C
Calib
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[trigger warning: textão antidemocrático]
Este é um artigo que encontrei certa vez na Internet por acaso e achei interessante. Ele continha vários defeitinhos de tradução e gramática, então fui corrigindo aos poucos até que acabei reescrevendo quase tudo. Ainda assim, pode haver falhas, cuja culpa assumo. Este artigo acabou por me apresentar ao pensamento de Erik von Kuehnelt-Leddihn, que se definia como "conservador extremo arqui-liberal" ou "liberal de extrema direita" (Wikipédia), e que é um defensor ferrenho da monarquia e adversário da democracia e da ditadura da maioria, e do homem-massa. Era um aristocrata austríaco que falava 8 línguas e lia em outras 17.
As críticas que ele faz na parte II, e mais aprofundadas na parte III, ao capitalismo privado foram posteriormente revistas. Em 1943 ele era ainda jovem e ao longo da vida se manteve sempre estudando e produzindo até 1999. Em dado momento no percurso ele mudou essa visão em particular. Como atesta este outro artigo que eu não traduzo por preguiça rsrs:
“O credo de um reacionário”
1943, Erik von Kuehnelt-Leddihn
Tradução: Calib et al.
Eu não hesito em anunciar que sou um reacionário. Eu tenho um profundo orgulho disso. Não vejo mais razão em olhar para a frente, com esperança para um futuro desconhecido, ao invés de olhar para trás com nostalgia para valores conhecidos e comprovados.
O termo “reacionário”, na forma em que o uso, não representa um conjunto de ideias definitivo e imutável. Representa uma atitude de espírito. Como um reacionário, eu me ressinto e me oponho ao espírito e às modas da época em que sou obrigado a viver; e busco restaurar o espírito que teve a sua melhor personificação em períodos já passados.
As circunstâncias em que o termo “reacionário” é aplicado como um epíteto para fascistas e outras marcas do homem moderno — aos quais um verdadeiro reacionário tem apenas desprezo — não são minha culpa.
Como um reacionário honesto, eu naturalmente rejeito o nazismo, o comunismo, o fascismo e todas as ideologias relacionadas, que são, em verdade, um reductio ad absurdum da chamada democracia e do poder da massa. Eu rejeito os pressupostos absurdos do governo da maioria, o hócus-pócus parlamentar, o falso liberalismo materialista da Escola de Manchester e o falso conservadorismo dos grandes banqueiros e industrialistas. Eu abomino o centralismo e a uniformidade da vida em rebanho, o estúpido espírito de massa do racialismo, o capitalismo privado assim como o capitalismo de Estado (socialismo) que contribuíram para a ruína gradual da nossa civilização nos últimos dois séculos. O verdadeiro reacionário de hoje é um rebelde contra os pressupostos prevalecentes e um “radical” que nisso vai até as raízes.
Pessoalmente, sou um reacionário da Fé Cristã tradicional, com uma perspectiva liberal e com propensões agrárias. Onde tantos ao meu redor adoram o “novo”, eu respeito as formas e as instituições que têm crescido organicamente por um longo período de tempo. Os períodos que precederam as duas grandes tempestades — a Idade Média e a Renascença, terminadas pela Reforma; e o século XVIII, terminado pela Revolução Francesa — são ricos em formas e ideias de importância duradoura. A universalidade de um Nicolau de Cusa ou de um Alberto Magno, a glória da Catedral de Chartes e o barroco tardio da Áustria; figuras inspiradoras como Maria Teresa, Pascal, George Washington ou Leibniz fascinam-me mais que os três “homens comuns” do nosso tempo — Mussolini, Stalin e Hitler — ou que o esplendor democrático de uma loja de departamentos, ou que o vazio espiritual dos comícios comunistas e fascistas magnetizados por líderes em êxtase.
A nota introdutória a este declínio da civilização foi escrita por Martinho Lutero, que cultuava a nação, exaltava o Estado e vociferava contra os judeus; por aquele bárbaro real do trono inglês que suplantou o espírito católico do seu país com um provincianismo paralisante; pelo primeiro “moderno” — o genebrino que negou a base de toda a liberdade filosófica: o livre-arbítrio —; e pelo outro genebrino, que pregava o retorno à selva e a um barbarismo idílico. Estes quatro cavaleiros — Lutero, Henrique VIII, Calvino e Rousseau — eram apenas os arautos das coisas mais fatídicas que estavam por vir. O desastre final foi quando, na Revolução Francesa, diante do eterno dilema de escolher entre liberdade e igualdade, decidiu-se pela igualdade. A guilhotina e os magistrados de Estrasburgo, que decretaram que a torre da catedral fosse demolida porque estava acima do nível igualitário de todas as outras casas, são símbolos eternos do modernismo e do “progresso” perverso.
