Tag: J. R. R. Tolkien

  • Retrospectiva Valinor 2007

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    2007 foi um excelente ano para os fãs de Tolkien: quando todos estavam achando que com a coleção e Oscar para o Retorno do Rei
    morreria todo ou qualquer interesse sobre Tolkien, bastante gente
    mostrou o contrário. Primeiro, com o lançamento de Children of Húrin
    (ainda sem tradução no Brasil), e agora no fim do ano, com a
    confirmação da produção de O Hobbit.

    Como vocês poderão ver ao longo desta restrospectiva, durante o ano que
    passou uma coisa ficou clara: as pessoas ainda querem mais da
    Terra-média, e ainda existem fãs tão apaixonados quanto aqueles que
    apareceram fantasiados em filas de pré-estréias. E a Valinor, como não
    poderia deixar de ser, cumpriu o papel de levar informação sobre
    Tolkien para todos, sejam os fãs antigos, sejam os novos fãs que estão
    chegando.

     
     
    JANEIRO: A briga entre Bob Shaye e Peter Jackson cai como uma bomba , acabando com qualquer esperança de que o diretor conduzisse O Hobbit.
    O ano também começou com algumas homenagens à Tolkien, seja batizando
    uma nova espécie descoberta como Gollum, ou apelidando uma nova galáxia
    de hobbit
    .

    FEVEREIRO: Se por um lado chega a má na notícia sobre o adiamento do desenvolvimento do jogo The Lord of the Rings: The White Council , por outro as notícias envolvendo o lançamento de Children of Húrin não paravam de chegar, especialmente as que divulgavam a capa e a arte de Alan Lee para a edição de luxo .

    MARÇO: Mais um bom mês para as obras, com a divulgação do conteúdo detalhado de Children of Húrin,
    além do anúncio de uma edição de luxo de O Hobbit lá fora. Em março
    também foi noticiada uma pesquisa que colocava O Senhor dos Anéis em
    segundo lugar entre os livros favoritos dos britânicos
    .

    ABRIL: Mês dos dois principais lançamentos relacionados à Tolkien de 2007. Chega às livrarias The Children of Húrin e também é lançado o MMORPG Lord Of The Rings Online . Ainda nos destaques do mês… Você já pensou em chamar seu filho de Lehgolaz?

    MAIO: No meio de rumores sobre quem poderá ser o novo diretor de O Hobbit e de novas informações sobre As Aventuras de Tom Bombadil , vem a triste notícia do falecimento do ilustrador Angus McBride .

    JUNHO: Tivemos o privilégio de publicar uma resenha sobre o tão
    comentado Musical O Senhor dos Anéis, sob o ponto de vista de um fã
    brasileiro
    . Além disso, a trilogia de PJ continuava rendendo
    notícias: O Senhor dos Anéis entrou na lista dos 100 melhores
    filmes americanos segundo a AFI
    , e a New Line seguia enroscada com
    problemas legais
    (e não só com Peter Jackson!).

    JULHO: Notícias pareciam mostrar que a novela sobre O Hobbit estava para chegar ao fim . E para os fãs, dois trabalhos novos: a divulgação do RC1 do Modo Tengwar Português – MTP3 e além desse, o livro The Frodo Franchise, que investigava como um filme virou uma máquina de fazer dinheiro.

    AGOSTO: É anunciada a idéia de desenvolver um jogo de tabuleiro para O Senhor dos Anéis. Surgem boatos de que Peter Jackson e Sam Raimi trabalhariam juntos em O Hobbit. O artigo "J.R.R. Tolkien" ganha destaque na Wikipédia, servindo como modelo de bom artigo.

    SETEMBRO: Sam Raimi joga um balde de água fria em quem estava espalhando o boato de que ele dirigiria O Hobbit,
    anunciando que não estava envolvido com a produção. É anunciado o cd
    com a trilha sonora completa de O Retorno do Rei
    (cujo lançamento saiu
    um pouco mais tarde do que o previsto) e a saga dos Hobbits da Ilha das
    Flores sofre uma reviravolta
    .

    OUTUBRO: O MMORPG The Lord of the Rings Online mostra
    novos recursos
    que fazem do jogo algo completamente diferente do que já
    foi visto, especialmente quando o aproxima do Second Life. E uma vez
    que o EW parecia anunciar que a paz tinha retornado à Terra-média
    , por
    que não comemorar fazendo uma cirurgia para ter orelhas de elfos?

    NOVEMBRO: E os dois grandes lançamentos continuam sendo notícia juntos: enquanto a HarperCollins lança uma edição de luxo para Children of Húrin, The Lord of the Rings Online ganha como melhor jogo para computador de 2007. Além disso, é lançado The History of the Hobbit, de John D. Rateliff. Mais um livro mostrando que o interesse na obra de Tolkien continua vivo.


    DEZEMBRO
    : Se por um lado Zaentz e New Line voltam ao Tribunal, por
    outro, finalmente, chega a notícia que todos queriam ouvir desde que
    começou a briga de Peter Jackson com a New Line. Paz oficialmente
    selada e, o que é ainda melhor, a produção de O Hobbit é anunciada
    , incluindo Peter Jackson. Para coroar este excelente ano, The Children of Húrin aparece na lista dos melhores lançamentos de 2007.

    E é isso aí. Que 2008 traga notícias ainda mais doces para todos nós =D

  • The Father Christmas Letters

    Carta de 1925
    A cada dezembro um envelope selado no Pólo Norte chegava para os filhos de J. R. R. Tolkien. Dentro estava uma carta escrita com uma estranha caligrafia tremida e belos desenhos e rascunhos. As cartas eram do Papai Noel. Elas contavam fantásticas histórias do Pólo Norte e continuaram de 1920 até 1943. A coleção de cartas foi publicada em 1976 com a edição de Baillie Tolkien, a segunda esposa de Christopher Tolkien.
     
     
    John Francis Reuel Tolkien recebeu sua primeira carta do Papai Noel
    (Father Christmas) ‘datada’ de 22 de dezembro de 1920, na Rua Alfred 1,
    St Giles, Oxford. Papai Noel aparentemente escutou John perguntando a
    seu pai como Papai Noel era e onde ele vivia e escreveu uma carta
    explicando esses detalhes, em uma caligrafia limpa, mas tremida, que
    Tolkien manteve por muitos anos. A carta veio com um belo
    "auto-retrato" auarelado do Papai Noel com uma imagem de sua casa logo
    abaixo. Os selos do Papai Noel são do Correio do Pólo Norte (North Pole
    Post), e cada carta veio em um envelope escrito com capricho. Algumas
    vezes ele assinava como Fr. Nicholas Christmas (Papai Nicolau Natal).

    Selo do Pólo Norte
    Em 23 de dezembro de 1924, Michael Hilary Tolkien recebeu sua primeira
    carta do Papai Noel, e com o nascimento dos outros filhos
    ele acrescentou Christopher e Priscilla. Outro personagem, o Urso do Pólo
    Norte foi acrescentado logo, com cada carta contendo anedotas dos
    problemas e logística da preparação do Natal. Todas as cartas foram
    ilustradas com aquarelas, com desenhos adicionais acrescentados para
    ilustrar eventos particularmente interessantes na preparação natalina.
    As cartas seguem o nascimentos dos filhos e sua mudança para Leeds e de
    volta a Oxford.

    Em 1932, quando a Europa estava começando a ficar perigosa, os Goblins
    são mencionados pela primeira vez nas cartas, que de fato é uma
    história curta sobre um ataque goblin; e em 1933, o Papai Noel escreve
    "Goblins. O pior ataque que tivemos em séculos. Eles estão
    temerosamente selvagens e raivosos desde que recuperamos os brinquedos
    roubados no ano passado e jogamos fumaça verde."
    A ilustração desta
    carta mostra o Urso do Pólo Norte e os Gnomos Vermelhos lidando com os
    goblins (mesmo estando em menor número). Em 1936, o alfabeto Goblin foi
    enviado junto com a carta.

    Carta de 1933, com o Ataque Goblin
    1934 marca a primeira menção a Priscilla Tolkien, que foi a razão pela
    qual  dois parentes do Urso do Pólo Norte apareceram para ficar na Casa
    do Penhasco (residência do Papai Noel). John e Michael, tendo crescido,
    não mais recebiam cartas do Papai Noel. Papai Noel estava ficando velho
    então contratou um ajudante – um Elfo chamado Ilbereth. Isto poupou
    Tolkien de ter que escrever com a mão tremida de Papai Noel, e a carta
    de 1937 tem uma frase curta em élfico.

    Em 1939 os problemas em conseguir matéria-prima para os presentes de
    Natal perturbaram Papai Noel. Suas cartas agora eram endereçadas apenas
    a Priscilla Mary R Tolkien. As cartas do Papai Noel continuaram até
    1943 e o Urso do Pólo Norte melhorou sua caligrafia para uma espécie de
    escrita rúnica.

  • Brinde o Aniversário de Tolkien em 2008

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    A Tolkien Society deu a largada oficial para a versão 2008 de seu já tradicional Brinde de Aniversário de Tolkien. Reproduzindo as informações da página:
     
     
    Em 3 de janeiro de 1892 J. R. R. Tolkien nasceu em Bloemfontein, África do Sul. Para celebrar este evento, neste dia a cada ano fãs de Tolkien do mundo todo são convidados a erguer um copo e brindar o aniversário deste muito querido autor.

