Ankaladar, você andou usando o princípio taoísta do "equilíbrio" para tentar achar a explicação de porque alguns personagens do universo de Tolkien, como Fëanor, que você citou, não estavam nem do lado dos Valar nem de Melkor, e também não podiam ser considerados "bons" ou "maus". O problema é que a gente tende a colocar as coisas em dois grandes pólos: o bom, que é representado pelos valar, e o mal, que é Melkor, mas as coisas não são tão simples assim. Melkor não "criou" o mal, pois esse mal é só um dos muitos caminhos que os filhos de Eru podem seguir, assim como o bem é um outro caminho. Eu creio que os valar não eram o "summum bonum", o bem supremo, porque, afinal de contas, eles só estavam tentando proteger a criação de Eru, fazer valer seus ideais, assim como Melkor, que queria impôr suas idéias ao mundo.
Essas discussão toda meche em um dos princípios da nossa própria sociedade, o maniqueísmo do bem e do mal. Vou dizer o que penso transportando os fatos para a Terra-Média, porque se for instaurado um novo DOPS por aí daqui a alguns anos não quero ser levado para a cadeia por causa desse post..
Bem, de um lado você tem os valar como Manwë e Varda, e do outro, Melkor. De um lado, o que alguns chamam de "o bem de Arda" e do outro, o "mal", mas se você parar para pensar, os dois lados são praticamente iguais. Vejam só: os valar tentavam preservar os filhos de Eru, como os elfos e demais seres advindos do real Criador de todas as coisas, mas Melkor também fazia a mesma coisa, só que com seus "filhos", aqueles que ele corrompeu, como balrogs e orcs. No fim, se você pegar a origem do conflito, verá que é a questão é a preservação do Poder. Os valar querem que tudo seja conforme os desígnios de Ilúvatar, e Melkor quer que tudo seja como ele deseja, ele almeja "poder ilimitado", como diria Darth Sidhious em Star Wars. E agora, aprofundando mais um pouquinho, e sem querer justificar as ações de Melkor ou de qualquer pessoa má dos tempos modernos, ele era bom para os que o seguiam, como o próprio Sauron, e se o mundo fosse dominado por ele para sempre aqueles que fossem fiéis a seus ideiais seriam amplamente recompensados, tenho certeza.
Mas a questão do tópico, os "elfos de coração negro", não é assim tão complicada, porque, vejam só: nenhum ser da Terra-Média possui o coração inteiramente enegrecido, nem mesmo Morgoth, pois ele, antes de ser o "Grande Mal", era um dos servos de Ilúvatar, o mais poderoso de todos os Ainur. Ele só... optou por um outro caminho, o que, diga-se de passagem, não foi punido em um primeiro momento por Ilúvatar, por causa do hoje tão desacreditado livre-arbítrio. Portanto, eu acredito que o coração dos elfos, como o dos homens também, porque não, não é absoluto. Ora ele pode ser bom, ora mal, mas nunca preso em um só lado dessa moeda maniqueísta de Eä.