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Enfim, foi com algum receio que decidi mostrar-vos este pequeno poema, visto que não é nada de especial. É um poema solto, livre e improvisado, muito ao estilo de Walt Whiteman. Podem disparar qualquer tipo de criticas, sejam elas positivas ou negativas, que não me importo. Nota: este poema é inspirado no romance ALEGRIA BREVE, de Vergílio Ferreira.
Pai, mãe, avô e avó,
Eu acreditei em vocês.
Acreditei na vossa tempestade
Nos vossos sonhos.
Mas a vossa idade esmoreceu-me
Destruiu os meus próprios sonhos
O que era brilhante tornou-se singular
Queria o vosso passado
Almejava as vossas fotografias a preto e branco
Mas, gentil destino, apodreceu-me.
A lua pálida uiva
É o desespero, diz o homem sábio
De cajado na mão, voz arrastada
Os seus olhos cálidos e brancos
Gritam um passado de inocência
E lendas agora esquecidas
Estamos sentados à volta da lareira
Mas não sorrimos, apenas bebemos
Um trago, outro trago
O cemitério nos espera
E seremos apenas pó e lembrança.
Os anjos de barro já não impressionam
A triste cortina que nos separa
Deste futuro burocrático, tecnocrático e tecnológico
Já não nos faz a mínima diferença
Sinto-me velho e esquecido
Nesta pequena aldeia
O húmus frio e tenebroso conforta-me
Assim como os olhos caídos de misericórdia dos anjos
Voar, ho, voar…quem me dera um anjo oferecer-me as suas asas plumosas
Eu queria ser fantasma e voar para o vosso passado
Descobrir o vosso poder de convivência
Beber um trago, sorrir aos vossos olhos
Nesta casa agora triste e velha.
O soalho deixou de ranger graças à solidão
As janelas, onde trazia calor e alegria, passaram a estar fechadas
A quem acenar quando me encosto à falda da janela? Não tenho ninguém
Os caminhos de lama e terra são passagens para fantasmas invisíveis.
Olho o cemitério lá no alto do monte
Debaixo daquele monte abarrota meus familiares e amigos
As suas vozes foram silenciadas pelo último sopro da vida
Já no limiar da loucura
Perscruto uma pomba branca voando.
Apetece-me matá-la de tanta inveja.
Triste de mim que tenho esta alma
Abro o livro de memórias
“Olha”, meu avô está ali
Sentado num canto, sorrindo e acenando
Bebericando um copo de vinho tinto
Vozes e murmúrios perdidos na vaga esperança
Esta gente retratada já não existe mais.
Quem me dera trazê-los de volta para um último banquete.
Os naperons esburacados projectam a imagem de minha avó
Em noites tristes sob a chama da lamparina
Trilhava linha por linha o seu trabalho
Que não será mais que trapo no futuro
A tempestade aproxima-se.
E com ela uma nostalgia terrível, sangrenta
Apetece-me gritar o vosso nome
Trazer-vos à memória.
Trabalharam tanto para sustentar os vossos filhos.
Para quê? Para herdarem a vossa miséria e morte?
Para suplicarem pelo vosso nome antes de chegara hora?
Daqui a cem anos ninguém se lembrará de vocês. Daqui a cem anos…
Meu Deus, como eu enlouqueci.
Que destino este, fatal, imerso na bruma cinzenta e cálida.
Vós, que estão debaixo da terra, suaram para quê?
Pegaram na enxada, cavaram sulcos infinitos
Na vã tentativa de conservarem o vosso orgulho, tudo isto para quê?
Para venderem o vosso suor, pouparem cêntimo por cêntimo
E, sem darem por isso, raspar as crostas impregnadas nas vossas mãos?
E, depois, serem apenas ossos e trapos no fundo da terra?
Que absurdo esta vida!
Pai, mãe, avô e avó
Eu acreditei em vocês
Acreditei na vossa tempestade e nos vossos sonhos.
Agora despeço-me de vocês.
Neste quarto escuro e velho, observo os vossos retratos
E tento adormecer. Não será difícil, pois estou velho e cansado, tive uma boa vida
Adeus, mãe, pai, avó e avô.
Adeus para sempre.