    O brinde é "O Professor".

    Para aqueles que não estão familiarizados com as cerimônias britânicas de brindar: para fazer um Brinde de Aniversário, você se levanta, ergue um copo da bebida de sua escolha (nã necessariamente alcoólica) e diz as palavras "O Professor" antes de tomar um pequeno gole (ou grande gole, se for mais ao seu tipo de bebida). Sente-se e aproveite o resto de sua bebida.

    A Tolkien Society também oferece um espaço para você registrar seu nome, país e bebida com a qual brindará e que pode ser acessado neste endereço (ah, eles também avisam que não apóiam o uso do álcool seele coloca em risco a saúde ou segurança do bebedor e de outros, ou é contra a lei)

    Portanto no dia 3 de janeiro de 2008 (uma quinta-feira de verão, com muito sol), faça seu Brinde de Aniversário. Inclusive aproveite para encontrar seus amigos e festejar, não só ao estilo britânico (um tanto sisudo, não?), mas também ao estilo brasileiro, com toda a festa e animação que este grande autor merece!

  • Sorteio Valinor: As Cartas de J. R. R. Tolkien

    As Cartas de J. R. R. Tolkien
    A Valinor e a Editora Arte & Letra estão sorteando um presentão de final de semana para você, fã de Tolkien e visitante da Valinor: um exemplar do livro As Cartas de J. R. R. Tolkien.

     

     

    Para concorrer é a  coisa mais simples do mundo. Basta ir ao endereço http://www.valinor.com.br/sorteios/cartas , preencher seus dados e torcer para que no dia 6 de janeiro de 2008 você seja o sortudo ganhador.

    Para quem não conhece, As Cartas de J. R. R. Tolkien
    é um dos livros
    mais importantes para todo fã de Tolkien que se preze e que queira entender um pouco mais sobre este
    mundo maravilhoso criado por este grande autor. O livro foi lançado no Brasil pela Editora Arte & Letra com
    tradução de Gabriel O. Brum (da Equipe Valinor e responsável pela
    Ardalambion e
    Meu Nome Élfico).
    Leia mais sobre As Cartas de J. R. R. Tolkien na Valinor

  • FAQ de As Cartas de J.R.R. Tolkien

    As Cartas de J.R.R. Tolkien, da editora Arte & Letra
    Este documento é uma compilação de FAQ (do inglês Frequently Asked Questions ou, em português, Questões Frequentemente Perguntadas), ou questões que podem ser perguntados, sobre as obras de J.R.R. Tolkien,
    todas respondidas (ou pelo menos citadas) pelo próprio Tolkien em suas próprias palavras como publicado no As Cartas de J.R.R. Tolkien de Humphrey Carpenter. Não há respostas aqui – apenas o número das cartas que respondem a questão. Se você já é familiar com o livro, então pode querer pular os próximos parágrafos e seguir ás questões. Se você ainda não leu ou não comprou este livro, então continue lendo.

    Leia mais

  • Mais um mestrado explora o mundo de Tolkien

    É com prazer que volto às páginas da Valinor para anunciar mais um trabalho acadêmico de qualidade a abordar a obra do Professor. Trata-se de uma dissertação de mestrado que mostra como funciona a tradução do Livro Vermelho em "O Senhor dos Anéis".

     

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    A pesquisa foi realizada na FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP) por Dircilene Fernandes Gonçalves. Fomos colegas de mestrado — a orientadora de Dircilene também foi Lenita Rimoli Esteves, tradutora da atual edição brasileira de "O Senhor dos Anéis".

    Talvez seja preciso explicar melhor o que a gente quer dizer com "tradução" — e não é a tradução do inglês de Tolkien para o português do Brasil. Acontece que, embora os leitores mais desatentos às vezes não percebam, o Professor se utiliza da chamada "ficção da tradução", um recurso literário antigo e muito difundido. Ele simplesmente "finge" que o SdA não foi escrito por ele, mas sim traduzido a partir de um antigo original que ele teria redescoberto.

    O original, no caso, é o Livro Vermelho do Marco Ocidental, relato das aventuras de Bilbo e da Guerra do Anel escrito a "seis mãos" por Bilbo, Frodo e Sam. Tolkien teria traduzido esse antigo manuscrito, transformando a suposta língua original, o westron, no inglês moderno. Isso explicaria porque os hobbits autores do livro "falam" inglês e tem sobrenomes ingleses — uma língua foi trocada pela outra.

    É claro que tudo isso não passa de uma construção engenhosa feita pelo autor, mas o importante é que ela passa a ser um elemento fundamental na criação de Tolkien — que tinha como um de seus objetivos criar um mundo que parecesse até assustadoramente real.

    O trabalho de Dircilene mostra justamente como isso acontece na prática, levantando detalhes como "correções" que Tolkien faz a seu texto original (escrito pelos hobbits, cujo conhecimento às vezes é limitado) e até traduções feitas dentro da própria obra. (É o caso da tradução "de cabeça" que Frodo faz do famoso poema de despedida de Galadriel, conhecido como Namárië.)

    Mas a dissertação também aborda uma série de outras questões intrigantes sobre a própria estrutura de "O Senhor dos Anéis", analisando também seu papel de mitologia e a maneira como ele retoma os antigos romances medievais. É um material até então praticamente inacessível para os leitores brasileiros, que vale a pena ser conhecido.

    Portanto, sem mais delongas, quem estiver interessado pode baixar o PDF completo da dissertação de mestrado, cujo título é "Pseudotradução, linguagem e fantasia em O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien". Basta clicar aqui. Você será redirecionado para a página de download.

    Ah, e antes que eu me esqueça, meus agradecimentos sinceros e profundos à Dircilene, cujo trabalho deve inspirar meu doutorado!

  • Os Filhos de Húrin / The Children of Húrin

    Os Filhos de Húrin (The Children of Húrin) é um romance de alta fantasia épica com origem em um
    conto inacabado de J.R.R. Tolkien, que escreveu a versão original da
    história no final da década de 1910, revisou-a inúmeras vezes depois
    disso, mas não a completo até sua morte em 1973. Seu filho, Christopher
    Tolkien, editou os manuscritos para formar uma narrativa consistente e
    o publicou em 2007 como um trabalho independente.

     

     
    Capa do Os Filhos de Húrin
    Os Filhos de Húrin foi publicado em 17 de abril de 2007, pela HarperCollins no Reino Unido e Canadá, e pela Houghton Mifflin nos Estados Unidos. Alan Lee, ilustrador de outras obras de fantasia de J.R.R. Tolkien (O Hobbit e O Senhor dos Anéis) criou a sobrecapa, bem como as ilustrações internas do livro. Christopher Tolkien também incluiu um artigo sobre a evolução do conto, várias árvores genealógicas e um redesenho do mapa de Beleriand.

     
    Pano de Fundo

    A história e descendência dos personagens principais são dadas nos parágrafos iniciais do livro, e a história de fundo é elaborada nO Silmarillion. Ela começa 500 anos antes das ações do livro, quando Morgoth, um ser imortal encarnado possuindo grandes habilidades sobrenaturais e que é o poder maligno primevo, escada do Reino Abençoado de Valinor para o noroeste da Terra-média. De sua fortaleza de Angband ele iniciou a reconquista de toda a Terra-média, iniciando uma guerra com os Elfos que residiam mais ao sul, em Beleriand.

    Contudo, os Elfos conseguiram resistir a seu ataque e a maioria dos reinos permaneceu sem ser conquistada; o mais poderoso destes sendo Doriath, governado por Thingol Capa-cinzenta. Em adição a isso, após algum tempo os Elfos Noldor deixaram Valinor e seguiram Morgoth até a Terra-média para se vingarem. Juntos com os Sindar de Beleriand, eles iniciaram um Cerco a Angband, e estabeleceram novas fortalezas e reinos na terra-média, incluindo Dor-lómin por Fingon, Nargothrond de Finrod Felagund e Gondolin de Turgon.

    Após três séculos, os primeiros Homens apareceram em Beleriand. Estes eram os Edain, descendentes daqueles Homens que se rebelaram contra o governo dos servos de Morgoth e partiram para o oeste. A maioria dos Elfos lhes deu boas-vindas e a eles foram dados feudos em Beleriand. A Casa de Bëor governou sobre a terra de Ladros, o Povo de Haleth recuou para a floresta de Brethil e governo de Dor-lómin foi dado à Casa de Hador. Mais tarde outros homens adentraram Beleriand, os Orientais, muitos dos quais estavam em acordos secretos com Morgoth.

    Eventualmente Morgoth conseguiu furar o Cerco de Angband na Batalha das Chamas Repentinas. A Casa de Bëor foi virtualmente destruída e os Elfos e Edain sofreram grandes baixas; contudo, muitos reinos permaneceram sem serem conquistados, incluindo Dor-lómin, onde o governo havia passado a Húrin Thalion.

     
     
    Resumo

    O livro Os Filhos de Húrin começa com um registro da chegada de Húrin e seu irmão Huor à cidade oculta de Gondolin. Após morarem lá por um ano, eles juraram jamais revelar a localização da mesma a ninguém e foi-lhes permitido partir para Dor-lómin. Lá Húrin se casou com Morwen Edhelwen e tiveram dois filhos, Túrin e Lalaith. O livro continua com a história da criação de Túrin, a morte prematura de Lalaith e a partida de Húrin para a guerra.

