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Dalton Trevisan

  • Criador do tópico Criador do tópico Anica
  • Data de Criação Data de Criação

Anica

Usuário
Tá aí um contista excelente. Deixando de lado as histórias sobre o escritor (que são muitas, e às vezes eu acho que falam mais da reclusão dele e coisas do tipo do que da obra em si, o que é uma pena), o fato é que ele domina a técnica como ninguém. Tem contos que até hoje eu gosto de reler, tipo Uma vela para Dario (bastante forte, até pelo desfecho extremamente melancólico).

Sinceramente, não acho que Dalton seja só para curitibanos, a obra dele vai além disso. É claro, é bacana ler referências às pessoas e aos lugares daqui, mas elas são só peças para chegar a algo maior. Se a história fosse em São Paulo, Rio, Porto Alegre, ainda assim funcionaria.

Então, fica aí a sugestão para quem ainda não conhece. Deixem de lado a biografia e mergulhem no mundo do Dalton. É de uma crueza e humor negro comparável ao Nelson Rodrigues, devo dizer :lendo:
 
Meu começo de Dalton foi por causa do vestiba mesmo huhuh mas fiquei apaixonada por "Em Busca da Curitiba Perdida"... é demais de legal!!!!!
 
Bah, nunca li :~ já coloquei o nome na lista de próximos autores a conhecer \o/
 
Ele é excelente, ácido e pervertido que só, hehe. o nível de Nelson mesmo. para quem quiser conhecer e etá meio sem grana para pagar 30 ou 40 paus em um sebo por uma boa edição, vale a pena comprar "Continhos Galantes", por R$ 8,00 em qualquer banca. Edição LP&M pocket plus.
 
Concerteza ele não é só pra Curitiba, é como disse a Amélie, é no vestibular que se conhece...e realmente!!! ^^
 
Dalton Trevisan é muito bom. Os livros dele que li percebi que não mede palavras, seus texto são realmente muito "ácidos" mesmo.
 
Trevisan morreu ontem a noite, segue o obituário publicado pela Folha:

Morre o escritor Dalton Trevisan, o lendário vampiro de Curitiba, aos 99 de idade
Um dos maiores contistas do país, ele venceu o Jabuti e o Camões, a láurea máxima a autores de língua portuguesa

9.dez.2024 às 23h33
Atualizado: 10.dez.2024 à 0h11

Etel Frota

Curitiba -- Morreu nesta segunda-feira, aos 99 anos, o escritor paranaense Dalton Trevisan, um dos maiores contistas do país, informou sua família, na conta do Instagram do escritor. O velório será aberto ao público, atendendo a um desejo do autor, mas ainda não há lugar ou horário definidos, ainda segundo sua agente literária, Fabiana Faversani.

A causa da morte não foi revelada. "Tentamos dar o máximo de privacidade como era seu desejo", disse a agente. "Todo vampiro é imortal. Ou, ao menos, seu legado é", escreveu a família do escritor em um post publicado no Instagram.

A casa de Trevisan, certa vez, foi pichada. Providenciada a camuflagem do vandalismo, não houve a pretensão de melhorar o aspecto com mais uma demão de tinta. Os rabiscos acrescentaram um acento punk ao tom cinza de decadência que o lugar ostentou por décadas.

O episódio, além de enriquecer a mitologia daltoniana com mais um fato de recorte vampiresco, serviu para comunicar aos interessados que o escritor continuava vivo, desperto e a postos para defender suas indevassáveis muralhas.

Era assim, por meio de sinais indiretos e esporádicas fotos à traição, que se acompanhava a vida e as excentricidades do contista.

Trevisan cultivou uma aversão especial à imprensa, e sua última entrevista data de 1972. Paradoxalmente, viveu sua fase adulta em endereço certo e sabido, em Curitiba, no cruzamento de duas movimentadas avenidas.

O portão da frente era baixo e vazado, a poucos passos da porta de entrada. Qualquer passante teria podido espiar o interior da casa sem recuo, através das janelas abertas diretamente para a calçada, não fossem as cortinas invariavelmente cerradas.

Dalton Jérson Trevisan nasceu em 14 de junho de 1925, irmão de Derson Trevisan e Hilton Dácio Trevisan. Os três, filhos do proprietário da Fábrica de Louça, Refratário e Vidro, João Evaristo Trevisan, e de Catarina Stocchero Trevisan.

