Elessar Hyarmen
Senhor de Bri
ESTUDO SOBRE A CONJUNTURA – OUTUBRO DE 2012 [1]
DOUTRINA OBAMA E A GUERRA NA SÍRIA
Por Pedro Otoni[2]
A política exterior norte-americana apresenta sinais de esgotamento. Não é mais possível aos EUA continuar operando sob o mesmo registro da última década. O mundo não é mais tão dócil aos seus comandos, nem sua situação econômica é doce o suficiente para projetar-se como modelo a ser seguido pela humanidade.
Diante desta encruzilhada o governo democrata atualizou sua estratégia militar para o mundo, reduziu as iniciativas de invasão norte-americana direta, que possui um custo político e econômico alto, e vem promovendo uma forma mais insidiosa de controle geopolítico. Em uma tática similar às empregadas pela administração Reagan (1981-89), que patrocinou oposições armadas contra o governo sandinista na Nicarágua, grupos conhecidos como Contras, o governo de Obama aposta na produção e fortalecimento de dissidências em países que rejeitam o comando de Washington. A onda de protestos em diversos países de maioria muçulmana, a chamada “Primavera Árabe”, foi percebida e explorada como uma janela de oportunidade para a política exterior norte-americana desestabilizar regimes não compatíveis com seu sistema de dominação. Foi assim na Líbia, tem sido assim na Síria.
A lógica de operação estadunidense na nova doutrina imperialista de Washington articula as seguintes linhas de ação: 1) Criação de uma opinião pública internacional e regional anti-regime utilizando como mote “a luta pela democracia”;2) Ressureição de diferenças étnicas e religiosas no interior dos países, explorando em especial minorias alijadas do poder de estado; 3) Envolvimento e mobilização dos aliados regionais.
A CIA (Central Inteligence Agency) não apenas colabora com as dissidências armadas, mais do que isso às fomenta, treina, arma e as abastece de suprimentos. No entanto, formalmente, tanto os EUA, quanto seus aliados europeus negam a participação direta nos conflitos, mas declaram apoio aos rebeldes em seus objetivos anti- regime. Depois do desmantelamento da Líbia, a Casa Branca tem a Síria e o Irã como alvos imediatos.
A guerra na Síria: a aplicação das três linhas de ação da Doutrina Obama
A Síria, alvo preferencial dos EUA no momento, conhecida por ser o Estado mais estável da região e operador político importante do nacionalismo árabe, sempre foi base de apoio dos grupos antiimperialistas do Oriente Médio.[3] Durante o período de governo da Frente Progressista Nacional (FPN)[4] iniciado em 1963 esse país sempre teve sintonizada internacionalmente com o Bloco Socialista e posteriormente com a Rússia e China, procurando construir um estado republicano, laico, igualitarista e soberano. Por esta razão, sempre foi um pedra no caminho dos estadunidenses e seus aliados[5].
No caso da Síria, os EUA procuram reproduzir a mesma estratégia utilizada na Líbia: articulação da opinião pública, dissidências internas e mercenários, assim como apoio dos aliados regionais. Conforme expomos anteriormente, a primeira linha de ação se dá no plano da mídia, para isso utiliza os meios mundiais de comunicação e em especial a Al Jazira, maior veículo de comunicação do mundo árabe. Tal empresa televisiva tem não apenas orientado mas produzido fatos no que tange a guerra civil síria, anunciando manifestações artificiais, “informando” mortes e conflitos que tem como objetivo central desmoralizar o Governo Sírio e inflar (ou superestimar) as forças dos grupos de dissidentes. Esta forma orquestrada de manipulação midiática, tão comum em outras situações[6], não é casual. Basta lembrar que a Al Jazira é de propriedade da família Al Thani, que nada mais é do que a família real do Qatar (país sede da empresa). É no mínimo um engano acreditar que a Al Jazira dos Al Thaniesteja preocupada com o bem estar do povo sírio, uma vez que a própria população catariana é excluída dos resultados da renda do petróleo, sendo este de propriedade do Emir Hamad bin Khalifa (o monarca). Nem o Qatar, tampouco a Arábia Saudita, outra monarquia absolutista, são modelos de referência em termo político ou econômicos para a população síria.
Este golpe midiático vem acompanhado do cerco aos meios de comunicação do Estado e das organizações populares sírias. Compõe seu expediente, desde bombardeios ao sistema de comunicação estatal até a interferência e bloqueio de sinais de rádio e internet da população, por meio do corte das transmissões via satélite. O mundo e o próprio povo sírio recebem, quase que exclusivamente, sinais de comunicação provenientes das dissidências golpistas e de seus aliados na região.
A segunda linha de ação estadunidense na produção de conflitos refere-se à criação de dissidências internas. Na Síria, o Partido Baath, e seus aliados da FPN[7], lograram construir um equilíbrio entre as diferentes etnias e religiões por meio da edificação de um estado laico[8]. Os EUA incentivam o radicalismo fundamentalista sunita, para decompor o alicerce social da organização nacional síria. Takfiris[9] estrangeiros, mercenários (líbios, tunisianos, jordanianos, paquistaneses, sauditas e egípcios) financiados, equipados e treinados pela CIA[10] e militares da Arábia Saudita, Qatar, Turquia e Israel conjuntamente com salafitas sírios ligados à Irmandade Muçulmana são a espinha dorsal dos rebeldes.
A fronteira da Turquia tem sido a principal base de apoio logístico e político. O Conselho Nacional Sírio, centro de comando dos rebeldes está instalado neste país, agentes da CIA operam ali construindo redes de Inteligência para a dissidência, fornecem fotos áreas e de satélites, além de informações militares sobre a movimentação do Exército Sírio. É pela Turquia que grande parte dos equipamentos ditos “não letais”[11] provenientes da França, Alemanha e Reino Unido são entregues aos rebeldes. A Alemanha por sua vez admitiu que envia informações obtidas por seus navios na costa síria.[12] Israel e Turquia possuem um papel relevante enviando comandos de operações especiais (grupo de elite do exército) para atuarem dentro das fronteiras sírias, mais uma clara manifestação da ingerência estrangeira no conflito[13]. Cabendo por fim ao Qatar e a Arábia Saudita o suprimento de armamento pesado aos dissidentes. [14]
A terceira linha de ação de Washington no conflito se refere à mobilização de seus aliados no Oriente Médio. O cenário é extremamente desfavorável para a Síria neste campo, sendo que os EUA lograram articular diferentes níveis de colaboração regional com os golpistas do Conselho Nacional Sírio. A Turquia, Arábia Saudita e Qatar estão diretamente envolvidos no fornecimento de armas. Israel age em operações de “comandos” distribuídos dentro das fronteiras sírias, realizando ações de terror entre a população. O presidente egípcio Mohamed Mursi, membro da Irmandade Muçulmana, realizou declarações a favor da mudança do regime. Extraoficialmente, membros da Irmandade estão atuando entre os rebeldes, mesma postura assumida pela Jordânia. Complementando este repertório anti-sírio estão o Reino Unido, Alemanha e França que fornecem os suprimentos para as organizações de oposição.
Os EUA possui o propósito claro de criar uma situação de conflito permanente no Oriente Médio, abrindo caminho para a desestabilização da Síria e do Irã. Assim, arma países aliados que estão dentro do círculo de fogo do confronto contribuindo para o desiquilíbrio da correlação de forças na região em favor do Ocidente. É evidente que os interesses econômicos que estão inseridos na dinâmica de operação do imperialismo, principalmente em relação ao petróleo[15], serão garantidos de maneira mais sólida com a derrota dos países de orientação soberana e pan-árabe. No entanto, a guerra é, por ela mesma, um negócio lucrativo. A venda de armas norte-americanas para o mundo, no ano de 2011, triplicou chegando à cifra de 66,3 bilhões de dólares, um recorde. Mais da metade deste valor foi comprado pelos aliados do Golfo Pérsico (com destaque para a Arábia Saudita, Emirados Árabes e Omã).[16] A combinação entre a produção de conflitos e o mercado bélico não é novidade, está contida na tentativa de indução da economia estadunidense em crise, via o fortalecimento do complexo militar-industrial, utilizada diversas vezes pela classe dirigente norte-americana.
À articulação destas três linhas de ação relançadas por Washington, classificamos como a Doutrina Obama.[17] Nessa nova abordagem, a CIA assume relevância na política exterior dos EUA, diminuindo o papel do Pentágono (Departamento de Defesa), que foi na administração Bush o instrumento preferencial de ação estratégica. Tendencialmente as operações militares estadunidenses terão como linha geral a desestabilização de governos e a exploração do mercado de armas proveniente dos conflitos armados por eles mesmos induzidos. O aparente distanciamento em relação às guerras na Líbia e na Síria, colaborando com os rebeldes, sem, contudo, utilizar de invasão terrestre oficial, já é indício que a Casa Branca procura formas mais eficazes de manutenção de seu poder no cenário mundial, sem deformar ainda mais sua imagem perante a opinião pública.
A Doutrina Obama dissimula o caráter da guerra na Síria. Não se trata de um conflito doméstico, mas de uma reconfiguração da lógica de dominação imperialista no Oriente Médio e no Norte da África. A indução de oposições armadas internas, na Líbia e agora na Síria, possui vantagens importantes para o condomínio de poder norte-americano.
