anos.

    As populações de Rohan e Dunland provavelmente se expandiram, e podem ter contribuído com muitos dos colonizadores que se fixaram em Eriador. Nós sabemos que o Condado se expandiu, pois colonizaram as Colinas das Torres e todo o Marco Ocidental, e é possível que toda a terra de Bree tenha experimentado um novo período de crescimento enquanto a atividade econômica aumentava, proporcionando tal ímpeto. Annuminas pode ter sido dependente do comércio com o Condado, mas se Fornost foi recolonizada Bree pode novamente ter se tornado um importante centro de comércio, notícias e viagens em Eriador.

    O mundo de The New Shadow deveria ser mais abarrotado do que o mundo de O Senhor dos Anéis. Provavelmente existiriam menos Elfos perto do final do reinado de Eldarion, mas provavelmente existiam mais Anões. E Homens aumentariam e se expandiriam muito e amplamente, enquanto os Hobbits também prosperariam. Os planos de Herumor podem ter sido confinados às terras do sul, mas é mais provável para mim que Herumor estendesse sua influência tão distante e amplamente quanto possível. Mesmo os Hobbits do Marco Ocidental poderiam sentir algum traço de sua influência, mesmo que apenas em murmúrios medrosos comentassem a origem que não poderiam saber com certeza. Embora não houvesse grandes inimigos como Sauron para causar inquietação, a Quarta Era poderia, apesar de tudo, tornar-se um tempo perigoso para os Povos Livres novamente.

    Tradução de Fábio Bettega

  • Conexões Terra-média: Conhecimentos sobre os Anéis

    Ponto 1: Tempo ficou parado para os Anéis de Poder

    "’Quanto tempo você acha que eu devo permanecer aqui?’ disse Frodo a Bilbo quando Galdalf se foi.

    ‘Oh, eu não sei. Eu não consigo contar os dias aqui em Valfenda,’ disse Bilbo…"

     
     
     
    Esse diálogo, anotado em "O Anel vai para o Sul",
    é a primeira indicação que Frodo Bolseiro e seus amigos estavam
    envolvidos pela presença de um Anel do Poder que não fosse o Um Anel
    que Frodo carregou por muitos anos [desde que Bilbo deixou o Condado].
    Os Anéis de Poder foram criados para conter o Tempo, ou diminuir seus
    efeitos. Mas qual era o alcance de seus poderes? Exitia alguma espécie
    de limite absoluto para a "cronoinibição" de cada Anel? Poderiam os
    efeitos se estender apenas por essa distância e não mais além?

    O curioso é que o Um Anel, o mais poderoso de todos os artefatos
    concebidos para conter o Tempo, apenas inibia os efeitos do Tempo sobre
    seu portador. O Condado não se tornou "sem-tempo" porque Bilbo trouxera
    o Anel para lá. Bilbo de fato tornou-se "sem-tempo", e Frodo depois
    dele. Como é isso, então, que ninguém mais foi afetado, enquanto que em
    Valfenda e Lórien toda a terra [mas aparentemente nãos os habitantes
    não-Élficos] foram preservadas?

    Estudando os efeitos dos
    Anéis de Poder pode revelar muitas inconsistências aparentes em como
    eles funcionavam, e não "é de se estranhar que Saruman tenha ficado
    louco com o desejo de possuir um [ou todos] eles.

    Quando Elrond descreveu os poderes dos Anéis Élficos ele disse "mas
    não foram feitos para serem usados como armas de guerra ou conquista:
    não é esse o poder que têm. Aqueles que os fizeram não desejavam força,
    ou dominação, ou acúmulo de riquezas; mas entendimento, ações e curas."
    A descrição dele é bastante diferente da descrição dos poderes dos Anéis feita por Tolkien:

    "O poder principal [de todos os anéis igualmente] é a prevenção ou
    diminuição da decadência [isto é, "mudança" vista como algo
    lamentável], a preservação do que é desejado ou amado, ou sua visão –
    este é mais ou menos um motivo Élfico. Mas eles também aumentam os
    poderes naturais do portador – dessa forma se aproximando da "mágica",
    um motivo facilmente corruptível para o mal, um desejo por dominação. E
    finalmente eles possuíam outros poderes, mais diretamente derivados de
    Sauron ["o Necromante": assim ele é chamado pois lança uma sombra
    passageira e um presságio nas páginas de O Hobbit]: como fazer
    invisível o corpo material, e fazer coisas do mundo invisível visíveis.


    "Os Elfos de Eregion fizeram Três anéis supremamente belos e poderosos,
    quase que apenas de suas próprias imaginações, e os direcionaram para a
    preservação da beleza: eles não conferiam invisibilidade…" [Letters,
    No. 131].

    É possível inferir que a descrição de Elrond
    dos poderes dos Anéis é destinada a desviar outras inquisições
    apresentando apenas exemplos de seus poderes. A natureza verdadeira dos
    Anéis, de conter os efeitos do Tempo, é vista apenas no breve relato de
    Elrond: "Apenas nesta hora de dúvida eu posso dizer. Eles não estão ociosos."

    De fato, Elrond e Galadriel [de modo não sábio] usaram seus Anéis de
    Poder durante toda a Terceira Era para preservar os reinos Élficos. A
    história de Galadriel não é clara, mas ela provavelmente não viveu em
    Lorien durante toda a Terceira Era. Particularmente, quando se torna
    claro que todo o povo de Amroth partiria de Lorien se nada fosse feito,
    ela e Celeborn foram viver entre os Elfos da Florestas que ainda não
    tinham partido.

    Galadriel levou com ela Nenya, o Anel de
    Diamante, e ela pode ter usado seu poder para induzir os Elfos da
    Floresta a premanecer em Lorien. Nós não sabemos se ela realmente
    utilizou o Anel antes disso [1981 ou logo após]. Tolkien diz apenas que
    "o [Um] Anel foi perdido [ao início da Terceira Era], espera-se que
    para sempre; e os Três Anéis dos Elfos, empunhados por guardiães
    secretos, estão operativos na preservaçào da memória da beleza de
    antigamente, mantendo enclaves encantados de paz onde o Tempo parece
    parado e a decadência é refreada, uma visão da glória do Oeste
    Verdadeiro." [Ibid.]

    A partida de Amroth, que havia sido
    um vigoroso defensor do Oeste durante todo o segundo milênio da
    Terceira Era, pode ter estimulado os Elfos a uma ação diferente do que
    haviam feito anteriormente. Pode ser que de fato Elrond e Galadriel
    finalmente decidiram ativamente utilizar seus Anéis de Poder para
    evitar um êxodo em massa de Elfos da Terra-média. Se isso, eles estavam
    apenas retardando o inevitável, que era o propósito destinado aos
    Anéis, de qualquer forma.

    Ponto 2: os Elfos não podem permanecer na Terra-média

    Os Elfos estavam partindo da Terra-média há eras. A catástrofe para
    eles na Terceira Era era bastante diferente daquelas de eras
    anteriores. Quando os Eldar originalmente navegaram sobre o Mar fora
    sob o convite dos Valar, que haviam encontrado os Elfos em sua terra
    natal de Cuiviénen. Mas os Elfos foram incomodados por Melkor, que
    então era, de fato, governante damaior parte de Arda. Os Valar travaram
    uma terrível guerra contra Melkor e seus servidores Maiar e seres
    criados, tomaram-no prisioneiro e trouxeram um fim ao seu terrível
    reino. Mas desejando estar em companhia dos Elfos [cuja chegada havia
    sido antecipada através de incontáveis eras], e para proporcionar a
    eles um lugar seguro além do alcance dos servidores de Melkor, os Valar
    chamaram os Elfos para viverem com eles em Aman, o Extremo Oeste.

    Nem todos os Elfos estavam querendo deixar a Terra-média, que era sua
    terra natal e o único lugar que eles conheciam. E daqueles Elfos que
    aceitaram os chamados, muitos nunca cruzaram [vivos] o Mar. Ainda, as
    primeiras ondas de migração para fora da Terra-média foram "saudáveis",
    ou feitas quando os Elfos era jovens e fortes e ainda não estavam
    cansados do mundo. tampouco eles estavam profundamente envolvidos na
    Terra-média.

    Quando Feanor se rebelou contra os Valar, ele
    liderou a maior parte dos Noldor de volta à Terra-média [ou, melhor,
    liderou a maioria deles para fora de Eldamar, e então abandonou a maior
    parte de seu povo, a maioria dos quais decidiu seguir Fingolfin para a
    Terra-média]. Destes exilados, a vasta maioria [e seus descendentes]
    foram mortos ou escravizados por Melkor, que agora retornara à
    Terra-média como um Senhor Negro. os espíritos destes Elfos mortos
    retornaram a Aman onde esperaram um "renascimento" ou "reincorporação",
    se tal recompensa pudesse ser merecida por seus feitos em vida.

    Para os restantes, uma terrível maldição foi imposta. Não a Maldição
    dos Noldor, que foi a maldição que os valar colocaram sobre eles, que
    fracassassem na guerra contra Melkor. Especialmente, a eles foi dito
    que "aqueles que permanecessem na Terra-média deverão cansar-se do
    mundo com uma grande aflição, e deverão declinar, e tornar-se como
    sombras de pesar antes da raça mais jovem que virá depois."
    [Silmarillion, "Da Fuga dos Noldor"]

    Esta maldição foi
    aplicada, na realidade, a todos os Elfos, e foi, talvez, mais um aviso
    do que um julgamente. Ao descrever os eventos da Segunda Era para
    Milton Waldman [um editor que considerara O Senhor dos Anéis a certo
    momento quando Tolkien tinha retirado o livro da Allen & Unwin],
    JRRT escreveu "os três temas principais são A Demora dos Elfos que
    hesitavam em deixar a Terra-média; o crescimento de Sauron como um novo
    Senhor Negro, mestre e deus de Homens; e Numenor-Atlantis."

    Após a derrota final de Morgoth na Guerra da Fúria, Eonwë [arauto de
    Manwë e líder da Hoste de Valinor] viajou por toda a Terra-média,
    convocando todos os Elfos mais uma vez para navegarem sobre o Mar. O
    convite que anteriormente havia sido retirado, para incluir apenas os
    Eldar [os Elfos originais que realmente aceitaram as convocaçoes na
    primeira vez] foi agora extendido a TODOS os Elfos. Muitos dos Noldor e
    Sindar de Beleriand sobreviventes responderam e deixaram a Terra-média.
    Mas os remanescentes Noldor e Sindar uniram-se aos Nandor e Avari na
    Terra-média. Eles "hesitaram".

    Tolkien aponta que "no
    primeiro [tema da Segunda Era] nós vemos uma espécie de queda ou pelo
    menos "erro" dos Elfos. Não existe nada essencialmente errado em suas
    hesitações em atender ao conselho, permanecendo tristemente nas terras
    mortais de seus antigos feitos heróicos. mas eles queriam ter seu bolo
    sem comê-lo. Queriam a paz e a bem-aventurança e memória perfeita do
    "Oeste", e mesmo assim permanecer na terra ordinária onde seu prestígio
    como o povo maior, sobre Elfos da florestas, Anões e Homens era maior
    do que estar na base da hierarquia de Valinor. Eles então tornaram-se
    obcecados com o "esvair-se", o modo pelo qual as mudanças do tempo [a
    lei do mundo mortal sob o sol] eram sentidas por eles. Eles tornaram-se
    tristes, e suas artes [poderíamos dizer] de antiquários, e seus
    esforços eram todos uma espécie de embalsamação – mesmo que eles também
    tenham mantido a antiga razão de sua espécie que eram o adorno da terra
    e a cura de seus ferimentos…." [Ibid.]