As massas, formando maiorias organizadas e abraçando ideias idênticas e odiando uniformemente todos aqueles que ousam ser diferentes, são o produto atual dessas várias revoltas. O padre e o judeu, o aristocrata e o mendigo, o gênio e o imbecil, o inconformista político e o explorador filosófico — todos estão na lista dos proscritos. O rebanho manda hoje em quase todos os lugares, com diversos meios e sob os mais diversos rótulos. É a essa tirania que eu me oponho.
Como um reacionário, acredito em liberdade, mas não em igualdade. A única igualdade que posso aceitar é a igualdade espiritual de dois bebês recém-nascidos, independentemente da cor, do credo ou da raça de seus pais. Não aceito nem o igualitarismo degradante dos “democratas”, nem as divisões artificiais do racistas, nem as distinções de classe dos comunistas e esnobes.
Seres humanos são únicos. Eles devem ter a oportunidade de desenvolver suas personalidades — e isso significa responsabilidade, sofrimento, solidão. Eu não apenas gosto do princípio da monarquia como também gosto de todas as pessoas coroadas. E há todos os tipos de coroas, a mais nobre delas feita de espinhos. O Homem Moderno — este dócil animal, “cooperativo” e urbanizado — não é a preferência de um reacionário.
Eu acredito na família, na hierarquia natural dentro da família e no abismo natural entre os sexos. Eu amo os velhos cheios de dignidade e pais orgulhosos, mas também adoro crianças corajosas e honestas. Em uma hierarquia o membro mais inferior é funcionalmente tão importante quanto o mais elevado. E o abismo entre os homens e as mulheres me parece uma coisa boa também; não há triunfo na construção de uma ponte sobre uma mera poça.
Eu gosto de pessoas com propriedades. Não fico nada entusiasmado com o camarada sem raízes num prédio de apartamentos, com um número social como sua principal distinção. Eu detesto o capitalismo que concentra a propriedade na mão de uns poucos, não menos do que o socialismo que deseja transferi-la para o grande ninguém, uma hidra com um milhão de cabeças e sem alma: Sociedade. Gosto de pessoas com sua própria morada, com seus próprios campos, com seus próprios pontos de vista levando-os a ações independentes. Eu tenho medo da massa: os 51 por cento que votaram em Hitler e Hugenberg; a multidão em frenesi que apoiou o Terror Francês; os 55 por cento de brancos dos Estados do Sul que mantiveram os 45 por cento de negros “em seu lugar” com a ajuda de tochas e cordas.
Eu temo todas as massas que consistem de homens com medo de serem únicos, de serem pessoas; se importando mais com segurança do que liberdade, temendo seus vizinhos ou a “comunidade” mais do que a Deus e suas consciências. Essas são pessoas que exigem não somente igualdade, mas também identidade. Suspeitam de qualquer um que se atreva a ser diferente. Querem apenas os “ordinary, decent chaps” no estilo inglês, os “regular guys” ao modo americano ou os “rechte Kerle” segundo o padrão alemão. O Homem Moderno parece ter um só desejo: ver tudo moldado à sua própria imagem; ele detesta personalidade e quer assimilar. O que ele não consegue assimilar, ele extirpa. Toda a nossa época é marcada por um vasto sistema de instrumentos de nivelamento e assimilação composto de escolas, propagandas, quartéis, bens massificados, e jornais, livros e ideias produzidos em massa. O lado mais sombrio desse processo pode ser visto no ostracismo social praticado contra as minorias nas democracias pseudoliberais; nos abatedouros humanos e campos de concentração das nações totalitárias superdemocráticas; nos fluxos intermináveis de refugiados sem-teto vagando sem rumo em todo o mundo. O Homem Comum em qualquer aglomeração é impiedoso, inteiramente falto de generosidade.
A liberdade, afinal, é um ideal aristocrático. Em Washington, bem em frente à Casa Branca, na Jackson Square, há um simbolo maravilhoso: o monumento ao primeiro igualitário americano cercado pelas estátuas de quatro nobres europeus que vieram para a América lutar pela liberdade e não pela identidade — o nobre polaco-lituano Kosciuszko, o Barão von Steuben, o Conde de Rochambeau e o Marquês de Lafayette. O Barão de Kalb é comemorado em outro lugar, e o nome do Conde Pulaski agracia uma estrada em Nova Jersey e uma estátua em Savannah. Pulaski foi o único general morto no Grande Levante dos Whigs americanos. Nós, reacionários (quer saibamos ou não), somos todos Whigs. Nossa tradição, em países de língua inglesa, repousa sobre a Carta Magna, que só os ignorantes chamariam de “democrática”.