Primeiro por estabelecer um mote geral mais palatável para a opinião pública internacional, a suposta “luta pela democracia”, um marketing de guerra mais amplo do que a luta contra o “terrorismo” (sem, contudo, abandoná-lo). Dialoga, portanto, com o sistema ideológico europeu - norte-americano, que tem como pano de fundo a crença na missão democratizante do Ocidente, sendo esses “os povos eleitos”, destinados a irradiar a “liberdade” para o mundo, “incluir as nações selvagens à humanidade capitalista liberal”, livrá-los do “atraso oriental, muçulmano”, ou seja, libertá-los deles mesmos.
Esta visão pretensamente universalista guarda raízes feudais, no cristianismo fundamentalista cruzado, e tem larga aceitação no senso comum europeu e estadunidense, bem como nas elites ocidentalizadas da América Latina, África e Ásia. Até mesmo os setores de orientação crítica e de esquerda, em sua maioria, não estão imunes ao clichê “liberdade e democracia”, se recusam a denunciar o golpismo e apoiar o governo sírio. Escolhem falsas saídas, puramente retóricas, do tipo “apoio à revolução síria, abaixo ao governo”, como se houvesse algum elemento progressista entre as falanges de mercenários e fanáticos religiosos que se reúnem em torno da oposição armada, e mistificam o apoio popular à dissidência e os êxitos [18] do Conselho Nacional Sírio (CNS) e do Exército Livre da Síria (ELS).[19]
Aquecer o mercado armamentista é outra vantagem objetiva com a nova abordagem estadunidense. É útil para este ramo o envolvimento amplo de nações no conflito, pois exploram o mercado consumidor gerado pela guerra. Uma guerra sem fim, na qual o peso de um aliado é calculado pela quantidade de equipamento militar que ele se dispõe a comprar. O prolongamento temporal e territorial do conflito ainda possui o benefício de estender a demanda por suprimentos pelas partes beligerantes, lógica que influencia a tomada de decisões da Casa Branca e do Congresso pressionados pelo lobby do complexo militar-industrial, interessados diretos no confronto. Afinal, a guerra é uma oportunidade de negócios que os EUA sabem aproveitar como nenhuma outra nação. Além dos dados já apresentados, existe um mercado milionário de mercenários, monopolizados por empresas norte-americanas de propriedade de ex-funcionários do governo, da CIA e do Departamento de Segurança. Estas corporações, que tem como representante mais destacada a antiga Blackwater Worldwide(atual Xe), recrutam ex- soldados de setores de elite do exército para executarem operações ilegais (aquelas que a CIA não pode fazer diretamente por restrições legais) como assassinatos, atentados, torturas, etc. Elas atuam como força auxiliar no Afeganistão e Iraque e tiveram um papel pronunciado na queda de Kadafi na Líbia. Atualmente realizam operações junto ao ELS na Síria, inauguraram a era moderna das guerras terceirizadas.
Os interesses econômicos, principalmente da indústria petrolíferas, são os mais evidentes. No entanto, a indústria das armas, de segurança (mercenários) e construção civil (economia de reconstrução pós-guerra), apesar de terem interesses mais discretos ganham destaque num ambiente de crise econômica internacional. Por fim, o interesse dos bancos, que vislumbram atuar no mercado de empréstimos aos governos fantoches (como ocorre hoje no Afeganistão, Iraque e Líbia) lucrando com juros de dívidas impagáveis, contraídas geralmente de forma fraudulenta.
A Doutrina Obama logrou alcançar um nível de sofisticação na política exterior impossível para a estreita visão de George W. Bush e do atual candidato republicano Mitt Romney. É uma tentativa decidida, porém limitada, de conter a tendência decrescente do poder estadunidense nas relações internacionais. O tom pretensioso das declarações de Barack Obama e dos chefes de estado europeus em relação à necessidade de “democracia” e do fim do regime do Baath na Síria contrastam com o ambiente de incertezas e de instabilidade econômica e social que vivem suas próprias “democracias”. O poder de decisão das potências imperialistas é constrangido, cada vez mais, pelas contradições de seu próprio sistema de reprodução material. O imperialismo luta para sobreviver. A sobrevivência é sempre mais violenta do que a vida.
A política de terra arrasada
O objetivo imediato das operações da CIA junto com as dissidências (CNS e ELS) é destruir a viabilidade nacional síria. Para além do declarado, “fim da ditadura de Bashar Al Assad e pela democracia”, o que se planeja é a balcanização[20] do território, construção de governos fantoches em pequenos estados étnicos-religiosos[21]. Tal medida pavimentaria objetivos estratégicos de governos pró-ocidentais no Oriente Médio.
Para Israel, o plano de fragmentação da região do Levante[22] em uma miríade de estados fracos é uma doutrina geopolítica antiga, de ideologia sionista, e ganhou força na década de 80 sob o nome de Plano Yinon. As diretrizes apontadas pelo artigo A Strategy for Israel in the Nineteen Eighties (1982), de autoria de Oded Yinon, defendem que a autoafirmação do Estado de Israel depende da divisão da Síria e do Iraque em micro-estados religiosos, confessionais e étnicos.[23]
Já para as monarquias sunitas wahhabitas, como Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Bahrein bem como a Jordânia, a desagregação da Síria significa um golpe mortal no inimigo político-ideológico antigo, o republicanismo pan-árabe, que vigora em Damasco desde a década de 60. Além de ser na dimensão religiosa uma manobra de isolamento do xiismo.
A Turquia, além de colaborar com os esforços norte-americanos por ser parte do seu condomínio de poder (OTAN), tem objetivos próprios e complexos, principalmente em relação à questão curda. Apoia a criação de um Estado Curdo dentro das áreas do Curdistão Iraquiano e Sírio, exceto naquela fração que está dentro do seu próprio território. Mantêm relações diplomáticas com o Governo Regional do Curdistão (Iraque) sem passar por qualquer mediação com o governo central em Bagdá. Mas o principal problema de Ancara é com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, uma organização revolucionária que percebeu a manobra do imperialismo e apoia o governo de Damasco, e, além disso, tem ganhado expressiva força nas áreas curdas dentro do território turco. O Governo Turco tem sido um dos atores principais da guerra na Síria, é a principal retaguarda estratégica do CNS e do ELS, a cabeça de ponte do imperialismo no conflito.
Desde 04 de outubro, a situação militar entre Turquia e Síria se agrava diuturnamente, logo depois que o Parlamento turco votou pela autorização ao Exército de realizar operações em território do país vizinho. O estopim desta medida teria sido a morte de 5 pessoas em uma aldeia turca de Akçakale, na região fronteiriça (03/10), em consequência de disparos de artilharia do Exército da Síria. Fato extremamente controverso, pois tais disparos aparecem como uma agressão de Damasco, mas outras possibilidades não são levantadas. Há indícios de acidente uma vez que os combates entre os dissidentes armados e o Exército Sírio se dão perto dali, em território da Síria. Outra possibilidade é que os próprios rebeldes (em conjunto com seus apoiadores) tenham criado um ataque de provocação, gerando uma justificativa para a Turquia entrar formalmente na guerra. O governo de Bashar Al Assad é cauteloso, em resposta oficial declara que estão sendo investigadas as circunstâncias dos disparos. No entanto, independentemente dos autores dos disparos e suas razões, este fato foi extremamente benéfico para a dissidência e para a aliança pró-ocidental que a apoia. Até o momento, tanto a Síria quanto a Turquia disparam morteiros de retaliação, conforme o protocolo dos tratados internacionais. A situação se degrada e a guerra entre os dois países é cada vez mais próxima. A suposta agressão colabora com os objetivos do Primeiro Ministro turco, Tayyip Erdogan, que já algum tempo vem procurando motivos, “reais ou artificiais”, para justificar uma guerra aberta contra a Síria. Exemplo disso é a tentativa da Turquia de provocar um conflito aberto por meio da invasão do seu espaço aéreo sírio[24] e a retaguarda que oferece aos efetivos e equipamentos militares dos rebeldes anti-governo de Assad.
É necessário considerar outra dimensão do conflito, a barbárie contra a população e os símbolos nacionais, culturais e religiosos do povo sírio. Além da tentativa de fragmentar o Estado e seu território, é fundamental que os dissidentes e seus parceiros, para que atinjam seus objetivos, promovam a destruição das bases de manifestação de um sentimento nacional. A demolição do patrimônio histórico – cultural, como ataque a mesquitas, igrejas, locais sagrados de peregrinação, sítios arqueológicos, obras arquitetônicas de milênios, como acontecem nas cidades de Aleppo e Homs, é uma prova que a subjetividade dos sírios é também um alvo militar. A destruição dos monumentos vem acontecendo de forma sistemática, criando um impacto psicológico de massas, com grande alcance e prolongado efeito. Aliado a isso, franco atiradores disparam contra manifestantes e espectadores de atos públicos contra ou a favor do governo, disseminando o terror no seio do povo[25]. Não é sem propósito que o Conselho Nacional Sírio utiliza outra bandeira, diferente do pavilhão oficial da República Árabe Síria[26]. Dividir o território, soterrar a história, profanar os símbolos, violar a memória individual e coletiva são também expressões da estratégia ocidental, a dimensão psicológica (disseminar o terror ou guerra psicológica) é também um instrumento militar.
Portanto, para destruir a viabilidade nacional síria a dissidência executa a política de terra arrasada. Opera no sentido de dilacerar a capacidade econômica, política, militar, diplomática e simbólica do Estado, mas também age psicologicamente sobre a população, lhe subtraindo parcelas de sua subjetividade, de sua trajetória individual, comunitária e social. É uma guerra total, não se trata de remover um governante ou mudar um regime, trata-se de destruir a Síria e seu povo, em sua dimensão de projeto pan-árabe, como povo soberano e autodeterminado, como fração singular da humanidade.