    Na desastrosa derrota da Batalha das Lágrimas Incontáveis Húrin foi capturado vivo. O próprio Morgoth o torturou, tentando forçá-lo a revelar a localização de Gondolin mas, apesar de seus esforços, Húrin resistiu e mesmo debochou de Morgoth. Por isso Morgoth o amaldiçoou e a toda sua família.

    Sob o comando de Morgoth os Ocidentais sobrepujaram Hithlum e Dor-lómin. Morwen, temendo a captura de seu filho, enviou Túrin ao reino de Doriath, por segurança. Logo depois Morwen deu a luz a uma segunda filhas, Nienor. Em Doriath, Túrin foi tomado como filho adotivo pelo Rei Thingol e se tornou um guerreiro poderoso, tornando-se amigo de Beleg Arco-forte, como um dos guardas das fronteiras. Contudo, após muitos anos Túrin causou a morte de um dos conselheiros de Thingol, o Elfo Saeros. Recusando a se desculpar por suas ações, Túrin foge de Doriath e entra nas terras ermas.

    Túrin se uniu a um grupo de foras-da-lei, os Gaurwaith, e logo se tornou seu líder. Enquanto isso, Thingol descobriu as circunstâncias da morte de Saeros e  perdoou o ato de Túrin, enviando Beleg para procurá-lo. Ele teve sucesso em encontrar o bando, mas Túrin se recusou a retornar para Doriath. Beleg então partiu para participar das batalhas nas fronteiras norte de Doriath.

    Algum tempo depois Túrin e seus homens capturaram Mîm o não, que resgatou sua vida conduzindo o bando às cavernas da colina de Amon Rûdh onde ele tinha sua morada.  Os foras-da-lei se entrincheiraram nas cavernas e logo Beleg retornou e se uniu a eles. O bando gradualmente se tornou mais ousado e bem sucedido na guerrilha contra as tropas de Morgoth, e Túrin e Beleg chegaram a estabelecer o reino de Dor-Cúarthol. Contudo, após alguns anos, Mîm os traiu, revelando o quartel-general do bando às forças de Morgoth. Os foras-da-lei foram vencidos, Túrin foi capturado mas Beleg escapou.

    Túrin frente a Orodreth em Nargothrond
    Beleg seguiu a companhia de Orcs, encontrando um Elfo mutilado, Gwindor de Nargothrond, no caminho. Eles encontram Túrin dormindo e solto de suas amarras, mas Túrin, pensando que um Orc veio atormentá-lo, mata Beleg antes de perceber seu erro. Gwindor conduz Túrin a Eithel Sirion, onde Túrin recupera o juízo, e mais tarde a Nergothrond. Lá Túrin obtém o favor do Rei Orodreth e o amor da filha deste, Finduilas. Após liderar os Elfos a consideráveis vitórias, ele se tornou o conselheiro chefe de Orodreth e virtual comandante de todas as forças de Nargothrond.

    Contudo, após cinco anos Morgoth enviou uma grande força de Orcs sob o comando do dragão Glaurung e derrotou o exército de Nargothrond no campo de Tumhalad, onde tanto Gwindor quando Orodreth foram mortos. As forças de Morgoth saquearam Nargothrond e capturaram seus moradores. Em um tentativa de evitar isso, Túrin encontrou Glaurung, que enfeitiçou Túrin e o fez retornar a Dor-lómin para procurar sua mãe e irmão ao invés de resgatar Finduilas e os outros prisioneiros.

    Quando Túrin retornou a Dor-lómin, ele descobriu que Morwen e Nienor já haviam fugido para Doriath. Em um ataque de fúria, Túrin incitou uma luta e teve que fugir novamente. Ele seguiu os captores de Finduilas até a floresta de Brethil, apenas para descobrir que ela havia sido morta pelos orcs quando os homens-da-floresta tentaram resgatá-la. Quase destruído por seu pesar, Túrin pediu asilo entre o Povo de Haleth, que mantinha uma resistência tenaz contra as forças de Morgoth. Em Brethil túrin se renomeou Turambar, "Senhor do Destino" em Alto-élfico, e gradualmente superou o Chefe Brandir.

    Enquanto isso, Morwen e Nienor ouviram rumores dos feitos de Túrin em Nargothrond e tentaram encontrá-lo. Lá foram atacadas por Glaurung, que enfeitiçou Nienor de tal forma que ela esqueceu tudo enquanto Morwen se perdia. Eventualmente Morwen chegou a Brethil, onde foi encontrada por Turambar; sem perceber seu parentesco eles se apaixonaram e se casaram, apesar dos conselhos de Brandir.

    Após algum tempo Glaurung partiu ao extermínio dos Homens de Brethil, mas Turambar o matou, perfurando por baixo enquanto este cruzava a ravina de Cabed-en-Aras. contudo, quando Turambar puxou a espada, o sangue envenenado de Glaurung escorreu por sua mão, fazendo-o ficar inconsciente. Nienor, grávida, encontrou Turambar caído inconsciente, e o moribundo Glaurung fez sua memória retornar. Percebendo com horror que seu marido era também seu irmão, ela se atirou do despenhadeiro próximo no rio Taeglin, e foi levada por este. Quando Turambar acordou e ouviu de Brandir que Nienor estava morta, o matou em sua fúria e mais tarde se jogou sobre sua própria espada.

    A parte principal da narrativa termina com o enterro de Túrin. Anexo a este há um trecho extraído de As Andanças de Húrin, o próximo conto do legendarium de Tolkien. Este reconta como Húrin foi finalmente libertado por Morgoth e chegou ao túmulo de seus filhos. Ali encontrou Morwen, que também conseguiu encontrar o local, mas morria agora nos braços de seu marido, ao pôr-do-sol.

     

    História do Conto

    Uma breve versão da história forma a base do capítulo XXI dO Silmarillion, colocando o conto no contexto das guerras de Beleriand. Embora baseado nos mesmos textos utilizados para completar o novo livro, o Silmarillion deixa de fora grande parte do conto. Outras versões incompletas que foram publicadas em outros livros:

        * O Narn i Hîn Húrin no Contos Inacabados.
        * A série The History of Middle-earth (HoME), com destaque a:
              o Turambar e o Foalókë, do The Book of Lost Tales (HoME 1)
              o O Lay of the Children of Húrin, uma narrativa antiga em forma de poema.
              o Versões em prosa do Lay (ou Húrinssaga), eventualmente levando a versões mais antigas e alternativas do Narn e também ao Os Filhos de Túrin.

    Nenhum destes textos forma uma narrativa completa e madura. O Os Filhos de Húrin publicado é uma síntese dessas fontas e de outros textos, inéditos até então.

     
     
    Críticas 
  • Análise do Filme O Senhor dos Anéis:O Retorno do Rei, Parte 1

    A Valinor dá continuidade à publicação da Análise Psicológica dO Senhor dos Anéis, agora com a primeira parte da análise dO Retorno do Rei. As primeiras partes podem ser lidas neste endereço.
     
     
    DENETHOR : IDENTIFICAÇÃO COM A PERSONA E COM O COMPLEXO DE PODER
     
    "O orgulho seria tolice, se desdenhasse ajuda e aconselhamento na
    necessidade, mas você distribui essas dádivas de com seus próprios
    desígnios. Apesar disso, o Senhor de Gondor não deve ser transformado
    na ferramenta dos propósitos de outros homens, não importa quanto sejam
    valorosos.E para ele não há propósito mais alto no mundo, como ele se
    apresenta agora, do que o bem de Gondor e a lei de Gondor, meu senhor,
    é minha e de nenhum outro homem, a não ser que o rei retorne."
      (1)

     

    Logo de início podemos observar que, Denethor é alguém  identificado com seu posto, o regente de Gondor. Denethor não se coloca como o administrador e responsável pelo cumprimento das leis em Gondor, ele diz ser a própria lei. O Senhor de Gondor é um sujeito identificado com a persona de regente. Esta é a definição do conceito de  persona :

    "Persona :  Designa originalmente, no teatro antigo, a máscara usada pelos atores. A persona é o sistema de adaptação ou a maneira por que se dá a comunicação com o mundo.Cada estado ou cada profissão, por exemplo, possui sua persona característica.O perigo está, no entanto, na identificação com a persona; o professor com seu manual, o tenor com sua voz.Pode-se dizer, sem exagero,que a persona  é aquilo que não é verdadeiramente, mas o que nós mesmos e os outros pensam que somos." (2)

    A identificação com a persona traz grandes prejuízos ao desenvolvimento da personalidade.O sujeito identificado com a persona tem um grande obstáculo pela frente caso venha desejar atingir a meta do processo de individuação, o obstáculo de interagir e de se relacionar com o mundo apenas através desta persona.No caso do Regente, ele se vê como o regente em todos os aspectos de sua vida, fator este que veio a ser o responsável por fazer com que o mesmo viesse a exercer um papel de pai questionável no relacionamento com seus dois filhos.

    Denethor exerceu papel de Regente com os seus filhos Boromir e Faramir, não há uma relação fraternal e amorosa do pai com os filhos. Há uma relação de poder entre o Regente e seus filhos, que são vistos  como subordinados da Lei de Gondor, e não como filhos de Denethor.

