Fúria da cidade
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Videogame desde cedo
São 8h da manhã, e cerca de 20 crianças de baixa renda que moram no bairro de Pirituba, na Zona Norte de São Paulo, já estão em uma sala de aula equipada com computadores. Elas têm entre 9 e 14 anos e são loucas por jogos como "Fortnite" e "Free Fire", mas aqui a programação é outra. As crianças estão aprendendo a criar jogos usando o programa RPG Maker.
Se elas escolherem continuar nesse caminho de desenvolvimento de games, não será nada fácil: falta de equipamentos, pouco acesso a tecnologias e capacitação, oportunidades escassas no mercado e outras mil dificuldades por serem de uma região periférica.
A boa notícia é que ali mesmo eles têm exemplos de superação. Na periferia de São Paulo, desenvolvedores de games se organizam de forma independente para criar jogos que trazem influências de onde vivem. São manos e minas da quebrada que têm muito o que falar e mostrar por meio dos videogames.
Estúdio Game e Arte
"Eu tenho uma missão e não vou parar"
Tainá Felix, 29, e Jaderson Souza, 35, são dois desenvolvedores de jogos que cresceram também nas periferias da Zona Norte de São Paulo. Ele na Vila Zilda e ela, na Vila Iorio.
Uma vez por mês, eles dão aulas de criação de games em um Centro para Crianças e Adolescentes no Jardim Maristela, em São Paulo. Com o programa RPG Maker aberto nos computadores e com um tempo limitado de uma hora, os professores mostram como pode ser fácil para as crianças fazerem jogos simples só com um editor de mapas. Nas próximas aulas, vão começar a criar personagens. Até o final do ano, devem ter um jogo completo, de autoria própria.
Foi com o RPG Maker, aliás, que Tainá e Jaderson desenvolveram os dois games que lançaram como estúdio Game Arte: "A Nova Califórnia" (baseado no conto de Lima Barreto de mesmo nome) e "Amora". Ambos estão disponíveis no Steam, mas eles não pretendem criar o próximo Battle Royale de sucesso, muito menos o próximo jogo da moda que vai estar nos trending topics do Twitter.
O interesse deles está na criação de games como reflexo da vivência da periferia e de falar para aqueles que vivem nela. "Não é criar o próximo 'GTA', é criar algo relacionado ao seu bairro, ao que se vive", conta Jaderson.
Como obstáculos nessa quest dos dois estão os problemas sociais e dificuldade de acesso à cultura que a população periférica tem no dia-a-dia. De acordo com os dados da pesquisa Mapa da Desigualdade 2018, elaborada pelo Rede Nossa São Paulo, quando mais periférica é a região, pior é a qualidade de educação e cultura. Por exemplo, 53 dos 96 distritos da capital paulista não possuem nenhum tipo de centro ou espaço cultural.
André Lucas/UOL
"Tem que pagar?"
Como crianças e jovens dessas regiões periféricas jogam videogame? "O que a gente percebe quando a gente pergunta o que eles jogam, é que são jogos free-to-play. Sempre", responde Tainá. "A primeira pergunta, inclusive, que eles fazem é: 'tem que pagar?' porque a preocupação da criança da periferia tem a ver com falta de dinheiro".
Na aula de Tainá e Jaderson, "Free Fire" e "Fortnite" são os mais citados pelas crianças, em especial as versões de celular, que é o aparelho mais acessível para eles.
A questão monetária é também a razão por consoles como PlayStation 2 e Xbox 360 ainda serem bem populares nessas regiões, já que aceitam jogos piratas. Não é raro também ainda encontrar barraquinhas vendendo os jogos em feiras e mercados dos bairros.
"Quando eu trago o Xbox 360 eles falam: 'ah, eu tenho um desses, mas é desbloqueado'", conta Tainá. "Já quando vamos para outros lugares, em bairros mais privilegiados, as crianças não pensam no valor, porque não passa na cabeça delas se podem ou não comprar, elas simplesmente têm, porque alguém já comprou pra elas".
Tainá e Jaderson querem mudar, de alguma forma, essa realidade. É uma missão que eles estão lutando há 10 anos para cumprir, e não mostram nenhum sinal de que vão desistir.
Um menino de uns 10 anos chegou com uma nota de R$ 10 toda boladinha e falou: 'Tia, eu quero comprar um jogo'. E isso é superlegal, porque entre tantas outras coisas que ele poderia comprar no evento, ele gostou do nosso jogo e queria levar pra casa. Ele se viu ali.