A resistência do governo e do povo sírio
Mesmo com todo aparato midiático, a chamada dissidência síria não consolidou um amplo movimento de massas contra o governo do Bashar al Assad, a força dos rebeldes está diretamente relacionada ao apoio estrangeiro em armamentos, suprimentos, informações e mercenários. Enquanto isso a população se unifica em torno da defesa da Síria, realizando manifestações contundentes contra a Guerra Civil e em apoio a regime. Voluntariamente, milhares de jovens se alistam no Exército Árabe da Síria, contrariando a informação sobre as deserções em massa.
Tem se tornado mais clara as intenções da dissidência entre a população síria, mesmo a parcela que se opõe ao governo de Bashar Al Assad, que existe e se organiza em partidos de oposição ao regime, não admite a solução pró-ocidente, nem tampouco a decomposição da unidade territorial. Este fato constrange o desenvolvimento de uma opinião pública interna anti-regime.
No campo internacional, o Governo Sírio conta com a colaboração ativa da Rússia, China, Índia e Irã nas disputas diplomáticas. O Hezbollah (Líbano) também participa do movimento internacional de apoio ao governo sírio, principalmente denunciando os interesses de Israel na decomposição do quadro militar e político do país vizinho. Na ONU, a cada dia mais países transitam da situação de apoiadores dos rebeldes para uma posição abstencionista, o que melhora significativamente o quadro diplomático e a capacidade de Damasco solidificar um campo de disputa e defesa mais amplo no cenário internacional. Exemplo disso foi os resultados da Conferência do Movimento dos Países Não –Alinhados que aconteceu no Teerã, em agosto, cúpula que fortaleceu a posição de solução política e a rejeição veemente da intervenção das potências ocidentais no conflito.
No teatro de guerra, o Estado Sírio tem alcançando êxitos significativos. Primeiro, porque logrou desenvolver uma estratégia de combate de alto-rendimento. Conseguiu isolar substancialmente a linha de abastecimento logístico dos rebeldes, bloqueando as principais rotas de acesso à Turquia, e sem esta oferta de suprimentos os grupos armados perdem capacidade operacional significativamente. No terreno da inteligência, agentes do governo sírio estão infiltrados no interior das fileiras rebeldes e já lograram desmantelar um grande número de grupos armados e destruir depósitos de armas, suprimentos e equipamentos de comunicação. A vitória nos combates na região de Aleppo teve uma forte repercussão no moral da dissidência, que começar a recuar das posições que havia conquistado no noroeste do país, principal área de contato com os apoiadores estabelecidos na fronteira da Turquia. O grande eixo estratégico do conflito está ao norte do país (fronteira turca), que vai de Latakia á Al Hasakah. Latakia é um reduto alauíta, pró-Governo, mais ao leste fica Aleppo, região mais “quente” do conflito, e na província de Al Hasakah o governo conta com a colaboração das guerrilhas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que isolam parte considerável da fronteira nordeste, que segundo informações não oficiais é a linha de comunicação dos apoios ao governo provenientes do Irã.
Por fim, o povo sírio entrou na resistência contra o golpe, o Governo construiu um sistema de comunicação direto com a população, esta informa às autoridades a movimentação dos rebeldes, locais de esconderijo e a localização de contrabandistas e agentes estrangeiros em operação no país.
A consciência nacional síria parece entender que os problemas sírios devem ser resolvidos pela população e não por estrangeiros ou grupos anti-nacionais. Este fator tem sido menosprezado pelo Ocidente. A solução militar está longe de ser uma estratégia vitoriosa para os dissidentes, porém pode ser prolongada pela colaboração ativa de seus patrocinadores ocidentais e pró-ocidentais. Na dimensão social, se encontra cada vez mais isolados do povo sírio, e quanto mais se amplia o isolamento, mas cruel se torna o seu modus operandi .
Disjuntiva Estratégica do Mundo Árabe
Os resultados do conflito em curso na Síria definem em grande parte o destino do Oriente Médio.
A vitória do governo da Síria implica na sobrevivência do nacionalismo árabe, e na elevação do prestígio político dessa corrente de pensamento que tem em Damasco o seu principal pólo de difusão. Antes de tudo por ser uma ideologia das classes subalternas do mundo árabe que tem uma cultura política permeável às posições de confronto ao imperialismo e defesa do republicanismo e da laicidade das instituições públicas. O projeto pan-árabe, que vislumbra a criação de um único estado para os povos árabes, permanecerá vivo enquanto o regime sírio resistir. O vigor deste projeto reside principalmente na capacidade da intelectualidade síria de perceber que a Questão Nacional Árabe passa pela criação de um único estado que compreende a Síria, Líbano, Jordânia e Palestina inicialmente, com possibilidades de expansão para o Iraque e Península Arábica. Um estado viável nacionalmente e capaz de ter uma posição mais favorável nas relações internacionais.[27]
O destino do Irã está imbricado com a guerra no Levante. De alguma maneira a ofensiva imperialista sobre o povo iraniano já começou e os combates acontecem nas ruas da Síria. Israel já admitiu que “poderá” realizar operações de sabotagem contra instalações nucleares iranianas. As monarquias pró-estadunidenses se armam e afinam o discurso com Washington, “o ataque ao Teerã passa por Damasco” é o mote condutor da estratégia norte-americana.[28]
Tanto a causa palestina quanto a estabilidade no Líbano são influenciadas diretamente pela situação na Síria. No entanto, o Hamas, que teve exílio nas últimas duas décadas em Damasco e participou até agosto do movimento de apoio ao governo de Assad, rompeu a aliança e se posicionou em favor da aliança anti- Síria, se aproximando da área de influência do Catar. [29] Já o Hezbollah tem participado enviando combatentes para as linhas de defesa do governo sírio[30].
A disjuntiva história e estratégica no Oriente Médio não cabe na contradição entre democracia e ditadura, como anuncia o ocidente desde a chamada “Primavera Árabe”. As reivindicações de liberdade e democracia são legítimas, mas não estão isoladas do contexto social e internacional do Mundo Árabe. O curso dos acontecimentos tem mostrado que a contradição principal situa-se na consolidação de uma trajetória soberana para os povos árabes em contraposição ao aprofundamento do sistema neo-colonial pró-ocidente[32]. Autodeterminação versus subordinação imperialista.
Os setores socialistas, revolucionários, populares e democráticos caminham para o rumo político adequado na Síria, colaboram com o Governo e engrossam as fileiras contra o fundamentalismo e o imperialismo. Neste processo, ampliam sua presença política junto às massas, consolidam bases populares e acumulam força social e autoridade política para pleitear reformas, mudanças e aprimoramento no regime, necessários para este momento histórico. O resultado desta linha de ação pode vir a inaugurar novos patamares de disputa na sociedade Síria, dentro de um ambiente de soberania e unidade nacional.
A vitória encontra-se nas mãos do povo sírio e na solidariedade de todos os oprimidos do mundo. Por isso é necessário combater as ilusões em relação ao caráter da dissidência na Síria, e perceber a realidade existente para além deste terrível jogo de sombras.
NOTAS
[1] Estudo exploratório da conjuntura da Síria. Finalizado em 08 de outubro de 2012.
[2] O autor é cientista político, membro do Cedebras e do Conselho Editorial da Revista Bandung. É militante das Brigadas Populares.
[3] A complexa configuração política e religiosa presente no Oriente Médio, tratada de uma maneira mais geral e sintética, pode ser entendida tomando em consideração dois grandes campos.
O campo formado por correntes fundamentalistas do sunismo, que com suas diferenças internas convergem em uma visão ortodoxa do Islã, na qual se inserem o wahhabismo e o salafismo. O wahhabismo originou-se no século XVIII na Arábia Saudita com Muhammad bin Abd al Wahhab, seu pensamento prevê o juramento de lealdade do muçulmano ao seu governo e a adoção da sharia - lei religiosa proveniente do Islã ortodoxo que determina as bases do estado, do governo e a organização da sociedade partir de uma visão teocrática. A Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes e Bahrein, todas monarquias sunitas, sendo as duas primeiras monarquias absolutistas, adotam e procuram difundir o wahhabismo promovendo a perseguição de muçulmanos xiitas e de correntes islâmicas com influência sufi (considerada uma corrente herética, principalmente por não adotarem a sharia) dentro e fora de suas fronteiras. São aliadas estratégicas dos EUA no Oriente Médio, tendo relações comerciais importantes no ramo petrolífero e bélico. A Al Qaeda é a organização wahhabita mais conhecida, financiada pela CIA nas décadas de 70 e 80 para combater os soviéticos no Afeganistão, orientou-se na década de 90 para uma visão anti-ocidental, sem desprezar, no entanto, alianças táticas com o Ocidente para combater regimes e organizações políticas laicas ou religiosas de orientação xiita. Os salafitas, por sua vez, proveniente da radicalização do wahhabismo, são uma corrente minoritária dentro do islamismo sunita, tem crescido fortemente na Líbia, Tunísia, Egito e Iraque, após a chamada “Primavera Árabe”, empreendendo ataque contra cristãos e muçulmanos xiitas ou sunitas moderados. A Irmandade Muçulmana, organização internacional fundada no Egito em 1928 é a maior expoente do salafismo.
