Categoria: Tirith Aear

  • O Apocalipse segundo Tolkien!

    Com a publicação recente de O Silmarillion no Brasil, os fãs brazucas
    de  Tolkien puderam finalmente conhecer a história da criação do mundo
    de Arda e a origem de Elfos e Homens. O que pouca gente sabe é que 
    Tolkien elaborou também uma narrativa sobre o fim do mundo. Publicada
    postumamente no livro The Shaping of Middle-earth, da série The History
    of Middle-earth, a história era inicialmente o epílogo do Silmarillion,
    mas acabou sendo retirada das versões posteriores da mitologia. Vale a
    pena conhecer esse texto:
     
     
     
    "Depois do triunfo dos Deuses, Earendel navegou
    ainda os oceanos do firmamento, mas o Sol o chamuscava e a Lua o caçava
    no céu…Então os Valar ergueram seu navio branco Wingelot acima da
    terra de Valinor, e o lançaram através da Porta da Noite. E por muito
    tempo Earendel navegou dentro da vastidão sem estrelas, Elwing a seu
    lado, a Silmaril sobre sua fronte, viajando pela Escuridão detrás do
    mundo, uma estrela reluzente e fugitiva. E de quando em quando ele
    retorna e brilha atrás dos cursos da Lua e do Sol acima das defesas dos
    Deuses, mais brilhante que todas as outras estrelas, o marinheiro do
    céu, guardando vigilância contra Morgoth nos confins do mundo. Assim
    navegará ele até que veja a Última Batalha ser lutada sobre as
    planícies de Valinor.

    Assim falou a profecia de Mandos, que ele declarou em Valmar no
    julgamento dos Deuses, e rumor dela foi sussurrado entre todos os Elfos
    do Oeste: quando o mundo for velho e os Poderes se tornarem cansados,
    então Morgoth retornará através da Porta, saído da Noite Atemporal; e
    ele destruirá o Sol e a Lua, mas Earendel cairá sobre ele como uma
    chama branca e o derrubará dos ares. Então a última batalha será lutada
    nos campos de Valinor. Naquele dia Tulkas combaterá Melkor, e à sua
    direita estará Fionwe e à sua esquerda Turin Turambar, filho de Hurin,
    Conquistador do Destino; e será a espada negra de Turin que infligirá a
    Melkor sua morte e fim definitivo; e assim serão os Filhos de Hurin e
    todos os homens vingados.

    Serão nesse momento as Silmarils recuperadas da terra, do mar e do ar;
    pois Earendel descerá e entregará a chama que havia estado sob sua
    guarda. Então Feanor tomará as Três e liberará seu fogo para reacender
    as Duas �?rvores, e uma grande luz aparecerá; e as Montanhas de Valinor
    serão aplainadas, para que a luz chegue ao mundo inteiro. Naquela luz
    os Deuses se tornarão de novo jovens, e os Elfos acordarão e todos os
    seus mortos se levantarão, e o propósito de Iluvatar quanto a eles
    estará cumprido. Mas dos Homens naquela dia a profecia não fala, salvo
    apenas de Turin, e ela o nomeia entre os Deuses".

    Repare que, nas versões antigas do mito, o personagem que depois seria
    o Maia Eonwë é Fionwë Úrion, FILHO de Manwë e Varda. É extremamente
    tentador imaginar como seria a versão final dessa narrativa
    apocalíptica, se Tolkien tivesse podido completar o Silmarillion ainda
    em vida, mas o mais provável é que ela não vale como epílogo da
    mitologia que nós conhecemos.

  • Eram os Valar os deuses nórdicos?

    Quando Tolkien começou a esboçar sua mitologia, lá pelos meados dos anos 10 de nosso século, a inspiração mais forte para ele era a dos mitos do norte da Europa. E, aparentemente, o próprio conceito dos Valar surgiu influenciado pelos deuses do pantão germânico e nórdico.

    A pista para essa possibilidade aparece no livro The Book of Lost Tales II, que reúne as versões mais antigas das histórias de Beren e Lúthien, de Túrin, da queda de Gondolin e de Eärendil. O personagem principal dos Lost Tales, porém, é o marinheiro humano Eriol, que parte da Europa medieval e navega na direção oeste até alcançar Tol Eressëa, a Ilha Solitária, onde os Eldar lhe contam as histórias dos Dias Antigos.

    Eriol pertencia ao povo anglo-saxão, e contou aos elfos sobre os deuses de sua gente, como Wóden e Thunor (para os escandinavos, esses mesmos deuses seriam Odin e Thor, o senhor de Asgard e seu filho, o deus do trovão). Ao ouvirem as histórias de Eriol sobre seus deuses, os elfos imediatamente identificaram Odin com Manwë e Thor com Tulkas.

    É claro que essas idéias foram posteriormente abandonadas, tanto pelo fato de que Manwë não é o pai de Tulkas no Silmarillion que conhecemos, como pela transformação dos Valar de deuses em Poderes Angélicos, os guardiões do Criador no mundo. Mas não deixa de ser interessante imaginar como seria a mitologia do Silmarillion hoje se ela tivesse continuado com essa orientação.

  • Bored of the Rings: as histórias que Tolkien não contava

    Bored of the Rings: as histórias que Tolkien não contava

    Tudo bem, vamos pôr a coisa em contexto histórico. O ano é 1969, auge da contracultura nos EUA, e a edição norte-americana de O Senhor dos Anéis, lançada pela Ballantine Books em 1965, era um dos maiores fenômenos da cultura de massa na época. Foi então que dois estudantes de Harvard, Henry N. Beard e Douglas C. Kenney, resolveram criar a mais famosa e hilária paródia da trilogia: Bored of the Rings, que copia de forma corrosiva e às vezes obscena quase todos os aspectos do livro de Tolkien, até mesmo as línguas élficas, com o seu Auld Elvish, equivalente ao alto-élfico.