    "Por quê? Por que fogem os tolos?- Disse Denethor- É melhor ser queimado mais cedo que mais tarde, pois esse será nosso fim.Voltem para a sua fogueira! E eu?Irei agora para a minha pira.Para a minha pira.Nada de túmulo para Denethor e Faramir.Nada disso!Nada de longos sonos de morte embalsamada.Vamos arder como arderam os reis bárbaros antes que qualquer navio tivesse vindo do oeste para cá.O ocidente fracassou.Voltem e queimem!"
      (3)

    Minas Tirith estava sendo arrasada  pelos exércitos de Sauron, a ajuda de Rohan  estava demorando a chegar e o poder de Denethor começava a desmoronar. Denethor estava perdendo o controle das coisas, estava perdendo seu poder e ainda que a guerra   pela Terra Média não existisse, ele teria de entregar a lei de Gondor ao rei, que estava por vir. Se desprender de seu cargo e entregar a autoridade de Gondor ao herdeiro de Isildur, era  algo contra Denethor  resistia. A forma como o regente compreendeu que poderia manter seu posto, sem ter de entregá-lo a Aragorn, foi morrendo ainda no posto com a lei de Gondor sob sua responsabilidade e autoridade.Aqui, fica clara a onipotência e arrogância de Denethor, para ele é preferível morrer a deixar de ter poder. É preferível morrer "no topo" vítima de seu apego ao poder, do que viver de maneira simples e equilibrada.

    "- O que é isso, meu senhor? – disse o mago – As casas dos mortos não são lugar para os vivos.E por que há homens lutando aqui no Recinto Sagrado, quando já existe guerra o suficiente diante do Portão? Ou será que nosso Inimigo conseguiu até mesmo chegar à Rath Dinen?- Desde quando o Senhor de Gondor te deve explicações? Disse Denethor.- Ou será que não posso comandar meus servidores? – Você pode- disse Gandalf –Mas outros podem contestar sua vontade, se ela voltar para a loucura e a maldade.Onde está Faramir, seu filho?
    – Está deitado lá dentro – disse Denethor, queimando, já está queimando.Atearam fogo à sua carne.Mas em breve todos estarão queimando.O oeste fracassou.Tudo irá pelos ares numa grande fogueira, e tudo estará terminado.Cinzas! Cinzas e fumaça carregadas pelo vento!"
    (4)

    " – A autoridade não lhe foi dada, Regente de Gondor, para ordenar a hora de sua morte- respondeu Gandalf – E apenas os reis bárbaros, sob o domínio do Poder Escuro, fizeram isso, matando-se por orgulho e desespero, assassinando seus parentes para aliviar a própria morte." (5)

    "Pois continua alimentando esperanças! – disse rindo Denethor – Então não te conheço Mithrandir? Tua esperança é governar em meu lugar, ficar atrás de todos os tronos, do norte, do sul ou do oeste. Li tua mente e suas políticas. Achas que não sei que tu ordenaste a este Pequeno que ficasse calado?Que tu o trouxeste aqui para ser um espião em meu próprio aposento? Apesar disso, em nossa conversa eu soube os nomes e os propósitos de todos os teus companheiros. Eu sei! Com a mão esquerda tu me usarias por um tempo como um escudo contra Mordor, enquanto com a mão direita trarias este Guardião do Norte para me suplantar.
    – Mas eu te digo, Gandalf  Mithrandir, não serei teu brinquedo! Sou um Regente da Casa de Anárion. Não vou me rebaixar para ser o camareiro caduco de um arrivista. Mesmo que a reivindicação dele se mostrasse autêntica, ainda assim ele apenas pertence à linhagem de Isildur. Não me curvaria diante desse sujeito, o ultimo representante de uma casa destruída, há muito tempo desprovida de realeza e dignidade.
     – Então, o que escolheria você – disse Gandalf  -, se seu desejo pudesse ser realizado?
    – Eu escolheria as coisas como elas sempre foram em todos os dias de minha vida – respondeu Denethor – e nos dias de meus antepassados que me precederam: ser o Senhor desta Cidade em paz, e deixar meu lugar para um filho depois de mim, um filho que fosse dono da própria vontade, e não o pupilo de um mago.Mas, se o destino me nega isso, então não quero nada: nem a vida diminuída, nem o amor pela metade, nem a honra abalada.
    – A mim não pareceria que um Regente que com fidelidade entrega seu cargo fica diminuído em amor ou em honra – disse Gandalf – E pelo menos você não privaria seu filho do poder de escolha, enquanto ainda há dúvidas sobre sua morte."
    (6)

    Neste diálogo de Denethor com Gandalf , podemos notar que a maior motivação para o Regente de Gondor decidir pelo suicídio se deve ao fato de ter de entregar o poder a Aragorn, herdeiro por direito do trono. Outra característica de alguém identificado com o complexo de poder, é a paranóia e o constante sentimento de ameaça em que vive este sujeito.

    Nota-se também a falsa idéia de ser o portador de uma onisciência divina, uma vez que Denethor diz ter lido a mente de Gandalf. Sendo o poder  o único fator  a ter espaço e importância na vida do Regente, acaba-se por perder o equilíbrio psicológico, o bom senso, o amor, a cordialidade e o respeito por si mesmo e pelas outras pessoas.Pois,  o contato com a totalidade da personalidade foi perdido e assim desta maneira, vive-se uma unilateralidade, arbitrária e centralizadora.

    A consciência e o discernimento de Denethor se encontram de tal forma prejudicados, que faz com o mesmo chegue a se achar no direito de decidir sobre a vida ou morte de Faramir. Pois uma vez que Denethor vive sua vida para ser o regente, nada mais passa a ter sentido ou significado o bastante, que o motive a viver. O triste fim do Senhor de Gondor, nos remete ao mito de Ícaro, mito este que nos conta sobre o perigo que existe quando o excesso, o desejo pelo poder e a unilateralidade se tornam mais importante do que outras coisas na vida de alguém, podendo levar o portador deste desejo a trágicas conseqüências .

    Os textos abaixo nos conta sobre o mito:

    "Filho de Dédalo e de uma escava, Ícaro morreu vítima das invenções do pai, que ele utilizou sem fazer caso das advertências paternas.Eu te previno, Ícaro, tens de fixar teu curso numa altura média.Aprisionado no labirinto, com seu pai que ajudara Ariana e Teseu a matar Minotauro, ele consegue evadir-se com o auxílio de Parsífae e graças ás asas que Dédalo lhe fez e que ele fixou com cera sobre os ombros.Ícaro voou por cima do mar.E desprezando todos os conselhos de prudência, elevou-se cada vez mais alto,cada vez mais perto do Sol. A cera derrete e ele se precipita no mar.Imagem das ambições desmesuradas do espírito, Ícaro é o símbolo do intelecto que se tornou insensato… da imaginação pervertida. É uma personificação mítica da deformação do psiquismo caracterizada pela exaltação sentimental e vaidosa. Ícaro representa o emotivo e a sorte que o espera. A tentativa insana de Ícaro é proverbial pela emotividade no mais alto grau, por uma forma de aberração do espírito: a mania das grandezas, a megalomania (DIES, 50).Ícaro é o símbolo do excesso e da temeridade, a dupla perversão do juízo e da coragem." (7)

     
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    ´´A Queda de Ícaro“, quadro de Jacob Peter Gowy, feito entre 1636-1637
     
    "… tendo engenhosamente fabricado para si e para o filho dois pares de asas de penas, presas aos ombros com cera, voou pelo vasto céu, em companhia de Ícaro, a quem recomendara que não voasse muito alto, porque o sol derreteria a cera, nem muito baixo, porque a umidade tornaria as penas assaz pesadas. O menino, no entanto, não resistindo ao impulso de se aproximar do céu, subiu demasiadamente. Ao chegar perto do sol, a cera fundiu-se, destacaram-se as penas e ele caiu no mar Egeu, que daí por diante, passou a chamar de Ícaro…" (8)

    "Apesar da admoestação paterna, para que guardasse um meio termo, "o centro", entre as ondas do mar e os raios do sol, o menino insensato ultrapassou o métron, foi além de si mesmo e se destruiu. Ícaro é o símbolo da temeridade, da volúpia ´das alturas`; em síntese: a personificação da megalomania." (9)

    Como se pode observar nestes textos, o mito de Ícaro traz algumas semelhanças com a relação de Denethor com o poder e com Gandalf. Denethor se porta da mesma forma como o menino alado, não dando atenção aos conselhos  que viriam a se tornar apelos posteriormente vindos da parte de Gandalf .

    No mito de Ícaro, Dédalo é um pai preocupado com a segurança e o futuro do filho, da mesma forma Gandalf pensa a respeito de Denethor. Porém a obsessão em manter o posto, cega o entendimento do Senhor de Gondor, que confunde seu mandato com a própria vida, pois a conclusão de Denethor é  de que com o fim do mandato de regente, chega-se o fim da própria vida. Tanto Dédalo, como Gandalf aconselham para que Ícaro e Denethor não se postem  nem no  mais alto e nem na mais baixa profundidade, e sim que busque o caminho do meio, ou seja o equilíbrio psicológico.Retomamos o seguinte trecho:

    "Mas, se o destino me nega isso, então não quero nada: nem a vida diminuída, nem o amor pela metade, nem a honra abalada.
    – A mim não pareceria que um Regente que com fidelidade entrega seu cargo fica diminuído em amor ou em honra – disse Gandalf – E pelo menos você não privaria seu filho do poder de escolha, enquanto ainda há dúvidas sobre sua morte."
    (10)

    O equilíbrio psicológico diz respeito a você conciliar pólos opostos em sua vida, adotar posturas diferentes em contextos diferentes.
    Como foi dito anteriormente, no momento em que se exigiu de Denethor para que este assumisse a postura de pai diante de Boromir e Faramir, seus filhos o mesmo não conseguiu se desvencilhar de seu posto de regente para assumir o papel paterno. A relação de Denethor e seus filhos é baseada no poder, e não no amor, pois o poder é inerente ao cargo de regente.E, o amor é inerente ao papel de pai. A questão não é optar pelo amor ou pelo poder, a solução é conciliar ambos e saber se utilizar destes recursos nos momentos apropriados durante a vida.

