Tag: Primeira Era

  • Turgon

    Turgon foi um elfo Noldor, nascido Tirion na Era das Árvores. Foi o
    segundo filho de Fingolfin e tal como este exilou-se de Valinor e
    partiu para a Terra-média. Lá fundou Gondolin, a mais famosa das
    cidades élficas de Beleriand, e foi o quinto Alto Rei dos Noldor, entre
    a Nirnaeth Arnoediad e o cerco à sua cidade.
     
     
    Turgon nasceu durante o maior período de prosperidade dos elfos em
    Aman, a Era das Árvores, quando Laurelin e Telperion iluminavam a terra
    dos Valar, havia paz, e Vanyar e Noldor atingiam a maturidade em
    perícia e sabedoria. O seu pai foi Fingolfin, o segundo filho de Finwë,
    líder dos Noldor, e a sua mãe Anairë. Teve três irmãos: o mais velho
    foi Turgon, o Valente, e os mais novos Aredhel, a Branca e Argon.

    Turgon era alto e, ao contrário do seu pai e da maioria dos irmãos,
    tinha cabelo preto. Era tido como um dos mais sábios e previdentes dos
    senhores dos elfos. Casou-se com Elenwë dos Vanyar e teve uma única
    filha, Idril. Ele e o irmão Fingon tinham uma estreita amizade com os
    filhos de Finarfin, principalmente Finrod.

    Mas a ventura e a paz em Valinor não durariam para sempre. Quando
    Morgoth cumpriu o seu castigo de três eras de prisão nos salões de
    Mandos, foi julgado pelos Valar, e estes concederam-lhe o perdão pois o
    seu arrependimento parecia sincero e muito proveito era tirado dos seus
    conselhos e ações.

    No entanto, o coração dele continuava a invejar e odiar todas as
    criações de Ilúvatar, e os elfos eram quem mais odiava pela sua beleza
    e alegria. Os Noldor eram quem mais lhe davam atenção, devido à sua
    avidez por conhecimento e segredos, e foi para eles que ele orientou os
    seus negros desígnios.

    Morgoth começou a espalhar mentiras entre eles, dizendo que os Valar os
    enganavam, e os mantinham em Valinor para os ter sobre seu controlo.
    Assim eles começaram a suspeitar dos Valar e das suas intenções; e à
    medida que crescia neles o desejo de conhecer novas terras, onde
    pudessem estabelecer reinos seus, Morgoth ensinou-lhes sobre as armas.
    E assim, antes que os Valar se apercebessem, a paz em Aman foi quebrada.

    Mas as piores ações de Morgoth ainda estavam por vir. O que ele mais
    desejava eram as Silmarili, e queria mais que tudo ficar com elas para
    si; mas estavam guardadas em Formenos, a fortaleza de Fëanor, onde este
    habitava desde o seu banimento de Tirion, devido a um desentendimento
    com Fingolfin.

    Aproveitando um momento em que todos os Elfos de Aman e os Valar
    estavam em festa em Taniquetil, desceu sobre as duas árvores,
    juntamente com a aranha Ungoliant, e destruiu-as. Depois foi até
    Formenos, matou Finwë e fugiu com as três Silmarili para as suas
    antigas fortalezas na Terra Média.

    Levado pelo desejo de vingança contra Melkor e por má vontade contra os
    Valar, Fëanor rebelou-se contra eles, e convocou todos os Noldor a
    Tirion. Fazendo uso da sua mestria com as palavras, fez um discurso de
    que os Noldor para sempre se lembraram, incitando-os a partir de
    Valinor em busca de vingança e novas terras onde pudessem ser livres e
    governar-se a si mesmos; fez também um terrível juramento, juntamente
    com os seus filhos, gritando que perseguiria qualquer um que tivesse na
    sua posse uma Silmaril.

    Turgon e outros levaram a mal estas palavras, pois um juramento nunca
    pode ser quebrado; Turgon era, aliás, contra a partida dos Noldor. Mas
    vendo que todos os que lhe eram mais queridos partiam, e também um
    pouco tocado pelas palavras de Fëanor, decidiu partir, acompanhando a
    hoste do seu pai Fingolfin – e com ele partiu também o seu amigo
    Finrod.

