Boa discussão:
Men often read non-fiction books in the name of self-improvement – but many are reluctant to pick up works of fiction
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Li (com a ajuda do google tradutor) esse trem, ontem, porque o link apareceu no Twitter, e até pensei em trazer para o fórum, mas aí eu teria de falar: "meninos, vocês fazem parte da bolha de homis que leem ficção, não é sobre vocês". E teria de fazer post sério, coisa que não se deve fazer nas férias, né, gente?
Eu acho que o artigo, para os homis do fórum, serve mais como uma brecha para que eles possam tentar visualizar um ambiente do qual não participam do que para oferecer algo com o que se identificar. E, nisso, acredito que a contextualização histórica da ficção como distração reservada às mulheres ajuda-nos a entender como os "mentores" do masculinismo se utilizam disso para desmerecerem a prática da leitura desses livros.
Repito: não é a realidade da bolha que habita o Literatura do fórum Valinor, o que não significa que não seja a realidade na qual boa parte dos homens está inserida e, vou além, na qual boa parte dos meninos e das meninas são socializados. E, aqui, entra um dos pontos de que mais gostei do artigo (mas que, claro, pode ser aprofundado); há que se fazer a associação entre a rejeição masculina aos livros de ficção e ao Capitalismo, uma vez que este visa ao lucro e, por conseguinte, é sempre utilitarista.
Sendo assim, se tempo é dinheiro, por que perder tempo lendo ficção se você pode ler livros sobre finanças e outras coisas que podem te trazer benefícios imediatos? O Capitalismo não compreende o ser humano em sua totalidade, e muito menos se importa com o seu bem-estar. Logo, quaisquer benefícios que a leitura de ficção possam propiciar ao indivíduo são irrelevantes para este sistema.
Na perspectiva da intersecção, que o artigo trouxe à baila, é impossível não mencionar que, novamente, fora da nossa bolha (agora, eu me coloco na bolha, meninos), quanto menor o poder aquisitivo e quanto mais retinta a pessoa (recorte de classe, gênero e raça é sempre importante, não para separar, mas para compreender e fortalecer a luta), mais vulnerável ela fica aos discursos alienantes. Sejam esses discursos de líderes religiosos (que fazem do "reino" um empreendimento; que adotam uma perspectiva bastante excludente para mulheres), de masculinistas, coachs, whatever.
Voltemos ao fato de que fomos/somos socializados de uma maneira extremamente machista, que prega que a ficção é "coisa de mulher e que homem não perde tempo com isso, porque tem mais o que fazer". O homi é pobre, ferrado, fodido. Aí um cara fala que ele precisa ler o livro "Como se tornar um empreendedor de sucesso". Soma-se à isso eni propagandas dos meios de comunicação para "empreender", porque o Capitalismo VENDE isso (ele lucra ao vender essas coisas, sabe?), e o fato de o contato com a literatura ter sido pouco/mínimo, porque estudou em uma escola pública na qual a professora teve calo na garganta porque os alunos faziam bagunça o tempo todo e, por mais que a professora tentasse ensinar, ela falava para as paredes, e mesmo que o cara se interessasse por literatura, o interesse foi sufocado pelos gritos dos seus colegas...
Acho que dá para a gente começar a pensar um pouco sobre o quão profundo é o buraco cujo artigo só toca na borda.
P.S.: Fiz um post QUASE sério. SOCORRO!