    Em outro lugar Tolkien reitera esta situação dizendo "os
    Elfos não são completamente bons ou corretos. Não tanto por terem se
    envolvido com Sauron quanto que com ou sem sua assistência eles eram
    "embalsamadores"
    . Eles queriam ter seu bolo e comê-lo: viver na
    Terra-média mortal e histórica porque haviam se tornado apreciadores
    dela [e talvez porque eles ali tinham as vantagens de uma casta
    superior] e então tentaram parar suas madanças e história, parar seu
    crescimento, mantê-la como um prazer, mesmo que na maior parte um
    deserto, onde poderiam ser "artistas" – e eles foram sobrecarregados
    com tristeza e pesar nostálgico…." [Letters, No. 154]

    Sauron também hesitou na Terra-média. Tendo visto a completa derrota de
    Morgoth, ele realmente se arrependeu [de acordo com Tolkien]. vendo que
    os poderes da Luz realmente suplantavam o poder da Escuridão, ele
    percebeu que talvez suas escolhas anteriores não eram as corretas para
    ele. Mas quando Eonwë convocou-o para valinor para ser julgado pelo
    Valar, Sauron recusou, e ele fugiu para esconder-se no exílio. Ou ele
    temeu que poderia sofrer o mesmo destino de Melkor [que foi executado e
    forçado a deixar Ea, o universo, em um estado de fraqueza terrível] ou
    que ele poderia ser aprisionado por algum período de tempo
    interminavelmente longo.

    O Sauron "reformado" em um primeiro
    momento desejou apenas ajudar a curar a terra que ele originalmente
    havia auxiliado a danificar. Tolkien aponta que "seus motivos e aqueles dos Elfos pareciam caminhar parcialmente juntos: a cura das terras desoladas." [Letters, No. 131]
    Mas as intenções de Sauron mudaram, e a certo tempo ele decidiu que ele
    poderia "curar" melhor as terras direcionando os esforços dos Elfos, e
    este tornou-se em última instância um desejo por dominação sobre os
    Elfos [e através deles, sobre a Terra-média].

    E então Sauron "encontrou
    o ponto fraco [dos Elfos] sugerindo que, ajudando-se mutuamente, eles
    poderiam fazer a Terra-média Ocidental tão bela quando Valinor. Foi
    realmente um ataque velado aos deuses, um incitamento a tentar e fazer
    um paraíso separado e independente. Goilgalad [sic] recusou todas as
    sondagens, bem como Elrond. Mas em Eregion um grande trabalho fora
    iniciado – e os Elfos chegaram o mais próximo de caírem para a "magia"
    e maquinaria. Com a ajuda do conhecimento de Sauron eles fizeram os
    Anéis de Poder…." [Ibid.]

    Em essência, Sauron estava dizendo, "Vocês
    não precisam esvair-se. Vocês não precisam navegar por sobre o Mar.
    Vocês podem recriar Valinor aqui na Terra-média e usufruir todos os
    benefícios que ela tem a oferecer a vocês."
    A oferta era por demais
    tentadora para alguns Elfos, os Noldor de Eregion. Sauron [disfarçado
    de Annatar, ou Aulendil, um Maia do próprio povo de Aulë em Valinor]
    estava oferecendo aos Eldar uma chance de evitar a inevitável maldição
    que fora decretada para eles.

    Mas o que Tolkien quis dizer quando ele fala "os Elfos chegaram o mais próximo de caírem para a "magia" e maquinaria"?

    Ponto 3: Arte versus Magia

    Tolkien tentou explicar seu uso de "magia" em mais de uma ocasião, e
    nem sempre foi bem sucedido. "Temo que eu tenha sido muito casual sobre
    "magia" eespecialmente o uso da palavra," ele escreveu em um rascunho
    de complemento de uma carta que nunca foi enviado [Letters, No. 155].
    "Apesar de Galadriel e outros mostrarem pela crítica ao uso "mortal" da
    palavras, o pensamento sobre isto não é geralmente casual."

    Em sua carta a Milton Waldman, Tolkien tentou explicar Arte e a Máquina
    falando de "Queda, Mortalidade e Máquina." A história é relacionada com
    "Queda inevitável, e esta ocorre de muitas maneiras. Com a Mortalidade,
    especialmente como afeta a arte e a desejo criativo [quero dizer,
    sub-criativo] que parece não ter função biológica, e estar à parte das
    satisfações da vida ordinária comum, com a qual, em nosso mundo, está
    de fato usualmente em conflito.

    O desejo é imediatamente
    unido a um amor apaixonado pelo mundo primário real, e então preenchido
    com o senso da mortalidade e insatisfeito por ele. Existem várias
    oportunidades de "Queda". Pode tornar-se possessivo, agarrado a coisas
    feitas "por si mesmo", o sub-criador deseja ser Senhor e Deus de sua
    criação particular. Ele irá se rebelar contra as leis do Criador –
    especialmente contra a mortalidade. Ambos estes motivos [separados ou
    juntos] irão conduzir a um desejo de Poder, para fazer a vontade mais
    rapidamente efetiva – e então para a Máquina [ou Magia]. Mas ao final
    eu pretendi que todo o uso de planos externos ou dispositivos
    [apparatus] ao contrário do desenvolvimento de poderes inerentes ou
    talentos – ou mesmo o uso desses talentos com o motivo corrompido de
    dominar: amedrontando o mundo real, ou coagindo outras vontades. A
    Máquina é nossa mais óbvia forma moderna apesar de mais próxima à Magia
    do que normalmente reconhecido."

    Tolkien continua para ceder
    novamente [ou, de fato, anterior à sua concessão acima] que "Eu não
    usei "magia" consistentemente, e realmente a Rainha Élfica Galadriel é
    obrigada a advertir os Hobbits pelo seu uso confuso da palavra tanto
    para os dispositivos e operações do Inimigo quanto para aqueles dos
    Elfos. Eu não usei consistentemente porque não existe uma palavra para
    a última [uma vez que todas as histórias humanas sofrem da mesma
    confusão]. Mas os Elfos estão lá [em meus contos] para demonstrar a
    diferença. Sua "mágica" é Arte, livre de muitas de suas limitações
    humanas: exige menos esforço, é mais rápida, mais completa [produto e
    visão em correspondência sem falhas]. E seu objetivo é Arte não Poder,
    sub-criação não dominação e tirânica transformação da Criação. Os
    "Elfos" são "imortais", pelo menos tão longe quanto este mundo dure: e
    portanto são preocupados especialmente com os pesares e aflições da
    imortalidade no tempo e nas mudanças, do que com a morte. O Inimigo em
    sucessivas formas está sempre "naturalmente" preocupado com a Dominação
    absoluta, e portanto é o Senhor da magia e das máquinas; mas o
    problemas: o que este terrível mal pode e faz surgir de uma raiz
    aparentemente boa para beneficiar o mundo e os outros – rapidamente e
    de acordo com os próprios planos do benfeitor – é um motivo recorrente."

    Arte então faz uso do mundo natural, e desenvolve suas tendências
    naturais, enquanto que a Máquina impões uma vontade externa [não
    natural] sobre o mundo, ou outras vontades. Tolkien aponta que os Elfos
    de Eregion "chegaram o mais próximo de cair para a "magia" e
    maquinaria." Ao criar os Anéis de Poder, eles usaram suas Artes para
    criar uma Máquina, mas era uma Máquina que eles pretendiam utilizar
    apenas para preservação, não alteração. Em todo caso, a contenção do
    Tempo é uma ação muito séria, contrária às leis da natureza. É um ato
    de rebelião "contra as leis do Criador".

    Os Anéis de Poder
    são, dessa forma, um paradoxo: eles proporcionam cura e restauração,
    mas também uma preservação não natural. O motivo final por detrás dos
    Anéis, reduzir ou evitar o inevitável esvair-se que os Elfos deveriam
    sofrer, e um motivo rebelde. Os dispositivos são externos aos ambientes
    que eles controlam, e os Elfos [de Eregion] não perceberam de início o
    erro que estavam cometendo. Eles pagaram um terrível preço por sua
    tolice. Sauron destruiu seu reino e tomou a maior parte dos Anéis para
    si próprio, quando ele percebeu que seu plano para controlar os Elfos
    através dos Anéis não funcionara. Deve ser enfatizado que a maioria dos
    aspectos de Máquina presente nos Anéis derivam de Sauron, porque a
    intenção de utilizá-los para controlar outros seres era estritamente
    dele próprio.

    A combinação de Arte e Magia é ao mesmo tempo
    poderosa e destrutiva para os Elfos. Eles alcançaram uma pequena porção
    de seu objetivo final, mas as coisas realmente nunca funcionaram como
    eles pretendiam.

    Ponto 4: O Produto de Arte e Máquina

    Quando Sauron tomou os Sete e os Nove, Tolkien escreveu, ele retornou a
    Mordor [de fato, ele foi eventualmente rechaçado para Mordor pelos
    Eldar de Lindon e seus aliados Numenorianos, que a este tempo não
    tinham idéia do motivo da guerra]. Lá Sauron "perverteu" os Anéis, e
    ele os deu aos Anões e Homens em um novo plano pretendendo extender a
    influência de Sauron sobre estas raças assim como ele pretendia
    utilizá-los para controlar os Elfos.

    Tolkien não diz
    exatamente como Sauron perverteu os Anéis, mas seu objetivo final era
    criar poderosos senhores que seriam seus escravos. Os Nove funcionaram
    perfeitamente, e os nove homens que aceitaram os Anéis os utilizaram
    para se tornarem grandes senhores, mas eventualmente perderam seus
    livre-arbítrios e seus corpos. Eles se tornaram espectros, para sempre
    invisíveis e incapazes de interagir diretamente com o mundo exceto
    através de alguma forma de procedimento pela qual poderiam tomar forma
    quando utilizando certas vestimentas. Eram vestimentas naturais ou
    mágicas? Não sabemos.

    Mas como os Nove e os Sete eram
    imbuídos com as habilidades de fazer seus portadores invisíveis ou
    permitir que vissem normalmente coisas invisíveis [presumivelmente
    espectros, os espíritos de outros seres], segue que Sauron utilizou
    estas habilidade para garantir poderes de necromancia [a prática de
    comunicar-se ou controlar os mortos] aos portadores dos Anéis. Tolkien
    não fala de qualquer Anão que tenha praticado necromancia. De fato, os
    Anéis não podiam deixar os Anões invisíveis. parece que, portanto, os
    Anéis não ofereciam nada de valor aos Anões em termos de lidar com os
    mortos. Seus espíritos não devem se demorar na Terra-média quando eles
    morrem.

    Os Elfos, por outro lado, nem sempre iam
    imediatamente para Mandos em Aman quando morriam [ou se esvaiam]. Eles
    poderiam recusar os chamados, abandonando qualquer esperança de reobter
    um corpo físico. Dessa forma faz sentido que Sauron tenha induzido os
    Elfos de Eregion a incluir poderes Necromânticos em seus Anéis. Em
    Aman, os Elfos estavam acostumados a viver junto aos Valar e Maiar, que
    poderiam aparecer a eles em uma forma física ou em forma "espíritual"
    [e os Valar e Maiar podiam controlar se seriam percebidos pelos Elfos,
    quando em forma de espírito].