    O que se seguiu marcaria para sempre todos os Noldor, e seria um dos
    atos mais desprezíveis levados a cabo por eles, no seu desespero.
    Procurando uma maneira de deixar Valinor, Fëanor pediu a Olwë, senhor
    dos Teleri, que lhe desse barcos para levar o seu povo até à Terra
    Média. Vendo o seu pedido negado, pois Olwë, senhor dos Teleri, não
    desejava auxiliar aqueles que se rebelavam contra os Valar, Fëanor
    atacou Alqualondë e tentou roubar os barcos pela força; mas os Teleri
    resistiram, e acabaram por desembainhar-se espadas e travou-se uma luta
    feroz, na qual muitos morreram.

    Mas os Noldor eram mais fortes e venceram a batalha. Muitos recuaram e
    desistiram da marcha depois deste terrível acontecimento, incluindo
    Finarfin, mas Turgon não se encontrava entre eles, pois era resoluto e
    destemido, e não abandonava nunca algo que tivesse começado antes de
    chegar ao fim. Fëanor decidiu então apoderar-se dos barcos, e
    juntamente com os seus filhos e aqueles que lhe eram fieis, partiu em
    direção às costas de Beleriand.

    Então Fëanor, num ímpeto de fúria enlouquecida, traiu o seu irmão
    Fingolfin e ordenou que queimassem os barcos roubados aos Teleri. Mas
    esta atitude apenas reforçou a vontade de Fingolfin em partir, apesar
    da sua cólera; e juntamente com o seu povo e os seus filhos, incluindo
    Turgon, atravessou as gélidas planícies do Helcaraxë, no norte, a única
    ligação por terra entre Valinor e a Terra-Média. Foi uma travessia
    penosa em que vários Noldor morreram, e Turgon foi um dos mais
    afectados pois a sua mulher, Elenwë, esteve entre os que sucumbiram ao
    frio. Mas apesar de tudo, graças à sua extraordinária força e
    resolução, conseguiram completar a caminhada.

    Mas desde cedo Turgon percebeu que a guerra contra Morgoth estava
    destinada ao fracasso, pelo menos enquanto os Noldor o tentassem
    derrotar sozinhos. Por isso ele, juntamente com o seu povo, sempre
    viveu separado do resto dos seus irmãos e primos. A sua primeira
    moradia foi a oeste de Dor-Lómin, em Nevrast, que significa “costa
    próxima” em Sindarin. Habitava na cidade de Vinyamar, debaixo do monte
    Taras.

    Cinqüenta anos depois do nascimento do Sol, partiu para a ilha de Tol
    Sirion, em busca de Finrod, e juntos viajaram para sul, ao longo do
    rio. Certa vez, junto às suas margens, Ulmo lançou sobre eles um sono
    profundo e sonhos pesados. Pois o Vala fora era grande amigo deles, e
    sabia que o seu coração estava empenhado em conseguir as Silmarili; pôs
    então na mente de ambos o desejo de procurar lugares ocultos e
    construir fortalezas escondidas, de onde pudessem preparar uma retirada
    caso Morgoth vencesse os exércitos do norte.

    Finrod viria mais tarde a contruir Nargothrond, como as mansões de
    Menegroth. Já Turgon, lembrando-se de Tirion, com as suas brandas
    muralhas, da sua alta torre e da sua grande árvore, desejou erguer uma
    cidade à imagem dela. Então Ulmo apareceu diante dele, e mandou-o
    regressar ao vale do Sirion, onde o guiou até ao vale escondido de
    Tumladen. O único acesso até lá era um caminho fundo debaixo das
    montanhas, escavado pelas águas que corriam para se juntar às correntes
    do Sirion. No centro do vale erguia-se um monte ilha, pois ali houvera
    um grande lago em tempos.

    Lentamente e em segredo Turgon começou a construir a cidade que
    imaginava. Turgon decidiu chamá-la de Ondolindë, na língua dos elfos de
    Valinor, que quer dizer Rocha da Música da Água; mas viria a ser mais
    conhecida pelo seu nome sindarin, Gondolin, Rochedo Escondido. Então
    Turgon preparou-se para sair, mas Ulmo apareceu-lhe uma última vez.

    “ – Agora irás finalmente para Gondolin, Turgon, e eu manterei o meu
    poder no vale do Sirion e em todas as suas águas, para que ninguém
    assinale a tua ida, nem lá encontre a estrada oculta contra a tua
    vontade. Mais longamente do que todos os reinos de Eldalië resistirá
    Gondolin a Melkor. Mas não ames demais o trabalho das tuas mãos nem o
    engenho do teu coração e lembra-te que a verdadeira esperança dos
    Noldor se encontra a Ocidente e vem do mar.”