    A filosofia chinesa, já há séculos atrás falava sobre o homem saber conciliar os opostos dentro de si. É o Tao, que significa "um modo, um caminho." O Tao reúne os opostos yin e yang, e da mesma forma a psicologia nos dias de hoje propõe a todos aqueles que desejem alcançar o equilíbrio interno.

    Denethor não venceu o conflito, se apegou ao seu posto , não seguiu o conselho de Gandalf quis o poder, ou seja quis se manter no alto e não no meio assim como Ícaro voou próximo ao sol, ocasionando assim sua morte trágica. Embora a morte trágica esteja longe de muitos de nós por conta de uma conduta não saudável psicologicamente, as conseqüências prejudiciais por conta de uma postura similar a de Denethor não estão distantes de quem a praticar. Denethor era alguém apegado à sua persona de regente, fato este que fez com que  o mesmo tivesse conseqüências trágicas por conta desta atitude. Muitos de nós podemos ter a atitude semelhante a de Denethor sem percebermos.

    Como exemplos podemos citar a boa filha ou bom filho que deseja agradar a todo mundo a todo o momento, o pai e a mãe que são workaholics, são exemplos de como podemos nos distanciar de quem nós somos em nossa totalidade, doutores e deputados que acreditam terem seus títulos e cargos impressos na  cédula de identidade. Que o caminho do meio, a meta da individuação, seja a escolha a ser feita.

    GOLLUM E OS HOBBITS : CONDENAÇÃO E SALVAÇÃO, UNIÃO DOS OPOSTOS

    "- Gollum – disse Pippin – Como é que eles poderiam estar andando com ele, até mesmo seguindo-o ?E pude perceber que Faramir não gostou mais do que você no lugar para o qual ele os estava levando. Qual é o problema?
    – Não posso responder isso agora – disse  Gandalf – mesmo assim, meu coração de alguma forma sabia que Frodo e Gollum iriam se encontrar antes do fim. Para o bem ou para o mal.
    Mas sobre Cirith Ungol não falarei esta noite. Traição, é a traição que receio; traição daquela criatura miserável. Mas precisava ser assim vamos nos lembrar de que um traidor pode trair-se a si mesmo e fazer o bem que não pretende. Pode ser assim algumas vezes.Boa noite!"
    (11)

    "A piedade de Bilbo pode governar o destino de muitos.
    Bilbo foi destinado a encontrar o anel , e você destinado a carregar o anel.
    Gollum ainda tem um papel a cumprir."
    (12)

    Foram distribuídos: 3 anéis aos elfos,7 anéis aos anões mineradores e 9 anéis aos homens. A raça dos hobbits foi a raça excluída e desprezada, na distribuição maligna e destruidora de Sauron. Este fator, contribui de maneira significativa para que através dos hobbits, o Anel fosse resgatado e destruído.

    Desta forma ao observarmos o tema do "4 – 1" , isto nos remete a um tema bastante comum dentro do processo de análise, o tema do conteúdo oculto, reprimido ou desprezado pela consciência. A raça dos hobbits é relatada algumas vezes durante a obra como sendo desconhecida por boa parte dos habitantes da Terra Média. Desprezados, desconhecidos e tidos até como uma raça inferior os hobbits, simbolizam os conteúdos do inconsciente, mediante o contexto das outras três raças, que reunidas simbolizam a consciência.

    Na alquimia a lapis philosophorum, a pedra ou o ouro filosófico, embora seja a meta a ser alcançada por todo alquimista , também  é rejeitada e desprezada pelos homens que buscam apenas os valores materiais, pois a lapis representa os valores elevados e ou espirituais, distantes da sociedade na Idade Média e distante de nós nos dias de hoje.
    Os alquimistas traçavam um paralelo da lapis com Cristo:

    1 Pedro 2; 6-8 a.
    "6- Pois na Escritura se diz:
    Vede, ponho em Sião uma pedra angular eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido.

    7- Ora, para vós, os que credes, essa pedra é preciosa. Mas para os descrentes, a pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como principal de esquina,

    8- e: Uma pedra de tropeço e rocha de escândalo."(13)

    A pedra filosofal simboliza a união da psique consciente com a psique inconsciente, a totalidade, o Self, a meta da individuação
    E assim como a lapis a raça dos hobbits também simboliza o Self, a totalidade da psique. Então, podemos pensar na raça dos hobbits como sendo um conteúdo que antes era desprezado pelo ego que agora vem à tona e passa a ser assimilado, enriquecendo a personalidade do indivíduo.

    Ao acompanharmos a Trilogia do Anel, ficamos sabendo do papel de suma importância que a raça do hobbits teve ao longo da jornada.
    Tendo como representantes Bilbo, Frodo, Sam, Merry, Pippin e Gollum.Gollum? Sim, Gollum.Não fosse Gollum, a jornada não poderia estar completa.

    O papel de Frodo competia em carregar o Anel e o papel de Gollum competia em destruir o Anel. Frodo tinha o desprendimento e desapego pelas questões envolvendo o poder e a ganância.Gollum reunia em si o apego ao poder e a ganância, características complementares e  opostas as de Frodo. Gollum e o Um  Anel eram um só, há uma relação fusionada, simbiôntica entre ambos, a vida de Gollum, estava ligada ao Um Anel, da mesma forma como a vida de Denethor estava ligada ao cargo de Regente, e caso este não pudesse  mais ser o Senhor de Gondor, era preferível a morte.E esta acabou por ser a escolha do Regente. Esta fala de Gollum deixa claro que ele e O Um Anel, estavam ligados simbioticamente, eram um só :

    " – Não mate nós – chorava ele – Não machuque nóss com aço cruel e mau! Deixe nós viver, é sim, viver um pouco mais. Perdidos, perdidos! Estamos perdidos. E quando o Precioso se for vamos morrer, é sim,  morrer na poeira ssuja . – Levantou um pouco das cinzas da trilha com os dedos descarnados – Ssuja ! – chiou ele." (14)

    Porém, a destruição de Gollum juntamente com o Um Anel, vai além de uma morte egoísta , pois com este fato veio a salvação da Terra Média.
    Na alquimia durante o opus, a obra alquímica, o processo que visava a obtenção da pedra filosofal, eram sempre utilizadas duas espécies de matérias-primas; o enxofre e o mercúrio. Numa correlação com estes dois símbolos alquímicos, podemos traçar o paralelo da seguinte forma:

     Frodo/ Ego              +         Gollum/ Inconsciente            = Self (pedra filosofal)
      (mercúrio, princípio passivo)         (enxofre, princípio ativo)  
     
    "MERCÚRIO
    O mercúrio é um símbolo alquímico universal e geralmente aquele do princípio passivo, úmido, yin. O retorno ao mercúrio é, em termos de alquimia, a solução, a regressão ao estado indiferenciado.Do mesmo modo que a mulher está sujeita ao homem, o mercúrio é o servidor do enxofre. Segundo certas tradições ocidentais, o mercúrio é a semente feminina e o enxofre, a masculina: sua união subterrânea produz os metais. O mercúrio tem o poder de purificar e fixar o ouro. É um  alimento de imortalidade, mas também um símbolo de libertação."
    (15)

    A descrição  acima a respeito do mercúrio, traz algumas características relacionadas a Frodo. Assim como o mercúrio no processo alquímico de obtenção da lapis, Frodo é o elemento passivo, ele é o portador do Anel. Frodo escolheu ser o portador voluntariamente, sem coação, sem ameaças violentas, sem apelos. Frodo compreendeu qual era seu papel, qual era sua parte na jornada, ele é o servidor que se desprende, se abstém e se sacrifica em prol do sucesso da empreitada da Sociedade do Anel.

    Frodo representa simbolicamente o ego em processo de individuação, que se vê obrigado a se desvencilhar e recusar a satisfazer apenas as vontades e objetivos  egoístas, que são de natureza unilaterais e parciais.  E de maneira voluntária  o ego se torna o servidor do Self, objetivando atingir os objetivos da totalidade da personalidade que englobam também o inconsciente, e não apenas os do ego.

    Outras características relacionadas ao mercúrio e Frodo, são as de terem o papel de purificador e libertador. Frodo tinha como objetivo salvar o Condado da malignidade dominadora de Sauron, tomando sobre si o peso de ser o Portador do Um Anel. Assim como o ego no processo de individuação que resolve tomar sobre si o peso, o desconforto e constrangimento de sua confrontação com a sombra.

    O ego ao se confrontar com a sombra, se purifica e se liberta de seus hábitos nocivos e velhos vícios de comportamento que dominam o indivíduo muitas vezes por uma vida toda. O papel de Frodo consistia em ser o portador do Anel. Porém, destruí-lo não cabia ao portador.