    Espíritos Élficos podem não ser
    equivalentes aos dos Valar e Maiar, mas presumivelmente os Elfos
    esperavam falar com Mamãe e Papai na ocasião, desde que não tivessem
    ido rapidamente para Aman quando da morte de seus corpos. Ou pode ser
    que o processo de esvair-se já tivesse se iniciado ou os Elfos estavam
    antecipando uma rápida transição para aos Anos do Esvair-se.

    Quem seria mais provável para esvair-se? Um Elfo antigo,
    presumivelmente. E quanto mais antigo o Elfo, mais provavelmente teria
    vivido em Valinor [se fosse Noldor] ou ter vivido em Cuivienen. Ele ou
    ela poderiam ser a cabeça de uma família. Então os Anéis de Poder foram
    provavelmente criados para vários senhores Élficos, príncipes e reis.
    Os Elfos mais novos, nascidos na Terra-média – mesmo na Segunda Era –
    poderiam ou ter que esperar sua vez ou poderiam esperar que os Anéis os
    pudessem ajudar também.

    Quando Gandalf estava discutindo a
    confrontação com os Nazgul no Vau de Bruinen com Frodo, Frodo
    perguntou-lhe se a figura brilhante que ele vira era Glorfindel. "Sim,"
    Gandalf respondeu. "Você o viu por um momento como ele é no outro lado:
    um dos mais poderosos dos Primogênitos. Ele é um senhor Élfico de uma
    casa de príncipes."
    Um pouco antes na mesma conversa, Gandalf também aponta que Valfenda era uma casa para "os
    sábios Élficos, senhores dos Eldar de além do mais distante dos mares.
    Eles não temem os Espectros do Anel, pois aqueles que moraram no Reino
    Abençoado vivem ao mesmo tempo em ambos os mundos, e tanto contra o
    Visível como contra o Invisível eles possuem grande poder."

    Desta forma, talvez os Anéis não necessartiamente seriam para os Elfos
    que tinham vivido em Aman. Preferencialmente os Anéis podem ter sido
    destinados a seus jovens filhos ou sobrinhos, Elfos que nasceram na
    Terra-média, que não aprenderam a viver "ao mesmo tempo nos dois
    mundos".

    Deve ter sido importante para os Elfos possuir tal
    habilidade, e talvez significasse que eles seriam menos propensos a se
    esvair, uma vez que ele seriam capazes de se mover entre os dois
    mundos, por assim dizer. Não se mover fisicamente, mas via suas
    vontades. Eles deveriam ser capazes de perceber e interagir com
    espíritos desimcorporados [espectros] em Aman, e desejariam fazer o
    mesmo na Terra-média.

    A interação deve ter incluído "fazer as
    coisas "do mundo invisível visíveis". Poderiam os poderes restauradores
    dos Anéis trazer um Elfos de volta à vida? Os Anéis poderiam ser usados
    para dar aos Elfos novos corpos? Ou podiam ser utilizados simplesmente
    para fazer espectros-Élficos visíveis a todos? No "Conto de Aragorn e
    Arwen" Aragorn brevemenre imagina que "ele festivera tendo um sonho, ou
    recebera o dom dos menestréis Élficos, que poderiam fazer as coisas que
    cantavam aparecerem diante dos olhos daqueles que ouviam."

    Algo desta habilidade é também colhida no conto do duelo de feitiçaria
    de Finrod com Sauron na forteleza de Tol Sirion. Finrod cantou sobre
    sua vida em Valinor, mas sua música se voltou contra ele quando foi
    obrigado a cantar sobre o Fratricídio, e Sauron foi capaz de capitazar
    a culpa e o retorno de Finrod [embora Finrod não tenha pessoalmente
    participado do Fratricídio]. Esta habilidade de criar imagens visíveis
    com o poder da música implica que os Elfos, com um grande esforço em
    direção à Máquina, poderiam perverter sua Arte [ou pelo menos fazer mau
    uso dela] para criar coisas visíveis a partir do mundo invisível.
    Sauron pode ter preciso dar uma pequena ajuda a eles.

    Celebrimbor fez os Três Anéis por ele mesmo, e estes Anéis não
    conferiam invisibilidade a seus portadores. Presumivelmente eles não
    faziam coisas invisíveis visíveis, tampouco. Os Três eram, portanto,
    mais concordantes com a descrição de Elrond dos Poderes dos Anéis.

    Mas continua a não responder a questão de como os Anéis trabalhavam.
    Porque todos os Hobbits do Condado [ou pelo menos da Vila dos Hobbits]
    não sofreram os efeitos do Um Anel?
     
     
    Ponto 5: Usando a Máquina através da Arte

    A resposta parece ser uma questão de vontade. Tolkien escreveu que os
    Três Anéis efetivamente continham o Tempo mesmo quando não era
    ativamente utilizados. Então, durante a Segunda Era, os Elfos de Lindon
    aproveitaram os benefícios pretendidos para os Elfos de Eregion mesmo
    não ousando usar nenhum dos Anéis. Celebrimbor deve portanto ter
    conferido aos Três a habilidade natural de verdadeiramente extender
    seus poderes sobre uma região. O campo de efeito não pode ser medido em
    milhas, contudo, mas antes em pessoas e objetos. Isto é para dizer que
    se alguém estivesse usando um dos Três, ele [ou ela] poderia ser capaz
    de decidir que todos os Mallorn e todos os Elfos seriam preservados. Os
    efeitos poderiam ser de alguma forma randômicos se os Anéis não fossem
    ativamente usados.

    Desta forma, gandalf poderia
    intencionalmente reter os efeitos de contenção de tempo de Narya, o
    Anel de Fogo que Cirdan lhe deu. Ou Gandalf poderia deixar que o Anel
    afetasse apenas os Elfos. Cirdan disse que o Anel estava inativo quando
    o deu a Gandalf, então aparentemente ele não o estava usando o Anel e
    direcionando seus benefícios. Gandalf, então, nao precisaria usar Narya
    usar Narya para conter o processo de esvair-se para ninguém [incluindo
    a si mesmo, embora ele não corresse risco de esvair-se].

    Elrond e Galadriel podem ter pego uma pista de Cirdan. Gil-galad
    originalmente possuía tanto Vilya quanto Narya, e os deu a Elrond e
    Cirdan perto do final da Segunda Era [talvez tendo um pouco de visão
    sobre sua batalha final contrea Sauron]. Celebrimbor parece ter dado o
    Anel a Galadriel.

    Uma vez que Elrond e Cirdan aconselharam
    Isildur a destruir o Um Anel quando Isildur o cortou da mão de Sauron,
    parece estranho que eles simplesmente tenham voltado para casa e
    começado a utilizar seus Anéis de Poder no mesmo momento. Talvez eles
    tenham tomado seus Anéis quando compreenderam que Isildur e o Um Anel
    se perderam. Mas também pode ser que os tr6es portadores tenham
    mantidos seus Anéis inativos por pelo menos mil anos.

    Então
    Gandalf apareceu, Cirdan lhe deu Narya, e o gênio foi tirado da
    garrafa. Elrond pode ter começado a usar Vilya antes, uma vez que ele
    reunira muitos Alto Elfos [Noldor] em e ao redor de Valfenda. Ele
    poderia ter tido em suas mãos uma porção de Elfos se esvaindo. Tolkien
    não diz quando foi que os compreenderam que Elrond portava um dos
    Anéis, mas parecem ter sabido isso ao final da Terceira Era. Se
    lentamente o fato de que alguém não se esvaia se permanecesse em ou
    perto de Valfenda se espalhava, poderia ser um sinal de que um dos Três
    era mantido ali.

    Muito do mesmo poderia ser verdade para
    Galadriel. Ela poderia ter chegado em Lorien e oferecido para guardar
    os Elfos da Floresta de se esvaírem. Eles devem ter sabido sobre os
    Anéis do Poder então. Eles haviam perdido um rei, o pai de Amroth, na
    guerra contra Sauron ao final da Segunda Era. E Amroth ajudara Elrond
    mais de uma vez nas guerras contra Angmar. Haldir especificamente se
    refere ao "poder da Senhora dos Galadrim" quando Sam menciona que se
    sentia "como se dentro de uma música". Haldir parecia saber que
    Galadriel estava usando um Anel. Ele pode não ter falado abertamente,
    mas tanto Elrond quanto Galadriel indicavam que todos os Elfos estavam,
    unidos na crença de que seria melhor perder os Três do que permitir ao
    Um continuar existindo. Muitos Elfos, então, deve ter tido uma idéia
    bastante boa de onde Vilya e Nenya estavam escondidos.

    Mas se
    os Anéis podiam ser direcionados concientemente, tanto para extender a
    certos limites ou para trabalhar apenas em certas criaturas e plantas,
    então faz sentido que existisse um limite físico para o poder dos Três.
    No ponto em que a Sociedade do Anel penetrou no domínio do poder de
    Galadriel, e este poderia ou não ser coincidente com as fronteiras
    físicas de Lorien [de fato, uma vez que os Elfos retiraram-se para o
    interior da florestas, poderia ser que a extensão da influência de
    Nenya era consideravelmente menor que os limites da floresta].

    Círculo Completo: Os Anéis, Tempo e Espectros

    Então, porque o Condado não se beneficiou da presença do Um Anel?
    Provavelmente porque apenas os Três agiam de alguma forma geográfica, e
    embora o Um possuísse os poderes dos outros Anéis, ele pode não ter
    possuído o alcance dos Três Anéis porque Sauron não estava presente
    quando Celebrimbor os fez. Sauron mesmo não teria um motivo real para
    criar uma valinor na Terra-média, então porque usar o Um Anel para
    conter a decad6encia ao redor dele? Por outro lado, Smeagol, Bilbo e
    Frodo todos ficaram sem usar o Um Anel por longos períodos de tempo.
    Então ele, também, deveria ter um alcance geográfico mínimo que era,
    talvez, mais ajustado a quem possuía o Anel do que qualquer outra coisa.

    Os Anéis não continham realmente o tempo. Eles apenas diminuiam o seu
    impacto em um corpo biológico. Para alguma coisa como uma árvore, que
    não tinha espírito [Ents e Hurons não são considerados], nao existia
    dano real. Um animal, de qualquer forma inteligente, também poderia se
    beneficiar dos efeitos dos Anéis porque eles não possuíam um espírito.
    Um Elfo, cujo espírito estava destinado a permanecer em Arda até o
    final do Tempo, não se sentiria esticado, como Bilbo bem colocou.

    O problema para "mortais" era que seus espíritos desejavam ir para
    outro lugar. Após um certo período de tempo, Homens mortais tinham que
    morrer. Eles tinham que abrir mão de seus espíritos. Um Anel de Poder
    obstruía essa tendência natural. O corpo poderia continuar vivendo,
    funcionando da mesma forma como no dia em que veio a possuir o Anel.
    Mas o espírito estaria constantantemente se esforçando para partir.
    Então, a luta entre espírito e corpo [ou espírito e Anel] deve produzir
    a sensação de "esticamento" da qual Bilbo se queixou. Ele não estava
    fisicamente esticado, mas dividido entre forças poderosas.

