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Natsume Soseki

  • Criador do tópico Criador do tópico Zuleica
  • Data de Criação Data de Criação

Zuleica

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[size=x-small]"Eu sou um Gato", Natsume Soseki - Ao aparecer num terreno baldio, o gato, narrador deste romance, depois de passar por algumas poucas adversidades, acaba parando numa casa onde é acolhido por Chinno Kushami, o professor mal-humorado e estagnado em sua completa falta de perspectiva. O autor ridiculariza a vida da intelectualidade do Japão da Era Meiji, mostrando a fragilidade do professor e daqueles que o cercam. Sugerindo-se sempre como um ser de raça superior, o gato, com sua pesada munição e ares de dândi, não poupa nada nem ninguém. Sua linguagem é carregada de sarcasmo quando o assunto é o ser humano. Mesmo quando há uma ternura esta é impregnada de deboche.[/size]
O Machado de Assis Japonês
Chega ao Brasil o delicioso humor de "Eu sou um gato", obra-prima de Natsume Soseki

por Carlos Graieb - em Veja - 7/5/2008

Natsume Soseki é o Machado de Assis japonês. Patrono da literatura moderna daquele país, como Machado por aqui, ele teve sua foto estampada na cédula de 1.000 ienes. Mas a comparação pode ir muito além da fama e do reconhecimento. Pela primeira vez, um dos clássicos de Soseki está saindo no Brasil:

Chega ao Brasil o delicioso humor de "Eu sou um gato" (tradução de Jefferson José Teixeira; Estação Liberdade; 486 páginas). Leia-se o livro em paralelo com Memórias Póstumas de Brás Cubas. Num passe de mágica, o Brasil e o Japão se aproximam: duas nações periféricas, no fim do século XIX e no começo do século XX, às voltas com o problema de importar idéias européias para uso (ou mau uso) nacional. Não atrapalha nem um pouco a comparação o fato de que os dois autores compartilharam do mesmo humor, da mesma melancolia, e da mesma deliciosa veia estilística.

Soseki e Machado têm seu ponto de contato literário na Inglaterra. Ambos eram fãs de Laurence Sterne (1713-1768), cujo romance A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy inaugurou uma maneira de contar histórias cheia de digressões e rupturas, que causam um efeito cômico e desnorteiam o leitor. Machado falava em "forma livre", enquanto Soseki comparava essa maneira narrativa ao verrugoso pepino-do-mar, um bicho sobre o qual "não se sabe onde fica a cauda ou a cabeça". Tanto Memórias Póstumas quanto "Eu sou um gato" são livros fragmentários, nos quais a ação é interrompida a cada passo pelas reflexões excêntricas de um protagonista que não deve nada a ninguém: um defunto autor no primeiro caso, um gato com inclinações filosóficas no segundo. Esse gato nascido na rua acompanha as conversas com freqüência ridículas de seu amo, o professor Kushami, explora a vida familiar dos vizinhos novos-ricos, passeia pelos banhos públicos de Tóquio – e relata tudo com uma língua autenticamente ferina.

"Eu sou um gato", de 1905, foi a estréia de Soseki na ficção. É provável que ele se imaginasse ao mesmo tempo como o felino-narrador e como o seu pobre amo. Sua infância foi de gato abandonado. Seus pais o entregaram, aos 2 anos, a outro casal, e só o acolheram de volta aos 9 anos. Um sentimento misto de solidão e independência o acompanhou pela vida, refletido em seu pseudônimo literário (Soseki quer dizer "estorvo"). Mas, tanto quanto o professor Kushami, Soseki era um "interi" – um intelectual, assombrado pelo influxo da cultura e dos costumes ocidentais sobre o Japão. Soseki nasceu em 1867, meses antes de uma transformação momentosa, a Restauração Meiji, que devolveu o poder à linhagem dos imperadores japoneses e com isso pôs fim a mais de dois séculos de feudalismo e política isolacionista. A abertura para o mundo não se deu sem traumas. Boa parte de "Eu sou um gato" é dedicada a zombar do palavrório sem sentido a respeito de idéias estrangeiras. À medida que o livro se aproxima do final, contudo, Kushami perde um pouco da tolice, ganha um pouco de sabedoria, e reflete de maneira amarga sobre os dilemas japoneses e o sentido de sua própria vida.