Eu não tenho apreço pelo “liberalismo” do século XIX, com seu materialismo grosseiro e a crença pagã na “sobrevivência do mais apto”, isto é, do mais inescrupuloso. Nas condições europeias, eu sou naturalmente um monarquista, porque a monarquia é, basicamente, supra-racial e supra-nacional. Não somente as instituições livres sobreviveram melhor nas monarquias do Noroeste europeu do que no coração republicano do continente, mas nas áreas de mistura étnica da Europa central e oriental devem preferir-se os monarcas de origem estrangeira, com esposas, e mães, e genros e noras estrangeiros ao invés de “líderes” políticos que pertençam apaixonadamente a específicas nacionalidades, classes, partidos.
Eu me sinto mais livre submetido a um homem que não foi a escolha de ninguém do que a um homem nomeado pela maioria, seguindo cega as suas inflamadas emoções. Voltaire teve maior chance de influenciar as cortes de Paris, Potsdam e São Petersburgo do que um Dawson, um Sorokin, um Ferrero ou um Bernanos têm de influenciar as massas “democráticas”. Os monarcas europeus igualaram-se intelectual e moralmente aos seus epígonos republicanos de cartola. Os Bourbons com certeza são comparáveis favoravelmente aos politicos das três Repúblicas Francesas. Os Fühers da era totalitária têm sido muitas vezes, é claro, mais “brilhantes” e bem-sucedidos porque menos escrupulosos. Apoiados por plebiscitos cuidadosamente encenados, eles sentem-se justificados a comprazer-se com matanças que nenhum Bourbon, Habsburg ou Hohenzollern teria arriscado. Platão nos disse, mais de dois mil anos atrás, que a democracia degenera-se inevitavelmente em ditaduras, e Toccqueville reenfatizou isso em 1835. A maioria dos idiotas, de ambos os lados do Atlântico, continua a confundir democracia com liberalismo, dois elementos que podem, ou não, coexistir. Uma “proibição” apoiada por 51 por cento do eleitorado pode ser muito democrática, mas é dificilmente liberal.
O que nós reacionários queremos é liberdade e diversidade. Nós acreditamos que existe uma força peculiar na diversidade. Santo Estêvão, Rei da Hungria, disse a seu filho: “Um reino de apenas uma língua e um só costume é tolo e frágil”. Isso é contrário à crença supersticiosa demo-totalitária de nossos tempos de uniformidade. Os fascistas italianos, que destruíram todas as instituições culturais dos não-italianos, encontraram imitadores nos Tecnocratas arrojados e progressistas que bradaram, uma vez que esta guerra chegara à América, pelo confisco de toda a impressa de língua estrangeira.
Como um reacionário, eu gosto de patriotas, que ficam entusiasmados com a sua pátria, sua terra natal; e não gosto de nacionalistas, que ficam excitados com sua língua e com seu sangue. O reacionário defende a ideia de solo e liberdade, ele luta contra o complexo de sangue e igualdade.
Como um reacionário, eu possuo opiniões definitivas como também opiniões provisórias. “Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, a caridade” é um bom programa reacionário. Se eu considerar algo como sendo a Verdade, eu desconsidero toda opinião em contrário. Mas discordo de alguns eclesiásticos medievais ou dos conservadores de visão curta, que acreditavam que o erro pode ser combatido pela força. Qualquer erradicação meticulosa de erro por meios artificiais (sempre dirigida contra pessoas e não contra a ideia em si) acaba fazendo a Verdade ser intragável, obsoleta e desinteressante. Como reacionário, respeito qualquer pessoa que, com coragem e sinceridade, mantenha visões errôneas, embora seguindo sua consciência. Eu tenho infinitamente mais respeito por um anarquista fanático catalão, um judeu ortodoxo, um calvinista linha-dura, do que por um humanitário pseudo-liberal com uma secreta veneração pelo estado onipotente. Um verdadeiro reacionário é um homem de fé absoluta e generosidade absoluta. Ele concilia dogma e liberdade.