…no entanto, acordo e lembro-me assim de repente: quem virá buscar este lastimoso cadáver?
Ninguém, para além de mim, vive nesta solitária aldeia…
…Enfim…
Pai, mãe, avô e avó,
Eu acreditei em vocês.
Acreditei na vossa tempestade
Nos vossos sonhos.
Mas a vossa idade esmoreceu-me
Destruiu os meus próprios sonhos
O que era brilhante tornou-se singular
Queria o vosso passado
Almejava as vossas fotografias a preto e branco
Mas, gentil destino, apodreceu-me.
A lua pálida uiva
É o desespero, diz o homem sábio
De cajado na mão, voz arrastada
Os seus olhos cálidos e brancos
Gritam um passado de inocência
E lendas agora esquecidas
Estamos sentados à volta da lareira
Mas não sorrimos, apenas bebemos
Um trago, outro trago
O cemitério nos espera
E seremos apenas pó e lembrança.
Os anjos de barro já não impressionam
A triste cortina que nos separa
Deste futuro burocrático, tecnocrático e tecnológico
Já não nos faz a mínima diferença
Sinto-me velho e esquecido
Nesta pequena aldeia
O húmus frio e tenebroso conforta-me
Assim como os olhos caídos de misericórdia dos anjos
Voar, ho, voar…quem me dera um anjo oferecer-me as suas asas plumosas
Eu queria ser fantasma e voar para o vosso passado
Descobrir o vosso poder de convivência
Beber um trago, sorrir aos vossos olhos
Nesta casa agora triste e velha.
O soalho deixou de ranger graças à solidão
As janelas, onde trazia calor e alegria, passaram a estar fechadas
A quem acenar quando me encosto à falda da janela? Não tenho ninguém
Os caminhos de lama e terra são passagens para fantasmas invisíveis.
Olho o cemitério lá no alto do monte
Debaixo daquele monte abarrota meus familiares e amigos
As suas vozes foram silenciadas pelo último sopro da vida
Já no limiar da loucura
Perscruto uma pomba branca voando.
Apetece-me matá-la de tanta inveja.
Triste de mim que tenho esta alma
Abro o livro de memórias
“Olha”, meu avô está ali
Sentado num canto, sorrindo e acenando
Bebericando um copo de vinho tinto
Vozes e murmúrios perdidos na vaga esperança
Esta gente retratada já não existe mais.
Quem me dera trazê-los de volta para um último banquete.
Os naperons esburacados projectam a imagem de minha avó
Em noites tristes sob a chama da lamparina
Trilhava linha por linha o seu trabalho
Que não será mais que trapo no futuro
A tempestade aproxima-se.
E com ela uma nostalgia terrível, sangrenta
Apetece-me gritar o vosso nome
Trazer-vos à memória.
Trabalharam tanto para sustentar os vossos filhos.
Para quê? Para herdarem a vossa miséria e morte?
Para suplicarem pelo vosso nome antes de chegara hora?
Daqui a cem anos ninguém se lembrará de vocês. Daqui a cem anos…
Meu Deus, como eu enlouqueci.
Que destino este, fatal, imerso na bruma cinzenta e cálida.
Vós, que estão debaixo da terra, suaram para quê?
Pegaram na enxada, cavaram sulcos infinitos
Na vã tentativa de conservarem o vosso orgulho, tudo isto para quê?
Para venderem o vosso suor, pouparem cêntimo por cêntimo
E, sem darem por isso, raspar as crostas impregnadas nas vossas mãos?
E, depois, serem apenas ossos e trapos no fundo da terra?
Que absurdo esta vida!
Pai, mãe, avô e avó
Eu acreditei em vocês
Acreditei na vossa tempestade e nos vossos sonhos.
Agora despeço-me de vocês.
Neste quarto escuro e velho, observo os vossos retratos
E tento adormecer. Não será difícil, pois estou velho e cansado, tive uma boa vida
Adeus, mãe, pai, avó e avô.
Adeus para sempre.
…no entanto, acordo e lembro-me assim de repente: quem virá buscar este lastimoso cadáver?
Ninguém, para além de mim, vive nesta solitária aldeia…
…Enfim…