O escritor trabalhava na fábrica do pai, em 1945, quando uma explosão causou sérios ferimentos a seu crânio e o obrigou a uma longa recuperação. Há indícios de que desse confinamento tenha emergido o escritor maduro. Nesse mesmo ano, lançou seu primeiro título, "Sonata ao Luar".

No ano seguinte publicaria "Sete Anos de Pastor", definido por Sérgio Milliet como "a maior invenção expressiva desde Clarice Lispector". Trevisan viria, posteriormente, a renegar ambos os livros.

Paralelamente aos seus trabalhos, ele se formou em direito pela Universidade Federal do Paraná, em 1947. Permaneceu filiado à Ordem dos Advogados do Brasil até 1964.

Em 1946, fundou a Revista Joaquim, "de pôr água na boca", segundo escreveu, na Folha da Manhã, a cronista Helena Silveira. No segundo número, a Joaquim publicou uma carta de Carlos Drummond de Andrade, que comemorava "as revistas de moços". "Que delícia uma revista cuja redação é na rua Emiliano Perneta, 476, e que promete publicar em seu segundo número um artigo sob o título 'Emiliano, poeta medíocre'!"

Na coluna ao lado da carta de Drummond, a Joaquim trazia, efetivamente, o artigo em que Trevisan desconstruía Emiliano Perneta, o chamado príncipe dos poetas do Paraná, que em sua opinião teria produzido uma "versalhada farinhenta", para ser "recitada nas sessões litero-musicais dos colégios em festa no dia da árvore".

O jovem escritor também trocou correspondência com Pedro Nava, Antonio Callado e outros importantes nomes da literatura. Segundo o jornalista Sandro Moser, da Gazeta do Povo, a Revista Joaquim foi a "trincheira de onde [Trevisan] iria atacar o paranismo beletrista e cafona da província".

Em 21 edições, de 1946 a 1948, a publicação pôs Curitiba no circuito literário nacional e não deixou pedra sobre pedra na crítica ao movimento que, nas palavras de Trevisan, "em nome de santas tradições, amputou as mãos e furou os olhos dos jovens artistas".

Depois de um hiato, só em 1959 o contista voltaria a publicar em livro. "Novelas Nada Exemplares" resultou em seu primeiro Prêmio Jabuti de Literatura. "O Vampiro de Curitiba" foi publicado seis anos depois. O personagem Nelsinho fala da solidão atormentada de um compulsivo sexual. "Eu vos desprezo, ó virgens cruéis. A todas eu poderia desfrutar. Ser eunuco, ai quem me dera."

Há 50 anos, Nelsinho viria a ganhar o rosto e trejeitos do ator Carlos Gregório, no longa-metragem "Guerra Conjugal", de Joaquim Pedro de Andrade, com roteiro também escrito por Trevisan.

O escritor teve, ainda, várias seleções de seus contos levados ao teatro. Entre as montagens, se destacam a de Marcelo Marchioro, "O Ventre do Minotauro", em 1998, e "Pico na Veia", em 2005.

Por quatro vezes Trevisan venceu o Jabuti. Conquistou também, em duas oportunidades, o prêmio Portugal Telecom, amealhando também o APCA, o Machado de Assis e o prestigioso Camões, pelo conjunto da obra. Nunca compareceu a nenhuma das cerimônias de premiação.

Trevisan publicou até os 90 anos de idade com uma regularidade espantosa, imune às oscilações do mercado editorial.

Segundo amigos, Trevisan nunca foi recluso. Eles contam que o escritor saía todas as manhãs para a sua caminhada e adorava o frisson das mocinhas estudantes de letras da Universidade Federal do Paraná quando o reconheciam. Mas o autor, ele mesmo, afirmou "só a obra interessa". "O autor não vale o personagem. O conto é mais importante que o contista."

Os textos de Trevisan foram encolhendo, numa busca obsessiva pela concisão extrema. "Para escrever o menor dos contos a vida inteira é curta. Nunca termino uma história. Cada vez que a releio, eu a reescrevo", declarou o autor em 1965.

Seu conto "Eucaris a dos Olhos Doces", publicado em 1945 no primeiro número da Revista Joaquim, reapareceu em "O Beijo na Nuca", uma edição da Record de dez anos atrás, rebatizado de "Eucaris", com 229 palavras. A primeira versão tinha mais de mil.