    Dessa forma, quando Sauron perverteu os Sete e os Nove, ele deve ter
    alterados suas tendências naturais de preservação para obter o efeito
    oposto. Os Nove portadores não se tornaram espectros poque usaram os
    Anéis, mas porque os possuíram. A utilização dos Anéis pode ter
    acelerado o processo de esvair-se, mas provavelmente qualquer Elfo que
    pudesse ter tomado um dos Nove ou Sete alterados teria se esvaído
    também, e se tornado tão escravizado quanto os nove Homem eventualmente
    se tornaram.

    Pessoas frequentemente perguntam se um homem se
    esvairia se possuísse um dos Três. Eu não acredito nisso. Eu acho que
    ele apenas continuaria, dia após dia, e eventualmente perderia a conta
    do tempo. Ele poderia ver o sol passar sobre sua cabeça, e talvez
    notasse as fases da lua [embora a Sociedade do Anel não as tivesse
    notado enquanto estavam em Lórien]. Mas para ele o tempo se tornaria,
    eventualmente, uma armadilha. Seu corpo não ficaria mais velho. Ele
    apenas viveria e viveria e viveria, e a vida se tornaria um tormento
    constante para ele, porque ele estaria sempre em conflito com sua
    própria natureza.

    O mundo se arrastaria para tal alma
    desafortunada, que poderia, no final das contas, não sentir nada a não
    ser um profundo desejo de libertação de seu tormento.

  • Os Mistérios da Terra-média

    Parte do prazer de ler sobre a Terra-média está em descobrir mais a respeito de temas obscuros após estes aparecerem em algum lugar "canônico". Pegue os Druedain; Woses, como são chamados em "O Senhor dos Anéis". Quando você lê o livro pela primeira vez, vê que eles mal aparecem e conduzem os Rohirrim ao redor de um exército de Orcs e Orientais.

     

    Eles têm alguma importância além desta no decorrer da história? Sim e não. Eles estão lá para dar aos Rohirrim uma passagem viável ao redor do bloqueio da tropa, e a finalidade deste bloqueio é mostrar ao leitor que Sauron é tão poderoso que pode espalhar exércitos por todo o mapa. Mas os Druedain também servem para lembrar ao leitor que a Terra-média está cheia de criaturas estranhas e misteriosas de todos os tipos.

    Talvez Tolkien tenha pensado "Aqui será bom acrescentar outra raça mágica de criaturas" quando ele esboçou aquela parte da história, mas evidentemente ele não parou por aí. Muitos anos depois ele escreveu um longo ensaio o qual falava muito da história sobre os Anões e os Homens, mas também falava dos Druedain, e explicava quem eles eram, de onde eles vieram, e como eles acabaram na Floresta Druedain. A escolha do nome "Druadan" pode ter sido conveniente, ou pode ter sido intencional.

    Tolkien de fato começou chamando o povo de Ghan-buri-Ghan de "homens escuros de Eilenach" e a floresta era "Floresta Eilenach". Mas então eles se tornaram os Druedain da Floresta Druadan, e no publicado Senhor dos Anéis, eles se tornaram os Woses, mas a floresta permaneceu Floresta Druadan. A associação da palavra "adan" com uma raça não-edain é muito peculiar, e confundiu muitas pessoas. Mas em 1980, Christopher Tolkien publicou muito material dos Druedain em "Contos Inacabados" e o mistério foi esclarecido.

    Esta foi a quarta tribo associada aos Edain, não numerada entre as "casas" dos Edain, mas, apesar de tudo, foi dado a eles acesso a Númenor como uma recompensa por seus serviços e sofrimento em Beleriand. E na prática, não há menção deles em "O Silmarillion", porque foi somente em 1960 que Tolkien concluiu as origens e destino dos Druedain, muito depois do material do Silmarillion ter sido feito até o ponto onde Christopher o encontrou após a morte do pai.

    Por sinal, Tolkien gostava da palavra "wose". Ele a usava como um dos apelidos de Túrin [Saeros o chamava de woodwose em "Narn i Hîn Húrin"] e "woodwose" é a forma moderna do Anglo-Saxão "wusu-wasa", "homens selvagens das florestas" [um dos apelidos de Túrin]. "Woses" é então destinado a ser uma tradução da atual palavra Rohirrica "Rogin" [sing. Rog], com o mesmo significado, "homens selvagens das florestas". Os Rohirrim ignoravam [assim como Tolkien, quando escreveu o Senhor dos Anéis] a antiga história dos Woses.

    Há muitos mistérios confinados nas florestas da Terra-média. Tolkien amava as árvores, e ele as honrou de uma forma especial. Ele sempre achou que elas tinham recebido um amargo quinhão em compartilhar o mundo com os homens. Tolkien baseou-se na "vinda da "Grande Floresta Birnam para a alta Colina Dunsinane"", em Shakespeare, e quis que as árvores realmente marchassem para a guerra, realizando esse desejo através dos Ents.

    Alguém deve perguntar como os Ents vieram a habitar a Floresta de Fangorn. Tolkien não diz claramente. O próprio Fangorn [Barbárvore] diz que vagou em Beleriand por terras há muito não molestadas por Morgoth, mesmo durante a guerra contra os elfos. Evidentemente, se os Ents sobreviveram à destruição de Beleriand no fim da Primeira Era, eles devem ter rumado para o leste, para Eriador, onde havia em tempos idos uma antiga floresta sobre a qual Elrond disse: "foi-se o tempo em que um esquilo podia ir de árvore em árvore do que é agora o Condado até a Terra Parda, a oeste de Isengard. Por aquelas terras eu viajei uma vez, e muitas coisas selvagens e estranhas eu conheci."

    Deixando a viagem de Elrond à parte, alguém deve se perguntar como os esquilos [e os Ents] cruzaram o poderoso rio Gwathló. Ele era amplo e bastante profundo, pois os navios vindos do Oceano podiam navegar longe para o interior, até Tharbad, onde, possivelmente, as águas se tornavam suficientemente rasas para que os Ents pudessem atravessar.

    Mas por que eles fariam isso? Quando eles deixaram as florestas do norte? Aparentemente, o eles fizeram antes da Guerra entre os Elfos e Sauron, e em outro texto Tolkien diz que o próprio Fangorn encontrou o Rei de Lothlórien nos primeiros anos da Segunda Era e combinaram as fronteiras de seus reinos. A migração dos elfos de Beleriand para o leste na Segunda Era levou os Ents para o leste também? Ou os ents em alguma época se tornaram tão numerosos que tinham se espalhado pelas terras? Há muitas coisas que nunca saberemos da história dos Ents, infelizmente.

    Outras criaturas das florestas que têm um passado misterioso são as aranhas gigantes de Mirkwood. Onde e quando estas criaturas surgiram? Dizem ser descendentes de Ungoliant, e Mirkwood era a Grande Floresta Verde até Sauron despertar na Terceira Era e se estabelecer em Dol Guldur. Ele, sem dúvida induziu algumas da prole de Ungoliant que habitavam o norte da floresta, mas como elas chegaram lá? Não parece provável que Isildur desejasse construir uma cidade próxima a aranhas monstruosas que se alimentavam de Homens e Elfos.

    Uma coisa que sempre me incomodou é quem eram aqueles misteriosos homens que comercializavam com a Cidade do Lago em "O Hobbit". Eles viviam ao sul do Lago Comprido e eram aparentados aos Homens do Norte, mas onde eles viviam? A Velha Estrada da Floresta, de acordo com o livro, "era coberta de vegetação e não utilizada no final, ao leste, e conduzia a pântanos intransponíveis onde os caminhos estavam há muito perdidos." A estrada foi originalmente feita pelos Anões. Eles usavam-na para alcançar o Celduin e, de lá, passavam para o nordeste de alguma forma até as Colinas de Ferro.

    Se houvessem homens ainda vivendo ao longo do Celduin [o Rio Corrente, que vem de Erebor], por que eles não se estabeleceram no ponto onde a Velha Estrada da Floresta encontrava o rio? Ou talvez eles tivessem vivido lá por algum tempo, mas tivessem deixado o local.

    Então há dúvida do por que Gandalf e Beorn decidiram levar Bilbo de volta pela borda norte de Mirkwood quando retornaram para o oeste. Havia, de fato, homens vivendo naquelas regiões em tempos antigos, e provavelmente homens ainda habitavam lá no fim da Terceira Era, mas não há indicação no mapa de "O Hobbit" ou no texto. Parece uma decisão muito e
    stranha, visto que o Rei Elfo teria assegurado a sua passagem a salvo através da floresta.

    Voltando ao sul, nós podemos olhar para Pelargir e perguntar que fim levou a frota de Gondor. A incursão de Aragorn a Umbar foi a última vez que navios gondorianos se moveram contra o inimigo na Terceira Era. No tempo da Guerra do Anel, a ameaça de Umbar e outros portos do sul era tão grande que Denethor desejou nove décimos das forças de Gondor nas costas, protegendo-a de ataques vindos do mar. Ele teria dispensado as frotas de Gondor após tornar-se Regente, talvez por ter sido Thorongil, seu rival, quem liderou o ataque contra a Cidade dos Corsários?

    E por que ninguém tentou recolonizar Eriador depois da destruição de Angmar? A presença das Criaturas Tumulares em Tyrn Gorthad, as Colinas dos Túmulos, explica por que ninguém se estabeleceu por lá novamente. Mas e quanto às planícies ao sul de Vau Sarn que eram inabitadas? E ao redor das Colinas do Sul? O que impedia as pessoas de viverem lá? O que houve ao povo de Tharbad quando aquela foi finalmente abandonada? Eles rumaram para o norte, para o Ângulo, e se uniram aos Dúnedain que moravam lá? Pelo jeito, parece que os Dúnedain prosperaram e também muitos deles partiram para outras partes do mundo [talvez indo para o sul, até Gondor], ou muitos devem ter perecido nos ermos de Eriador.

    Existem tantas perguntas sobre a Terra-média que alguém pode até descrever um "Baseado em…" durante anos, propondo teorias bizarras numa tentativa de resolver tais mistérios. Estas questões sem resposta nos fazem perceber a "profundidade" com que nós falamos da Terra-média. Elas são como um vislumbre de montanhas num horizonte distante, do qual nunca nos aproximaremos. As respostas estão lá, além de nosso alcance, para sempre perdidas.

    Tradução de Fábio Bettega

  • Gil-galad era um Rei Elfo

    E isso é tudo em que concordamos.

    A ascendência de Gil-Galad ainda não se transformou num tópico central entre os fãs de Tolkien, mas o tempo dirá se acontecer. Mesmo tendo pouca informação sobre o mais famoso dos reis noldorianos, há pessoas que acharam motivos para escrever grandes artigos sobre ele [e eu não sou exceção].

     

    Quem foi o pai de Gil-galad, Fingon ou Orodreth? J.R.R. Tolkien diz Orodreth, mas milhões de fãs parecem discordar dele. Afinal o Silmarillion diz que foi o Fingon. “Que Gil-galad foi filho de Fingon [The Silmarillion] vem de uma nota escrita a lápis no manuscrito dos Anais Cinzentos [Grey Annals $157],” nos conta Christopher Tolkien na Guerra das Jóias [The War of the Jewels], “dizendo que quando Fingon se tornou rei dos Noldor na ocasião da morte de Fingolfin ‘seu jovem filho [?Findor] [sic] Gilgalad ele mandou para os Portos.’ Mas isso, adotado depois de muita hesitação, certamente foi uma das muitas especulações de meu pai.