    E advertiu-o de que ainda se encontrava sobre a maldição de Mandos, que
    não podia afastar, e que esta poderia encontrá-lo antes do fim e a
    traição penetrar nas suas muralhas. Mas disse-lhe que quando esse tempo
    chegasse viria alguém de Nevrast avisá-lo, e pediu-lhe para deixar em
    Vinyamar armas e uma espada que esse mensageiro pudesse usar.

    Por fim Turgon partiu, e acompanhou-o todo o seu povo; uma terça parte
    de todos os Noldor que fizeram parte da hoste de Fingolfin, e um grupo
    ainda maior de elfos Sindar. Caminharam sob a escuridão das Ered
    Wethrin e nunca ninguém soube por onde tinham ido. Turgon partiu em
    último lugar, deixando vazios os seus antigos salões; e ao transpor as
    portas das montanhas, estas fecharam-se atrás dele.

    Turgon não permitia que quem quer que pusesse os olhos na cidade oculta
    alguma vez de lá saísse; e só mais de trezentos e cinqüenta anos depois
    Turgon voltaria a transpor as portas, juntamente com o seu exército.
    Mas por trás das montanhas o povo de Turgon aumentou e a cidade
    prosperava, tornando-se cada vez mais bela e verdadeiramente comparável
    a Tirion em Valinor.

    “Altas e brancas eram as suas muralhas, lisas as suas escadas e alta
    e forte a torre do rei. Lá jorravam fontes luminosas e nos pátios de
    Turgon erguiam-se imagens das árvores de antigamente, que o próprio
    Turgon fez com a arte élfica. E a árvore que ele fez de ouro chamava-se
    Glingal e a árvore cujas flores flores ele fez de prata chamava-se
    Belthil.”

    Durante vários anos Gondolin manteve-se oculta, participando pouco nas
    guerras fora das fronteiras do reino de Turgon (mesmo na Dagor
    Bragollach, a Batalha das Chamas Repentinas). Pouco foram os que
    entraram nele, e menos ainda os que saíram. A primeira pessoa a partir
    foi a própria irmã de Turgon, Aredhel Ar-Feiniel, embora contra o seu
    gosto.

    Aredhel, que queria encontrar-se com os filhos de Fëanor, acabou por se
    separar da sua escolta e se perder nos vales das Ered Gorgoroth, e
    Turgon não soube dela por muito tempo, para seu grande desgosto. Na
    realidade, Aredhel, desorientada, foi ter à floresta de Nan Elmoth, a
    leste de Doriath. Lá habitava Eöl, que a tomou como sua esposa, e de
    quem teve um filho, Maeglin. Mais tarde, Maeglin viria a desempenhar um
    papel importante na queda de Gondolin.

    Outros dois personagens importantes que entraram em Gondolin foram
    Húrin e Huor, príncipes da casa de Hador. Foram trazidos por Thorondor,
    rei das águias de Crissaegrim, que os encontrou perdidos no vale do
    Sirion, e perseguidos por orcs. Turgon ganhou uma grande estima por
    eles, e até os deixou partir, embora tenham feito um juramento que os
    obrigava a manter silêncio sobre Gondolin – e que cumpriram até à sua
    morte.

    A Dagor Bragollach, que resultou na quebra do cerco a Angband e no
    desmembramento das forças dos filhos de Fëanor, foi um rude golpe para
    todos os Noldor. Em desespero, parecendo-lhe que todas as esperanças
    dos Noldor tinham acabado, Fingolfin montou o seu cavalo Rochallor, e
    empunhando Ringil, a sua espada, cavalgou até às portas de Angband e
    desafiou o próprio Morgoth para um duelo.

    Apesar de o Valar caído se sentir receoso, não podia ignorar o chamado.
    Longo e árduo foi o combate, mas esta era uma luta que nenhum elfo
    podia vencer, e Fingolfin acabou por ser derrotado. Então Thorondor
    desceu dos céus e resgatou o seu corpo antes que Morgoth o destruísse,
    levando-o para um monte com vista para Gondolin, onde Turgon lhe ergueu
    um túmulo que orcs algum jamais ousou tocar.