    "ENXOFRE
    O enxofre é o princípio ativo da alquimia, aquele que fecunda, ou o mata. O enxofre corresponde ao fogo, como o mercúrio à água. É o princípio gerador masculino, cuja ação sobre o mercúrio produz os metais subterraneamente. A ação do enxofre sobre o mercúrio o mata e , ao transmutá-lo, produz o cinabre*, que é uma droga da imortalidade. A constante relação do enxofre com o fogo por vezes também o associa ao simbolismo infernal (ELIF, GUET). Em Jó, 18, 15, o enxofre aparece como um símbolo de esterilidade, à maneira de um desinfetante. Espalha-se na morada do Rei dos terrores. É o aspecto infernal  e destruidor do símbolo, o seu sentido positivo invertido em sentido contrário.

    Segundo outra tradição esotérica, que se associa à primeira, o enxofre simboliza o sopro ígneo e designa o esperma mineral.  É,  portanto, igualmente associado ao princípio ativo. Produz a luz ou a cor (ALLA, 245). Para os alquimistas, o enxofre estava para o corpo como o sol está para o universo (MONA, 60). O ouro, a luz, a cor amarela, interpretadas no sentido infernal de seu símbolo, denotam o egoísmo orgulhoso que só busca a sabedoria em si mesmo, que se torna a sua própria divindade, seu princípio e seu fim (PORS, 84).

    A chama amarela esfumaçada com enxofre é,  para a Bíblia, essa antiluz atribuída ao orgulho de Lúcifer; a luz transformada em trevas … vê bem se a luz que há em ti não é treva (Lucas, 11, 36).

    É um símbolo de culpa e punição, razão pela qual era empregado no paganismo para a purificação dos culpados, segundo G. Portal (PORS, 86)." (16)

    O texto acima traz uma descrição a respeito das características do enxofre e sua representatividade simbólica. Podemos notar que as características descritas a respeito do enxofre, também são características pertencentes a Gollum. Assim como o enxofre é o princípio ativo no processo da obtenção da pedra filosofal, Gollum também é o princípio da ação na destruição do Um Anel.

    Pois Gollum foi o responsável pela ação direta na destruição do Precioso. O Um Anel  e Gollum tinham se tornado um só tal como uma relação fusionada e simbiôntica entre ambos, desta forma se o Um tinha de ser destruído, Gollum também deveria ser destruído, pois eram um só.
    Outras características, dizem respeito ao egoísmo orgulhoso que busca a sabedoria em si mesmo, se tornando sua própria divindade, seu princípio e seu fim.

    Na luta pela obtenção do Precioso, Sméagol assassinou Déagol, com  medo, com culpa e desesperado,  Sméagol passa a viver uma vida de isolamento e solidão, por conta de seu sentimento de culpa e por egoísmo orgulho, ele se torna auto-suficiente pois todo aquele que é culpado merece ser punido, a punição é o isolamento e distanciamento de tudo e de todos.

    Gollum simboliza o ego orgulhoso que se recusa a admitir suas falhas e insuficiências , que ao mesmo tempo vive se culpando e se punindo ao persistir nos mesmos erros, a conseqüência por muitas vezes são os relacionamentos superficiais com as pessoas, podendo chegar até mesmo ao isolamento social. Mas, como Gandalf disse:
     

    "Gollum ainda tem um papel a cumprir." (17)

    Ao guiar Frodo até a toca de Laracna, Gollum tinha por objetivo se apossar de seu Precioso,após a aranha gigante atacar e devorar Frodo. Porém,  este poderia não ser o objetivo de Sméagol.Sméagol e Gollum, representam duas personalidades opostas, pertencentes a um mesmo indivíduo. Sméagol representa a personalidade de um pacato e humilde hobbit, sociável, simples e sem ambições egoísticas.

    Gollum representa um padrão de personalidade que não é  aceito dentro da sociedade do Condado, logo as características referentes a Gollum, devem ser reprimidas pela consciência de todo hobbit, pois caso contrário, seria rejeitado e considerado não apto para o convívio em sociedade. Gollum simboliza a sombra coletiva de todo o povo hobbit, uma vez que ele expressa um padrão de comportamento oposto ao da consciência da sociedade do Condado.

    Porém, todo conteúdo reprimido pela consciência, não é eliminado, tal conteúdo que é rejeitado, considerado hostil e não aceitável pela consciência, continua vivo e atuante na sombra do indivíduo. Estamos falando de um povo, que considera como sendo referentes ao seu padrão de comportamento as características de serem simples, humildes, pacatos, sociáveis e sem ambições egoísticas. Em contrapartida, o povo hobbit rejeita e reprime os conteúdos referentes a serem agressivos, individualistas, orgulhosos, e de ambições egoísticas.

    Uma vez que, todo o conteúdo reprimido retorna a consciência, logo os conteúdos reprimidos iriam tomar a forma de uma personalidade autônoma e tomariam o controle da consciência de um hobbit que expressaria todo o drama de um povo.Este hobbit é Sméagol . Sméagol simboliza a neurose e cisão do povo hobbit. Como resultado desta cisão a personalidade autônoma de conteúdos considerados hostis pela consciência dos Pequenos, tomou todo o espaço e controle na consciência de Sméagol. Esta personalidade autônoma, recebeu o nome de Gollum. Agora, desta vez a personalidade de Sméagol é a que fora reprimida, passando a ocupar o lugar na sombra, lugar que antes  era de Gollum.

    E assim como Gollum pretendia tomar seu lugar na consciência, desta vez, Sméagol passa a ser a personalidade reprimida na sombra, que buscará novamente seu espaço na consciência do hobbit atormentado. Vamos retomar a seguinte fala de Gandalf :

    "…– mesmo assim, meu coração de alguma forma sabia que Frodo e Gollum iriam se encontrar antes do fim. Para o bem ou para o mal.
    Mas sobre Cirith Ungol não falarei esta noite. Traição, é a traição que receio; traição daquela criatura miserável. Mas precisava ser assim vamos nos lembrar de que um traidor pode trair-se a si mesmo e fazer o bem que não pretende. Pode ser assim algumas vezes."
    (18)

    Enquanto Gollum deseja o Um Anel e tem sua vida ligada a ele, Sméagol vive com sua culpa por ter assassinado Déagol . Sméagol é a sombra de Gollum, e como já foi dito, todo conteúdo na sombra deseja retornar a consciência. Afim de que o ego se conscientize a respeito dos conteúdos reprimidos, a sombra, passa verdadeiras "rasteiras" no ego. Um grande exemplo, do que pode ser uma "rasteira" ou atuação da sombra, é este aqui :

    "Mas Gollum, dançando como um louco erguia o anel, com um dedo ainda enfiado no circulo, que agora brilhava como se realmente fosse feito de fogo vivo.
    – Precioso, precioso, precioso!  – gritava Gollum – Meu Precioso! Ó, meu Precioso! – E assim, no momento em que erguia os olhos para se regozijar com sua presa, deu um passo grande demais, tropeçou, vacilou por um momento na beirada, e então com um grito agudo caiu. Das profundezas chegou seu último gemido, Precioso, e então ele se foi."
    (19)

    No texto acima, temos um belo exemplo de como a sombra se manifesta, atuando de maneira autônoma, decisiva e às vezes, até de  forma trágica, como no caso de Gollum. Podemos entender este passo grande demais, o tropeço e o vacilo, como a atuação da personalidade de Sméagol, querendo ocupar seu lugar na consciência novamente.

    E, além de retomar seu espaço, Sméagol também tinha sua culpa, sua autocondenação de séculos, que poderia ser compensada por um ato de bravura,  como interferindo de forma decisiva na destruição do Um Anel, frustrando para sempre os planos de Gollum e de Sauron, consecutivamente, livrando a Terra Média para sempre do poder maligno do agora ex- Senhor de Mordor. O hobbit Gollum / Sméagol trouxe a paz e a salvação não pretendidas por ele, através da resolução de seu conflito interno. Embora , tenha sido de forma trágica, ainda assim foi uma resolução de conflito psíquico.

    Outra representatividade simbólica que encontramos em Sméagol / Gollum, é referente a um símbolo encontrado na alquimia, o símbolo da serpente ou dragão Uroboros (também conhecida como Ouroboros). Este símbolo é a imagem de uma serpente ou dragão, que devora o próprio rabo ou cauda, formando a figura de um circulo, uma mandala, símbolo do Self, a totalidade psíquica. Esta é a definição de mandala :

    " Mandala : Círculo mágico. Na obra de C.G.Jung, símbolo do centro da meta, e do si-mesmo, enquanto totalidade psíquica; auto-representação de um processo psíquico de centralização da personalidade, produção de um centro novo desta última. A mandala exprime-se, simbolicamente por um círculo, um quadrado ou um quatérnio, num dispositivo simétrico do número quatro e de seus múltiplos." (20)

    De acordo com a definição acima , a respeito do símbolo da mandala, podemos traçar um paralelo com Sméagol Gollum e o Uroboros. O Uroboros ao devorar sua própria cauda, representa o início e o fim de um ciclo de evolução em si mesmo, um símbolo de morte e renascimento, de desenvolvimento e renovação da personalidade.

     
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     Dragão Uroboros devorando a própria cauda, símbolo da totalidade psíquica, o Self.
     
     
    Basta lembramos que Sméagol / Gollum é responsável direto pela ressurreição e  destruição do Um Anel. Ou seja a jornada do Um Anel tem o seu começo e o seu final em Sméagol / Gollum.
     