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  • Terra-média, o Um Anel de Morgoth

    Terra-média, o Um Anel de Morgoth

    Quem lê sobre o final da Guerra da Ira e a derrota de Morgoth, o primeiro Senhor do Escuro, no Quenta Silmarillion, tende a ficar abismado com a violência do ataque dos Valar. Afinal, para derrotar o Inimigo do Mundo, o exército de Valinor afunda quase toda  Beleriand.
    Pouca gente sabe, mas Tolkien deixou um ensaio que explica de maneira muito clara o porquê de toda essa destruição. Publicado no livro Morgoth’s Ring, o décimo da série The History of Middle-earth, o texto explica que Morgoth “fixou” sua forma física, ao contrário dos outros Valar, para “controlar a hroa, a ´carne´ ou matéria física, de Arda. Ele tentou identificar-se com ela, num procedimento muito parecido com o de Sauron e os Anéis, embora muito mais vasto e perigoso. Assim, fora do Reino Abençoado, toda ´matéria´ tendia a ter um ´ingrediente de Melkor´”.
    Silma John Howe melkor3

    Tolkien explica que, dessa forma, Morgoth foi transferindo sua antiga potência “angélica” para a própria Terra-média: “Por essa razão, Morgoth tinha que ser combatido, principalmente através de força física, e uma enorme destruição material seria o resultado provável de qualquer combate contra ele (…) Esta é a principal explicação para a contínua relutância dos Valar em entrar em combate aberto com Morgoth. A tarefa e o problema de Manwë eram muito mais difíceis que os de Gandalf. O poder de Sauron, relativamente menor, estava concentrado; o vasto poder de Morgoth, disseminado. Toda a Terra-média era o Anel de Morgoth”.

    O grande dilema dos Poderes do Mundo era que Arda seria irremediavelmente desfigurada, seja na vitória ou na derrota. Mas no fim, como sabemos, os Valar prevaleceram – ainda que pagando um alto preço.

  • Que tal seu nome em Quenya?

    Se não dá pra simplesmente aprender quenya de uma hora pra outra, saber o próprio nome na língua mais importante do universo tolkieniano já é um grande avanço. Esse é o objetivo da página Quenya Lapseparma (Livro dos Bebês em quenya), que provê um verdadeiro dicionário de nomes ocidentais traduzidos para o alto-élfico.

    De acordo com Ales Bican, criador da página, a idéia de fazer essa listagem surgiu quando ele leu o artigo “Now we have all got Elvish names” (Agora todos nós temos nomes élficos), escrito por Helge Fauskanger, do site Ardalambion, um dos melhores em atividade sobre lingüística tolkieniana. “Peguei alguns dicionários de nomes em inglês, como o Oxford Dictionary of English Christian Names, e comecei a tentar a tradução para o quenya”, conta Bican.

    O resultado, bastante completo, revelou algumas surpresas. O nosso prosaico Marina (em latim, “mulher do mar”) se equipara a Eärwen (eär=mar + wen=donzela), o nome da mãe de Galadriel; Sansão (em hebraico, “filho do Sol”) é idêntico ao nome do filho caçula de Elendil, Anárion (anar=sol + ion=filho de).

    Vale lembrar que sobrenomes também podem ser traduzidos, embora não apareçam na lista de Ales Bican. O brasileiríssimo Silva (em latim “da floresta”) ficaria Aldaron, enquanto Lopes (espanhol antigo “filho do lobo”) seria Narmion. O endereço do Quenya Lapseparma é http://www.elvish.org/elm/names.html.

    Já o ensaio de Helge Fauskanger pode ser lido em http://www.uib.no/people/hnohf/elfnam.htm.

  • Romance relata saga de Isildur

    Embora esboçada em muitos livros de Tolkien, a história da derrota de Sauron pelos exércitos da Última Aliança, no final da Segunda Era, nunca foi contada numa narrativa completa. Os irmãos americanos Brian e Gary Crawford, fãs de carteirinha de O Senhor dos Anéis, decidiram remediar isso, e escreveram uma das mais elaboradas fans fictions já inspiradas por Tolkien: o romance Isildur.

    A intenção dos dois irmãos, a julgar pela leitura do livro, foi realmente esclarecer os “cantos escuros” deixados por Tolkien na narrativa sobre a Última Aliança. Na verdade, a história se passa depois que as tropas de Elendil e Gil-galad conseguiram invadir Mordor, impondo um cerco de sete anos a Barad-dûr. Isildur, liderando os soldados de Gondor, percorre praticamente toda Rhovanion, reunindo forças para o ataque final a Sauron.

    Mas o herdeiro de Elendil enfrenta a oposição dos Numenoreanos Negros de Umbar, liderados pelo cruel Malithôr (que, no decorrer das Eras, se tornaria o terrível Boca de Sauron). Através de ameaças, Malithôr consegue dissuadir muitos aliados de Gondor a ajudar Isildur, entre eles os homens de Erech, que são amaldiçoados pelo filho de Elendil (outra história que fica na sombra em O Senhor dos Anéis). Um último conselho de Elfos e Homens é reunido em Osgiliath, e a Aliança parte para sua cartada final.

    O romance é uma leitura agradável e bastante fiel ao clima do universo tolkieniano, embora os autores pequem em alguns detalhes.

    A boa notícia é que a obra se encontra disponível para download, traduzida para o Português por Victor Luiz Barone Júnior e Luis Fernando C. Fogaça para a antiga e offline Dúvendor.

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