Tainá Felix, Sobre o momento mais marcante do PerifaCon, evento de cultura pop realizado na periferia de São Paulo
André Lucas/UOL
Pixjuice
"Meu estilo é pesado e faz tremer o chão"
O game designer José Wilson, 32, ou simplesmente Zé, acredita que jogos são um meio para falar de contextos sociais e de realidades. E é para mostrar um pouco das suas vivências nas periferias que ele está desenvolvendo, junto com o amigo Viktor Eisenmann e em parceria com o estúdio Sue the Real, o jogo de ritmo com batalhas de beatbox "One Beat Min".
Zé conversou com o START no Centro Cultural São Paulo, onde muitos jovens praticam dança de rua e beatbox. Porém, ele cresceu bem longe dali, no bairro Mutinga, no extremo oeste de Osasco.
Foi na periferia da cidade metropolitana que ele conheceu a cultura Hip Hop e até se arriscou como B-Boy por um tempo. Nas tardes dos anos 90, frequentava as locadoras de videogame. Com o tempo, esses dois elementos foram se juntando em seu dia-a-dia.
Eu gostava dos jogos de luta que tinham personagens mais urbanos. Por exemplo, no 'Tekken 3', o Eddy Gordo era bem popular, e no 'The King of Fighters' o pessoal do fliperama se identificava com o Heavy D
José Wilson, criador do game "One Beat Min"
Heavy D, aliás, tem esse nome em homenagem a um rapper Jamaicano, e Gordo era o boneco brasileiro que lutava capoeira. Não por coincidência, ambos são um dos poucos personagens negros em seus jogos.
"Quando eu comecei a estudar design de jogos e olhar a produção com um olhar de desenvolvedor, eu percebi que esses personagens representavam minorias e fui por isso que pensei em criar um jogo que tivesse a temática desse universo que já conheço", diz o desenvolvedor.
Hoje um B-Boy aposentado, ele está utilizando a criação de "One Beat Min" tanto como uma forma de expressar essa cultura típica das periferias em que cresceu, quanto para se reconectar a elas.
Por causa do jogo, Zé voltou a frequentar as batalhas de beatbox e B-Boys que acontecem na periferia, e passou a transportar esses ambientes para os cenários do jogo: das festas até os campeonatos e freestyle que acontecem nas ruas.
Um dos meus melhores amigos, no começo da adolescência, tinha muito interesse em desmontar coisas e começou a ajudar o dono da locadora a fazer reparos em consoles. Aí eu passava a tarde inteira lá com ele. O grande hit da locadora era 'Resident Evil 1' e muita gente se ajudava nos enigmas, porque ninguém sabia ler em inglês
Zé, Diretor criativo da Pixjuice, sobre sua vivência com games na periferia de Osasco
Estúdio Sue The Real
"A fúria negra ressuscita outra vez"
Raquel Motta, 23, Marcos Silva, 26, e Larissa Melo, 25, querem fazer jogos para pessoas pretas. Assim nasceu o estúdio Sue The Real, com a proposta de criar games "que falem sobre as vivências afro-brasileiras", segundo eles. Os jogos que atualmente estão produzindo mostram isso: "Angola Janga: Picada dos Sonhos" e "Aya e seu Lindo Black Power".
Os jogos não precisam estar restritos a questão de raça, mas também é uma das pautas principais
Marcos Silva, do estúdio Sue The Real
O tema, querendo ou não, também representa a cultura periférica. De acordo com um levantamento de 2015 da Secretaria Municipal de Promoção e Igualdade Racial de São Paulo, a população negra está concentrada na periferia. Essa também é uma realidade em Guarulhos, onde Raquel e Marcos cresceram. Ela no bairro Inocoop e ele, no bairro Cocaia, ambas zonas periféricas da cidade.
Raquel e Marcos sabem que são uma minoria. Eles se sentiam assim quando cursavam Análise e Desenvolvimento de Sistemas em uma universidade no bairro Ipiranga, zona sudeste de São Paulo. Eles continuam se sentindo assim agora, como desenvolvedores.
Afinal, no Brasil, quantos criadores de jogos, youtubers ou streamers dedicados a games são negros?
Raquel conta o espanto das pessoas que, curiosas com os games do grupo, querem saber mais a respeito e chegam com perguntas nos eventos. Depois das explicações básicas, o choque. "A pessoa responde: 'caramba, tenho que arranjar um computador!", conta Raquel. "Então, se a pessoa não tem condições nem de ter um computador pra produzir aquilo que quer, como que vai chegar lá na frente e virar referência em algo que ela quer trabalhar?"