Como um reacionário, eu gostaria de ver materializadas neste país mais ideias antidemocráticas dos Pais Fundadores. De fato, poucos escritores europeus fulminaram com mais veemência contra o “demos” [povo] do que Madison, Hamilton, Marshall, John Adams ou mesmo Jefferson, que esteve do lado da aristocracia do mérito, não pelo governo da massa. No entanto, o centralismo de Hamilton é basicamente esquerdista. Nem aqui nem na Europa isso deve prevalecer. O que precisamos de ambos os lados do Atlântico é mais uma atitude pessoal. Colossialismo e coletivismo são o inimigo. Um agricultor Schmidt de Hindelang, por exemplo, deve antes de tudo ter orgulho de ser o chefe de uma família, o dono de uma fazenda e então de ser um morador de Hindelang. Após uma reflexão mais profunda, ele deve ter orgulho de ser um camponês do vale do Allgäu e também por ser bávaro. Seu germanismo deveria ser uma unidade mística no próprio horizonte de seus pensamentos. Mas a tendência moderna é a de estabelecer uma hierarquia de lealdades no sentido inverso. A ênfase nazista em noventa milhões de alemães, a ênfase Soviética sobre “as massas”, a identificação de “maior” com “melhor”, revelam a nossa degradação expressa no culto à quantidade, o nosso desprezo pela pessoa, toda a nossa desesperança moderna pela singularidade humana.
Eu defendo que o Estado, as empresas e as fábricas são os grandes escravistas do nosso tempo. Fulano trabalha como o seu antepassado espiritual, o servo medieval, um dia e meio por semana para o seu senhorio. De quatro cheques semanais, ele entrega pelo menos um para a empresa que lhe aluga o seu habitat. Se não o fizer, resultará em desapropriação, uma ameaça desconhecida para o servo feudal do século XIII. Na fábrica ele trabalha, não como um membro da guilda, para investidores desconhecidos, bem como para líderes sindicais corruptos, se não mesmo, como na U.R.S.S., para uma combinação leviatânica de Estado e Sociedade. Os trabalhadores deveriam possuir as ferramentas de produção; não há qualquer razão possível para que eles não possuam as fábricas num sentido literal ou sejam titulares de todas as ações comercializadas a partir de certo ponto. Uma usina pode ser uma comunidade viva não menos do que uma oficina medieval.
Eu gosto da gente livre que com frequência é “retrógrada”, como os tiroleses, os montanheses suíços, os escoceses, os navarros, os bascos, os sisudos camponeses dos Bálcãs, os curdos. Eles escaparam do mal menor da servidão na Idade Média e do mal maior da urbanização nos tempos modernos. Eles são bastante reacionários, conservadores e amantes da liberdade. Eles podem dar-se ao luxo de serem conservadores porque sua cultura está fora de sintonia com os tempos modernos; o que eles possuem vale a pena preservar. O conservador urbano, por outro lado, não é senão um “progressista” inibido.
Eu acredito no homem de excelência, no homem de dever, contra o Homem Comum cuja única força está nos números, cuja manifestação política está submissa às “convicções” pré-fabricadas ou a “líderes” os quais, diferente dos “governantes”, não se diferem das massas, mas personificam todos os seus piores traços.
Hoje, um punhado de genuínos reacionários carrega o fardo da luta contra o super-progressismo em sua forma totalitária. Eles sabem que a democracia enquanto força não pode lidar com os totalitários; formas embrionárias não podem ter sucesso contra as suas manifestações mais maduras. Platão, Tocqueville, Donoso Cortés, Burckhardt, todos eles sabiam disso. A democracia progressista, como o pseudo-liberalismo, nada mais é que uma Gironda, uma precursora do Terror.
Entre esse punhado estão Winston Churchill e o Conde Galen, o Conde Preysing e von Faulhaber, Niemöller e Georges Bermanos, Giraud e d’Ormesson, o Conde Teleki, Calvo Sotelo, Schuschnigg e Edgar Jung. Nenhum deles fez concessões à perversidade seja da Gironda ou do Terror em suas formas modernas; vivos ou mortos, não se renderão. Eles não acreditam, nem necessariamente acreditavam, em um Passado Glorioso em oposição a um Admirável Mundo Novo, mas eles viram as calamidades do presente, crescendo dos erros do passado rumo às catástrofes do futuro. Eles estão isolados pela suspeita que os cerca. Eles são considerados desmancha-prazeres por não se unirem à apologia universal do Progresso. Eles se tornaram inflexíveis e apaixonados. Eles hão de carregar suas bandeiras até à morte, e suas bandeiras são muito antigas, muito altivas e muito honrosas.