Um segundo campo, formado pelo pensamento pan-árabe, que conta com a convergência de setores modernizadores, nacionalistas, socialistas, republicanos e anti-imperialistas, com ampla capilaridade na população de orientação muçulmana xiita e sunita moderada, além das minorias não islâmicas do Oriente Médio. Este campo originou-se do desmembramento do Império Otomano, no inicio do século XX, e ganhou força após o fim da II Guerra Mundial, impulsionado pelo anticolonialismo terceiro-mundista. Tem como fundamento a criação de um único estado para o povo árabe, ideal alimentado por Nasser, no Egito, e pelo Partido Baath, na Síria, com as tentativas de unificação destes dois países entre 1958-1961, vindo a formar a República Árabe Unida. A Síria atual continua sendo um polo de irradiação deste pensamento, tendo perdido terreno na região em consequência da proliferação de governos de orientação pró-estadunidense
[4] Organização frentista no governo atualmente, que tem como componentes 8 partidos entre eles o Partido Árabe Socialista Baath.
[5] Com destaque para o Estado de Israel e as monarquias da região, em especial a Arábia Saudita, Qatar, Bahrein e Emirados Árabes Unidos.
[6] Basta recordar o golpe de estado fracassado na Venezuela em abril de 2002, quando a RCTV (principal rede de televisão do país) anunciou durante semanas as manifestações contra o Presidente Hugo Chávez e simplesmente ignorava as manifestações ao seu favor. A rede de TV chegou inclusive a anunciar detalhes do golpe antes mesmos dos fatos terem acontecido.
[7] Composta pelo Partido Árabe Socialista Al-Baath- PASB, Partido Comunista Sírio – PCS, Partido União Socialista Árabe, Partido Nacional Socialista Sírio, Partido do Movimento Socialista Árabe, Partido Nacional Al-Ahd, Partido da União Democrática Socialista, Partido Sindicalista Socialista Democrático e o Partido Sindicalista Socialista.
[8] O panorama religioso conta com 74% de muçulmanos sunitas e cerca de 15% de xiitas( entre eles alauítas e drusos) e outros 10% de cristãos. Em relação às etnias, 85% são árabes, a principal minoria são os curdos que chega à aproximadamente 13% da população. Os alauítas, mesmo não sendo considerados como islâmicos pelos demais muçulmanos se auto identificam como xiitas. Bashar al Assad (atual presidente) pertence à este setor. Devido à natureza popular do xiismo, grande parte dos alauitas é partidária do Baath. Os drusos, seita islâmica de orientação xiita, considerada herege pelos sunitas, também são apoiadores do governo sírio. Grande parte etnia curda é de muçulmanos sunitas, no entanto são combatidos pelos sunitas wahhabitas por possuírem uma teológica mais sincrética, que reúne elementos do lazdaismo (antiga religião da etnia) e influências sufi. O Partido dos Trabalhadores do Curdistão apoia o governo sírio.
[9] Muçulmanos que acusam outro muçulmano de heresia. Os Takfiris, neste contexto, são geralmente salafitas.
[10] New York Times, 21/06/2012.
[11] Em um conflito desta natureza todo apoio é militar. A oferta de equipamentos “não letais” por parte das potências ocidentais tenta esfumaçar a opinião pública internacional, escamoteando seus verdadeiros interesses na queda do regime sírio. Nada garante que não são equipamentos militares convencionais, e mesmo que fosse não letais uma guerra não se ganha apenas com armas e munição; alimentos, medicamentos, instrumentos de comunicação e transporte são tão valiosos e decisivos quanto fuzis e balas.
[12] Fonte: Reuters 16/08/2012.
[13] Fonte: http://actualidad.rt.com 20/02/2012
[14] Fonte: http://www.independent.co.uk/ 13/06/2012
[15] Recentemente, foram descobertas novas reservas de gás em vários pontos do território Sírio, com destaque depósitos localizados em seu mar territorial.
[16] Fonte: New York Times, 26/08/2012
[17] É importante ressaltar que os elementos do que chamamos “Doutrina Obama” não são novidades na política imperialista ianque, com intensidades diferentes foram utilizados por diversos governos, principalmente após a sistematização dada por Henry Kissinger (Secretario de Estado dos EUA entre 1973-77). O que pretendemos com esta caracterização é reforçar o registro próprio assumido pela administração de Barack Obama no que toca a política exterior, que se diferencia da lógica empregada pelo seu antecessor, George W. Bush.
[18] A título de exemplo, para demonstrar a superficialidade de algumas análises supostamente revolucionárias; o atentado de 18 de julho a sede da Segurança Nacional Síria, em Damasco, que levou à morte 4 generais do Exército, foi celebrada pela imprensa ultra-esquerdista brasileira e mundial como feito de uma “autêntica” insurreição revolucionária na Síria. Desconheceram, no entanto, que tal operação (chamada “vulcão de Damasco”) foi dirigida por um dos principais agentes da CIA no Oriente Médio, o príncipe saudita Bandar ben Sultan ben Abdelazziz Al Sauod, morto por um atentado a bomba no dia 26 de julho; era filho do Ministro da Defesa saudita de 1963 a 2011, o Príncipe Sultan. Bandar ben Sultan foi embaixador em Washington (1983-2005) e possuía estreitas relações com George Bush, que levou a ser chamado pela a impressa norte-americana de BandarBush. São patéticas tais leituras que procuram valor revolucionário em um ataque organizado pela CIA e executado por um príncipe da Arábia Saudita, uma monarquia absolutista e aliada mais importante dos EUA, depois de Israel, na região. Tais análises não investigam os fatos, apenas os interpretam à sombra de um esquema. Para eles o dogma substituiu o método.
[19] Respectivamente a estrutura política e militar da dissidência.
[20] Estratégia adotada pelos EUA na Iugoslávia nos anos 90, que levou a fragmentação do país em diversos estados etnicamente identificados (Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia e Macedônia). O fomento a dissidências e o questionamento artificial dos estados plurinacionais são uma das linhas de atuação da política exterior norte-americana.
[21] “Maplecroft da Grã-Bretanha, que é especializada em consultoria em risco estratégico, disse que nós estamos testemunhando a balcanização do Estado sírio: "curdos no norte, drusos nas montanhas do sul, alawitas na região noroeste do litoral montanhoso e a maioria sunita em outro lugar." Mahdi Darius Nazemroaya . Global Research. 15/08/2012.
[22] Levante corresponde a região geográfica que compreende o Líbano, Síria, Jordânia, Palestina e Iraque. [15]
[23] “(...) Dissolução total do Líbano em cinco províncias serve como um precedente para todo o mundo árabe, incluindo o Egito, Síria, Iraque e na Península Arábica e já está seguindo essa trilha. A dissolução da Síria e do Iraque, mais tarde, em áreas etnicamente e religiosamente definidas, como no Líbano, é alvo primário de Israel na frente oriental, a longo prazo, enquanto a dissolução do poder militar dos Estados serve como o destino de curto prazo. Síria vai desmoronar, de acordo com a sua estrutura étnica e religiosa, em vários estados, como no atual Líbano, de modo que haverá um estado xiita Alauíta, ao longo de sua costa, um estado sunita na área de Aleppo, outro estado sunita em Damasco, hostil ao seu vizinho do norte, e os drusos, que irá criar um estado, talvez até mesmo em nossa Golan [Israel], e certamente em Hauran e no norte da Jordânia. Este estado de coisas vai ser a garantia de paz e segurança na região, a longo prazo, e que o objetivo já está ao nosso alcance hoje.” YINON, Oded, A Strategy for Israel in the Nineteen Eighties, 1982. Publicado no Jornal KIVUNIM, sob responsabilidade do Departamento de Publicidade da The World Zionist Organization, Jerusalém. Origem: http://members.tripod.com/alabasters_archive/zionist_plan.html
[24] Tais provocações turcas começaram há meses. No dia 22 de julho de 2012, um caça turco foi abatido pelas forças Sírias quando invadiu o espaço aéreo deste país. Nenhuma retratação foi feita pelo governo de Ancara.
[25] Outra prática muito parecida com a utilizada na tentativa de golpe na Venezuela em 2002.
[26] Mesma tática simbólica utilizada pelos rebeldes líbios anti-Kadafi, que ressuscitaram a bandeira da finada monarquia daquele país.
[27] É importante lembrar as iniciativas históricas neste sentido com a breve unificação na República Árabe Unida (Síria e Egito) em 1958 a 1961, em com a adesão do Iémen do Norte se constituiu os Estados Árabes Unidos. O Iraque em 1960 também entrou em negociação para aderir ao novo arranjo estatal, mas a unidade não se consolidou e entrou em colapso em 61. E a tentativa entre 1972 a 77 de criação da Confederação de Repúblicas Árabes que compreenderia a Síria, o Egito e a Líbia.
[28] Ver entrevista com Tony Cartalucci, analista político. Escreve para Global Research e Activist Post. Disponível: http://www.resistir.info/moriente/cartalucci_18set12.html
[29] O Hamas (grupo dirigente da Faixa de Gaza/Palestina) discute a transferência do escritório da organização para Doha (Catar) ou Cairo (Egito). Nas últimas semanas, a direção do Hamas tem aparecido publicamente em companhia de representantes dos Al Thani (família real do Catar). Fontes: http://www.bbc.co.uk, http://mtja.com.br/, http://www.estadao.com.br.
[30] Fonte: “Hezbollah enviou combatentes para apoiar Bashar Al-Assad “ fonte: http://portuguese.ruvr.ru/ 02/10/2012
[31] Caso as reivindicações democráticas fossem o combustível das revoltas, as monarquias sunitas da península arábicas não estariam em relativa calma em relação aos conflitos sociais (exceto Bahrein que contou com algumas manifestações da maioria xiita), muito menos estariam apoiando movimentos “democráticos” de oposição na Síria. Apoiam estes movimentos justamente por não serem democráticos, e muito menos sírios, mas por serem pró-ocidente e sunitas wahhabitas.
