Gerbur Forja-Quente
Defensor do Povo de Durin
Estava relendo o Ainulindalë, o primeiro capítulo do Silmarillion com meus amigos nerds do grupo tolkeniano Torre Branca e a leitura do mesmo gerou muitas reflexões e debates compiladas pela nossa amiga Edhel e tudo isso me levou numa viagem de pensamento muito gostosa sobre a Criação de Mundos. Isso também porque somado a isso estamos jogando RPG.<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-comfficeffice" /><o></o>
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A viagem da Criação é a seguinte:<o></o>
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Numa entrevista que Sir Ian "Gandalf" McKellen deu e está no making of d'A Sociedade do Anel ele disse:<o></o>
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"A história do Senhor dos Anéis nunca aconteceu, apenas em nossos corações, mas quando eu cheguei no SET de filmagens e vi o Condado, a fumaça saindo das chaminés, as crianças correndo atrás dos coelhos, as casas nas colinas com portas redondas... eu acreditei".<o></o>
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Como ele disse, essa história fantástica não é real, nunca aconteceu. Assim como nossa aventura de RPG, mas até que ponto tudo isso não é real (agora apertem os cintos que eu vou viajar, rs)?<o></o>
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Quero dizer, numa conversa que eu tive com a Edhel por msn Eras atrás, nós falávamos sobre a dedicação do professor com sua obra. Numa das cartas a seu filho Christopher, Tolkien disse que teria que revisar toda a obra porque a lua nascia e se punha sempre no mesmo lugar e isso estava errado devido a natureza da mesma (PQP, WTF!!!). Vejam a tamanha dedicação e preocupação com uma coisa absolutamente irreal, que pouquíssimas pessoas tinham conhecimento e que era, para todos os fins até aquele momento, um hobbie. Porque algo que demora cerca de 14 anos para render algum dinheiro não pode ser visto como um investimento financeiro, longe disso, é no máximo um hobbie, um passatempo.<o></o>
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Tolkien ficou todo esse tempo nessa obra, nessa mentira que ele criou, nesse mundo fantástico que era só dele e pouquíssimas pessoas compartilhavam desse mundo, enquanto o mundo "real" desconhecia tudo isso e via Tolkien apenas como um professor.<o></o>
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Mas quando o professor publicou seu mundo imaginário, o mundo "real" teve acesso ao mesmo, e o mundo da fantasia, o mundo-mentira, o mundo-Tolkien querendo ou não, mudou o mundo "real". Tolkien teve até que mudar de casa porque sempre quando ele ia colocar o lixo na rua, um grupo de fãs estava esperando o professor simplesmente para poder vê-lo.<o></o>
<o></o>
O mundo-mentira influenciou todo um gênero literário, mais que isso! Muito mais! Influenciou a arte de uma maneira geral, desenhos e mais desenhos foram feitos para ilustrar as primeiras imagens do mundo-mentira. Influenciou a música e inúmeras bandas fazem menção a ele, às vezes até o nome da banda é uma menção. Influenciou ONGs (Barbárvore foi um símbolo hippie nos EUA de uma ONG que protege as florestas). Influenciou o cinema e séries de TV até que finalmente ganhou seu próprio filme! Influenciou até a ciência (vi uma vez aqui na Valinor uma lista de animais descobertos que foram batizados com nomes científicos "tolkenianos"). Influenciou pessoas (alguém conhece gente que casou por causa de O Senhor dos Anéis?). Extravasou cidades e continentes e mares, o mundo-mentira influenciou o mundo.<o></o>
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Mas é possível que uma mentira, algo que seja irreal mude algo que seja real? Bem se não é, então nossos domingos não existem e nós não nos conhecemos (jogamos RPG aos domingos).<o></o>
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Nesse sentido, quando o professor escreveu a primeira frase de O Hobbit: "Numa toca no chão, vivia um hobbit", nesse mesmo instante ele deixou de ser um professor e se tornou um deus. Mais que isso, ele se tornou um deus que se importa. Então ele criou a Terra-Média, Bilbo, Gandalf e os anões e tudo o mais. E esse mundo é tão real que ele colocou e ainda coloca comida no prato de muita gente, pensem nos trabalhadores da sua primeira editora, das demais editoras ao longo do mundo, dos tradutores, e da imensidão de pessoas que trabalharam nos filmes e jogos e que ainda vão trabalhar nos filmes, jogos e livros póstumos do futuro.<o></o>
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O professor Tolkien se tornou um deus que criou um mundo e os deuses desse mundo, e "o mundo (real) mudou". E quando isso foi publicado o que era mentira tornou-se verdadeiro, pois o mundo-mentira virou papel, tornou-se palpável, acessível. E quando fizeram os filmes o que era verdadeiro tornou-se mentira, pois as pessoas reais (atores) vestiram pés peludos, e orelhas pontudas e longas barbas para se tornarem pessoas-mentira. E tudo se misturou e virou uma coisa só. E nós fãs líamos obcecados nos livros e assistíamos pasmos no cinema e constatávamos que aquilo era belo e magnífico.<o></o>
<o></o>