    Essa dica tentadora incendiou um dos primeiros debates sobre Gil-galad. Se Fingon não era seu pai, e Finrod Felagund não podia ser [discussões anteriores mostraram que esta idéia fora abandonada] quem foi então o pai do Gil-galad? Algumas pessoas ficam firmes com O Silmarillion, dizendo que tem que ser verdade, pois foi fielmente produzido por Christopher Tolkien de acordo com os desejos de seu pai. Mas isso não é verdade.

    Em outro lugar na Guerra das Jóias [The War of the Jewels], e em vários outros volumes dos The History of Middle-earth, Christopher mostra aonde ele desviou da visão de seu pai [na maior parte devido a uma pesquisa insuficiente, pois ele estava trabalhando sob pressão e não tinha tido acesso a todos os papéis de seu pai]. Em particular ele cita a “Ruína de Doriath”[The Ruin of Doriath]:

    Ter incluído [“As andanças de Hurin” em O Silmarillion], assim me pareceu, implicaria numa grande redução, realmente uma inteira remontagem de uma maneira que eu não queria fazer; e já que a história é intrincada eu tinha medo que isso produziria um confuso entrelaçamento na narrativa sem nenhuma sutileza, e por cima de tudo iria diminuir a figura temerosa do velho homem, o grande herói, Thalion, o inabalável, indo de encontro aos propósitos de Morgoth, como ele estava destinado a fazer. Mas me parece agora, muitos anos depois, ter havido muita manipulação com o pensamento e intenção de meu pai: portanto levantando a questão de que se fazer um Silmarillion unificado tenha sido válido.

    Numa outra explicação de como “A Ruína de Doriath” foi escrito mais tarde no livro, Christopher diz:

    Essa estória não foi facilmente ou apressadamente concebida, mas foi o resultado de uma longa experimentação entre concepções alternativas. Nesse trabalho Guy Kay teve uma grande participação, e o capítulo que eu finalmente escrevi, se deve a muitas discussões com ele. É, e foi, óbvio que um passo estava sendo tomado de uma diferente ordem de qualquer outra ‘manipulação’ da própria escrita de meu pai no decorrer do livro: mesmo no caso a estória da queda de Gondolin, que meu pai nunca retomou, alguma coisa podia ser feita sem introduzir mudanças radicais na estória da Ruína de Doriath do jeito que estava e que era radicalmente incompatível com ‘O Silmarillion’ como projetado, e que havia uma escolha inescapável: ou abandonar esta concepção, ou alterar a estória. Eu acho que foi uma opinião errada, e que as indubitáveis dificuldades poderiam, e deveriam ser tratadas sem ultrapassar a barreira da função editorial.

    Essa repudiação de sua mais significativa contribuição ao O Silmarillion mostra que Christopher Tolkien não o apresenta como um trabalho final e fiel. Isso é, ele nunca teve a intenção de que O Silmarillion publicado representasse a visão de seu pai. Ele tomou cuidado no próprio prefácio, dizendo que:

    …a tentativa de apresentar, num único volume, a diversidade de materiais – revelar O Silmarillion de fato como uma criação contínua e em evolução, que se estendeu por mais de cinqüenta anos- levaria na realidade apenas à confusão e ao obscurecimento daquilo que é essencial. Propus-me, por isso, elaborar um texto único, selecionando e organizando trechos de tal modo que me parecessem produzir a narrativa mais coerente de maior consistência interna….Não se pode aspirar a uma harmonia perfeita…e ela somente poderia ser alcançada, se fosse possível, a um custo muito elevado e desnecessário…

    Temos portanto, um sólido motivo, dado pelo próprio Christopher Tolkien, para questionar a validade de qualquer afirmação em O Silmarillion. Mas é claro que não se deve dizer que tudo que está no livro seja não confiável. Mas, já que temos ao nosso dispor o material base para nosso próprio estudo, podemos determinar [especialmente com ajuda deste comentário explícito do Christopher] em que partes a estória original foi alterada ou não, e porque.

    No caso da filiação de Gil-galad nós temos uma maior afirmação de Christopher que aquele acima. No The Peoples of Middle-Earth ele dedicou um pequeno comentário sobre a filiação de Gil-galad nas paginas 349-51. Parece que a verdadeira genealogia de Gil-galad o coloca como sendo filho de Orodreth, que era filho de Angrod, e não um dos filhos de Finarfin.

    Não deve haver dúvidas que esta era a palavra final de meu pai sobre este assunto”, Christopher nos conta. Sua última declaração diz: “Uma análise mais profunda deste material extremamente complexo do que fiz há vinte anos atrás mostra claramente que Gil-galad como filho de Fingon [veja XI.56,243] era uma idéia efêmera.

    Que revelação! Dizer que Gil-galad como filho de Fingon era “uma idéia efêmera” acende as chamas da controvérsia imediatamente. Pessoas tem argumentado anos após anos qual deveria ser a filiação de Gil-galad. E ainda temos do Christopher Tolkien que não pode haver dúvida sobre quem era seu pai: ele era filho de Orodreth.

    Ainda mais, Christopher admite ter mudado o nome de Gil-galad no texto da carta publicada como parte de “Aldarion e Erendis” nos Contos Inacabados [Unfinished Tales]. Onde o livro mostra “ Ereinion Gil-galad filho de Fingon”. JRRT havia realmente escrito “Finellach Gil-galad da Casa de Finarfin”. Numa outra passagem da estória Christopher também mudou “Rei Finellach Gil-galad de Lindon” para “Rei Gil-galad de
    Lindon
    ”.

    Então porque as pessoas continuam a duvidar da palavra de Christopher Tolkien, o homem que publicou O Silmarillion, onde ele admite que queria manter um “texto único”, e foi quem selecionou e arranjou o material para produzir uma narrativa consistente e coerente [um objetivo que ele não atingiu totalmente, pela sua própria admissão]? Eu acho que responder esta questão requereria uma análise que beiraria a uma dissertação. A recusa para aceitar as afirmações de Christopher Tolkien em várias questões é um fenômeno sociológico.

    Mas podemos examinar Gil-galad no contexto da estória correta e determinar algumas coisas sobre seu caráter que nunca foram revelados em O Silmarillion. Isto é, podemos deduzir alguma coisa da sua estória pessoal.

    Orodreth provavelmente nasceu em Valinor. Sua mãe foi Eldalôtë, uma dama Noldorin cujo nome foi facilmente convertido para o Sindarin Edhellos. Quando Finrod construiu a cidade secreta de Nargothrond, ele reinava sobre Tol Sirion e as terras anexas a Angrod, enquanto Aegnor reteve comando sobre os altos de Dorthonion que cobriam Ard-galen. Isso contradiz tudo que nos foi contado em O Silmarillion, claro.

    Quando a Dagor Bragollach irrompeu e os Noldor foram derrotados, Finrod apressou-se para o norte para trazer reforço para seus irmãos, mas ele chegou muito tarde. O povo de Aegnor foi conquistado, e apesar do povo de Angrod se agüentar em Tol Sirion por algum tempo, o próprio Angrod foi finalmente morto e Orodreth afastou-se da ilha, fugindo para Nargothrond. Ele levou com ele sua esposa, uma dama Sindarin das terras do norte, e seu filho [Rodnor Gil-galad] e filha [Finduilas].

    Gil-galad não ficou em Nargothrond por muito tempo. Ele teria ficado lá no mínimo até cerca do ano 455 [o ano da Dagor Bragollach], e Christopher cita uma nota de seu pai que diz que “Gil-galad escapou e finalmente chegou nas Quedas do Sirion e foi Rei dos Noldor lá” . Sua escapada deve ter sido por causa da destruição de Nargothrond, que ocorreu no ano de 495.

    Durante estes 40 anos não sabemos nada sobre Gil-galad, mas podemos supor que ele deve ter estado presente no grande debate quando Beren pediu a ajuda de Finrod na questão do Silmaril. Ele, claro, não foi um dos doze lordes fiéis que acompanharam Finrod em sua missão, mas presumivelmente Gil-galad deve tê-lo achado muito novo ou muito importante para fazer parte desta missão [de fato, ele nem havia sido concebido no pensamento de Tolkien quando a versão inteira da estória de Beren foi escrita nos anos 30]. Gil-galad não marchou com a companhia de Gwindor para a Nirnaeth Arnoediad, e ele não parece ter sido um dos soldados no exército de Orodreth que foi derrotado pelo exército de Glaurung na Batalha de Tumhalad.

    Faria sentido para Orodreth deixar Gil-galad para trás para defender Nargothrond. Gil-galad devia estar chegando somente na sua completa maturidade. E Orodreth era um governante cauteloso, somente concordando devido a pressão de Turin e a impaciência dos lordes Noldorin que favoreciam a opinião de Turin de abandonar a política de defesa secreta de Nargothrond.

    Portanto quando Glaurung veio contra a cidade e seus defensores se mostraram poucos e fracos diante do dragão, o jovem príncipe deve ter sido separado da família. Nós não sabemos o destino de sua mãe, talvez ela tenha sido morta ou feita prisioneira, mas Finduilas foi capturada e levada com as outras elfas para Brethil pelos Orcs. Lá ela foi mortalmente ferida apesar dos melhores esforços dos homens da floresta para libertar os cativos.

    Indo para o sul Gil-galad chegou nas Quedas do Sirion. A comunidade de Elfos e Homens que mais tarde fundariam o reino de Arvernien sob Earendil ainda não existia, mas vários Noldor [e Sindar] haviam fugido para o sul há anos,esperando se juntar a Cirdan, cujo povo havia abandonado o Falas depois do Nirnaeth Arnoediad em 473 e fugido para a Ilha de Balar. Annael, chefe do grupo de Sindar que criou Tuor, finalmente chegou nas Quedas do Sirion.

    Então Gil-galad estabeleceu uma comunidade de Elfos lá, ou fundou uma e foi considerado seu líder. Essa comunidade, entretanto, deve ter-se mudado para Balar, provavelmente a convite de Cirdan, assegurando assim que a Casa de Finwë sobreviveria.

    Gil-galad era nessa época apenas um rei dos Noldor, não seu Alto Rei. O Alto Reinado havia passado na morte de Fingon para o seu irmão Turgon, e agora nós sabemos porque . Fingon não tinha filhos, e o seu reinado foi então para o seu parente masculino mais próximo da linha de descendência de Finwë. Quando Gondolin foi destruída no ano de 510, e Turgon morto, o Alto Reinado passou para a Casa de Finarfin, da qual o último descendente masculino era Gil-galad.

    Durante o resto da Primeira Era Gil-galad ficou em Balar. Ele e Maedhros eram os últimos reis Noldorin a viver em Beleriand, mas parece que Gil-galad nunca encontrou Maedhros. Ele teria conhecido Celebrimbor, o filho de Curufin, que ficou em Nargothrond depois de Celegorm e Curufin serem banidos por Orodreth. Celebrimbor não era um rei, e não tinha reino para herdar, apesar de ele tecnicamente ter se tornado o líder dos Fëanorianos quando da morte de Maedhros e da partida de Maglor.

    Quando a Guerra da Ira terminou e as Hostes de Valinor voltaram para o Oeste, muitos dos Noldor e Sindar de Beleriand foram com eles. Os poucos Finwëanos que ficaram [Gil-galad, Celebrimbor, e Galadriel] junto com os lordes chefes dos Sindar [Celeborn and Cirdan] decidiram ficar na Terra-média. A história de Galadriel é muito confusa, mas parece que ela partiu de Nargothrond um pouco antes de 495 [provavelmente antes da Nirnaeth em 473]. Então ela e Celeborn devem ter vindo para o oeste quando Eonwë chamou todos os Elfos da Terra-média para velejar pelo Mar.