Fonte: por yahoogrupos.com.br para: fzmmg <[email protected]>
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DOUTRINA OBAMA E A GUERRA NA SÍRIA
Por Pedro Otoni[2]
A política exterior norte-americana apresenta sinais de esgotamento. Não é mais possível aos EUA continuar operando sob o mesmo registro da última década. O mundo não é mais tão dócil aos seus comandos, nem sua situação econômica é doce o suficiente para projetar-se como modelo a ser seguido pela humanidade.
Diante desta encruzilhada o governo democrata atualizou sua estratégia militar para o mundo, reduziu as iniciativas de invasão norte-americana direta, que possui um custo político e econômico alto, e vem promovendo uma forma mais insidiosa de controle geopolítico. Em uma tática similar às empregadas pela administração Reagan (1981-89), que patrocinou oposições armadas contra o governo sandinista na Nicarágua, grupos conhecidos como Contras, o governo de Obama aposta na produção e fortalecimento de dissidências em países que rejeitam o comando de Washington. A onda de protestos em diversos países de maioria muçulmana, a chamada “Primavera Árabe”, foi percebida e explorada como uma janela de oportunidade para a política exterior norte-americana desestabilizar regimes não compatíveis com seu sistema de dominação. Foi assim na Líbia, tem sido assim na Síria.
A lógica de operação estadunidense na nova doutrina imperialista de Washington articula as seguintes linhas de ação: 1) Criação de uma opinião pública internacional e regional anti-regime utilizando como mote “a luta pela democracia”;2) Ressureição de diferenças étnicas e religiosas no interior dos países, explorando em especial minorias alijadas do poder de estado; 3) Envolvimento e mobilização dos aliados regionais.
A CIA (Central Inteligence Agency) não apenas colabora com as dissidências armadas, mais do que isso às fomenta, treina, arma e as abastece de suprimentos. No entanto, formalmente, tanto os EUA, quanto seus aliados europeus negam a participação direta nos conflitos, mas declaram apoio aos rebeldes em seus objetivos anti- regime. Depois do desmantelamento da Líbia, a Casa Branca tem a Síria e o Irã como alvos imediatos.
A guerra na Síria: a aplicação das três linhas de ação da Doutrina Obama
A Síria, alvo preferencial dos EUA no momento, conhecida por ser o Estado mais estável da região e operador político importante do nacionalismo árabe, sempre foi base de apoio dos grupos antiimperialistas do Oriente Médio.[3] Durante o período de governo da Frente Progressista Nacional (FPN)[4] iniciado em 1963 esse país sempre teve sintonizada internacionalmente com o Bloco Socialista e posteriormente com a Rússia e China, procurando construir um estado republicano, laico, igualitarista e soberano. Por esta razão, sempre foi um pedra no caminho dos estadunidenses e seus aliados[5].
No caso da Síria, os EUA procuram reproduzir a mesma estratégia utilizada na Líbia: articulação da opinião pública, dissidências internas e mercenários, assim como apoio dos aliados regionais. Conforme expomos anteriormente, a primeira linha de ação se dá no plano da mídia, para isso utiliza os meios mundiais de comunicação e em especial a Al Jazira, maior veículo de comunicação do mundo árabe. Tal empresa televisiva tem não apenas orientado mas produzido fatos no que tange a guerra civil síria, anunciando manifestações artificiais, “informando” mortes e conflitos que tem como objetivo central desmoralizar o Governo Sírio e inflar (ou superestimar) as forças dos grupos de dissidentes. Esta forma orquestrada de manipulação midiática, tão comum em outras situações[6], não é casual. Basta lembrar que a Al Jazira é de propriedade da família Al Thani, que nada mais é do que a família real do Qatar (país sede da empresa). É no mínimo um engano acreditar que a Al Jazira dos Al Thaniesteja preocupada com o bem estar do povo sírio, uma vez que a própria população catariana é excluída dos resultados da renda do petróleo, sendo este de propriedade do Emir Hamad bin Khalifa (o monarca). Nem o Qatar, tampouco a Arábia Saudita, outra monarquia absolutista, são modelos de referência em termo político ou econômicos para a população síria.
Este golpe midiático vem acompanhado do cerco aos meios de comunicação do Estado e das organizações populares sírias. Compõe seu expediente, desde bombardeios ao sistema de comunicação estatal até a interferência e bloqueio de sinais de rádio e internet da população, por meio do corte das transmissões via satélite. O mundo e o próprio povo sírio recebem, quase que exclusivamente, sinais de comunicação provenientes das dissidências golpistas e de seus aliados na região.
A segunda linha de ação estadunidense na produção de conflitos refere-se à criação de dissidências internas. Na Síria, o Partido Baath, e seus aliados da FPN[7], lograram construir um equilíbrio entre as diferentes etnias e religiões por meio da edificação de um estado laico[8]. Os EUA incentivam o radicalismo fundamentalista sunita, para decompor o alicerce social da organização nacional síria. Takfiris[9] estrangeiros, mercenários (líbios, tunisianos, jordanianos, paquistaneses, sauditas e egípcios) financiados, equipados e treinados pela CIA[10] e militares da Arábia Saudita, Qatar, Turquia e Israel conjuntamente com salafitas sírios ligados à Irmandade Muçulmana são a espinha dorsal dos rebeldes.
A fronteira da Turquia tem sido a principal base de apoio logístico e político. O Conselho Nacional Sírio, centro de comando dos rebeldes está instalado neste país, agentes da CIA operam ali construindo redes de Inteligência para a dissidência, fornecem fotos áreas e de satélites, além de informações militares sobre a movimentação do Exército Sírio. É pela Turquia que grande parte dos equipamentos ditos “não letais”[11] provenientes da França, Alemanha e Reino Unido são entregues aos rebeldes. A Alemanha por sua vez admitiu que envia informações obtidas por seus navios na costa síria.[12] Israel e Turquia possuem um papel relevante enviando comandos de operações especiais (grupo de elite do exército) para atuarem dentro das fronteiras sírias, mais uma clara manifestação da ingerência estrangeira no conflito[13]. Cabendo por fim ao Qatar e a Arábia Saudita o suprimento de armamento pesado aos dissidentes. [14]
A terceira linha de ação de Washington no conflito se refere à mobilização de seus aliados no Oriente Médio. O cenário é extremamente desfavorável para a Síria neste campo, sendo que os EUA lograram articular diferentes níveis de colaboração regional com os golpistas do Conselho Nacional Sírio. A Turquia, Arábia Saudita e Qatar estão diretamente envolvidos no fornecimento de armas. Israel age em operações de “comandos” distribuídos dentro das fronteiras sírias, realizando ações de terror entre a população. O presidente egípcio Mohamed Mursi, membro da Irmandade Muçulmana, realizou declarações a favor da mudança do regime. Extraoficialmente, membros da Irmandade estão atuando entre os rebeldes, mesma postura assumida pela Jordânia. Complementando este repertório anti-sírio estão o Reino Unido, Alemanha e França que fornecem os suprimentos para as organizações de oposição.
Os EUA possui o propósito claro de criar uma situação de conflito permanente no Oriente Médio, abrindo caminho para a desestabilização da Síria e do Irã. Assim, arma países aliados que estão dentro do círculo de fogo do confronto contribuindo para o desiquilíbrio da correlação de forças na região em favor do Ocidente. É evidente que os interesses econômicos que estão inseridos na dinâmica de operação do imperialismo, principalmente em relação ao petróleo[15], serão garantidos de maneira mais sólida com a derrota dos países de orientação soberana e pan-árabe. No entanto, a guerra é, por ela mesma, um negócio lucrativo. A venda de armas norte-americanas para o mundo, no ano de 2011, triplicou chegando à cifra de 66,3 bilhões de dólares, um recorde. Mais da metade deste valor foi comprado pelos aliados do Golfo Pérsico (com destaque para a Arábia Saudita, Emirados Árabes e Omã).[16] A combinação entre a produção de conflitos e o mercado bélico não é novidade, está contida na tentativa de indução da economia estadunidense em crise, via o fortalecimento do complexo militar-industrial, utilizada diversas vezes pela classe dirigente norte-americana.
À articulação destas três linhas de ação relançadas por Washington, classificamos como a Doutrina Obama.[17] Nessa nova abordagem, a CIA assume relevância na política exterior dos EUA, diminuindo o papel do Pentágono (Departamento de Defesa), que foi na administração Bush o instrumento preferencial de ação estratégica. Tendencialmente as operações militares estadunidenses terão como linha geral a desestabilização de governos e a exploração do mercado de armas proveniente dos conflitos armados por eles mesmos induzidos. O aparente distanciamento em relação às guerras na Líbia e na Síria, colaborando com os rebeldes, sem, contudo, utilizar de invasão terrestre oficial, já é indício que a Casa Branca procura formas mais eficazes de manutenção de seu poder no cenário mundial, sem deformar ainda mais sua imagem perante a opinião pública.
A Doutrina Obama dissimula o caráter da guerra na Síria. Não se trata de um conflito doméstico, mas de uma reconfiguração da lógica de dominação imperialista no Oriente Médio e no Norte da África. A indução de oposições armadas internas, na Líbia e agora na Síria, possui vantagens importantes para o condomínio de poder norte-americano.
Primeiro por estabelecer um mote geral mais palatável para a opinião pública internacional, a suposta “luta pela democracia”, um marketing de guerra mais amplo do que a luta contra o “terrorismo” (sem, contudo, abandoná-lo). Dialoga, portanto, com o sistema ideológico europeu - norte-americano, que tem como pano de fundo a crença na missão democratizante do Ocidente, sendo esses “os povos eleitos”, destinados a irradiar a “liberdade” para o mundo, “incluir as nações selvagens à humanidade capitalista liberal”, livrá-los do “atraso oriental, muçulmano”, ou seja, libertá-los deles mesmos.
