Eu nunca vi os noldor como cientistas. Vejo os noldor como um povo com caráter, de certa forma, greco-romano. O saber ligado aos gregos, de caráter mais filosófico do que científico (filósofo = "amante da sabedoria"), não é um saber que envolve a experimentação, a descrição matemática, a criação de modelos... Se há de fato algum saber, compararia-o com o saber pré-socrático, embora creia que seja um saber ainda bastante diferente deste, ainda mais instintivo e natural, e que passa longe da abstração. É como um saber de ferreiro, que passa de pai para filho. Um saber mais criativo, que envolve a criação de obras e não a descrição lógica da natureza (mesmo porque os noldor tiveram contato com os criadores na natureza). Obras, alias, que podem ser associadas a grandes obras romanas como aquedutos e anfiteatros, sendo o período romano, em especial, não especialmente notável pelo seu avanço científico ou filosófico. Porém, diferente das obras romanas, não seriam obras tão técnicas, pois envolvem a subcriatividade, que, a meu ver, é a colocação de parte da vontade, da intenção do elfo, na obra. É um ato intuitivo e não lógico e que não é passado, completamente, de pai para filho, embora seja resgatado de forma independente e individual por este (como qualquer ensinamento de caráter artístico). Ensina-se a tocar piano, mas o tocar ou a composição de cada músico é único.
Desta forma, não vejo a frase de Fëanor (
Tanto para o menor como para o maior há alguns feitos que ele só pode fazer uma vez; e nesse feito seu coração descansará) como apenas uma indicação que a "energia" do elfo fora gasta da obra, mas sim que uma espécie da indicação de sua obra magna, de uma criatividade intuitiva que atinge seu mais auto grau (sendo esse pico muitas vezes localizado, mas não sempre, na juventude).
Já o anel, vejo-o como uma desvirtuação desse caráter "artístico" para um caráter científico e tecnológico. Sauron ensina os elfos a fazer anéis (estes, parece-me, sendo feitos de uma técnica criada pelo próprio Sauron) e eles são criados aos montes, como tecnologias e não obras de artes que tem tiragem limitada, quando não única. Além disso, os anéis tem um caráter bastante tecnológico, quase de uma máquina (de um computador, em especial): Sauron consegue "invadir" (Sauron o hacker?) os anéis élficos mesmo sem nunca ter tocado neles, como um técnico que conhece e faz o que quiser com um determinado tipo de máquina de sua especialização.
Além disso, há a conhecida fala de Gandalf, quando fica sabendo que Gandalf quebrara a luz branca para obter as "muitas cores". Não lembro a frase exatamente, mas é algo como "Quem quebra algo para conhecê-lo deixara o caminho da sabedoria". Parece-me uma alusão clara a Newton, modelo de cientista. E algo que pode ser associado a frase de Goethe "A natureza das cores é conhecida olhando um pôr-do-sol e não fazendo experimentos com prismas".
A palantír, a meu ver, é algo que localiza-se entre ambas as tendências, mas permanece ainda do lado da primeira. É como uma luneta que serve para a apreciação e contemplação das estrelas, sem um caráter, inicialmente, de abstração, de modelagem, de ciência, embora esteja a ponto de ceder a essa tendência. O que é um indicativo da tendência fëanoriana.
Apesar da discordância com esse artigo em especial parabenizo-o por este e pelos outros que têm sido fodas.