Este é um artigo que encontrei certa vez na Internet por acaso e achei interessante. Ele continha vários defeitinhos de tradução e gramática, então fui corrigindo aos poucos até que acabei reescrevendo quase tudo. Ainda assim, pode haver falhas, cuja culpa assumo. Este artigo acabou por me apresentar ao pensamento de Erik von Kuehnelt-Leddihn, que se definia como "conservador extremo arqui-liberal" ou "liberal de extrema direita" (Wikipédia), e que é um defensor ferrenho da monarquia e adversário da democracia e da ditadura da maioria, e do homem-massa. Era um aristocrata austríaco que falava 8 línguas e lia em outras 17.
As críticas que ele faz na parte II, e mais aprofundadas na parte III, ao capitalismo privado foram posteriormente revistas. Em 1943 ele era ainda jovem e ao longo da vida se manteve sempre estudando e produzindo até 1999. Em dado momento no percurso ele mudou essa visão em particular. Como atesta este outro artigo que eu não traduzo por preguiça rsrs:
Erik von Kuehnelt-Leddihn is one thinker that suggested a Third Way when he was young, but eventually came to the conclusion that there is no Third Way possible that doesn’t lead to totalitarianism. Capitalism, properly understood, is not Big Business nor corporatism nor plutocracy. It is freedom and it is liberty. The Austrian School – Menger, Böhm-Bawerk, Mises, Hayek, Rothbard – convinced Kuehnelt-Leddihn of the errors of his ways.
“O credo de um reacionário”
1943, Erik von Kuehnelt-Leddihn
Tradução: Calib et al.
I
Eu não hesito em anunciar que sou um reacionário. Eu tenho um profundo orgulho disso. Não vejo mais razão em olhar para a frente, com esperança para um futuro desconhecido, ao invés de olhar para trás com nostalgia para valores conhecidos e comprovados.
O termo “reacionário”, na forma em que o uso, não representa um conjunto de ideias definitivo e imutável. Representa uma atitude de espírito. Como um reacionário, eu me ressinto e me oponho ao espírito e às modas da época em que sou obrigado a viver; e busco restaurar o espírito que teve a sua melhor personificação em períodos já passados.
As circunstâncias em que o termo “reacionário” é aplicado como um epíteto para fascistas e outras marcas do homem moderno — aos quais um verdadeiro reacionário tem apenas desprezo — não são minha culpa.
Como um reacionário honesto, eu naturalmente rejeito o nazismo, o comunismo, o fascismo e todas as ideologias relacionadas, que são, em verdade, um reductio ad absurdum da chamada democracia e do poder da massa. Eu rejeito os pressupostos absurdos do governo da maioria, o hócus-pócus parlamentar, o falso liberalismo materialista da Escola de Manchester e o falso conservadorismo dos grandes banqueiros e industrialistas. Eu abomino o centralismo e a uniformidade da vida em rebanho, o estúpido espírito de massa do racialismo, o capitalismo privado assim como o capitalismo de Estado (socialismo) que contribuíram para a ruína gradual da nossa civilização nos últimos dois séculos. O verdadeiro reacionário de hoje é um rebelde contra os pressupostos prevalecentes e um “radical” que nisso vai até as raízes.
Pessoalmente, sou um reacionário da Fé Cristã tradicional, com uma perspectiva liberal e com propensões agrárias. Onde tantos ao meu redor adoram o “novo”, eu respeito as formas e as instituições que têm crescido organicamente por um longo período de tempo. Os períodos que precederam as duas grandes tempestades — a Idade Média e a Renascença, terminadas pela Reforma; e o século XVIII, terminado pela Revolução Francesa — são ricos em formas e ideias de importância duradoura. A universalidade de um Nicolau de Cusa ou de um Alberto Magno, a glória da Catedral de Chartes e o barroco tardio da Áustria; figuras inspiradoras como Maria Teresa, Pascal, George Washington ou Leibniz fascinam-me mais que os três “homens comuns” do nosso tempo — Mussolini, Stalin e Hitler — ou que o esplendor democrático de uma loja de departamentos, ou que o vazio espiritual dos comícios comunistas e fascistas magnetizados por líderes em êxtase.
A nota introdutória a este declínio da civilização foi escrita por Martinho Lutero, que cultuava a nação, exaltava o Estado e vociferava contra os judeus; por aquele bárbaro real do trono inglês que suplantou o espírito católico do seu país com um provincianismo paralisante; pelo primeiro “moderno” — o genebrino que negou a base de toda a liberdade filosófica: o livre-arbítrio —; e pelo outro genebrino, que pregava o retorno à selva e a um barbarismo idílico. Estes quatro cavaleiros — Lutero, Henrique VIII, Calvino e Rousseau — eram apenas os arautos das coisas mais fatídicas que estavam por vir. O desastre final foi quando, na Revolução Francesa, diante do eterno dilema de escolher entre liberdade e igualdade, decidiu-se pela igualdade. A guilhotina e os magistrados de Estrasburgo, que decretaram que a torre da catedral fosse demolida porque estava acima do nível igualitário de todas as outras casas, são símbolos eternos do modernismo e do “progresso” perverso.