Curitiba se despede de seu vampiro —vegetariano, flâneur, amante das edições artesanais, "monstro moral" em sua autodefinição. Seus livros hoje estão disponíveis pela editora Record e, a partir do ano que vem, serão reeditados pela Todavia.

Trevisan foi casado durante mais de quatro décadas com Yole Bonato, morta em 1998. A filha mais nova, Isabel, morreu de câncer antes dos 40 anos. Bonato morreu logo em seguida, pela mesma doença.

O escritor deixa a filha Rosana e as netas Katiuscia e Natasha. Sua morte também deixa órfãs várias safras de contistas, que de muito bom grado teriam dado a ele a jugular para morder.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilust...endario-vampiro-de-curitiba-aos-99-anos.shtml (mirror, mirror)
 
tenho lido poucos contistas, mas na minha opinião é onde a gente percebe a competência de um escritor - quando ele consegue falar muito com pouco, e o dalton era isso, palavras escolhidas para máximo efeito na escola allan poe dos bons contistas.

sim, se formos prolongar o raciocínio a fodelância mesmo fica com os poetas que conseguem tudo isso e ainda seguem métrica, mas enfim, vamos ficar aqui com a prosa e reconhecer sem medo de exagero que dalton é um dos melhores contistas do brasil. enfim, uma perda enorme.

(que sorte a nossa que antes de morrer ele mudou de casa e foi para a todavia, vem aí um monte de reedição caprichada e se pá ele até deixou algo novo? 👀 )
 
achei a matéria do plural de quando anunciaram a mudança para a todavia. destaco o trecho:

Fabiana conta que Trevisan, conhecido por revisar compulsivamente seus textos, já está revendo contos para as novas edições. “Ele está compulsivamente refazendo as emendas desde que começamos a negociar a mudança de editora. Só do conto “Noite”, foram quatro ou cinco alterações na última semana. Presentinho para bons leitores-detetives”, brinca Fabiana.

eu aqui preciso confessar que apesar de todo meu amorzinho pela obra do dalton - que sei ser tão bom justamente porque ele sempre foi tão cuidadoso - ainda assim tenho pavor dessa mania de alguns escritores de alterar texto já publicado. amigo, publicou o livro não é mais teu, deixa ele crescer sozinho na cabeça dos doidos leitores, etc.

***

que dó que pela notícia parece que ele tava animado para o centenário. minha vó cecy eu tenho certeza que quando chegou ali nos 95 tava vivendo na força do ódio só para chegar no centenário. e de fato chegou no centésimo ano, muita festa, juntou um monte de filho, neto, bisneto e tudo o mais.

e morreu no ano seguinte.
 
eu aqui preciso confessar que apesar de todo meu amorzinho pela obra do dalton - que sei ser tão bom justamente porque ele sempre foi tão cuidadoso - ainda assim tenho pavor dessa mania de alguns escritores de alterar texto já publicado. amigo, publicou o livro não é mais teu, deixa ele crescer sozinho na cabeça dos doidos leitores,
Ou, trocando em miúdos: não me faça comprar 2 vezes o mesmo livro :pray:
 
Ou, trocando em miúdos: não me faça comprar 2 vezes o mesmo livro :pray:

o que me irrita nessas revisões é que em alguns casos a segunda versão fica pior. eu sempre falo de uma leitura do meu fim de adolescência porque foi um caso que marcou muito: na faculdade eu li eu sei que vou te amar do jabor - peguei na biblioteca, era uma edição antiga com capa do pôster do filme e tal. por uns tempos o livro foi minha bíblia, eu citava trechos dele tanto, tanto que até hoje eu sei de cor.

mas aí o jabor (na época que ele estava na moda como cronista e não tinha nos desgraçado com a fase animador de direita chucra) lançou uma nova edição e eu fui comprar toda animada porque queria tanto ter aquele livro e quando finalmente tenho em mãos e começo a reler... a edição nova estava toda diferente e péssima, péssima. parecia que ele tinha decidido canetar fora bem o que a versão original tinha de melhor. :disgusti:

mas sim, tem alguns autores que essa coisa de revisar parece meio inescapável. mas eu gostava mais quando a revisitação do dalton era através de coisa nova - um diálogo com o que ele tinha escrito em outro momento.
 

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