Ranza
Macaco
Cara, lendo a coluna do Rodrigo Constantino hoje me deparei com esse discurso, achei bem interessante a intenção dele e gostaria de ouvir a opinião de vocês.
Antes de tudo peço que se atenham ao texto em si, e não a fonte.
Antes de tudo peço que se atenham ao texto em si, e não a fonte.
O Dr. César Augusto Dartora é professor no curso de Engenharia Elétrica da UFPR e foi escolhido como paraninfo da turma que colou grau em 6 de março deste ano. É também leitor deste blog, e me mandou seu discurso por email. Gostei muito. Faltam professores com a coragem de dizer certas verdades. O fato de não ser da área de humanas sem dúvida ajuda, pois é bem menos contaminada pelo esquerdismo. Ainda assim, merece reprodução. Segue o discurso praticamente na íntegra:
Em minha conduta como docente priorizo a transmissão do conhecimento técnico-científico, que entendo ser meu dever enquanto formador de profissionais engenheiros, raramente desviando-me do foco técnico-científico já citado, para tratar de questões político-filosóficas. Grande parte das pessoas, inclusive dentro do meio acadêmico, procuram dar a estas últimas um viés puramente ideológico, doutrinário e desprovido de razão, fazendo de seus dogmas filosóficos e políticos meras seitas religiosas, pretensamente pautadas na razão e levando a um falso cientificismo. Eu, por outro lado, entendo que sempre que possível devemos submeter nossos dogmas e ideias à luz da razão e da ciência.
O método científico é a mais preciosa ferramenta já desenvolvida pelo intelecto humano. Ele é superior a todas as outras formas de conhecimento já gerados pela humanidade, porque é provido de lógica e livre da possibilidade de sofismas ou falsos silogismos. Segundo Karl Popper, a hipótese científica deve ser dotada de uma propriedade fundamental: A refutabilidade. Nenhuma hipótese que não possa de algum modo, ser testada, seja pela lógica matemática ou pela experiência, e desse modo validada ou refutada, é científica. A Engenharia está assentada sobre os alicerces das ciências exatas e naturais, e portanto, só pode conviver com as hipóteses ditas científicas. É portanto, dever do Engenheiro, portar-se de forma a investigar e analisar os fatos sob o viés técnico-científico.
Nenhum cientista, categoria a qual pertencem os engenheiros, deve ser fundamentalista, seguindo dogmas que não encontram amparo na lógica científica e na experiência. Suas teses e formulações devem ser passíveis de teste. Não devemos nos esquecer ainda de manter uma conduta ética e moral em todas as nossas atividades.
No entanto, viceja no Brasil um relativismo moral e ético de tal natureza que já não são mais possíveis as comparações. É público e notório que a opinião politicamente correta acerca das culturas preconiza não haver na humanidade culturas superiores ou inferiores, apenas diferentes, condicionadas às épocas e aos meios em que foram geradas. Nada pode ser mais mentiroso! Existem culturas superiores sim! Desde os primórdios da humanidade, o homem busca comodidade, conforto e proteção para amenizar as agruras da vida na natureza selvagem e se precaver das intempéries. Já dizia Platão que “a necessidade é a mãe da invenção”. E o homem moderno tem infinitas necessidades, não havendo nada de errado com isso. Qual é o pecado em querer evoluir, ter maior conforto e possibilidade de prevenção contra forças da natureza, as quais, cada vez mais, estamos controlando? Nesse sentido é inegável a superioridade da cultura ocidental moderna, solidamente forjada no método científico, sobre todas as outras, umas focadas apenas em aspectos religiosos ou tribais, outras em puro conhecimento empírico e na ausência de método.
[...] O desenvolvimento da internet, da telefonia celular e smart-phones tem produzido uma verdadeira revolução na forma como nos relacionamos com pessoas e empresas, criando um mundo totalmente impensável até mesmo na ficção científica de duas décadas atrás.