E essa bela mentira transformou um reles mortal (nosso querido professor) num deus imortal, lido em muitas línguas, mencionado em muitos sites, e-mails, festas, e grupos de amigos. E seu nome agora viverá para sempre e esse nobre artífice do nosso tempo será lido até o fim do mundo.<o></o>
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E nós?<o></o>
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Também não somos nós deuses criadores de mundos e pessoas-"mentira"? Vou falar de Hrötgar (porque é mais fácil para mim por se tratar do meu personagem, mas o mesmo vale para os demais).<o></o>
<o></o>
Quando nós votamos jogar RPG naquela tarde de domingo na Toca da excelentíssima Belba e do mestre Eli, eu sabia que criaria um anão. Inicialmente era só isso. Um anão. A medida que a coisa foi se desenrolando ele ganhou um nome: Hrötgar. Pouco depois ele já tinha um país de origem, data de nascimento, pai, avô, bisavô, tio, profissão, amigos e inimigos, um nome em outra língua e toda uma história passada e uma história que viria a ser. Hoje estou descobrindo seu temperamento, sua luz e suas trevas e além.<o></o>
<o></o>
Essa pessoa-mentira interage com outras pessoas-mentira e pessoas reais se tornam mais próximas e amigas (mais uma vez, o mundo-mentira está mudando o mundo "real") e de repente relatos sobre tudo isso está sendo escrito e publicado em e-mails. E algo absolutamente irreal no início torna-se cada vez mais concreto e palpável. Imaginem que num futuro (distante?) nossos filhos e netos encontrem os arquivos desses relatos e acabem descobrindo mais sobre nós, seus antepassados, estejamos nós vivos ou mortos. Isso pode nos aproximar deles, pode ser interessante para "homens ainda não nascidos" (ainda irreais). <o></o>
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Seremos nós, então, deuses? Talvez pequenos maiar perto da "iluvataridade" do professor Tolkien, mas ainda assim, maiar criadores?<o></o>
<o></o>
Será que Hrötgar, Kálina, Balrum, Loriel, H., Fëanorino, Margarida, (e mais) Ligram, Karangûl, Tholman, etc (ou seja, os nossos personagens e os personagens do mestre). não se tornaram reais simplesmente porque falamos sobre eles? Vivenciamos suas aventuras? Escrevemos sobre tudo isso? <o></o>
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Será que eles todos (belas-mentiras) não se tornaram reais simplesmente porque nós pessoas "reais" queremos? <o></o>
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Isso tudo me lembrou uma poesia do mestre Mário Quintana: a<o></o>
<o></o>
"Do bem e do mal
Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa na vida inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?"
<o></o>
Bem, desculpem o imenso post, me empolguei. E obrigado aos corajosos que leram até aqui. Espero ter recompensado aos ousados com um texto apaixonado.
Abraço Anão,<o></o>
Gerbur.<o></o>
PS: Eä<o></o>
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Numa entrevista que Sir Ian "Gandalf" McKellen deu e está no making of d'A Sociedade do Anel ele disse:<o></o>
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"A história do Senhor dos Anéis nunca aconteceu, apenas em nossos corações, mas quando eu cheguei no SET de filmagens e vi o Condado, a fumaça saindo das chaminés, as crianças correndo atrás dos coelhos, as casas nas colinas com portas redondas... eu acreditei".<o></o>
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Como ele disse, essa história fantástica não é real, nunca aconteceu. Assim como nossa aventura de RPG, mas até que ponto tudo isso não é real (agora apertem os cintos que eu vou viajar, rs)?<o></o>
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Quero dizer, numa conversa que eu tive com a Edhel por msn Eras atrás, nós falávamos sobre a dedicação do professor com sua obra. Numa das cartas a seu filho Christopher, Tolkien disse que teria que revisar toda a obra porque a lua nascia e se punha sempre no mesmo lugar e isso estava errado devido a natureza da mesma (PQP, WTF!!!). Vejam a tamanha dedicação e preocupação com uma coisa absolutamente irreal, que pouquíssimas pessoas tinham conhecimento e que era, para todos os fins até aquele momento, um hobbie. Porque algo que demora cerca de 14 anos para render algum dinheiro não pode ser visto como um investimento financeiro, longe disso, é no máximo um hobbie, um passatempo.<o></o>
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Tolkien ficou todo esse tempo nessa obra, nessa mentira que ele criou, nesse mundo fantástico que era só dele e pouquíssimas pessoas compartilhavam desse mundo, enquanto o mundo "real" desconhecia tudo isso e via Tolkien apenas como um professor.<o></o>
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Mas quando o professor publicou seu mundo imaginário, o mundo "real" teve acesso ao mesmo, e o mundo da fantasia, o mundo-mentira, o mundo-Tolkien querendo ou não, mudou o mundo "real". Tolkien teve até que mudar de casa porque sempre quando ele ia colocar o lixo na rua, um grupo de fãs estava esperando o professor simplesmente para poder vê-lo.<o></o>