As massas, formando maiorias organizadas e abraçando ideias idênticas e odiando uniformemente todos aqueles que ousam ser diferentes, são o produto atual dessas várias revoltas. O padre e o judeu, o aristocrata e o mendigo, o gênio e o imbecil, o inconformista político e o explorador filosófico — todos estão na lista dos proscritos. O rebanho manda hoje em quase todos os lugares, com diversos meios e sob os mais diversos rótulos. É a essa tirania que eu me oponho.
II
Como um reacionário, acredito em liberdade, mas não em igualdade. A única igualdade que posso aceitar é a igualdade espiritual de dois bebês recém-nascidos, independentemente da cor, do credo ou da raça de seus pais. Não aceito nem o igualitarismo degradante dos “democratas”, nem as divisões artificiais do racistas, nem as distinções de classe dos comunistas e esnobes.
Seres humanos são únicos. Eles devem ter a oportunidade de desenvolver suas personalidades — e isso significa responsabilidade, sofrimento, solidão. Eu não apenas gosto do princípio da monarquia como também gosto de todas as pessoas coroadas. E há todos os tipos de coroas, a mais nobre delas feita de espinhos. O Homem Moderno — este dócil animal, “cooperativo” e urbanizado — não é a preferência de um reacionário.
Eu acredito na família, na hierarquia natural dentro da família e no abismo natural entre os sexos. Eu amo os velhos cheios de dignidade e pais orgulhosos, mas também adoro crianças corajosas e honestas. Em uma hierarquia o membro mais inferior é funcionalmente tão importante quanto o mais elevado. E o abismo entre os homens e as mulheres me parece uma coisa boa também; não há triunfo na construção de uma ponte sobre uma mera poça.
Eu gosto de pessoas com propriedades. Não fico nada entusiasmado com o camarada sem raízes num prédio de apartamentos, com um número social como sua principal distinção. Eu detesto o capitalismo que concentra a propriedade na mão de uns poucos, não menos do que o socialismo que deseja transferi-la para o grande ninguém, uma hidra com um milhão de cabeças e sem alma: Sociedade. Gosto de pessoas com sua própria morada, com seus próprios campos, com seus próprios pontos de vista levando-os a ações independentes. Eu tenho medo da massa: os 51 por cento que votaram em Hitler e Hugenberg; a multidão em frenesi que apoiou o Terror Francês; os 55 por cento de brancos dos Estados do Sul que mantiveram os 45 por cento de negros “em seu lugar” com a ajuda de tochas e cordas.
Eu temo todas as massas que consistem de homens com medo de serem únicos, de serem pessoas; se importando mais com segurança do que liberdade, temendo seus vizinhos ou a “comunidade” mais do que a Deus e suas consciências. Essas são pessoas que exigem não somente igualdade, mas também identidade. Suspeitam de qualquer um que se atreva a ser diferente. Querem apenas os “ordinary, decent chaps” no estilo inglês, os “regular guys” ao modo americano ou os “rechte Kerle” segundo o padrão alemão. O Homem Moderno parece ter um só desejo: ver tudo moldado à sua própria imagem; ele detesta personalidade e quer assimilar. O que ele não consegue assimilar, ele extirpa. Toda a nossa época é marcada por um vasto sistema de instrumentos de nivelamento e assimilação composto de escolas, propagandas, quartéis, bens massificados, e jornais, livros e ideias produzidos em massa. O lado mais sombrio desse processo pode ser visto no ostracismo social praticado contra as minorias nas democracias pseudoliberais; nos abatedouros humanos e campos de concentração das nações totalitárias superdemocráticas; nos fluxos intermináveis de refugiados sem-teto vagando sem rumo em todo o mundo. O Homem Comum em qualquer aglomeração é impiedoso, inteiramente falto de generosidade.