    No The Road Goes Ever On J.R.R. Tolkien escreve que Galadriel “era a última sobrevivente dos príncipes e rainhas que haviam liderado os Noldor que se revoltaram para se exilar na Terra-média. Depois da queda de Morgoth no fim da Primeira Era, uma proibição foi posto sobre seu retorno e ela respondeu orgulhosamente que ela não desejava fazê-lo. Ela foi pelas montanhas com seu marido Celeborn [um dos Sindar] e foi para Eregion….

    A posição de Galadriel entre os lordes Eldarin da Terra-média era bem única, e parece que ela nunca se enquadrou bem no reinado de Gil-galad. Numa outra estória, publicada nos Contos Inacabados [Unfinished Tales], Galadriel e Celeborn primeiro se fixaram em Eriador perto do Lago Evendim no começo da Segunda Era, e lá eles foram reconhecidos os governantes dos Elfos em Eriador. Mesmo assim, O Senhor dos Anéis nos conta que Celeborn era vassalo de Gil-galad em Harlindon por um tempo depois que o Reino de Lindon foi estabelecido.

    Elrond, escolhendo ficar com os Elfos,se transformou num conselheiro e era aparentemente um amigo chegado de Gil-galad. Seu pedigree com certeza assegurou a Elrond um alto lugar no novo reino dos Elfos. Nascido entre os sobreviventes de Gondolin e Doriath, um descenden
    te de Turgon e Thingol, Elrond foi capturado enquanto era ainda uma criança com os Fëanorianos, e ele e seu irmão Elros foram criados por Maglor.Assim Elrond desenvolveu uma relação especial com os Fëanorianos.

    O reino de Gil-galad deve, no início deve ter tido Elfos de todas as partes da antiga Beleriand: sobreviventes de Falas e Hithlum, sobreviventes de Nargothrond, sobreviventes de Gondolin e Doriath, Fëanorianos, e provavelmente mesmo uns poucos Laegrim de Ossiriand e o que teria sobrado dos Avari que teriam alcançado Beleriand. Apesar de supostamente tudo ter sido perdoado entre os Elfos, aparentemente eles não conseguiam por de lado velhas mágoas. Os Doriathrim aparentemente teriam aceitado o governo de Gil-galad no começo mas foram eles [aparentemente] que lideraram a grande migração dos Sindar para longe de Lindon.

    Os Sindar começaram a migrar na direção leste no começo da Segunda Era, mas nós não sabemos quando. E os seus primeiros grupos podem ter se fixado a oeste de Eriador. A pressão populacional pode ter sido parte da razão de eles ter deixado Lindon. Os Elfos continuaram a ter famílias durante a Segunda e Terceira Era. Mas pode ser também que Gil-galad foi suficientemente influenciado por políticas dos Noldorin para que os Sindar tenham sentido que seu reino não era para eles. Cirdan e os Falathrim tinham sempre sido amigos dos Noldor, e tinham assumido alguns usos e costumes dos Noldor em Beleriand [Finrod ajudou a reconstruir suas cidades por exemplo]. Os Sindar de Hithlum e Nargorthrond também poderiam ter sofrido a influência dos Noldor.

    Foram os Sindar de Doriath que eram os mais relutantes em adotar os costumes e a cultura Noldorin. E também eles teriam muita dificuldade para esquecer velhas mágoas, tendo combatido os Fëanorianos diretamente não uma mas duas vezes. Virtualmente todas as mágoas dos Sindar sobre suas perdas poderiam ter sido obra dos Noldor, se fosse para acusar alguém. Portanto a sua migração para o leste era provavelmente também o resultado de alguma antipatia em relação aos Fëanorianos.

    A primeira fase da migração Sindarin foi provavelmente completada na época em que os Numenoreanos alcançaram a Terra-média e começaram a visitar Lindon. Nessa época o porto de Edhellond havia sido estabelecido mais para o sul e vários Sindar haviam se fixado entre os Nandor e Avari de Eriador. O povo de Gil-galad manteve o contato com os Elfos de Eriador, e tinha entrado em contato com os povos Edain que ainda viviam lá também. Esses Homens mandaram doze de seus líderes para se encontrar com Vëantur e seus Numenoreanos depois de solicitarem a Gil-galad um encontro.

    Então, no momento que o seu reino parecia se esfacelar, Gil-galad foi colocado no palco da história por Numenor. E Sauron começava a atuar na Terra-média mais uma vez. Rumores chegaram aos ouvidos de Gil-galad de um poder distante que não era amigo dos Homens e Elfos. Ele não sabia nada com certeza, mas suas duvidas e preocupações gradualmente aumentaram. Quando o jovem príncipe Anardil [mais tarde Tar-Aldarion] começou a se aventurar na Terra-média, Gil-galad ficou seu amigo, e o príncipe Numenoreano fez várias viagens a mando de Gil-galad visitando os Homens pelas terras norte e oeste da Terra-média.

    Gil-galad parece ter feito uma política de estabelecer relações mais próximas com Homens. Talvez ele só estava interessado em Homens de descendência Edainica, já que os Elfos não confiavam em Homens de outros tipos. Mas os povos Edainicos haviam se espalhados há tempos. Eles podiam ser encontrados tão longe quanto as Quedas de Sirion e tão ao leste como o rio Carnen e as Montanhas de Ferro.

    O estabelecimento do reino Noldorin pode também refletir em parte a política de Gil-galad. Apesar de Eregion agir por conta própria, Gil-galad não abandonou o povo de Eregion durante a Guerra dos Elfos e Sauron. E ele pode ter sido decisivo na hora de decidir que os Noldor estabelecessem uma colônia perto de Khazad-dum para ter acesso ao mithril. Nesse sentido a civilização élfica teria controle assegurado sobre as rotas de comércio Eriadoriano.

    Quando Sauron começou a se aproximar dos reinos dos Elfos disfarçado de Annatar, O Senhor dos Presentes, sondando-os em relação ao seu destino de um dia desvanecerem, Gil-galad e Elrond suspeitaram de seus motivos e se recusaram a tratar com ele. Annatar/Sauron não foi admitido em Lindon, e ele virou sua atenção para Eregion. Lá Celebrimbor, senhor de Gwaith-i-Mirdain, ouviu Annatar, e ele sonhou em transformar a Terra-média num paraíso élfico como Valinor.Os Elfos tinham um problema real em que eles tinham que lidar com a própria morte: o desvanecimento. Eles perderiam seus corpos. Seus espíritos ficariam conscientes, mas incapazes de interagir com o mundo.

    Gil-galad claramente entendia este problema como qualquer um. Mas ele fez a escolha correta de não mexer com a natureza. Os Elfos viviam com a vida de Arda. Isto é, seus espíritos não abandonariam os círculos do mundo como os espíritos humanos. Por isso para eles “vida” não era simplesmente uma função biológica mas também uma vida espiritual. Eles se perguntavam se seus espíritos continuariam a existir após a existência do Tempo. Eles achavam que Homens tinham sua vida continuada assegurada, e não se preocupavam tanto assim com a morte do corpo como os Homens. Assim Gil-galad não queria evitar os efeitos do Tempo.

    Mas ainda assim, quando os Anéis do Poder foram feitos, e Sauron se revelou à aqueles que fizeram os Anéis quando ele pôs o Um Anel, os Elfos não conseguiam se obrigar a destruir os Anéis. Celebrimbor deu dois dos maiores anéis para Gil-galad, e Gil-galad também não pôde destruí-los. Porque? Era porque ele achava que não havia sentido em desfazer o que havia sido feito? Teria prejudicado severamente a Celebrimbor, aquele que fez os Três, para os anéis serem destruídos? Ou tinha Gil-galad achado alguma razão para mudar de idéia após séculos rejeitando os avanços de Annatar?

    Os Três Anéis agiram nos reinos élficos mesmo quando ninguém os usava durante o resto da Segunda Era. Tolkien escreveu que eles ainda conteriam os efeitos do Tempo , assim os Elfos estavam assegurados que não desvaneceriam enquanto os Anéis do Poder existissem. A política de Gil-galad tornou-se então mais manipulativa. Quando ele teve certeza que Sauron iria invadir Eriador, Gil-galad solicitou a Numenor ajuda para defender os Elfos e Homens que viviam lá. Mas ele não contou aos Numenoreanos sobre o quê era a guerra. Somente se pode imaginar os argumentos usados nos altos conselhos élficos antes que houvesse a chamada às armas. Era justo omitir informação vital dos Homens que iriam arriscar suas vidas a favor dos Elfos, que queriam manipular a natureza?

    Quando a guerra finalmente chegou Numenor ficou junto ao reino élfico, sem dúvida pela anti
    ga amizade, e porque qualquer um que conhecia as antigas lendas e histórias das Guerras de Beleriand sabia que Sauron era do mal. Que ele estivesse usando Orcs e Trolls nos seus exércitos, e que os Gwathuirim com quem os Numenoreanos tinham tido problemas se aliaram a Sauron, simplesmente encorajaria a crença de que era certo apoiar o povo élfico. Esta questão se transformou em questão de sobrevivência para todos os Elfos e Homens. Os Anéis do Poder estavam escondidos de Numenor como também de Sauron, e seu segredo permaneceria por séculos.

    Gil-galad pode ter achado acertado a sua decisão de não contar tudo aos seus aliados nos séculos que se seguiram após a guerra. Sauron foi derrotado e enviado para Mordor, e seu poder para ameaçar Eriador foi diminuído. Ele voltou sua atenção para as terras à leste da Terra-média, onde ele decidiu que ele poderia construir um grande império capaz de ameaçar Numenor e Gil-galad. Mas lá por volta do ano de 1800 os Numenoreanos começaram a mudar seu comportamento. A Guerra dos Elfos e Sauron haviam lhes mostrado a sua força, e essa força foi agora usada para dominar e escravizar outros Homens, ao invés de ajudá-los.

    Seria perigoso revelar a existência dos Anéis do Poder para essa nova Numenor, pois logo os Dunedain começaram a questionar o seu destino, e a querer o tempo de vida dos Elfos. Quanto disso chegou aos ouvidos de Gil-galad só podemos supor, mas depois os Numenoreanos se dividiram entre os acampamentos dos fiéis e os homens dos Reis , e somente os fiéis continuaram a se fixar ou a visitar o noroeste da Terra-média, deve ter sido óbvio que os Reis de Numenor tinham se colocado num caminho de auto destruição.

    Por seu lado Gil-galad tinha seus problemas. Vários Eldar deixaram a Terra-média depois da Guerra dos Elfos e Sauron. Provavelmente pareceu ser uma questão de tempo antes de Sauron crescer suficiente em seu poder para de novo desafiar Gil-galad e os Numenoreanos. Assim o poder de Gil-galad diminuiu e os Elfos permaneceram sob ataque constante mesmo durante os séculos em que a atenção de Sauron se voltava para o leste. Quando os Numenoreanos começaram a conquistar porções da Terra-média eles finalmente entraram em conflito com o reino de Sauron. As guerras de conquista poderiam retirar um pouco da pressão sobre os Elfos, mas seus Dias de Fuga parecem ter continuado até a decisão fatal de Ar-Pharazon de arrancar o controle sobre a Terra-média de Sauron.