No entanto, é senso comum no Brasil dizer que somos explorados pelos países desenvolvidos, porque eles compram nossas commodities, como níquel, ferro, nióbio, petróleo e grãos, a preço de quase nada e nos devolvem produtos industrializados, de alto valor agregado do ponto de vista tecnológico, a preço de ouro! E deleitamo-nos a falar mal dos americanos e dos países desenvolvidos em geral! Bebendo Coca-Cola, comendo um Big Mac, enquanto digitamos uma mensagem qualquer no celular, é claro! E hoje não vivemos mais sem todas as bugigangas tecnológicas que na maior parte das vezes foram popularizadas por eles! E como elas facilitam nossas vidas! Mas há que ser dito! A troca que fazemos com os países desenvolvidos é muito justa! É graças àqueles que investiram em ciência e conhecimento que a qualidade de vida no mundo inteiro melhorou e vem melhorando gradativamente. É graças à cultura ocidental que tem como pedra fundamental hoje o método científico. De nada adianta ser fonte de todos os recursos naturais disponíveis e imagináveis do universo se não dispomos do conhecimento científico e tecnológico para fazer uso deles. E fomos nós mesmos que fizemos a escolha pela mediocridade, quando decidimos que educação e ciência não são importantes. Fizemos as escolhas erradas no passado e continuamos fazendo-as no presente.
[...] Nossos grandes cientistas nunca foram levados a sério. Disse o poeta Thomas Gray: “Onde a ignorância é felicidade, ser sábio é loucura!” Parece uma frase feita sob medida para o Brasil.Não investimos no futuro, o que sempre demanda sacrifícios. E ao invés de olharmos para o futuro, voltamos no tempo, tentamos reescrever a história criando comissões sem sentido como a tal Comissão da Verdade, para aplacar a sanha revanchista de falsos democratas de 1964, e aqui não vai nenhum elogio ao nefasto golpe. Qual o preço a pagar pelas futuras gerações por essa negligência?
Nós tivemos aqui pioneiros com Landell de Moura, César Lattes, Santos Dummont, Carlos Chagas. Mas em praticamente todas as áreas representativas da economia, ciência e cultura mundial, nós não estamos na vanguarda. A ciência não é levada a sério. Quem prosperou por essas bandas foi Charles Miller. Preferimos a criatividade dos que vivem da bola e usam chuteiras. Afinal somos o país do futebol. Confundimos o famoso jeitinho e a gambiarra, frutos da falta de planejamento, com criatividade. Há até estudos acadêmicos, acreditem, enaltecendo a gambiarra! Em nome da nossa cultura apenas diferente e da doutrinação ideológica, nossos alunos não são incentivados a ler Sócrates, Platão, Monteiro Lobato ou ouvir Mozart e Bethoveen. Beatles é música de estrangeiro, temos que valorizar o funk e artistas sem sal e sem conteúdo como Caetano Veloso e outros tais, endeusados pela mídia ufanista. Nossos estudantes lêem Marx em lugar de Adam Smith, conhecem Neymar, Michel Teló, Gilberto Gil e José Sarney mas não sabem quem foram Newton, Bohr, Feynman, Faraday, Beethoven, Shakespeare, Lennon e McCartney. Alguns dogmas propagados pelos vanguardistas da educação, muitos dos quais nunca ministraram uma única aula, nos incutem a falsa ideia de que criatividade e imaginação são mais importantes do que o conhecimento. Pois eu afirmo: só há espaço para criatividade e imaginação quando dominamos plenamente uma área de conhecimento. Não há gênio sem imensa carga de trabalho e transpiração. Mas nossas escolas se tornaram locais de discussões puramente conceituais. Avaliar o aluno quanto ao domínio das técnicas essenciais de leitura, escrita e cálculos matemáticos parece ser mais constrangedor do que deixá-lo analfabeto funcional, pois uma reprovação vai ferir seus sentimentos! É indigno, na visão de alguns, ter que meter a mão na massa, fazer cálculos, treinar, enfim, seguir a cartilha conservadora que tanto deu certo na questão da educação. Nossos alunos não são ensinados, são doutrinados.