André Lucas/UOL
Perifa Pop
Apesar das dificuldades, iniciativas como o PerifaCon, em que o Sue The Real participou mostrando o jogo "Angola Janga", são exemplos de que há público para consumir cultura pop, principalmente quando eles se veem nesses produtos. Foi algo que Raquel sentiu bastante enquanto estavam lá: "O mais incrível da experiência foi ver muitas pessoas parando para olhar o jogo porque tinha um personagem negro, coisa que não veem frequentemente: um negro sendo o protagonista".
Marcos também cita como, na cultura pop em geral, está se falando e mostrando mais a cultura de povos negros. "De certa forma, o filme do Pantera Negra e a animação do Homem-Aranha (no Aranhaverso) ligaram uma chavezinha, e agora estão surgindo mais iniciativas com a temática negra".
Atualmente o estúdio está bastante empolgado com a possibilidade de expor seus jogos em Angola, na África. Para isso, eles estão realizando uma campanha para conseguir fundos para a viagem. Para eles, seria uma oportunidade de enriquecer ainda mais as temáticas afrodescendentes de seus jogos de agora e do futuro.
Quando eu era criança, lembro que tinha um bar do outro lado do bairro que tinha um fliperama com "Metal Slug". Eu sempre fazia questão de comprar o pão lá, porque iria sobrar uma moedinha pra eu jogar uma partida.
Marcos Silva, do estúdio Sue the Real, fala da sua lembrança mais afetiva com games
Os games da quebrada
https://start.uol.com.br/reportagen...s-na-periferia/index.htm#videogame-desde-cedo
São 8h da manhã, e cerca de 20 crianças de baixa renda que moram no bairro de Pirituba, na Zona Norte de São Paulo, já estão em uma sala de aula equipada com computadores. Elas têm entre 9 e 14 anos e são loucas por jogos como "Fortnite" e "Free Fire", mas aqui a programação é outra. As crianças estão aprendendo a criar jogos usando o programa RPG Maker.
Se elas escolherem continuar nesse caminho de desenvolvimento de games, não será nada fácil: falta de equipamentos, pouco acesso a tecnologias e capacitação, oportunidades escassas no mercado e outras mil dificuldades por serem de uma região periférica.
A boa notícia é que ali mesmo eles têm exemplos de superação. Na periferia de São Paulo, desenvolvedores de games se organizam de forma independente para criar jogos que trazem influências de onde vivem. São manos e minas da quebrada que têm muito o que falar e mostrar por meio dos videogames.
Estúdio Game e Arte
"Eu tenho uma missão e não vou parar"
Tainá Felix, 29, e Jaderson Souza, 35, são dois desenvolvedores de jogos que cresceram também nas periferias da Zona Norte de São Paulo. Ele na Vila Zilda e ela, na Vila Iorio.
Uma vez por mês, eles dão aulas de criação de games em um Centro para Crianças e Adolescentes no Jardim Maristela, em São Paulo. Com o programa RPG Maker aberto nos computadores e com um tempo limitado de uma hora, os professores mostram como pode ser fácil para as crianças fazerem jogos simples só com um editor de mapas. Nas próximas aulas, vão começar a criar personagens. Até o final do ano, devem ter um jogo completo, de autoria própria.
Foi com o RPG Maker, aliás, que Tainá e Jaderson desenvolveram os dois games que lançaram como estúdio Game Arte: "A Nova Califórnia" (baseado no conto de Lima Barreto de mesmo nome) e "Amora". Ambos estão disponíveis no Steam, mas eles não pretendem criar o próximo Battle Royale de sucesso, muito menos o próximo jogo da moda que vai estar nos trending topics do Twitter.
O interesse deles está na criação de games como reflexo da vivência da periferia e de falar para aqueles que vivem nela. "Não é criar o próximo 'GTA', é criar algo relacionado ao seu bairro, ao que se vive", conta Jaderson.
Como obstáculos nessa quest dos dois estão os problemas sociais e dificuldade de acesso à cultura que a população periférica tem no dia-a-dia. De acordo com os dados da pesquisa Mapa da Desigualdade 2018, elaborada pelo Rede Nossa São Paulo, quando mais periférica é a região, pior é a qualidade de educação e cultura. Por exemplo, 53 dos 96 distritos da capital paulista não possuem nenhum tipo de centro ou espaço cultural.
"Tem que pagar?"
Como crianças e jovens dessas regiões periféricas jogam videogame? "O que a gente percebe quando a gente pergunta o que eles jogam, é que são jogos free-to-play. Sempre", responde Tainá. "A primeira pergunta, inclusive, que eles fazem é: 'tem que pagar?' porque a preocupação da criança da periferia tem a ver com falta de dinheiro".