    Fingon tornou-se então o Alto Rei dos Noldor no lugar do seu pai. Mas
    não houve descanso entre os Noldor, e Maedhros, o mais velho dos filhos
    de Fëanor, estava decidido a retaliar contra Angband o mais depressa
    possível. Assim, reuniu uma força enorme, juntando os seus exércitos
    com os exércitos de Fingon, dos Homens das três casas, e até dos Anões
    das Montanhas Azuis, todos decididos a vencer Morgoth.

    A batalha viria a ser conhecida como Nirnaeth Arnoediad, a Batalha das
    Lágrimas Incontáveis, pois grande foi o desgosto que dela resultou. A
    vitória esteve perto para os exércitos de Fingon e Maedhros, mas a
    traição dos Homens de Leste virou-a a favor de Morgoth. Turgon
    interviu, e levou consigo uma força de dez mil elfos.

    Feliz foi o seu encontro com o irmão Fingon e com Húrin e Huor, e
    valentemente combateram; mas nem isso foi suficiente para evitar a
    desgraça. Fingon caiu, vencido por Gothmog, senhor dos Balrogs; Huor
    foi morto e Húrin capturado e aprisionado por Morgoth nas masmorras de
    Angband; e Turgon, agora Alto Rei dos Noldor, recuou de novo para
    Gondolin. Apenas devido ao sacrifício dos Homens de Dor-Lómin ele e a
    sua hoste conseguiram escapar, e o rei não esqueceu isto.

    Os últimos anos de Turgon na Terra Média foram manchados por guerras
    constantes. Ninguém acreditava mais na vitória contra Morgoth – e
    Turgon, ciente de que a única esperança de sobrevivência para a sua
    cidade e o seu povo residia no secretismo, foi obstinado como nunca no
    cumprimento das leis de entrada e saída de Gondolin.

    Mas chegou a altura em que abriu uma exceção, pois o mensageiro que
    Ulmo lhe tinha prometido apareceu. O enviado foi Tuor, filho de Huor,
    que foi guiado até à cidade por Voronwë, o único a regressar das
    viagens em busca de Valinor. Tuor trouxe consigo as armas que haviam
    sido deixadas em Vinyamar, e no seu coração tinha a vontade de Ulmo.
    Chegando perante o rei, avisou-o de que a maldição de Mandos se
    aproximava do seu cumprimento, e deveria abandonar Gondolin e descer
    pelo Sirion até ao mar. Mas o amor que tinha à cidade superou a
    habitual sabedoria de Turgon, e ele ignorou o conselho – naquele que
    foi o primeiro passo para a sua queda e do seu povo.

    Tuor permaneceu na cidade, pois Turgon não se esquecera do sacrifício
    de Huor e Húrin, e tinha também grande estima por ele; e tão grande era
    que permitiu que ele, apesar de ser um homem mortal, casasse com a sua
    filha, Idril. Mas ao mesmo tempo o mal havia entrado em Gondolin, pois
    Maeglin, filho de Aredhel (que entretanto havia voltado mas fora morta
    por Eöl), era invejoso d favor do rei a Tuor e desejava Idril em
    segredo. Nas suas perambulações, foi capturado por orcs, que o levaram
    à presença de Morgoth; e então estabeleceu um acordo com ele – Maeglin
    mostrou o caminho para Gondolin a Morgoth e este prometeu-lhe liberdade
    e o senhorio de Gondolin.

    Então Morgoth lançou o seu derradeiro ataque sobre Gondolin, o último
    dos grandes reinos élficos em Beleriand. O ataque foi levado a cabo em
    época de festival, quando todos os habitantes da cidade se encontravam
    nas muralhas a leste, à espera de ver o sol nascer; e as hostes de
    Morgoth desceram pelo norte, tomando a cidade de assalto
    repentinamente.

    Mas não obstante a defesa por parte do povo de Turgon foi feroz, e
    grande feitos de heroísmo foram levados a cabo pelos seus senhores,
    como a batalha entre Echtelion e Gothmog, em que ambos pereceram. No
    entanto não havia esperança, e toda a cidade foi saqueada, e a grande
    torre foi derrubada – e na sua ruína caiu Turgon.

    Mas de Gondolin viria a derradeira esperança de todos os elfos e
    Homens, pois uns poucos escaparam, liderados por Idril e Tuor, e entre
    eles veio o filho deles, Eärendil, que viria a ser o esperado
    mensageiro que traria o socorro dos Valar.