Esta visão pretensamente universalista guarda raízes feudais, no cristianismo fundamentalista cruzado, e tem larga aceitação no senso comum europeu e estadunidense, bem como nas elites ocidentalizadas da América Latina, África e Ásia. Até mesmo os setores de orientação crítica e de esquerda, em sua maioria, não estão imunes ao clichê “liberdade e democracia”, se recusam a denunciar o golpismo e apoiar o governo sírio. Escolhem falsas saídas, puramente retóricas, do tipo “apoio à revolução síria, abaixo ao governo”, como se houvesse algum elemento progressista entre as falanges de mercenários e fanáticos religiosos que se reúnem em torno da oposição armada, e mistificam o apoio popular à dissidência e os êxitos [18] do Conselho Nacional Sírio (CNS) e do Exército Livre da Síria (ELS).[19]
Aquecer o mercado armamentista é outra vantagem objetiva com a nova abordagem estadunidense. É útil para este ramo o envolvimento amplo de nações no conflito, pois exploram o mercado consumidor gerado pela guerra. Uma guerra sem fim, na qual o peso de um aliado é calculado pela quantidade de equipamento militar que ele se dispõe a comprar. O prolongamento temporal e territorial do conflito ainda possui o benefício de estender a demanda por suprimentos pelas partes beligerantes, lógica que influencia a tomada de decisões da Casa Branca e do Congresso pressionados pelo lobby do complexo militar-industrial, interessados diretos no confronto. Afinal, a guerra é uma oportunidade de negócios que os EUA sabem aproveitar como nenhuma outra nação. Além dos dados já apresentados, existe um mercado milionário de mercenários, monopolizados por empresas norte-americanas de propriedade de ex-funcionários do governo, da CIA e do Departamento de Segurança. Estas corporações, que tem como representante mais destacada a antiga Blackwater Worldwide(atual Xe), recrutam ex- soldados de setores de elite do exército para executarem operações ilegais (aquelas que a CIA não pode fazer diretamente por restrições legais) como assassinatos, atentados, torturas, etc. Elas atuam como força auxiliar no Afeganistão e Iraque e tiveram um papel pronunciado na queda de Kadafi na Líbia. Atualmente realizam operações junto ao ELS na Síria, inauguraram a era moderna das guerras terceirizadas.
Os interesses econômicos, principalmente da indústria petrolíferas, são os mais evidentes. No entanto, a indústria das armas, de segurança (mercenários) e construção civil (economia de reconstrução pós-guerra), apesar de terem interesses mais discretos ganham destaque num ambiente de crise econômica internacional. Por fim, o interesse dos bancos, que vislumbram atuar no mercado de empréstimos aos governos fantoches (como ocorre hoje no Afeganistão, Iraque e Líbia) lucrando com juros de dívidas impagáveis, contraídas geralmente de forma fraudulenta.
A Doutrina Obama logrou alcançar um nível de sofisticação na política exterior impossível para a estreita visão de George W. Bush e do atual candidato republicano Mitt Romney. É uma tentativa decidida, porém limitada, de conter a tendência decrescente do poder estadunidense nas relações internacionais. O tom pretensioso das declarações de Barack Obama e dos chefes de estado europeus em relação à necessidade de “democracia” e do fim do regime do Baath na Síria contrastam com o ambiente de incertezas e de instabilidade econômica e social que vivem suas próprias “democracias”. O poder de decisão das potências imperialistas é constrangido, cada vez mais, pelas contradições de seu próprio sistema de reprodução material. O imperialismo luta para sobreviver. A sobrevivência é sempre mais violenta do que a vida.
A política de terra arrasada
O objetivo imediato das operações da CIA junto com as dissidências (CNS e ELS) é destruir a viabilidade nacional síria. Para além do declarado, “fim da ditadura de Bashar Al Assad e pela democracia”, o que se planeja é a balcanização[20] do território, construção de governos fantoches em pequenos estados étnicos-religiosos[21]. Tal medida pavimentaria objetivos estratégicos de governos pró-ocidentais no Oriente Médio.
Para Israel, o plano de fragmentação da região do Levante[22] em uma miríade de estados fracos é uma doutrina geopolítica antiga, de ideologia sionista, e ganhou força na década de 80 sob o nome de Plano Yinon. As diretrizes apontadas pelo artigo A Strategy for Israel in the Nineteen Eighties (1982), de autoria de Oded Yinon, defendem que a autoafirmação do Estado de Israel depende da divisão da Síria e do Iraque em micro-estados religiosos, confessionais e étnicos.[23]
Já para as monarquias sunitas wahhabitas, como Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Bahrein bem como a Jordânia, a desagregação da Síria significa um golpe mortal no inimigo político-ideológico antigo, o republicanismo pan-árabe, que vigora em Damasco desde a década de 60. Além de ser na dimensão religiosa uma manobra de isolamento do xiismo.
A Turquia, além de colaborar com os esforços norte-americanos por ser parte do seu condomínio de poder (OTAN), tem objetivos próprios e complexos, principalmente em relação à questão curda. Apoia a criação de um Estado Curdo dentro das áreas do Curdistão Iraquiano e Sírio, exceto naquela fração que está dentro do seu próprio território. Mantêm relações diplomáticas com o Governo Regional do Curdistão (Iraque) sem passar por qualquer mediação com o governo central em Bagdá. Mas o principal problema de Ancara é com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, uma organização revolucionária que percebeu a manobra do imperialismo e apoia o governo de Damasco, e, além disso, tem ganhado expressiva força nas áreas curdas dentro do território turco. O Governo Turco tem sido um dos atores principais da guerra na Síria, é a principal retaguarda estratégica do CNS e do ELS, a cabeça de ponte do imperialismo no conflito.
Desde 04 de outubro, a situação militar entre Turquia e Síria se agrava diuturnamente, logo depois que o Parlamento turco votou pela autorização ao Exército de realizar operações em território do país vizinho. O estopim desta medida teria sido a morte de 5 pessoas em uma aldeia turca de Akçakale, na região fronteiriça (03/10), em consequência de disparos de artilharia do Exército da Síria. Fato extremamente controverso, pois tais disparos aparecem como uma agressão de Damasco, mas outras possibilidades não são levantadas. Há indícios de acidente uma vez que os combates entre os dissidentes armados e o Exército Sírio se dão perto dali, em território da Síria. Outra possibilidade é que os próprios rebeldes (em conjunto com seus apoiadores) tenham criado um ataque de provocação, gerando uma justificativa para a Turquia entrar formalmente na guerra. O governo de Bashar Al Assad é cauteloso, em resposta oficial declara que estão sendo investigadas as circunstâncias dos disparos. No entanto, independentemente dos autores dos disparos e suas razões, este fato foi extremamente benéfico para a dissidência e para a aliança pró-ocidental que a apoia. Até o momento, tanto a Síria quanto a Turquia disparam morteiros de retaliação, conforme o protocolo dos tratados internacionais. A situação se degrada e a guerra entre os dois países é cada vez mais próxima. A suposta agressão colabora com os objetivos do Primeiro Ministro turco, Tayyip Erdogan, que já algum tempo vem procurando motivos, “reais ou artificiais”, para justificar uma guerra aberta contra a Síria. Exemplo disso é a tentativa da Turquia de provocar um conflito aberto por meio da invasão do seu espaço aéreo sírio[24] e a retaguarda que oferece aos efetivos e equipamentos militares dos rebeldes anti-governo de Assad.
É necessário considerar outra dimensão do conflito, a barbárie contra a população e os símbolos nacionais, culturais e religiosos do povo sírio. Além da tentativa de fragmentar o Estado e seu território, é fundamental que os dissidentes e seus parceiros, para que atinjam seus objetivos, promovam a destruição das bases de manifestação de um sentimento nacional. A demolição do patrimônio histórico – cultural, como ataque a mesquitas, igrejas, locais sagrados de peregrinação, sítios arqueológicos, obras arquitetônicas de milênios, como acontecem nas cidades de Aleppo e Homs, é uma prova que a subjetividade dos sírios é também um alvo militar. A destruição dos monumentos vem acontecendo de forma sistemática, criando um impacto psicológico de massas, com grande alcance e prolongado efeito. Aliado a isso, franco atiradores disparam contra manifestantes e espectadores de atos públicos contra ou a favor do governo, disseminando o terror no seio do povo[25]. Não é sem propósito que o Conselho Nacional Sírio utiliza outra bandeira, diferente do pavilhão oficial da República Árabe Síria[26]. Dividir o território, soterrar a história, profanar os símbolos, violar a memória individual e coletiva são também expressões da estratégia ocidental, a dimensão psicológica (disseminar o terror ou guerra psicológica) é também um instrumento militar.
Portanto, para destruir a viabilidade nacional síria a dissidência executa a política de terra arrasada. Opera no sentido de dilacerar a capacidade econômica, política, militar, diplomática e simbólica do Estado, mas também age psicologicamente sobre a população, lhe subtraindo parcelas de sua subjetividade, de sua trajetória individual, comunitária e social. É uma guerra total, não se trata de remover um governante ou mudar um regime, trata-se de destruir a Síria e seu povo, em sua dimensão de projeto pan-árabe, como povo soberano e autodeterminado, como fração singular da humanidade.