A liberdade, afinal, é um ideal aristocrático. Em Washington, bem em frente à Casa Branca, na Jackson Square, há um simbolo maravilhoso: o monumento ao primeiro igualitário americano cercado pelas estátuas de quatro nobres europeus que vieram para a América lutar pela liberdade e não pela identidade — o nobre polaco-lituano Kosciuszko, o Barão von Steuben, o Conde de Rochambeau e o Marquês de Lafayette. O Barão de Kalb é comemorado em outro lugar, e o nome do Conde Pulaski agracia uma estrada em Nova Jersey e uma estátua em Savannah. Pulaski foi o único general morto no Grande Levante dos Whigs americanos. Nós, reacionários (quer saibamos ou não), somos todos Whigs. Nossa tradição, em países de língua inglesa, repousa sobre a Carta Magna, que só os ignorantes chamariam de “democrática”.
Eu não tenho apreço pelo “liberalismo” do século XIX, com seu materialismo grosseiro e a crença pagã na “sobrevivência do mais apto”, isto é, do mais inescrupuloso. Nas condições europeias, eu sou naturalmente um monarquista, porque a monarquia é, basicamente, supra-racial e supra-nacional. Não somente as instituições livres sobreviveram melhor nas monarquias do Noroeste europeu do que no coração republicano do continente, mas nas áreas de mistura étnica da Europa central e oriental devem preferir-se os monarcas de origem estrangeira, com esposas, e mães, e genros e noras estrangeiros ao invés de “líderes” políticos que pertençam apaixonadamente a específicas nacionalidades, classes, partidos.
Eu me sinto mais livre submetido a um homem que não foi a escolha de ninguém do que a um homem nomeado pela maioria, seguindo cega as suas inflamadas emoções. Voltaire teve maior chance de influenciar as cortes de Paris, Potsdam e São Petersburgo do que um Dawson, um Sorokin, um Ferrero ou um Bernanos têm de influenciar as massas “democráticas”. Os monarcas europeus igualaram-se intelectual e moralmente aos seus epígonos republicanos de cartola. Os Bourbons com certeza são comparáveis favoravelmente aos politicos das três Repúblicas Francesas. Os Fühers da era totalitária têm sido muitas vezes, é claro, mais “brilhantes” e bem-sucedidos porque menos escrupulosos. Apoiados por plebiscitos cuidadosamente encenados, eles sentem-se justificados a comprazer-se com matanças que nenhum Bourbon, Habsburg ou Hohenzollern teria arriscado. Platão nos disse, mais de dois mil anos atrás, que a democracia degenera-se inevitavelmente em ditaduras, e Toccqueville reenfatizou isso em 1835. A maioria dos idiotas, de ambos os lados do Atlântico, continua a confundir democracia com liberalismo, dois elementos que podem, ou não, coexistir. Uma “proibição” apoiada por 51 por cento do eleitorado pode ser muito democrática, mas é dificilmente liberal.
III
O que nós reacionários queremos é liberdade e diversidade. Nós acreditamos que existe uma força peculiar na diversidade. Santo Estêvão, Rei da Hungria, disse a seu filho: “Um reino de apenas uma língua e um só costume é tolo e frágil”. Isso é contrário à crença supersticiosa demo-totalitária de nossos tempos de uniformidade. Os fascistas italianos, que destruíram todas as instituições culturais dos não-italianos, encontraram imitadores nos Tecnocratas arrojados e progressistas que bradaram, uma vez que esta guerra chegara à América, pelo confisco de toda a impressa de língua estrangeira.
Como um reacionário, eu gosto de patriotas, que ficam entusiasmados com a sua pátria, sua terra natal; e não gosto de nacionalistas, que ficam excitados com sua língua e com seu sangue. O reacionário defende a ideia de solo e liberdade, ele luta contra o complexo de sangue e igualdade.
Como um reacionário, eu possuo opiniões definitivas como também opiniões provisórias. “Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, a caridade” é um bom programa reacionário. Se eu considerar algo como sendo a Verdade, eu desconsidero toda opinião em contrário. Mas discordo de alguns eclesiásticos medievais ou dos conservadores de visão curta, que acreditavam que o erro pode ser combatido pela força. Qualquer erradicação meticulosa de erro por meios artificiais (sempre dirigida contra pessoas e não contra a ideia em si) acaba fazendo a Verdade ser intragável, obsoleta e desinteressante. Como reacionário, respeito qualquer pessoa que, com coragem e sinceridade, mantenha visões errôneas, embora seguindo sua consciência. Eu tenho infinitamente mais respeito por um anarquista fanático catalão, um judeu ortodoxo, um calvinista linha-dura, do que por um humanitário pseudo-liberal com uma secreta veneração pelo estado onipotente. Um verdadeiro reacionário é um homem de fé absoluta e generosidade absoluta. Ele concilia dogma e liberdade.
