Prólogo

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Escrito por Fábio Bettega

A Sociedade do Anel: Prólogo: Um Anel para a todos governar…
 
"O mundo está mudado: Eu sinto na água, eu sinto na Terra, eu farejo no Ar".
 
 
 
Essas
palavras, faladas contra uma tela escura primeiro em élfico e depois
novamente em Inglês, narradas por Galadriel, nos introduzem à adaptação
de Peter Jackson de O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien. Embora no
livro elas sejam ditas por Barbárvore perto do fim de O Retorno do Rei,
a frase é o começo perfeito para a releitura de Jackson dos eventos que
levaram a terceira era ao fim. De fato, essa alteração é representativa
da abordagem de Jackson para adaptar o trabalho de Tolkien: revisar a
história original sendo que evoque Tolkien sem ser Tolkien propriamente
– ainda assim funcionando magnificamente quando se julga o filme com um
trabalho artístico separado. Um rascunho anterior do script trazia
Frodo introduzindo o filme, usando uma linguagem menos poética e,
francamente, menos tolkieniana: "Quando nos viramos da escuridão do
nosso passado para nos confortarmos nas nossas vidas pacíficas, as
vezes esquecemos o quão caro essa paz custou. Mas há muita importância
em relembrar a escuridão…"
Depois de
juntar tomadas inicias do filme, Jackson sentiu que Frodo parecia saber
muito sobre a história do Anel ainda no começo e levou Elijah Wood e
Ian McKellen de volta à Nova Zelândia para refilmar algumas cenas em
Bolsão. Talvez uma preocupação similar tenha levado à decisão de
Galadriel substituir Frodo na narração do prólogo do filme.
 
Galadriel
é uma boa escolha para narradora do prólogo. Cate Blanchett é uma
contadora de histórias encantadora e sua personagem, Galadriel, viveu
os eventos descritos no prólogo; de fato, ela aparece rapidamente neste
como um dos portadores dos Anéis élficos. No entanto, Elrond talvez
fosse uma escolha melhor para narrador, já que sua vida é ainda mais
entrelaçada com os eventos mostrados no prólogo e, nos livros, seu
personagem é o maior mestre das tradições da Terra Média e foi ele quem
relatou muito do que a audiência ouve no prólogo.
 
Em
vez de seguir a abordagem do livro e usar apenas Elrond, Gandalf e
outros personagens para contar a Frodo (e aos leitores) a história de
Sauron e do Um Anel de uma forma espalhada pela primeira metade da
Sociedade do Anel, Jackson usa o prólogo para levar a audiência de
volta a Segunda Era e mostrar a criação do Anel e a passagem de dono
para dono.
 
�?
medida que o prólogo começa, vemos os "Reis Élficos" – Gil-galad,
Galadriel e Círdan (sem barba!!!) – admirando seus Três Anéis, Os
Senhores Anões segurando seus Sete Anéis e os Homens Mortais (um dos
quais é interpretado pelo ilustrador Alan Lee) com seus Nove Anéis.
Essas cenas são recordações do versão mal recebida e nunca terminada de
O Senhor dos Anéis feita por Ralph Bakshi.
 
Afortunadamente,
toda similaridade com o filme de Bakshi termina quando a audiência é
"jogada" em uma batalha espetacular, com milhares de guerreiros da
Última Aliança entre Homens e Elfos lutando contra as forças de Sauron
em Mordor. Nessa guerra, os elfos foram liderados pelo rei-élfico
Gil-galad, enquanto os Homens foram liderados por Elendil juntamente
com seus filhos, Isildur e Anárion. Embora o sítio a Barad-dûr tenha
durado uns sete anos, o filme enfoca a batalha final nos pés da
Montanha da Perdição. Nesse ponto, Anárion, de quem os Reis de Gondor
descendem, já havia sido morto em batalha e não é mostrado – nem
mencionado – no filme. Mesmo o Rei-élfico Gil-galad (com Elrond, seu
arauto) é visto apenas brevemente liderando uma legião de habilidosos
guerreiros élficos que estão derrotando um ataque violento dos Orcs de
Sauron. No interesse de manter os eventos suficientemente simples para
a audiência do filme absorver em alguns minutos, a batalha enfoca
Sauron e Isildur.
 