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O mundo-mentira influenciou todo um gênero literário, mais que isso! Muito mais! Influenciou a arte de uma maneira geral, desenhos e mais desenhos foram feitos para ilustrar as primeiras imagens do mundo-mentira. Influenciou a música e inúmeras bandas fazem menção a ele, às vezes até o nome da banda é uma menção. Influenciou ONGs (Barbárvore foi um símbolo hippie nos EUA de uma ONG que protege as florestas). Influenciou o cinema e séries de TV até que finalmente ganhou seu próprio filme! Influenciou até a ciência (vi uma vez aqui na Valinor uma lista de animais descobertos que foram batizados com nomes científicos "tolkenianos"). Influenciou pessoas (alguém conhece gente que casou por causa de O Senhor dos Anéis?). Extravasou cidades e continentes e mares, o mundo-mentira influenciou o mundo.<o></o>
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Mas é possível que uma mentira, algo que seja irreal mude algo que seja real? Bem se não é, então nossos domingos não existem e nós não nos conhecemos (jogamos RPG aos domingos).<o></o>
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Nesse sentido, quando o professor escreveu a primeira frase de O Hobbit: "Numa toca no chão, vivia um hobbit", nesse mesmo instante ele deixou de ser um professor e se tornou um deus. Mais que isso, ele se tornou um deus que se importa. Então ele criou a Terra-Média, Bilbo, Gandalf e os anões e tudo o mais. E esse mundo é tão real que ele colocou e ainda coloca comida no prato de muita gente, pensem nos trabalhadores da sua primeira editora, das demais editoras ao longo do mundo, dos tradutores, e da imensidão de pessoas que trabalharam nos filmes e jogos e que ainda vão trabalhar nos filmes, jogos e livros póstumos do futuro.<o></o>
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O professor Tolkien se tornou um deus que criou um mundo e os deuses desse mundo, e "o mundo (real) mudou". E quando isso foi publicado o que era mentira tornou-se verdadeiro, pois o mundo-mentira virou papel, tornou-se palpável, acessível. E quando fizeram os filmes o que era verdadeiro tornou-se mentira, pois as pessoas reais (atores) vestiram pés peludos, e orelhas pontudas e longas barbas para se tornarem pessoas-mentira. E tudo se misturou e virou uma coisa só. E nós fãs líamos obcecados nos livros e assistíamos pasmos no cinema e constatávamos que aquilo era belo e magnífico.<o></o>
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E essa bela mentira transformou um reles mortal (nosso querido professor) num deus imortal, lido em muitas línguas, mencionado em muitos sites, e-mails, festas, e grupos de amigos. E seu nome agora viverá para sempre e esse nobre artífice do nosso tempo será lido até o fim do mundo.<o></o>
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Também não somos nós deuses criadores de mundos e pessoas-"mentira"? Vou falar de Hrötgar (porque é mais fácil para mim por se tratar do meu personagem, mas o mesmo vale para os demais).<o></o>
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Quando nós votamos jogar RPG naquela tarde de domingo na Toca da excelentíssima Belba e do mestre Eli, eu sabia que criaria um anão. Inicialmente era só isso. Um anão. A medida que a coisa foi se desenrolando ele ganhou um nome: Hrötgar. Pouco depois ele já tinha um país de origem, data de nascimento, pai, avô, bisavô, tio, profissão, amigos e inimigos, um nome em outra língua e toda uma história passada e uma história que viria a ser. Hoje estou descobrindo seu temperamento, sua luz e suas trevas e além.<o></o>
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Essa pessoa-mentira interage com outras pessoas-mentira e pessoas reais se tornam mais próximas e amigas (mais uma vez, o mundo-mentira está mudando o mundo "real") e de repente relatos sobre tudo isso está sendo escrito e publicado em e-mails. E algo absolutamente irreal no início torna-se cada vez mais concreto e palpável. Imaginem que num futuro (distante?) nossos filhos e netos encontrem os arquivos desses relatos e acabem descobrindo mais sobre nós, seus antepassados, estejamos nós vivos ou mortos. Isso pode nos aproximar deles, pode ser interessante para "homens ainda não nascidos" (ainda irreais). <o></o>
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Seremos nós, então, deuses? Talvez pequenos maiar perto da "iluvataridade" do professor Tolkien, mas ainda assim, maiar criadores?<o></o>
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Será que Hrötgar, Kálina, Balrum, Loriel, H., Fëanorino, Margarida, (e mais) Ligram, Karangûl, Tholman, etc (ou seja, os nossos personagens e os personagens do mestre). não se tornaram reais simplesmente porque falamos sobre eles? Vivenciamos suas aventuras? Escrevemos sobre tudo isso? <o></o>
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Será que eles todos (belas-mentiras) não se tornaram reais simplesmente porque nós pessoas "reais" queremos? <o></o>
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Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa na vida inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?"
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Bem, desculpem o imenso post, me empolguei. E obrigado aos corajosos que leram até aqui. Espero ter recompensado aos ousados com um texto apaixonado.
Abraço Anão,<o></o>
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