    Tecnicamente, Numenor poderiam ainda estar aliada de alguma maneira com os Elfos. Pelargir, o pátio real dos barcos [essencialmente uma base naval], tinha sido fundada perto das Quedas do Anduin em 2350. Apesar de ter sido transformado no porto sul pelos Numenoreanos fiéis,o nome da cidade implica que foi construída com a sanção real, e pode ter servido como base de operações nos conflitos com o reino de Sauron. O poder reunido pelos Numenoreanos em Pelargir através dos séculos pode ter servido para desafiar e provocar Sauron, embora Mordor na época tivesse sido mais um posto avançado do império de Sauron do que seu centro.

    Gil-galad não tomou nenhuma atitude quando Ar-Pharazon trouxe uma armada para a Terra-média. Umbar, onde Ar-Pharazon aportou, era provavelmente muito ao sul para Gil-galad marchar ou velejar, e Ar-Pharazon muito provavelmente não queria nenhuma ajuda élfica mesmo. Ele veio para reinvindicar seu lugar como o Rei dos Homens, e nenhum Elfo seria necessário para ele afirmar a sua autoridade. De qualquer modo, o exército de Ar-Pharazon era tão grande que os aliados de Sauron o abandonaram. O Um Anel deixou Sauron na mão de novo. Então Sauron deixou Mordor e se entregou a Ar-Pharazon, permitindo que o rei o levasse para Numenor.

    A partida de Sauron parece ter acabado de vez com as guerras com os Elfos. No decorrer dos 57 anos seguintes Gil-galad foi capaz de extender a sua influência pela parte norte do mundo, mesmo nos altos Vales do Anduin. Quando Elendil e seus filhos trouxeram nove barcos com sobreviventes do disastre de Numenor à Terra-média em 3319, Gil-galad ficou amigo deles e ajudou-os a estabelecer os reinos de Arnor e Gondor. O rei Elfo construiu três torres de onde se avistavam o Golfo de Lune para Elendil, e esses podem ter sido a primeira morada do rei de Dunadan na Terra-média. Mas apesar de ele ter cedido bastante autoridade a Elendil sobre Eriador, Gil-galad ainda nada disse [parece] sobre os Anéis do Poder.

    Não seria até o ano de 3429, quando o Sauron reconstituído sentiu-se forte o suficiente para atacar Gondor, que Gil-galad se sentiu confrontado com o dilema moral dos Anéis. Ele guardou Narya e Vilya por mais de 1,000 anos. Nem ele nem nenhum outro Elfo havia usado os Anéis naquela época. Eles não se atreviam. Mas eles ainda se beneficiavam com a habilidade dos Anéis de inibir os efeitos do Tempo. Deve ter ficado óbvio para Gil-galad que os Elfos somente adiaram a inevitável decisão de destruir os Anéis. Ele pode não ter se convencido da necessidade de fazê-lo, ou que eles falhariam se o Um anel fosse desfeito, mas enquanto Sauron permanecesse uma ameaça aos Homens e Elfos não havia esperança dos Elfos alguma vez realizar o benefício integral dos Anéis dos quais eles tinham controle.

    Então parece que Gil-galad revelou tudo para Elendil e seus filhos. Agora finalmente os Elfos confessaram seus pecados e eles resolveram junto com os Dunedain para embarcar na guerra final contra Sauron que teria resultado na sua completa derrota. Eles tinham o poderio militar para alcançar esse objetivo. O Povo de Gil-galad tinha crescido em número de novo, mas ele também tinha estabelecido relações com os povos dos Vales do Anduin, incluindo os bem mais numerosos Silvan Elfos governados por Oropher e Amdir. Elfo, Homem, e Anão se juntaram com um propósito comum e eles organizaram o maior exército da army Terra-média desde o fim da Primeira Era.

    Mas os argumentos persuasivos de Gil-galad não devem tê-lo agraciado com Oropher, que como um Elfo Doriathrin era não simpatizante dos Noldor. Deve-se provavelmente a relação de Gil-galad com Thingol e a necessidade urgente de se fazer algo contra Sauron, que havia destruído as terras ao leste das Montanhas Nebulosas como as de Eriador, que fez com que Oropher se aliasse a Gil-galad. Oropher ainda assim recusou a marchar sob a bandeira de Gil-galad.

    Levou três anos para Gil-galad e Elendil prepararem seus exércitos. Eles tinham que recrutar e treinar seus soldados,e aparentemente construir armas e armaduras. Mas eles devem ter gasto um tempo considerável preparando uma estratégia: pesquisar o terreno, testar as defesas de Sauron, talvez mandar reforços para Gondor para assegurar que Anarion não fosse sobrepujado. Deve ter havido considerável debate sobre como atacar Sauron. Deveria uma força do norte atacar Mordor enquanto o exército principal cruzava as montanhas, ou o ataque principal deveria vir do norte?

    Em 3431 Gil-galad e Elendil cruzaram as Montanhas Nebulosas e marcharam para o sul. Em algum ponto eles se juntaram às forças de Khazad-du
    m, Lorien, e Greenwood. A estratégia que eles selecionaram era ir direto para Mordor. Deve ter sido necessário escolher esse caminho por várias razões ,uma das principais sendo que seus exércitos eram grandes de mais para serem trasportados até Gondor facilmente. Mas Sauron parece ter aumentado suas defesas nos altos dos Vales de Anduin, tal que Lorien e Greenwood foram diretamente ameaçadas.Esse ataque de Gil-galad teria libertado esses reinos de perigo imediato.

    A primeira maior batalha ocorreu nas terra ao sul de Greenwood onde as Entesposas haviam construído seus jardins. Nunca se soube o destino das Entesposas, apesar de que elas possam ter sido destruídas quando Sauron incendiou suas terras para evitar que a Última Aliança conseguisse ajuda de lá. As Entesposas poderiam no mínimo ter providenciado suprimentos para a Última Aliança. Sauron retrocedeu para o sul e a Última Aliança o seguiu. Eles alcançaram seu exército em Dagorlad, e lá inflingiram uma severa derrota a Sauron. Mas Amdir e o exército Lorien foram isolados nos Dead Marshes, e mais da metade dos Silvan Elfos de Lorien morreram. Gil-galad pode ter sido influenciado por essas perdas devastadoras pelo povo de Amdir"s people to hold up.

    A Última Aliança posicionou suas forças na entrada norte de Mordor [onde ficaria o Morannon mais tarde], mas Gil-galad não conseguiu segurar Oropher, que lançou um assalto contra as defesas de Sauron prematuramente. Tolkien não diz como foi a batalha, mas Gil-galad muito provavelmente fez o mesmo que Fingon milhares de anos antes no Nirnaeth Arnoediad. Ele deve ter posto seu elmo e entrou na batalha na cola do ataque de Oropher , tarde demais para salvar Oropher, que morreu cedo. A Última Aliança ganhou o dia, entretanto, e abriu caminho para Mordor.

    O que sobrou das forças de Sauron neste momento deve ter corrido ou sido aniquilado, e Sauron foi confinado a Barad-dur.Agora Gil-galad voltou a manter a política antiga dos elfos de cercar o lorde negro em sua fortaleza. Gil-galad tomou posiçao em Orodruin, perto do Sammath Naur onde o Um anel foi forjado. Gil-galad poderia ter destruído os Três Anéis então, talvez, mas ele preferiu não fazê-lo ou então os Anéis não foram levados para a guerra. Ele deve ter fortificado a montanha, entretanto.As notas apontam várias manobras durante os sete anos, e depois de seis anos de cerco Sauron ainda era capaz de arremessar pedras para fora de Barad-dur, pois Anarion foi morto naquele ano por uma daquelas pedras.

    A estratégia de Gil-galad mudou radicalmente. A Última Aliança não mais tentava subjugar Sauron pela força, e a guerra se arrastava. Eles somente esperavam diminuir as forças de Sauron através de atritos para que no fim Sauron capitulasse. Mas Sauron ficou tão desesperado que ele formou um plano diferente. Ele procurou Gil-galad em Orodruin e o atacou diretamente. Elrond conta as pessoas em Rivendell que somente Elendil ficou junto a Gil-galad e que somente ele [Elrond], Cirdan, e Isildur viu o que aconteceu.O corpo de Sauron era tão quente que queimou Gil-galad, e matou-o, mas Elendil correu e conseguiu dar um golpe mortal contra Sauron. O Lorde Negro foi capaz ainda de reagir , e jogou Elendil no chão. E a espada de Elendil quebrou debaixo dele.

    A estratégia final contra Sauron funcionou, mas provavelmente não como Gil-galad esperava. Será que ele queria realmente combater Sauron sozinho? Ele parece ter sido um rei cauteloso durante sua carreira. Para preparar para a Guerra dos Elfos e Sauron Gil-galad aumentou suas defesas ao longo do rio Baranduin. Ele deu a Elrond o comando de um pequeno exército para reforçar Eregion mas foi obrigado a retroceder para o norte. Sauron forçou seu caminho através do Baranduin e Gil-galad foi somente capaz de mater o Lune seguro contra ele. Portanto os recursos do Rei dos Elfos eram limitados e os limites desses rescursos devem ter ditado sua política.

    Mas ele rapidamente ajudou Elendil a estabelecer o reino de Arnor, que se transformou no reino mais poderoso do norte. Porque era importante criar um grande reino de Homens? Era importante para Gil-galad preservar a grandeza de Numenor, ou era sua política de lidar com Homens através de Homens, uma decisão conservadora, talvez xenofóbica? Gil-galad não tinha problemas em lidar com povos Edainicos, mas qualquer outro tinha que ir através de seus representantes Nuemenoreanos.

    A única vez que Gil-galad foi na ofensiva foi quando ele e Elendil formaram a Última Aliança de Elfos e Homens. Nesta época já devia ser óbvio que Sauron seria capaz de reconstruir seu poder com o Um Anel cada vez que alguém o derrotasse. O objetivo de Gil-galad deve ter sido achar e tomar Sauron prisioneiro, e de alguma maneira arrancar o Um Anel dele. Gil-galad pode não ter conhecido os segredos dos que fizeram os Anéis, mas ele deve ter sido capaz de aprender o suficiente para entender o verdadeiro perigo que o Um Anel representava. Devemos imaginar se Gil-galad teria usado os Três Anéis, ou permitido seu uso, se ele tivesse vivido e Isildur tivesse ainda assim tirado o Anel de Sauron. Prudencia teria aconselhado os Elfos a não usar os Anéis depois de Isildur ter sumido para o norte. Mas apesar de sábio, Elrond não seguiu o caminho da prudência.

  • A ponta do iceberg: Bem vindo í  Terra-Média, peregrino!

    Em "Rios e Faróis das Colinas de Gondor", J.R.R. Tolkien
    adicionou novos elementos para a complexa pseudo-história da
    Terra-Média. Ele inventou histórias para as palavras, explicando o
    porquê de certas regiões de Gondor terem os nomes que têm.

     

     

     
    Arnach é dito ser de origem pré-numenoreana nos
    apêndices do Senhor dos Anéis (SdA), e essa hipótese é repetida no
    "Rios e Vales de Gondor". Mas uma história conhecida é atribuída ao
    nome Arnen, assim como uma explicação intuitiva é oferecida logo após,
    como correção. Arnen, ao que parece, foi o nome que Isildur deu à todas
    as terras que tomou como suas (Ithilien). Mas eventualmente ficou
    associado apenas com os vales, propriamente chamados de Emyn Arnen, que
    o autor anônimo de um documento gondoriano chamou de Ondonore
    Nomesseron Minaþurie (o símbolo þ é chamado de "thorn" e é associado
    com um som similar ao "th-" em "thanks").