Sauron
aparece com foi descrito por Tolkien nas Letters: "um homem de estatura
maior que a humana, mas não gigantesco." Sua armadura, que o repórter
do E! Online Jonh Ford desmerecidamente descreveu como "cavaleiros
medievais ‘misturados’ com objetos de cozinha" se parece com um
rascunho que Tolkien desenhou de Sauron e muito recorda a ilustração
feita pelo ilustrador John Howe de Morgoth, a quem Sauron servia. Igual
a Morgoth, a arma de Sauron é uma grande clava e com cada golpe, manda
dúzias de guerreiros para a morte – incluindo Elendil. É uma cena
visualmente excitante, mas equivocada: Elendil foi morto pelo calor do
corpo de Sauron.
 
O
filme também não mostra Elendil ferindo mortalmente o corpo de Sauron.
Ao invés disso, toda atenção está em Isildur. Ele não usa o fragmento
quebrado da espada Narsil de Elendil meramente para cortar o Anel da
mão de Sauron, como no livro, e seu personagem no filme corta todos os
dedos do Senhor do Escuro, levando a "força vital" de Sauron a explodir
de seu corpo em meio a um trovão azul, o que faz com que todas as
criaturas vivas no campo de batalha caiam (o que deixa alguns da
audiência pensando que todos os guerreiros foram mortos e imaginando
como Isildur conseguiu evitar ferimentos).
 
A
razão para o filme se concentrar somente em Isildur é que ele
freqüentemente será mencionado mais tarde no filme, um símbolo da
fraqueza dos Homens e a própria descrença de Aragorn em sua habilidade
de evitar ser corrompido pelo poder. A cena de Isildur pegando o
fragmento carbonizado do dedo de Sauron e retirando o Um Anel é
mostrada mais duas vezes no filme. É o único caso em que Peter Jackson
reflete o estilo narrativo repetitivo de Tolkien ao invés de apressar
os eventos para que caibam no tempo limitado de duração do filme.
 
Se
por um lado o prólogo mostra claramente para a audiência como Isildur
obteve o Anel, as próximas cenas referentes à sua perda são uma
confusão. O livro nos conta que Isildur caiu em uma cilada armada por
Orcs, que o acertaram com flechas quando o Anel escorregou de seu dedo
enquanto ele tentava escapar nadando através do Anduin. No entanto, o
filme mostra apenas forças não identificadas atacando Isildur enquanto
ele cavalga, seguindo-se uma cena dele flutuando na água, sem
explicações de como ele chegou ao rio.
 
Nós
vemos o Anel caindo até o fundo do rio, onde ele ficou por 2.500 anos
antes de ser encontrado pela "criatura Gollum", mostrado no filme como
uma mão humana alcançando o Anel no fundo do rio. Nos livros, foi
Déagol, o amigo de Gollum, quem encontrou o Anel enquanto pescava, e
Gollum o assassinou para pegá-lo. Há rumores de que esses
acontecimentos serão mostrados como um flashback durante o segundo
filme, As Duas Torres.
 
Tendo
uma tomada das Montanhas Nebulosas como fundo, a narração de Galadriel
nos conta como Gollum se escondeu pelos próximos 500 anos, durante os
quais a criatura foi transformada pelo Anel. Para a surpresa dos que
não esperavam ver Gollum até o segundo filme, Jackson obviamente
decidiu que era melhor mostrar-lo agora para que possamos reconhecê-lo
quando ele aparecer na história principal.
 
As
cenas finais do prólogo mostram Bilbo Bolseiro encontrando o Anel na
caverna de Gollum, com este lamentando em segundo plano a sua perda.
Embora os leitores de O Hobbit possam lamentar que o Jogo de Charadas
não tenha sido mostrado, os lamentos fazem uma bela ponte entre Bilbo
encontrando o Anel e a fuga da caverna. Essas cenas finais são uma
maneira rápida mas efetiva de mostrar como o Anel foi de Gollum para
Bilbo (embora o porquê de Gollum ter deixado o seu "precioso" jogado
daquele jeito seja tão inexplicável no filme quanto é no livro).
Apesar
das incorreções e omissões na história do Anel, a maioria dos críticos
e fãs achou que Jackson fez um excelente trabalho na cobertura da
história prévia, de maneira rápida e dramática e sem confundir os
não-iniciados. Sabedoria comum entre os cineastas é que se um filme não
conquista a audiência nos primeiros 10 minutos, ele nunca irá. O
prólogo de O Senhor dos Anéis de Peter Jackson, com suas seqüências de
batalhas espetaculares e narração graciosa, garante a audiência que ela
está prestes a embarcar em uma aventura épica e que todos,
independentemente de sua familiaridade com os livros, estão convidados.

 

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