Como um reacionário, eu gostaria de ver materializadas neste país mais ideias antidemocráticas dos Pais Fundadores. De fato, poucos escritores europeus fulminaram com mais veemência contra o “demos” [povo] do que Madison, Hamilton, Marshall, John Adams ou mesmo Jefferson, que esteve do lado da aristocracia do mérito, não pelo governo da massa. No entanto, o centralismo de Hamilton é basicamente esquerdista. Nem aqui nem na Europa isso deve prevalecer. O que precisamos de ambos os lados do Atlântico é mais uma atitude pessoal. Colossialismo e coletivismo são o inimigo. Um agricultor Schmidt de Hindelang, por exemplo, deve antes de tudo ter orgulho de ser o chefe de uma família, o dono de uma fazenda e então de ser um morador de Hindelang. Após uma reflexão mais profunda, ele deve ter orgulho de ser um camponês do vale do Allgäu e também por ser bávaro. Seu germanismo deveria ser uma unidade mística no próprio horizonte de seus pensamentos. Mas a tendência moderna é a de estabelecer uma hierarquia de lealdades no sentido inverso. A ênfase nazista em noventa milhões de alemães, a ênfase Soviética sobre “as massas”, a identificação de “maior” com “melhor”, revelam a nossa degradação expressa no culto à quantidade, o nosso desprezo pela pessoa, toda a nossa desesperança moderna pela singularidade humana.
Eu defendo que o Estado, as empresas e as fábricas são os grandes escravistas do nosso tempo. Fulano trabalha como o seu antepassado espiritual, o servo medieval, um dia e meio por semana para o seu senhorio. De quatro cheques semanais, ele entrega pelo menos um para a empresa que lhe aluga o seu habitat. Se não o fizer, resultará em desapropriação, uma ameaça desconhecida para o servo feudal do século XIII. Na fábrica ele trabalha, não como um membro da guilda, para investidores desconhecidos, bem como para líderes sindicais corruptos, se não mesmo, como na U.R.S.S., para uma combinação leviatânica de Estado e Sociedade. Os trabalhadores deveriam possuir as ferramentas de produção; não há qualquer razão possível para que eles não possuam as fábricas num sentido literal ou sejam titulares de todas as ações comercializadas a partir de certo ponto. Uma usina pode ser uma comunidade viva não menos do que uma oficina medieval.
Eu gosto da gente livre que com frequência é “retrógrada”, como os tiroleses, os montanheses suíços, os escoceses, os navarros, os bascos, os sisudos camponeses dos Bálcãs, os curdos. Eles escaparam do mal menor da servidão na Idade Média e do mal maior da urbanização nos tempos modernos. Eles são bastante reacionários, conservadores e amantes da liberdade. Eles podem dar-se ao luxo de serem conservadores porque sua cultura está fora de sintonia com os tempos modernos; o que eles possuem vale a pena preservar. O conservador urbano, por outro lado, não é senão um “progressista” inibido.
Eu acredito no homem de excelência, no homem de dever, contra o Homem Comum cuja única força está nos números, cuja manifestação política está submissa às “convicções” pré-fabricadas ou a “líderes” os quais, diferente dos “governantes”, não se diferem das massas, mas personificam todos os seus piores traços.
Hoje, um punhado de genuínos reacionários carrega o fardo da luta contra o super-progressismo em sua forma totalitária. Eles sabem que a democracia enquanto força não pode lidar com os totalitários; formas embrionárias não podem ter sucesso contra as suas manifestações mais maduras. Platão, Tocqueville, Donoso Cortés, Burckhardt, todos eles sabiam disso. A democracia progressista, como o pseudo-liberalismo, nada mais é que uma Gironda, uma precursora do Terror.
Entre esse punhado estão Winston Churchill e o Conde Galen, o Conde Preysing e von Faulhaber, Niemöller e Georges Bermanos, Giraud e d’Ormesson, o Conde Teleki, Calvo Sotelo, Schuschnigg e Edgar Jung. Nenhum deles fez concessões à perversidade seja da Gironda ou do Terror em suas formas modernas; vivos ou mortos, não se renderão. Eles não acreditam, nem necessariamente acreditavam, em um Passado Glorioso em oposição a um Admirável Mundo Novo, mas eles viram as calamidades do presente, crescendo dos erros do passado rumo às catástrofes do futuro. Eles estão isolados pela suspeita que os cerca. Eles são considerados desmancha-prazeres por não se unirem à apologia universal do Progresso. Eles se tornaram inflexíveis e apaixonados. Eles hão de carregar suas bandeiras até à morte, e suas bandeiras são muito antigas, muito altivas e muito honrosas.
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