A resistência do governo e do povo sírio
Mesmo com todo aparato midiático, a chamada dissidência síria não consolidou um amplo movimento de massas contra o governo do Bashar al Assad, a força dos rebeldes está diretamente relacionada ao apoio estrangeiro em armamentos, suprimentos, informações e mercenários. Enquanto isso a população se unifica em torno da defesa da Síria, realizando manifestações contundentes contra a Guerra Civil e em apoio a regime. Voluntariamente, milhares de jovens se alistam no Exército Árabe da Síria, contrariando a informação sobre as deserções em massa.
Tem se tornado mais clara as intenções da dissidência entre a população síria, mesmo a parcela que se opõe ao governo de Bashar Al Assad, que existe e se organiza em partidos de oposição ao regime, não admite a solução pró-ocidente, nem tampouco a decomposição da unidade territorial. Este fato constrange o desenvolvimento de uma opinião pública interna anti-regime.
No campo internacional, o Governo Sírio conta com a colaboração ativa da Rússia, China, Índia e Irã nas disputas diplomáticas. O Hezbollah (Líbano) também participa do movimento internacional de apoio ao governo sírio, principalmente denunciando os interesses de Israel na decomposição do quadro militar e político do país vizinho. Na ONU, a cada dia mais países transitam da situação de apoiadores dos rebeldes para uma posição abstencionista, o que melhora significativamente o quadro diplomático e a capacidade de Damasco solidificar um campo de disputa e defesa mais amplo no cenário internacional. Exemplo disso foi os resultados da Conferência do Movimento dos Países Não –Alinhados que aconteceu no Teerã, em agosto, cúpula que fortaleceu a posição de solução política e a rejeição veemente da intervenção das potências ocidentais no conflito.
No teatro de guerra, o Estado Sírio tem alcançando êxitos significativos. Primeiro, porque logrou desenvolver uma estratégia de combate de alto-rendimento. Conseguiu isolar substancialmente a linha de abastecimento logístico dos rebeldes, bloqueando as principais rotas de acesso à Turquia, e sem esta oferta de suprimentos os grupos armados perdem capacidade operacional significativamente. No terreno da inteligência, agentes do governo sírio estão infiltrados no interior das fileiras rebeldes e já lograram desmantelar um grande número de grupos armados e destruir depósitos de armas, suprimentos e equipamentos de comunicação. A vitória nos combates na região de Aleppo teve uma forte repercussão no moral da dissidência, que começar a recuar das posições que havia conquistado no noroeste do país, principal área de contato com os apoiadores estabelecidos na fronteira da Turquia. O grande eixo estratégico do conflito está ao norte do país (fronteira turca), que vai de Latakia á Al Hasakah. Latakia é um reduto alauíta, pró-Governo, mais ao leste fica Aleppo, região mais “quente” do conflito, e na província de Al Hasakah o governo conta com a colaboração das guerrilhas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que isolam parte considerável da fronteira nordeste, que segundo informações não oficiais é a linha de comunicação dos apoios ao governo provenientes do Irã.
Por fim, o povo sírio entrou na resistência contra o golpe, o Governo construiu um sistema de comunicação direto com a população, esta informa às autoridades a movimentação dos rebeldes, locais de esconderijo e a localização de contrabandistas e agentes estrangeiros em operação no país.
A consciência nacional síria parece entender que os problemas sírios devem ser resolvidos pela população e não por estrangeiros ou grupos anti-nacionais. Este fator tem sido menosprezado pelo Ocidente. A solução militar está longe de ser uma estratégia vitoriosa para os dissidentes, porém pode ser prolongada pela colaboração ativa de seus patrocinadores ocidentais e pró-ocidentais. Na dimensão social, se encontra cada vez mais isolados do povo sírio, e quanto mais se amplia o isolamento, mas cruel se torna o seu modus operandi .
Disjuntiva Estratégica do Mundo Árabe
Os resultados do conflito em curso na Síria definem em grande parte o destino do Oriente Médio.
A vitória do governo da Síria implica na sobrevivência do nacionalismo árabe, e na elevação do prestígio político dessa corrente de pensamento que tem em Damasco o seu principal pólo de difusão. Antes de tudo por ser uma ideologia das classes subalternas do mundo árabe que tem uma cultura política permeável às posições de confronto ao imperialismo e defesa do republicanismo e da laicidade das instituições públicas. O projeto pan-árabe, que vislumbra a criação de um único estado para os povos árabes, permanecerá vivo enquanto o regime sírio resistir. O vigor deste projeto reside principalmente na capacidade da intelectualidade síria de perceber que a Questão Nacional Árabe passa pela criação de um único estado que compreende a Síria, Líbano, Jordânia e Palestina inicialmente, com possibilidades de expansão para o Iraque e Península Arábica. Um estado viável nacionalmente e capaz de ter uma posição mais favorável nas relações internacionais.[27]
O destino do Irã está imbricado com a guerra no Levante. De alguma maneira a ofensiva imperialista sobre o povo iraniano já começou e os combates acontecem nas ruas da Síria. Israel já admitiu que “poderá” realizar operações de sabotagem contra instalações nucleares iranianas. As monarquias pró-estadunidenses se armam e afinam o discurso com Washington, “o ataque ao Teerã passa por Damasco” é o mote condutor da estratégia norte-americana.[28]
Tanto a causa palestina quanto a estabilidade no Líbano são influenciadas diretamente pela situação na Síria. No entanto, o Hamas, que teve exílio nas últimas duas décadas em Damasco e participou até agosto do movimento de apoio ao governo de Assad, rompeu a aliança e se posicionou em favor da aliança anti- Síria, se aproximando da área de influência do Catar. [29] Já o Hezbollah tem participado enviando combatentes para as linhas de defesa do governo sírio[30].
A disjuntiva história e estratégica no Oriente Médio não cabe na contradição entre democracia e ditadura, como anuncia o ocidente desde a chamada “Primavera Árabe”. As reivindicações de liberdade e democracia são legítimas, mas não estão isoladas do contexto social e internacional do Mundo Árabe. O curso dos acontecimentos tem mostrado que a contradição principal situa-se na consolidação de uma trajetória soberana para os povos árabes em contraposição ao aprofundamento do sistema neo-colonial pró-ocidente[32]. Autodeterminação versus subordinação imperialista.
Os setores socialistas, revolucionários, populares e democráticos caminham para o rumo político adequado na Síria, colaboram com o Governo e engrossam as fileiras contra o fundamentalismo e o imperialismo. Neste processo, ampliam sua presença política junto às massas, consolidam bases populares e acumulam força social e autoridade política para pleitear reformas, mudanças e aprimoramento no regime, necessários para este momento histórico. O resultado desta linha de ação pode vir a inaugurar novos patamares de disputa na sociedade Síria, dentro de um ambiente de soberania e unidade nacional.
A vitória encontra-se nas mãos do povo sírio e na solidariedade de todos os oprimidos do mundo. Por isso é necessário combater as ilusões em relação ao caráter da dissidência na Síria, e perceber a realidade existente para além deste terrível jogo de sombras.
NOTAS
[1] Estudo exploratório da conjuntura da Síria. Finalizado em 08 de outubro de 2012.
[2] O autor é cientista político, membro do Cedebras e do Conselho Editorial da Revista Bandung. É militante das Brigadas Populares.
[3] A complexa configuração política e religiosa presente no Oriente Médio, tratada de uma maneira mais geral e sintética, pode ser entendida tomando em consideração dois grandes campos.
O campo formado por correntes fundamentalistas do sunismo, que com suas diferenças internas convergem em uma visão ortodoxa do Islã, na qual se inserem o wahhabismo e o salafismo. O wahhabismo originou-se no século XVIII na Arábia Saudita com Muhammad bin Abd al Wahhab, seu pensamento prevê o juramento de lealdade do muçulmano ao seu governo e a adoção da sharia - lei religiosa proveniente do Islã ortodoxo que determina as bases do estado, do governo e a organização da sociedade partir de uma visão teocrática. A Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes e Bahrein, todas monarquias sunitas, sendo as duas primeiras monarquias absolutistas, adotam e procuram difundir o wahhabismo promovendo a perseguição de muçulmanos xiitas e de correntes islâmicas com influência sufi (considerada uma corrente herética, principalmente por não adotarem a sharia) dentro e fora de suas fronteiras. São aliadas estratégicas dos EUA no Oriente Médio, tendo relações comerciais importantes no ramo petrolífero e bélico. A Al Qaeda é a organização wahhabita mais conhecida, financiada pela CIA nas décadas de 70 e 80 para combater os soviéticos no Afeganistão, orientou-se na década de 90 para uma visão anti-ocidental, sem desprezar, no entanto, alianças táticas com o Ocidente para combater regimes e organizações políticas laicas ou religiosas de orientação xiita. Os salafitas, por sua vez, proveniente da radicalização do wahhabismo, são uma corrente minoritária dentro do islamismo sunita, tem crescido fortemente na Líbia, Tunísia, Egito e Iraque, após a chamada “Primavera Árabe”, empreendendo ataque contra cristãos e muçulmanos xiitas ou sunitas moderados. A Irmandade Muçulmana, organização internacional fundada no Egito em 1928 é a maior expoente do salafismo.