Enquanto a educação definha com a falta de infraestrutura mínima, construímos estádios. Isso sim é importante, afinal somos o país do futebol e como nos ensinou o gênio Ronaldo, copa do mundo não se faz com escolas e hospitais, e sim com estádios! Quem precisa mesmo de leitos em hospitais e de investimento em saúde preventiva, saneamento básico, infraestrutura de estradas, portos e aeroportos? Pois eu vos digo: Vergonha não é perder a Copa em casa. Vergonha é ver que pessoas morrem na porta do hospital sem que se mova uma palha, enquanto o nosso dinheiro vai sendo jogado no esgoto em coisas supérfluas, quando não é desviado por corruptos. Vergonha é ter índices de homicídios maiores do que países em guerra civil. Até quando?
Deixo aqui uma lista de perguntas: Até quando a educação fundamental estará abandonada, formando ano a ano uma massa de analfabetos funcionais? Não será possível construir boas escolas, com padrão Fifa? Até quando teremos que ouvir de políticos promessas mirabolantes para resolver os mais simples problemas do dia-dia, sem nenhuma fundamentação técnica de viabilidade, apenas para garantir os votos da eleição? Quem não ouviu que teríamos metrô em praticamente todas as cidades de grande porte, mesmo sem precisar, que teríamos trem-bala e aeroportos de primeiro mundo? Até quanto vamos ter que discutir tragédias com data e hora marcada para acontecer, como a falta de água nos períodos de estiagem, os deslizamentos de terra e os alagamentos? Até quando a nossa indignação com algum fato vai durar somente até o telejornal do dia seguinte, diante de outro evento mais trágico ainda? Até quando vamos aturar esses políticos cujo único projeto é a perpetuação no poder e o enriquecimento dos seus grupos?
Eu confesso que quero viver em um lugar mais cartesiano e com maior planejamento, onde a gambiarra seja deixada de lado. Para isso, tenho a certeza de que a Universidade Federal do Paraná fez o máximo para torná-los excelentes Engenheiros Eletricistas. Ainda há esperanças! Está com vocês agora parte da responsabilidade de transformar esse país. A tarefa é árdua mas possível e aqui vão alguns conselhos.
Sejam corretos e façam a diferença para alguém. Amem o próximo verdadeiramente, cujo corolário é “não fazer aos outros o que não queres que façam contigo”. Ensinem a seus filhos que honestidade, retidão de caráter e boas maneiras não são virtudes e sim, obrigação. Tampouco se julguem investidos de virtudes morais superiores que os tornem tiranos perante familiares, amigos e demais pessoas.
Saibam que é preciso trabalhar muito, e para ser criativo é necessário sólido conhecimento. Por isso não deixem de aprender e se aperfeiçoar. Sejam tolerantes com as diferenças, porém firmes em suas ações e opiniões. Não se pode balançar ao sabor do vento e não é possível agradar a todos.
Defendam com rigor o método científico, e não se deixem enganar pela pseudo-ciência. Sempre amparados no método científico, quando suas ideias forem confrontadas, respondam com argumentos lógicos ou mudem de teoria, mas não usem da calúnia e a desqualificação pessoal para vencer o debate.
Não se deixem cegar pela falta de lógica e pelas paixões político-partidárias, clubísticas e religiosas. Combatam todo tipo de fundamentalismo e totalitarismo, porque ninguém é dono de uma verdade única e imutável. Prezem pela liberdade e pela igualdade de condições para as pessoas, sabendo que existem limites para ambas.
Sejam humildes. Saibam valorizar suas conquistas e o valor da meritocracia, sempre dando o devido reconhecimento a quem lhes foi importante na caminhada, desde as pessoas que garantem a limpeza do seu local de trabalho até aqueles que estão acima de vocês em hierarquia e conhecimento. Sejam sensíveis aos que o cercam e, sempre que possível, mudem para melhor suas atitudes e comportamento. Permitam-se momentos de lazer, diversão e confraternização, sem excessos. E acima de tudo, sejam felizes.
Que Deus nos abençoe e tenhamos todos uma boa noite.