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    Serpente Uroboros devorando a própria cauda, símbolo do Self.
     
     
    O começo, quando ele se apossa do seu Precioso na beira do lago após assassinar Déagol, o final quando o Anel é destruído  na Montanha da Perdição. Sméagol / Gollum representa também o início e o fim de uma era da Terra Média. O fim da terceira era, a era dos elfos, e o início da quarta era, a era dos homens, vemos aqui o símbolo do quatérnio, outro símbolo representante da totalidade psíquica, já explorado na análise de "As Duas Torres". E, como não poderia deixar de ser, o próprio Um Anel por ser um circulo e por estar fusionado com Gollum, também simboliza uma mandala, símbolo do Self.
     
     
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    Um Anel, símbolo da mandala, outro símbolo representante da totalidade psíquica.
     
     
    (Fim da parte 1. Continua)
  • Beowulf vs O Senhor dos Anéis

    beowulf_salon_1.jpgO novo filme de Robert Zemeckis "Beowulf" dá um sentido inteiramente novo à frase "o sublime e o ridículo". Zemeckis pegou o mais antigo e mais importante texto da língua inglesa e o tornou em uma viagem 3-D à Disneylândia tão pipoca que poderia ser chamada de "Anglo-Saxões do Caribe". Claro, não há nada novo ou surpreendente sobre isso. Hollywood tem profanado a história e a literatura desde muito antes de Cecil D. DeMille ter colocado Charlton Heston como Moisés. Se a Bíblia não é sagrada, porque o mais antigo poema da ancestral língua inglesa seria?

     
    Mas a vestimenta de "Beowulf" é especialmente brilhante, devido ao óbvio contraste com outro trabalho que minou no mesmo campo antigo: "O Senhor dos Anéis" de J.R.R. Tolkien. "Beowulf" não é apenas um filme ruim, embora visualmente espetacular, é também uma enorme oportunidade perdida. Com suficiente ousadia imaginativa, Zemeckis poderia ter criado um universo mítico, um que encontra as linhas misteriosas que conectam o passado distante ao nosso tempo. Ao invés disso, ele tornou nossa herança cultural em um desenho animado. (Isto não feriu “Beowulf” na renda de cinema: foi o filme que mais vendeu ingressos nos EUA após sua primeira semana).

    Comparar “Beowulf” à obra-prima de Tolkien é colocar os parâmetros muito altos, mas a escolha de Zemeckis por “Beowulf” a tornou inevitável. Não há nenhuma razão para embarcar em “Beowulf” a menos que você queira ir até o fim. Isto é verdade não apenas porque é um texto canônico, mas porque não há uma maneira de fazer um filme dele. Quando encarando o impossível, é melhor você trazer alguma magia ao empreendimento. Você precisa mais do que efeitos especiais 3-D – você precisa de uma imaginação 3-D.

    "Beowulf" é a peça mais antiga da literatura Européia vernicular, e permanece talvez como a mais profunda, uma visita sobrenatural a um canto escuro perdido de nossa história, uma era presa entre paganismo e Cristandade. A inescrutabilidade de "Beowulf" o tornou campo de disputa para estudiosos por mais de um século. Uma vez que mesmo os especialistas não conseguem concordar sobre o que ele significa, como um artista moderno poderia abordá-lo?

    Claro que não há resposta correta ou errada a esta pergunta. Zemeckis tinha o direito de escolher qualquer material fonte que desejasse, e fazer o que quisesse com ele. E talvez sua extravagância high-tech desperte interesse não apenas no antigo poema, mas mesmo na herança germânica esquecida dos americanos e ingleses – talvez na própria história. Mas se o fizer, não será por causa de sua visão artística.

    Para aqueles leitores que fizeram como diz Woody Allen em “Annie Hall” e tiraram uma soneca em todas as aulas que incluíam “Beowulf”, aqui vai um resumo. “Beowulf” é um poema de 3.183 linhas, escrito por um poeta desconhecido em Inglês Arcaico (também conhecido como Anglo-Saxão, a língua germânica falada na Inglaterra antes da Conquista Normanda), provavelmente no século 8, mas possivelmente alguns séculos depois. O poema existe em um único manuscrito, uma cópia feita por volta do ano 1.000 e que está no Museu Britânico. Os eventos que ele relata se passam no que agora é a Dinamarca por volta do ano 500, de forma que o autor já está olhando para um passado distante. Crucialmente, ele é um Cristão, que tem uma relação altamente ambígua com o herói pagão que celebra. Estudiosos continuam a debater a sua exata natureza, a de seu poema e a de sua audiência Cristã e atitude com relação ao paganismo – bem como praticamente tudo mais sobre o poema.

    A história é austera e estranha. Um monstro chamado Grendel, um descendente do bíblico Cain, tem aterrorizado o reino da Dinamarca por 12 anos. Um grande guerreiro chamado Beowulf jura matar Grendel. Ele e 14 homens navegam de seus lares em Geatland (sul da Suécia) para a Dinamarca, onde Beowulf mata o monstro e então a horrível mãe do monstro. Ele recebe presentes e honrarias do idoso rei Dinamarquês e volta para casa, onde reina por 50 anos. Quando um dragão assola seu reino, Beowulf procura o monstro e o mata, mas ele também é mortalmente ferido. Após sua morte ele é lembrado por seu povo como o mais gentil dos reis e o mais ávido pela fama.

    Sejam quais forem suas virtudes históricas e literárias, não é sua história que vai colocá-lo no cinema local. Qualquer adaptação fiel de “Beowulf” quase certamente seria um fracasso comercial, devido à essência mítica do poema. Seus personagens são unidimensionais e só há uma linha de roteiro: o herói envelhece e morre. Sua grandeza está em sua linguagem, não sua história. “Beowulf” é um poema difícil e assombrado, que evoca o que o “Cambridge History of English Literature” chama de “desconhecido vago e palpável”. Inglês Arcaico é uma língua estranha, mas se você conhecer inglês e ler uma edição bilíngüe, como a bela tradução de Seamus Heaney, de quando em quando encontrará uma palavra familiar, como uma pequena pedra atirada em um mar turbulento. Para Tolkien, um filólogo que desde criança era naturalmente sensitivo ao som da língua como o jovem Mozart era para música, o próprio som do Inglês Arcaico é revelatório. Como professor de Anglo-Saxão em Oxford, Tolkien empolgava suas turmas com sua recitação dramática do início de “Beowulf”. (Em uma carta a Tolkiem, W.H. Auden escreve reverentemente, “Sua voz era a voz de Gandalf”.)

    Existe uma versão cinematográfica de “Beowulf” que é literalmente verdadeira á original: o ator Benjamin Bagby recita o poema inteiro no original em Inglês Arcaico, tocando harpa Anglo-Saxônica. É uma atuação memorável, mas é improvável que o filme seja mostrado em locais que cobram entrada.

    Visando uma audiência mais ampla, o filme de Zemeckis e as três versões anteriores de “Beowulf” alteraram radicalmente a história. Dois dos filmes mais antigos tomam uma abordagem não-mitológica tentando imaginar que eventos reais deram origem ao conto sobrenatural. “Beowulf e Grendel”, feito em 2005 e filmado na Islândia, faz de Grendel um simpático Pé-Grande, um ser solitário e vagamente Neanderthal que está se vingando dos Dinamarqueses após estes terem matado seu pai. “O Décimo-terceiro Guerreiro” (1999), baseado em um romance de Michael Chichton, também elimina o sobrenatural: os monstros são humanos vestidos em peles de urso. Em um toque divertido, ele é contado da perspectiva de um diplomata Árabe que inadvertidamente se encontra no bando de Beowulf. Ambos são esforços válidos e o excêntrico “Beowulf e Grendel” algumas vezes se eleva a uma intensidade hipnótica, embora seja dolorosamente irregular. O “Beowulf” de 1999, estrelado por Christopher Lambert, é comicamente terrível, um candidato perfeito para um episódio do “Mystery Science Theater”. Ele é ambientado em um futuro pós-apocalíptico, com Beowulf sendo um herói taciturno e obcecado. A grande inovação é a mãe de Grandel, que se tornou uma monstra horrível/gostosa, encenada por uma modelo loira da Playboy vestindo uma rede, que previamente seduzira o velho rei (de cuja união profana Grendel surgiu) e tenta usar seus poderes malignos em Beowulf acariciando sua espada. Quando isto falha, ela se torna em uma harpia meio-pterodáctila, cheia de asas.