Na aula de Tainá e Jaderson, "Free Fire" e "Fortnite" são os mais citados pelas crianças, em especial as versões de celular, que é o aparelho mais acessível para eles.
A questão monetária é também a razão por consoles como PlayStation 2 e Xbox 360 ainda serem bem populares nessas regiões, já que aceitam jogos piratas. Não é raro também ainda encontrar barraquinhas vendendo os jogos em feiras e mercados dos bairros.
"Quando eu trago o Xbox 360 eles falam: 'ah, eu tenho um desses, mas é desbloqueado'", conta Tainá. "Já quando vamos para outros lugares, em bairros mais privilegiados, as crianças não pensam no valor, porque não passa na cabeça delas se podem ou não comprar, elas simplesmente têm, porque alguém já comprou pra elas".
Tainá e Jaderson querem mudar, de alguma forma, essa realidade. É uma missão que eles estão lutando há 10 anos para cumprir, e não mostram nenhum sinal de que vão desistir.
Um menino de uns 10 anos chegou com uma nota de R$ 10 toda boladinha e falou: 'Tia, eu quero comprar um jogo'. E isso é superlegal, porque entre tantas outras coisas que ele poderia comprar no evento, ele gostou do nosso jogo e queria levar pra casa. Ele se viu ali.
Tainá Felix, Sobre o momento mais marcante do PerifaCon, evento de cultura pop realizado na periferia de São Paulo
André Lucas/UOL
Pixjuice
"Meu estilo é pesado e faz tremer o chão"
O game designer José Wilson, 32, ou simplesmente Zé, acredita que jogos são um meio para falar de contextos sociais e de realidades. E é para mostrar um pouco das suas vivências nas periferias que ele está desenvolvendo, junto com o amigo Viktor Eisenmann e em parceria com o estúdio Sue the Real, o jogo de ritmo com batalhas de beatbox "One Beat Min".
Zé conversou com o START no Centro Cultural São Paulo, onde muitos jovens praticam dança de rua e beatbox. Porém, ele cresceu bem longe dali, no bairro Mutinga, no extremo oeste de Osasco.
Foi na periferia da cidade metropolitana que ele conheceu a cultura Hip Hop e até se arriscou como B-Boy por um tempo. Nas tardes dos anos 90, frequentava as locadoras de videogame. Com o tempo, esses dois elementos foram se juntando em seu dia-a-dia.
Eu gostava dos jogos de luta que tinham personagens mais urbanos. Por exemplo, no 'Tekken 3', o Eddy Gordo era bem popular, e no 'The King of Fighters' o pessoal do fliperama se identificava com o Heavy D
José Wilson, criador do game "One Beat Min"
Heavy D, aliás, tem esse nome em homenagem a um rapper Jamaicano, e Gordo era o boneco brasileiro que lutava capoeira. Não por coincidência, ambos são um dos poucos personagens negros em seus jogos.
"Quando eu comecei a estudar design de jogos e olhar a produção com um olhar de desenvolvedor, eu percebi que esses personagens representavam minorias e fui por isso que pensei em criar um jogo que tivesse a temática desse universo que já conheço", diz o desenvolvedor.
Hoje um B-Boy aposentado, ele está utilizando a criação de "One Beat Min" tanto como uma forma de expressar essa cultura típica das periferias em que cresceu, quanto para se reconectar a elas.
Por causa do jogo, Zé voltou a frequentar as batalhas de beatbox e B-Boys que acontecem na periferia, e passou a transportar esses ambientes para os cenários do jogo: das festas até os campeonatos e freestyle que acontecem nas ruas.
Um dos meus melhores amigos, no começo da adolescência, tinha muito interesse em desmontar coisas e começou a ajudar o dono da locadora a fazer reparos em consoles. Aí eu passava a tarde inteira lá com ele. O grande hit da locadora era 'Resident Evil 1' e muita gente se ajudava nos enigmas, porque ninguém sabia ler em inglês
Zé, Diretor criativo da Pixjuice, sobre sua vivência com games na periferia de Osasco
Estúdio Sue The Real
"A fúria negra ressuscita outra vez"
Raquel Motta, 23, Marcos Silva, 26, e Larissa Melo, 25, querem fazer jogos para pessoas pretas. Assim nasceu o estúdio Sue The Real, com a proposta de criar games "que falem sobre as vivências afro-brasileiras", segundo eles. Os jogos que atualmente estão produzindo mostram isso: "Angola Janga: Picada dos Sonhos" e "Aya e seu Lindo Black Power".