    O
    estudo "The Ondonore Nomesseron Minaþurie" é traduzido como "Estudo
    sobre os Nomes dos Locais de Gondor" e é atribuído ao período em que
    Meneldil reinou, já que "nenhum evento depois desse foi mencionado".
    O documento é citado apenas brevemente (e pode não existir, embora o
    texto "Rios e Vales" — publicado no Contos Inacabados e Vinyar Tengwar
    nº 42 — diz nada sobre Tolkien ter escrito um documento).


    O nome Arnen, como argumenta esse escolástico gondoriano, deve ter sido
    uma errônea composição Quenya-Sindarin feita pelos numenoreanos que
    exploraram e colonizaram a região (eram soldados, colonizadores e
    marinheiros — com certeza, a linha de frente da sociedade
    numenoreana). Apesar de derivar principalmente dos numenoreanos Fiéis
    do oeste de Numenor, onde muitos Beorians fluentes em Sindarin tinham
    feito moradia, essas pessoas tinham pouco ou nenhum conhecimento de
    Sindarin e Quenya. Ainda, o autor deduz, Arnen provavelmente
    significava originalmente "perto da água" (do Anduin), e Emyn Arnen
    simplesmente significava "os vales nascendo em Arnen"


    Pelos numenoreanos Fiéis, num aparente ato de rebelião contra os Reis
    falantes de Adunaico, terem colocado nomes élficos nos marcos do norte
    da Terra-Média, os novos regentes (a Casa de Elendil) aceitaram os
    nomes incorretos que "se tornaram comuns". Isto é, os reis e senhores
    de tradição aceitaram qualquer nome que eram usados em larga escala no
    reino de Gondor.


    A Casa de Elendil trouxe
    ordem ao caos linguístico que reinou na Terra-Média. Na região de
    Gondor, por exemplo, os Numenoreanos acharam "muitos povos
    misturados, e numerosas ilhas de povos isolados, que dominam velhas
    construções e constroem refúgios montanhosos contra invasores"
    . Os "muitos povos misturados",
    infelizmente, são mencionados numa nota interminada sobre o nome Bel-,
    que coloca Círdan entre os Noldor. Christopher especula que seu pai
    percebeu a gafe e decidiu esquecer a passagem inteira. É esta nota que
    oferece a história alternativa pro porto de Edhellond, onde diz que
    este foi fundado por Sindar ressentido com os Noldor.


    Apesar de tudo, ignorando a clara indicação de que Tolkien abandonou a
    nota etimológica em Bel-, parece claro que ele estava tentando
    permanecer fiel à informação que ele proveu nos apêndices do SdA.
    Também parece que ele estava tentando desenhar duas influências
    históricas como modelos para o começo de Gondor. Um desses modelos era
    pós-romano, pré-Bretanha medieval (por volta do meio do século V).
    Durante esse tempo toda a área estava em desenvolvimento, e as línguas
    migravam livremente entre os povos.


    Alguns
    estudiosos acreditavam, mesmo durante a época de Tolkien, que os
    Romano-Celtas foram apenas parcialmente doutrinados na cultura Romana
    depois de 400 anos, possuído as baixadas e residiram nas costas da
    Bretanha. Mais primitivos ou menos romanizados, os celtas moraram em
    País de Gales, Cornwall e Escócia. E, claro, ainda haviam celtas na
    Irlanda cujos contatos com Roma eram poucos (ao menos, na época de
    Tolkien, havia pouca evidência da intrusão romana na Irlanda). Nestes
    vários grupos de Celtas (sendo que alguns chegaram pouco antes que os
    romanos, e absorveram ou expulsaram povos ainda mais antigos) estavam
    mercenários alemães da Saxônia e Dinamarca, os seguidores de Hengist e
    Horsa.


    O latim estava, então,
    misturando-se com os dialetos celtas e germânicos, e era eventualmente
    substituído pelos invasores germânicos, apesar de sobreviver em nomes
    de lugares (como Londres, de Londinium, Colechester, etc.) que os
    germânicos adotaram. Os germânicos aceitavam os nomes que estavam em
    uso corrente para regiões e cidades, mas deram seus próprios nomes para
    suas cidades, fortalezas, reinos e marcos.


    Um desenvolvimento paralelo, do qual Tolkien estava plenamente atento,
    ocorreu na América do Norte entre os séculos XVII e XVIII. À medida que
    os colonizadores ingleses se espalhavam pela costa norte-americana,
    eles se misturaram com os povos nativo-americanos, espanhóis, franceses
    e alemães. Os exploradores ingleses , trouxeram consigo as fundações da
    língua e cultura inglesas, mas eles não eram pouco mais que
    foras-da-lei e rebeldes fugindo da opressão de sua terra natal,
    particularmente pela opressão religiosa. Os puritanos que colonizaram a
    Nova Inglaterra de certa forma lembram os Fiéis numenoreanos, que
    evitavam as crenças adotadas pelos seus reis.


    A América do Norte, como a Inglaterra no começo, e como Gondor, está
    recheada de nomes de lugares de várias línguas. A mais antiga colônia
    européia na costa leste, por exemplo, é St. Augustine (São Agostinho),
    fundado pelos franceses, roubado pelos espanhóis, e ultimamente cedido
    aos EUA como parte da Florida. Mas há nomes de lugares de línguas
    nativo-americanas, e construtos híbridos, assim como feitos do latim e
    do grego (como Augusta de Filadélfia, respectivamente).


    Quando a Bretanha virou Inglaterra, a antiga cultura romana foi jogada
    de lado ou abandonada, e os invasores germânicos tinham que construir
    uma herança cultural totalmente nova em termos de literatura, cultura e
    arquitetura. Enquanto as revoltadas colônias americanas formavam sua
    própria nação, eles batalhavam para reter sua identidade inglesa. Por
    décadas as famílias ricas mandavam seus filhos para estudarem em
    universidades inglesas. Eles esperavam a última moda sair da Inglaterra
    e da França. O novo EUA, como o novo Gondor, teve que começar sua nova
    sociedade quase do nada.


    A América do
    Norte foi abençoada com uma leva de jovens filhos e filhas que, saindo
    das altas classes mercantis inglesas, trouxeram um riquezas,
    conhecimento e determinação para estabelecer suas famílias no Novo
    Mundo, nas colônias. Eles construíram uma fundação educacional,
    literária e industrial onde a cultura norte-americana foi aparecendo
    geração após geração (influenciada por imigrantes de todo o mundo).


    No começo, Arnor e Gondor foram cortados de Númenor, assim como a
    Inglaterra cortou os EUA. Elendil e seu povo tiveram que construir sua
    civilização com menos recursos que os EUA possuíam. Os nove barcos dos
    Fiéis que sobreviveram à Queda de Númenor devem ter provido para as
    regiões fronteiras de Arnor e Gondor com uma pequena mas
    auto-sustentável classe intelectual. O "Rios e Vales" diz que os
    intelectuais – pessoas estudadas que entendiam Quenya e Sindarin –
    vieram por último. É então razoável dizer que a chegada de Elendil na
    Terra-Média inferiu uma revolução cultural que mudou para sempre o mapa
    socio-tecnológico do mundo do Norte.


    O
    significado da chegada tardia da classe intelectual não pode ser
    enfatizada. Tudo pode ter mudado. Onde previamente os homens das
    fronteiras sobreviviam parcamente, possivelmente juntando-se com os
    clãs nativos de Gwathuirim e outros povos que habitavam o Ered Nimrais,
    Elendil e seus filhos trouxeram um grupo militar de puristas
    numenoreanos para as praias e decidiu reconstruir Númenor à sua imagem.
    O "Rios e Vales" diz que eles retiveram algumas das tradições botânicas
    numenoreanas (por falta de uma frase melhor).


    Discutindo o significado de Arnach e Lossarnach, Tolkien decidiu que
    loss- referia-se às flores das árvores frutíferas da região, plantadas
    nos pomares pelos numenoreanos. Esses pomares ofereciam frutas frescas
    para Minas Tirith mesmo durante a Guerra do Anel. Eram importantes para
    Gondor como as oliveiras para os gregos. As flores de Lossarnach eram
    tão variadas e belas que o povo de Minas Tirith/Anor faziam "expedições rumo a Lossarnach para ver as flores e árvores…"


    Ioreth, a idosa senhora que trabalha nas Casas de Cura de Minas Tirith,
    falou de vaguear pelas matas com suas irmãs, e ela mencionouas rosas de
    Imloth Melui, que ela apreciava quando jovem. Ela era versada em velhas
    rimas e conhecia os nomes comuns das plantas (pelo menos, do athelas,
    que ela reconheceu como folha-do-rei). Algo da tradição fronteiriça
    sobreviveu à influência civilizante do grupo de Elendil, ou a
    civilização foi perdendo-se pelos anos nos altos e baixos da
    civilização gondoriana.


    O People of
    Middle-Earth indica que Isildur e Anarion fundaram as cidades de Minas
    Anor, Minas Ithil e Osgiliath. De fato, Osgliath foi a primeira cidade
    que eles construíram. Eles devem ter juntado o maior número possível de
    pessoas locais que encontraram e tentaram explicar-lhes como se
    constrói uma cidade. Cada passageiro nos 9 barcos deveria valer seu
    peso em mithril, pois seu conhecimento em como Númenor funcionava era
    insuperável. Os numenoreanos nativos deveriam ser para seus primos da
    Terra-Média como Noldor recém-chegados de Aman se hospedando em meio
    aos Nandor.


    Acerca dos povos da
    Terra-Média, o "Rios e Vales" também contém uma passagem – cancelada
    por Tolkien – que discute a prática de construir templos, que os
    numenoreanos não seguiam por ser contra a doutrina de Sauron. Nas
    Sendas dos Mortos há um templo ancião, que o malfadado Baldor tentou
    invadir. Ele foi atacado por trás (provavelmente por Gwathuirim que
    reverenciavam a área), seguindo-o até as Sendas dos Mortos. Leitores
    tolkienianos resolveram assumir como certo a morte inexplicada de
    Baldor causada pelos Mortos, mas este aparentemente não é o caso.


    Este ensaios proporcionam novos vislumbres da visão de Tolkien sobre a
    Terra-média. Mas também criam novas perguntas tanto quanto se esforçam
    para responder questões antigas. Uma porta foi aberta mas nós não
    podemos fazer mais nada além de espiar no canto, pois os tesouros que
    permanecem daquela porta antes proibida são inimigináveis. Nós nunca
    iremos, claro, tomá-los corretamente, pois o próprio Tolkien nunca o
    teve completamente. Mas com cada revelação nós chegamos um passo mais
    perto de ver o panorama se seu coração. As legiões paradas nas colinas
    e os clâs movendo-se silenciosamente pelas florestas, as garotas rindo
    nas campinas, os fazendeiros com seus pomares – mesmo os velhos
    marinheiros consertando seuas redes e relembrando como foram para o mar
    pela primeira vez – tudo se combina para nos mostrar um mundo repleto
    de maravilhas e prazeres da juventude do homem.


    [Tradução de Aarakocra]