    Cronologia:


    Era das Árvores

    Data desconhecida – Turgon nasce em Tirion.

    4995 – Morgoth rouba as Silmarili e foge. Juramento de Fëanor e exílio
    dos Noldor, incluindo Turgon e os seus irmãos. Primeiro fratricídio
    entre Elfos.

    1ª Era do Sol

    1 – Chegada de Fingolfin, Turgon e restantes Noldor a Beleriand.

    75 – Dagor Aglareb e cerco a Angband.

    320 – Aredhel deixa Gondolin; casa-se com Eöl.

    390 – Nasce Maeglin, filho de Aredhel e Eöl.

    455 – Batalha da Chama Súbita. Cerco a Angband quebrado. Morte de Fingolfin às mãos de Morgoth.

    472 – Nirnaeth Arnoediad. Morte de Fingon; Turgon sucede-lhe como Alto Rei dos Noldor.

    495 – Chegada de Tuor a Gondolin.

    502 – Casamento de Tuor e Idril.

    503 – Nascimento de Eärendil.

    510 – Cerca de Gondolin e morte de Turgon. Gil-Galad sucede-lhe enquanto Alto Rei dos Noldor.

    Nome:


    Turgon é uma forma Sindarin para o Quenya Turukáno. Desconhece-se ao
    certo o que quer dizer esse nome, embora o significado mais provável
    seja algo como “valiant lord” (senhor valente em português).

    Outros nomes e títulos:

    Turgon o Sábio
    Rei de Gondolin

    Árvore Genealógica:

    fingolfin_tree

    (clique na imagem para ampliá-la) 

  • Fingolfin

    Fingolfin foi um dos maiores heróis que a Terra Média já conheceu, o
    mais valente e ousado dos elfos, bem como um dos personagens mais
    trágicos da sua história. Filho de Finwë, Alto-Rei dos Noldor, e de
    Indis dos Vanyar, segunda mulher deste, fez parte dos exilados que
    abandonaram Valinor e partiram para Beleriand, e lá foi responsável por
    alguns dos feitos mais famosos e audazes dos Noldor, quer no auge do
    seu poder quer na sua decadência.
     
     

    Fingolfin era o segundo filho de Finwë; o primeiro era Fëanor, seu
    meio-irmão, filho de Míriel e o mais poderoso dos elfos de antigamente.
    A sua relação com o irmão sempre foi conflituosa, principalmente por
    parte de Fëanor, que não sentia grande estima por Indis e pelos seus
    irmãos, diferentes dele tanto em aparência como em disposição. Tinha
    ainda duas irmãs, Findis e Irimë, e um irmão, Finarfin. Apesar de ser
    menos poderoso que Fëanor, diz-se que Fingolfin era o mais forte dos
    seus irmãos.

    Levado pelo desejo de vingança do seu irmão, Fingolfin comprometeu-se a
    o seguir onde quer que este fosse, e a abandonar Aman para perseguir
    Morgoth e construir novos e grandiosos reinos na Terra Média. Com
    Fingolfin partiu partiu toda a sua Casa, incluindo os seus filhos,
    Fingon e Turgon, e a sua única filha, Aredhel Ar-Feiniel.

    A história de Fingolfin no exílio tem tanto de arrebatador como de
    trágico e devastador. Após o Fratricídio de Alqualondë, em que
    participou, para sua grande vergonha e ressentimento, foi abandonado
    por Fëanor, que levou todos os barcos dos Teleri e, chegando à Terra
    Média, ordenou que fossem queimados e destruídos. Fingolfin, apesar da
    cólera e da amargura, não se deixou abater, e desejou mais do que nunca
    alcançar a Terra Média; levando os restantes dos Noldor consigo,
    atravessou o gélido Helcaraxë, no Norte. No entanto esta foi uma
    travessia penosa, e nela pereceram muitos Noldor.

    “E ele e a sua hoste longa e tormentosamente vaguearam, mas a sua
    coragem e a sua resistência aumentaram com as dificuldades, pois eram
    um povo forte, os imortais filhos mais velhos de Eru Ilúvatar, mas
    recém-chegados do reino abençoado e ainda isentos da fadiga da Terra. O
    fogo dos seus corações era jovem e, conduzidos por Fingolfin e seus
    filhos e por Finrod e Galadriel, ousaram penetrar no crudelíssimo
    Norte; e, não encontrando outro caminho, suportaram finalmente o terror
    do Helcaraxë e os crúeis montes de gelo. (…) Aí se perdeu Elenwë,
    mulher de Turgon, e muitos outro igualmente pereceram; e foi com uma
    hoste diminuída que Fingolfin pisou finalmente as terras exteriores.”