Um segundo campo, formado pelo pensamento pan-árabe, que conta com a convergência de setores modernizadores, nacionalistas, socialistas, republicanos e anti-imperialistas, com ampla capilaridade na população de orientação muçulmana xiita e sunita moderada, além das minorias não islâmicas do Oriente Médio. Este campo originou-se do desmembramento do Império Otomano, no inicio do século XX, e ganhou força após o fim da II Guerra Mundial, impulsionado pelo anticolonialismo terceiro-mundista. Tem como fundamento a criação de um único estado para o povo árabe, ideal alimentado por Nasser, no Egito, e pelo Partido Baath, na Síria, com as tentativas de unificação destes dois países entre 1958-1961, vindo a formar a República Árabe Unida. A Síria atual continua sendo um polo de irradiação deste pensamento, tendo perdido terreno na região em consequência da proliferação de governos de orientação pró-estadunidense
[4] Organização frentista no governo atualmente, que tem como componentes 8 partidos entre eles o Partido Árabe Socialista Baath.
[5] Com destaque para o Estado de Israel e as monarquias da região, em especial a Arábia Saudita, Qatar, Bahrein e Emirados Árabes Unidos.
[6] Basta recordar o golpe de estado fracassado na Venezuela em abril de 2002, quando a RCTV (principal rede de televisão do país) anunciou durante semanas as manifestações contra o Presidente Hugo Chávez e simplesmente ignorava as manifestações ao seu favor. A rede de TV chegou inclusive a anunciar detalhes do golpe antes mesmos dos fatos terem acontecido.
[7] Composta pelo Partido Árabe Socialista Al-Baath- PASB, Partido Comunista Sírio – PCS, Partido União Socialista Árabe, Partido Nacional Socialista Sírio, Partido do Movimento Socialista Árabe, Partido Nacional Al-Ahd, Partido da União Democrática Socialista, Partido Sindicalista Socialista Democrático e o Partido Sindicalista Socialista.
[8] O panorama religioso conta com 74% de muçulmanos sunitas e cerca de 15% de xiitas( entre eles alauítas e drusos) e outros 10% de cristãos. Em relação às etnias, 85% são árabes, a principal minoria são os curdos que chega à aproximadamente 13% da população. Os alauítas, mesmo não sendo considerados como islâmicos pelos demais muçulmanos se auto identificam como xiitas. Bashar al Assad (atual presidente) pertence à este setor. Devido à natureza popular do xiismo, grande parte dos alauitas é partidária do Baath. Os drusos, seita islâmica de orientação xiita, considerada herege pelos sunitas, também são apoiadores do governo sírio. Grande parte etnia curda é de muçulmanos sunitas, no entanto são combatidos pelos sunitas wahhabitas por possuírem uma teológica mais sincrética, que reúne elementos do lazdaismo (antiga religião da etnia) e influências sufi. O Partido dos Trabalhadores do Curdistão apoia o governo sírio.
[9] Muçulmanos que acusam outro muçulmano de heresia. Os Takfiris, neste contexto, são geralmente salafitas.
[10] New York Times, 21/06/2012.
[11] Em um conflito desta natureza todo apoio é militar. A oferta de equipamentos “não letais” por parte das potências ocidentais tenta esfumaçar a opinião pública internacional, escamoteando seus verdadeiros interesses na queda do regime sírio. Nada garante que não são equipamentos militares convencionais, e mesmo que fosse não letais uma guerra não se ganha apenas com armas e munição; alimentos, medicamentos, instrumentos de comunicação e transporte são tão valiosos e decisivos quanto fuzis e balas.
[12] Fonte: Reuters 16/08/2012.
[13] Fonte: http://actualidad.rt.com 20/02/2012
[14] Fonte: http://www.independent.co.uk/ 13/06/2012
[15] Recentemente, foram descobertas novas reservas de gás em vários pontos do território Sírio, com destaque depósitos localizados em seu mar territorial.
[16] Fonte: New York Times, 26/08/2012
[17] É importante ressaltar que os elementos do que chamamos “Doutrina Obama” não são novidades na política imperialista ianque, com intensidades diferentes foram utilizados por diversos governos, principalmente após a sistematização dada por Henry Kissinger (Secretario de Estado dos EUA entre 1973-77). O que pretendemos com esta caracterização é reforçar o registro próprio assumido pela administração de Barack Obama no que toca a política exterior, que se diferencia da lógica empregada pelo seu antecessor, George W. Bush.
[18] A título de exemplo, para demonstrar a superficialidade de algumas análises supostamente revolucionárias; o atentado de 18 de julho a sede da Segurança Nacional Síria, em Damasco, que levou à morte 4 generais do Exército, foi celebrada pela imprensa ultra-esquerdista brasileira e mundial como feito de uma “autêntica” insurreição revolucionária na Síria. Desconheceram, no entanto, que tal operação (chamada “vulcão de Damasco”) foi dirigida por um dos principais agentes da CIA no Oriente Médio, o príncipe saudita Bandar ben Sultan ben Abdelazziz Al Sauod, morto por um atentado a bomba no dia 26 de julho; era filho do Ministro da Defesa saudita de 1963 a 2011, o Príncipe Sultan. Bandar ben Sultan foi embaixador em Washington (1983-2005) e possuía estreitas relações com George Bush, que levou a ser chamado pela a impressa norte-americana de BandarBush. São patéticas tais leituras que procuram valor revolucionário em um ataque organizado pela CIA e executado por um príncipe da Arábia Saudita, uma monarquia absolutista e aliada mais importante dos EUA, depois de Israel, na região. Tais análises não investigam os fatos, apenas os interpretam à sombra de um esquema. Para eles o dogma substituiu o método.
[19] Respectivamente a estrutura política e militar da dissidência.
[20] Estratégia adotada pelos EUA na Iugoslávia nos anos 90, que levou a fragmentação do país em diversos estados etnicamente identificados (Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia e Macedônia). O fomento a dissidências e o questionamento artificial dos estados plurinacionais são uma das linhas de atuação da política exterior norte-americana.
[21] “Maplecroft da Grã-Bretanha, que é especializada em consultoria em risco estratégico, disse que nós estamos testemunhando a balcanização do Estado sírio: "curdos no norte, drusos nas montanhas do sul, alawitas na região noroeste do litoral montanhoso e a maioria sunita em outro lugar." Mahdi Darius Nazemroaya . Global Research. 15/08/2012.
[22] Levante corresponde a região geográfica que compreende o Líbano, Síria, Jordânia, Palestina e Iraque. [15]
[23] “(...) Dissolução total do Líbano em cinco províncias serve como um precedente para todo o mundo árabe, incluindo o Egito, Síria, Iraque e na Península Arábica e já está seguindo essa trilha. A dissolução da Síria e do Iraque, mais tarde, em áreas etnicamente e religiosamente definidas, como no Líbano, é alvo primário de Israel na frente oriental, a longo prazo, enquanto a dissolução do poder militar dos Estados serve como o destino de curto prazo. Síria vai desmoronar, de acordo com a sua estrutura étnica e religiosa, em vários estados, como no atual Líbano, de modo que haverá um estado xiita Alauíta, ao longo de sua costa, um estado sunita na área de Aleppo, outro estado sunita em Damasco, hostil ao seu vizinho do norte, e os drusos, que irá criar um estado, talvez até mesmo em nossa Golan [Israel], e certamente em Hauran e no norte da Jordânia. Este estado de coisas vai ser a garantia de paz e segurança na região, a longo prazo, e que o objetivo já está ao nosso alcance hoje.” YINON, Oded, A Strategy for Israel in the Nineteen Eighties, 1982. Publicado no Jornal KIVUNIM, sob responsabilidade do Departamento de Publicidade da The World Zionist Organization, Jerusalém. Origem: http://members.tripod.com/alabasters_archive/zionist_plan.html
[24] Tais provocações turcas começaram há meses. No dia 22 de julho de 2012, um caça turco foi abatido pelas forças Sírias quando invadiu o espaço aéreo deste país. Nenhuma retratação foi feita pelo governo de Ancara.
[25] Outra prática muito parecida com a utilizada na tentativa de golpe na Venezuela em 2002.
[26] Mesma tática simbólica utilizada pelos rebeldes líbios anti-Kadafi, que ressuscitaram a bandeira da finada monarquia daquele país.
[27] É importante lembrar as iniciativas históricas neste sentido com a breve unificação na República Árabe Unida (Síria e Egito) em 1958 a 1961, em com a adesão do Iémen do Norte se constituiu os Estados Árabes Unidos. O Iraque em 1960 também entrou em negociação para aderir ao novo arranjo estatal, mas a unidade não se consolidou e entrou em colapso em 61. E a tentativa entre 1972 a 77 de criação da Confederação de Repúblicas Árabes que compreenderia a Síria, o Egito e a Líbia.
[28] Ver entrevista com Tony Cartalucci, analista político. Escreve para Global Research e Activist Post. Disponível: http://www.resistir.info/moriente/cartalucci_18set12.html
[29] O Hamas (grupo dirigente da Faixa de Gaza/Palestina) discute a transferência do escritório da organização para Doha (Catar) ou Cairo (Egito). Nas últimas semanas, a direção do Hamas tem aparecido publicamente em companhia de representantes dos Al Thani (família real do Catar). Fontes: http://www.bbc.co.uk, http://mtja.com.br/, http://www.estadao.com.br.
[30] Fonte: “Hezbollah enviou combatentes para apoiar Bashar Al-Assad “ fonte: http://portuguese.ruvr.ru/ 02/10/2012
[31] Caso as reivindicações democráticas fossem o combustível das revoltas, as monarquias sunitas da península arábicas não estariam em relativa calma em relação aos conflitos sociais (exceto Bahrein que contou com algumas manifestações da maioria xiita), muito menos estariam apoiando movimentos “democráticos” de oposição na Síria. Apoiam estes movimentos justamente por não serem democráticos, e muito menos sírios, mas por serem pró-ocidente e sunitas wahhabitas.
Fonte: por yahoogrupos.com.br para: fzmmg <[email protected]>
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