    O “Beowulf” de Zemeckis usa a mesma narrativa, embora não tão comicamente. Mais uma vez a mãe de Grendel é uma gostosa demoníaca (elevada de uma mera Coelhinha para Angelina Jolie) que também dorme com o velho rei. O roteirista Roger Avary e o estimável Neil Gaiman (que deve estar lamentando o dia em que aceitou participar deste projeto) “avançam” esta narrativa também fazendo Beowulf sucumbir aos charmes malignos dela. A corrupção de Beowulf volta para caçá-lo 50 anos depois, quando ele se redime de seus pecados lutando contra o dragão maligno em uma batalha climática que resulta em sua morte.

    beowulf_salon_2.jpgO problema com o “Beowulf” de Zemeckis não é que ele se distancia da história original, ou que seu roteiro é inerentemente intrabalhável. Para gerar qualquer tipo de tensão narrativa, Beowulf tem que mudar, ser algo mais além de um heróis virtuoso e bravo. A solução do filme, embora muito óbvia e de alguma forma anacrônica (a figura da bruxa corruptora e sexualmente poderosa é mais associada com a baixa Idade Média, em um personagem como Morgana le Fay, do que com a literatura Anglo-Saxã), teoricamente poderia ter funcionado. Mais ainda, ele poderia ser justificado nos termos de certas leituras críticas do poema: de acordo com uma forte interpretação Cristã, a morte de Beowulf é sua redenção pelo pecado do orgulho, no qual ele sucumbiu enquanto rei. Por exemplo, em seu livro de 1989 “The Condemnation of Heroism in the Tragedy of Beowulf” Fidel Fajardo-Acosta argumenta que a “batalha com a mãe de Grendel representa a iniciação de Beowulf em sociedade de gigantes Caínicos, e ao estado de ser demoníaco”.

    “Beowulf’ não falha por ter alterado a história: falha porque está tão ocupado embelezando a história que não cria um universo mítico. Não tem visão transfigurante. Baseia-se em um conto antigo, cujas raízes invisíveis são profundas em nossas psiques, e o utiliza para construir um entretenimento brilhante e de plástico. Toma um conto selvagem e o transforma em uma besta domada. Mas “Beowulf” é o tipo de história que não tem sentido a menos que seja parte de uma cosmologia. Ele é, resumidamente, um mito.

    J.R.R. Tolkien, o autor que criou o universo mítico mais poderoso de nosso tempo, também era um renomado estudioso de “Beowulf”. “O Senhor dos Anéis” foi profundamente influenciado por este poema e Tolkien escreveu aquele que continua sendo um dos textos seminais sobre o mesmo. A análise Tolkieniana de “Beowulf”, e mais genericamente da fantasia e mito, esclarecem porque ele foi capaz de criar uma obra-prima mitopoética moderna e porque “Beowulf” falha.

    “Beowulf: The Monsters and the Critics”, publicado em 1936, marca um ponto de virada nos estudos críticos do poema. Antes do ensaio de Tolkien, a maioria dos estudiosos se referia ao uso, pelo poeta desconhecido, de elementos sobrenaturais – o monstro Grendel, sua igualmente monstruosa mãe e o dragão – como primitivo ou infantil. Argumentando que estes temas “triviais” falhavam em fazer justiça à bela linguagem do poema, eles viam “Beowulf” como sendo de interesse primariamente histórico, não artístico. Como o estudioso W.P. Ker escreveu em 1904, “A coisa em si é de pouco valor; a moral e o espírito dela só podem encontrar iguais entre os mais nobres autores”. Tolkien mudou estas concepções. Ele argumentou que o poema deveria ser lido como um poema e reconhecido como um grande poema. Os elementos fantásticos em “Beowulf”, longe de serem embaraçosos, são inseparáveis de sua majestade artística.

    Em uma famosa alegoria, Tolkien compara o autor de “Beowulf” com um homem que, herdando um campo cheio de pedras antigas, as usa para construir uma torre. Seus amigos, reconhecendo que as pedras pertenceram a uma construção mais antiga, destruíram a torre “para olhar as gravações escondidas e inscrições”. O que ele não perceberam, termina Tolkien, era que “do topo daquela torre o homem foi capaz de olhar o mar”.

    O ponto de Tolkien é que os elementos fantásticos em “Beowulf” são arquétipos antigos que têm raízes profundas nas crenças, medos e desejos humanos – mitos, em outras palavras. E em “Beowulf”, ele argumenta, estes mitos são partes essenciais do conto trágico cujo tema é “homem em guerra contra um mundo hostil, e sua inevitável derrocada no Tempo”. A grandeza de Beowulf deriva do fato de que é um poema criado em “um momento carregado de equilíbrio”: é balanceado entre uma visão de mundo Cristã, na qual morte e derrota são ambas derrotadas definitivamente por Cristo, e uma Germânica, pagã, na qual o destino governa tudo e apenas a coragem de um homem confere nobreza. Ele é, Tolkien escreve, não um poema primitivo, mas um tardio. O mundo pagão já é passado, mas o poeta continua a celebrar ser poder já inexistente. O fato do um poema escrito há mais de mil anos atrás estar ele próprio olhando para trás, para um mundo perdido, dá ao poema uma ressonância sobrenatural duplicada ao leitor moderno: “se o funeral de Beowulf era como um eco de um antigo hino funerário, distante e sem esperança, é pra nós uma memória trazida por sobre as colinas, um eco de um eco”.

    O brilhante artigo de Tolkien pode ser visto como uma sonora defesa não apenas de “Beowulf”, mas do trabalho que ele estava prestes a empreender, outra grande torre composta de pedras antigas. E os temas de tardiedade, de perda heróica, sendo pegos entre uma era e outra (seu mundo não é chamado de “Terra-média” à toa), são as partes mais profundas e sublimes de seu épico: eles são a atmosfera metafísica assombrada através da qual seus personagens – homens, elfos e hobbits – devem cruzar. O desaparecimento dos elfos, o duro amanhecer da idade dos homens, representam um desencantamento do mundo idêntico ao desencantamento que Tolkien achou insuportavelmente comovente em “Beowulf”. Introduzindo este tema soturno, Tolkien deu expressão artística às dúvidas que ele próprio pode ter sentido sobre o mito que criara – e assim os transcendeu.

    beowulf_salon_3.jpg Tolkien foi capaz de utilizar as pedras antigas de “Beowulf” para construir uma obra-prima moderna porque ele reconheceu que o poder duradouro dos mitos deriva de suas verdades profundas. Isto não significa que ele acreditava que orcs e goblins e elfos realmente existiram; isto deriva de sua crença de que o mundo era encantado, iluminado por uma luz sagrada e que as sub-criações humanas que chamamos mitos – “formas vivas que se movem de mente para mente”, como as chamou em um poema que escreveu para C.S. Lewis – são faíscas daquela luz primordial. Para Tolkien, a origem última de encantamento era o Deus Cristão, mas não é necessário compartilhar esta fé para sentir o poder de sua criação.

    Os criadores do filme “Beowulf”, contudo, falharam em reconhecer até mesmo que o épico é composto de pedras antigas ou que aquelas pedras poderiam ter algo a nos dizer hoje em dia. Eles gastaram milhões de dólares replicando o visual do passado, mas eles esqueceram de algo que nenhuma tecnologia de captura de movimentos é capaz de capturar: poesia. A essência de “Beowulf”, ou qualquer poema, não pode ser invocada apenas por imagens. Ela deve ser imaginada. E a tradução daquela visão em imagens cinematográficas é uma forma de arte: não pode ser feita por computador.

    Neste sentido, a magnífica versão cinematográfica de “O Senhor dos Anéis” feita por Peter Jackson pode levar os diretores a pensar que tudo que devem fazer para contar um conto mitológico é filmar as ações e deixar que o poder do filme preencha as lacunas poéticas. Mas não é assim tão fácil. O filme de Jackson tem sucesso não porque captura o visual do mundo de Tolkien, mas porque ele captura seu coração.

    É injusto e pode parecer até mesmo cômico, discriminar um entretenimento trivial como “Beowulf” por falhar em ter a profundidade de uma obra-prima antiga. Há muitas mansões no mundo da arte, e há uma sala para os óculos 3-D e batalhas digitalizadas, bem como para Mahler e Edith Wharton. Mas nós temos muitos contos de fada ruins e coisas high-tech de mau gosto e poucos “Beowulf”. Pelo menos podemos pedir àqueles que se aventuram naqueles reinos distantes e obscuros que não vistam roupas de palhaço. Eles estragam nossa visão do mar.

     
    Fonte: Salon 
  • Mr. Bliss

    Mr. Bliss é um livro infantil ilustrado de autoria de J.R.R. Tolkien, publicado postumamente em formato de livro em 1982. Um dos trabalhos curtos menos conhecidos de Tolkien, ele conta a história de Mr. Bliss (algo como "Senhor Feliz") e seu primeiro em seu novo carro. Muitas aventuras acontecem: encontros com ursos, visinhos bravos, donos de loja irritados  e uma série de colisões.

     

     
    Mr. Bliss, de J.R.R. TolkienA história foi baseada nos próprios desencontros veiculares de Tolkien com seu primeiro automóvel, em 1932. Os ursos foram baseados nos ursos de pelúcia dos filhos de Tolkien. Tolkien foi tanto o autor quando o ilustrador do livro. A narrativa mantém a história e as ilustrações bem amarradas, e o texto frequentemente comenta diratamente as imagens.

    Mr. Bliss não foi publicado durante a vida de Tolkien. Ele enviou aos seus editores como um "paliativo" aos leitores que estava ávidos por mais Tolkien depois do sucesso de O Hobbit. As ilustrações aquareladas e pintadas a lápis teriam tornado o custo de produção proibitivo. Tolkien concordou em redesenhar as ilustrações de maneira mais simples, mas descobriu que não tinha tempo para isso. O manuscrito ficou em uma gaveta até 1957, quando foi vendido (bem como os manuscritos originais de O Senhor dos Anéis, O Hobbit e Mestre Gil de Ham) para a Universidade Marquette por 1.250 libras esterlinas.

    O livro foi publicado em 1982, com as ilustrações e a letra manuscrita díficil de ler de Tolkien em uma página e uma transcrição na página oposta.