Os jogos não precisam estar restritos a questão de raça, mas também é uma das pautas principais
Marcos Silva, do estúdio Sue The Real
O tema, querendo ou não, também representa a cultura periférica. De acordo com um levantamento de 2015 da Secretaria Municipal de Promoção e Igualdade Racial de São Paulo, a população negra está concentrada na periferia. Essa também é uma realidade em Guarulhos, onde Raquel e Marcos cresceram. Ela no bairro Inocoop e ele, no bairro Cocaia, ambas zonas periféricas da cidade.
Raquel e Marcos sabem que são uma minoria. Eles se sentiam assim quando cursavam Análise e Desenvolvimento de Sistemas em uma universidade no bairro Ipiranga, zona sudeste de São Paulo. Eles continuam se sentindo assim agora, como desenvolvedores.
Afinal, no Brasil, quantos criadores de jogos, youtubers ou streamers dedicados a games são negros?
Raquel conta o espanto das pessoas que, curiosas com os games do grupo, querem saber mais a respeito e chegam com perguntas nos eventos. Depois das explicações básicas, o choque. "A pessoa responde: 'caramba, tenho que arranjar um computador!", conta Raquel. "Então, se a pessoa não tem condições nem de ter um computador pra produzir aquilo que quer, como que vai chegar lá na frente e virar referência em algo que ela quer trabalhar?"
Perifa Pop
Apesar das dificuldades, iniciativas como o PerifaCon, em que o Sue The Real participou mostrando o jogo "Angola Janga", são exemplos de que há público para consumir cultura pop, principalmente quando eles se veem nesses produtos. Foi algo que Raquel sentiu bastante enquanto estavam lá: "O mais incrível da experiência foi ver muitas pessoas parando para olhar o jogo porque tinha um personagem negro, coisa que não veem frequentemente: um negro sendo o protagonista".
Marcos também cita como, na cultura pop em geral, está se falando e mostrando mais a cultura de povos negros. "De certa forma, o filme do Pantera Negra e a animação do Homem-Aranha (no Aranhaverso) ligaram uma chavezinha, e agora estão surgindo mais iniciativas com a temática negra".
Atualmente o estúdio está bastante empolgado com a possibilidade de expor seus jogos em Angola, na África. Para isso, eles estão realizando uma campanha para conseguir fundos para a viagem. Para eles, seria uma oportunidade de enriquecer ainda mais as temáticas afrodescendentes de seus jogos de agora e do futuro.
Quando eu era criança, lembro que tinha um bar do outro lado do bairro que tinha um fliperama com "Metal Slug". Eu sempre fazia questão de comprar o pão lá, porque iria sobrar uma moedinha pra eu jogar uma partida.
Marcos Silva, do estúdio Sue the Real, fala da sua lembrança mais afetiva com games
Os games da quebrada
A Nova Califórnia - Game e Arte
Baseado no conto de mesmo nome escrito por Lima Barreto, o jogo acontece em 1910 em uma pequena cidade do Rio de Janeiro. A Nova Califórnia varia entre fases com furtividade para roubar túmulos (!) e outras em que se deve falar com personagens pelo cenário e buscar dicas para um enigma. Disponível para PC no Steam.
Imagem: Divulgação
Amora - Games e Arte
Um pequeno jogo sobre uma vampira que quer mostrar seu amor a um humano. O interessante é que a narrativa acontece com trechos de poesia nas telas de fases. Disponível para PC no Steam.
Imagem: Divulgação
One Beat Min - PixJiuce e Sue the Real
Um jogo de ritmo com batalhas de beatbox influenciado por games como "Parappa the Rapper", "Floor Kids" e o episódio "M.C Juju" do desenho Irmão do Jorel, que tem participação do Rapper Emicida. Mesmo ainda em desenvolvimento, o game já ganhou o prêmio BIG Starter, no BIG Festival de 2018. Uma demo deve ser lançada em breve.
Imagem: Divulgação
Angola Janga: Picada dos Sonhos - Sue the Real
No controle de um escravo em fuga, o objetivo é encontrar o caminho certo no mapa e superar tanto os perigos naturais quanto os Capitães-do-Mato. O jogo é baseado no quadrinho de mesmo nome feito por Marcelo D'Salete e foi finalista do edital KOHQ2 da SPCine em 2018. Uma demo mobile pode ser baixada na Google Play.
Imagem: Divulgação
Aya e seu Lindo Black Power - Sue the Real
Game ainda em desenvolvimento, será um Point and Click com foco em narrativa. O jogo vai tratar de racismo, bullying e cabelos que contam histórias de rainhas e princesas.
https://start.uol.com.br/reportagen...s-na-periferia/index.htm#videogame-desde-cedo