Como demonstrou há tempos o crítico brasileiro Roberto Schwarz, o tema das idéias emprestadas foi central para Machado de Assis. Ele fez com que Brás Cubas, no entanto, as empregasse de forma cínica. Na juventude, o personagem vai à Europa viver de maneira prática o romantismo, mas só de maneira teórica o liberalismo. Ao estudar, ele se limita a colher "de todas as coisas a fraseologia, a casca, a ornamentação". Ao montar o seu circo de conceitos e teorias, Brás Cubas escamoteia os seus pecados próprios e os pecados de sua classe social, enriquecida à custa do trabalho escravo. Em Soseki, a preocupação é diferente. Num ensaio de 1911, A Civilização Japonesa Moderna, o escritor descreveu o processo de modernização de seu país como externo e superficial, em vez de interno e orgânico. O perigo, disse ele, era que um povo inteiro se visse levado a um estado de "nevrose". Parte dos temores de Soseki se viu confirmada nas décadas seguintes, quando o Japão abraçou uma forma agressiva de nacionalismo. Em "Eu sou um gato", contudo, o que esse grande nome da literatura universal exibe é aquele riso largo, apesar de melancólico, que o brasileiro conhece tão bem de Machado de Assis.
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EU SOU UM GATO
Tradutor: [size=x-small]TEIXEIRA, JEFFERSON JOSE[/size]
Autor: [size=x-small]NATSUME, SOSEKI[/size]
Editora: [size=x-small]ESTAÇAO LIBERDADE[/size]
Assunto: [size=x-small]LITERATURA ESTRANGEIRA-ROMANCES[/size]
[size=x-small]ISBN: 8574481386
ISBN-13: 9788574481388
Livro em português
Brochura - 16 x 23 cm - 1ª Edição - 2008 - 488 pág. [/size]
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>>> Fonte
 
RE: O Machado de Assis Japonês

Nuooossa!

Esse livro promete, hein? Adorei o artigo.
Nunca li nenhum autor japonês, e se tiver alguma coisa que lembra o Machadão já vale muito a pena.
 
RE: O Machado de Assis Japonês

bah realmente bem interessante...
é legal conhecer mais a literatura japonesa, um povo tão inteligente e disciplinado =D
e ainda mais tendo característica do Machado, imagina ... um japa com característica de Machadão, curiosíssimo hehe :hihihi:
me chamou atenção que no livro, relata a fase do Japão do feudalismo para a modernidade e a cultura estrangeira entrando na cultura fechada do Japão..
quem ler, comenta pra gente o que achou =D
*curiosa*
 
RE: O Machado de Assis Japonês

Caso entre uma graninha extra esse mês, vou puxar esse pro início da lista. Fiquei encantada por ele.
 
RE: O Machado de Assis Japonês

Pelo jeito parece ser muito bom mesmo!

Nunca tinha ouvido falar NADA sobre literatura japonesa...
 
RE: O Machado de Assis Japonês

Eu tambem não tenho nenhuma noção de literatura japonesa. Esse livro parece ótimo pra começar xD
 
RE: O Machado de Assis Japonês

O livro é bom mesmo.
Li há uns dois meses e é daqueles livros que a gente lê direto, que se pudesse leria sem parar até o final.
É parecido com Machado nas coisas que o autor do artigo escreveu e na crítica que o gato faz à sociedade e que é tão universal e atual.
Sei que isso que escrevi é clichê, mas é verdade e eu não consigo me expressar de outro jeito.
Os livros do Machado são tão atuais que às vezes parece que ele continua vivo, que escreveu os livros dele há um ou dois anos.
Assim é com "Eu sou o gato".
Ele também é engraçado (morri de rir sozinha em algumas passagens) e faz a gente entender um pouco da cultura japonesa e de como eles conseguiram se reestruturar tão rápido depois da segunda guerra e das tragédias de Hiroshima e Nagasaki.
 
RE: O Machado de Assis Japonês

Lembro que quando vi este tópico no Meia, fiquei curiosa, mas como nunca via o livro nas livrarias, acabei esquecendo. Semana passada encontrei-o em uma livraria daqui, finalmente, mas não lembrava do tópico. Reli, e espero que ele ainda esteja na livraria para que eu possa comprar mais pra frente (:
 
RE: O Machado de Assis Japonês

Tudo que eu já li da literatura japonesa, foram os livros do Yukio Mishima.
Vou dar uma olhada nessa novidade.
 
RE: O Machado de Assis Japonês

Adoro literatura africana e japonesa, uma bem distinta da outra, mas ambas com olhares diferentes de qualquer outro tipo literário. Com certeza vale a pena conhecer!

:tchauzim:
 
RE: O Machado de Assis Japonês

A Estação Liberdade garante bons lançamentos da literatura japonesa, cada um melhor que o outro. Tenho uns artigos sobre alguns livros publicados pela editora, vou postar em outros tópicos.
 

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