    E foi ao primeiro nascer da Lua que Fingolfin e os Noldor sobre o seu
    comando pela primeira vez puseram os pés na Terra Média. Nessa altura a
    Batalha sob as Estrelas, a segunda Grande Guerra de Beleriand, já havia
    sido combatida, e Fëanor jazia moribundo em Ard-galen. Fingolfin
    avançou com a sua hoste para Sul, em direção a Mithrim, onde os filhos
    de Fëanor tinham o seu exército acampado, junto ao lago. Mas, vendo que
    as criaturas de Morgoth fugiam perante o primeiro nascer do Sol, partiu
    com o seu grande exército, passou as Ered Wethrim, atravessou as
    setenta léguas de Ard-galen e prostrou-se diante dos próprios portões
    de Angband. Ali constatou que o poder de Morgoth e da sua fortaleza era
    demasiado grande para ser derrotado por qualquer força de elfos que
    existisse na Terra Média, pelo menos num ataque direto. Decidiu que a
    melhor estratégia seria tentar conter as suas forças, através de um
    cerco, enfrentando os exércitos saíssem das profundezas das minas na
    vasta planície.

    Fingolfin foi então eleito Alto-Rei dos Noldor. Maedhros, filho mais
    velho de Fëanor, e que havia sido salvo de Angband por Fingon,
    prescindiu da sua reivindicação como soberano dos Noldor, considerando
    Fingolfin o mais velho e mais sábio, e também para ajudar a sarar o
    grande ódio que havia entre as duas casas. Estabeleceu-se então um
    cerco a Angband, com vigias a ocidente, leste e sul.

    Fingolfin ocupou Hithlum e Mithrim e lá fez o seu reino. O seu filho
    Fingon ficou com as terras vizinhas de Dor-Lómin, e Turgon por seu lado
    mudou-se para Nevrast, juntamente com a sua filha, Ar-Feiniel.

    Passados 20 anos desde o nascimento do Sol, Fingolfin deu uma grande
    festa, celebrada na nascente próxima das Lagoas de Ivrin, onde nascia o
    rio Narog, e as terras eram particularmente belas. A alegria dessa
    festa foi lembrada muitas vezes em dias futuros, quando a mágoa era
    maior, e chamou-se Mereth Aderthad, a Festa da Reunião. Compareceram
    elfos de todos os cantos de Beleriand, incluindo Maedhros e Maglor,
    elfos cinzentos das florestas, gente dos portos, com Círdan, o seu
    senhor, e elfos verdes de Ossiriand; de Doriath apenas compareceram
    Mablung e Daeron, com saudações do seu rei. Muitas alianças e
    juramentos de amizade se fizeram nessa altura. De fato, durante os anos
    que se seguiram viveram-se períodos de paz, enquanto Morgoth e o seu
    poder era contidos em Angband.

    Passadas décadas, Morgoth havia ganho confiança, convencido de que os
    Senhores dos Noldor haviam descurado a sua vigia e pouco pensavam na
    guerra. Lançou então os seus exércitos sobre Beleriand, e orcs
    irromperam da planície de Ard-galen, espalhando grande mal, enquanto
    desciam quer a ocidente, pelo desfiladeiro do Sirion, quer a oriente,
    pelas terras de Maedhros e Maglor. No entanto Fingolfin conseguiu
    repelir os exércitos do Senhor Escuro com sucesso, atacando-os enquanto
    passavam por Dorthonion, e conseguindo extermina-los até ao último.
    Esta batalha chamou-se Dagor Aglareb, a Batalha Gloriosa, e foi a
    terceira das Grandes Guerras de Beleriand.

    Mas a Dagor Aglareb não era nada comparada aos verdadeiros intentos de
    Morgoth. Durante mais duzentos anos continuou a testar as forças de
    Fingolfin; cem anos depois da grande batalha tentou invadir Hithlum e,
    noutra altura lançou Glaurung, o Dourado, sobre os povos élficos do
    norte; mas Fingon, príncipe de Hithlum, conseguiu levar a melhor em
    ambas as ocasiões.

    Fingolfin chegou a ponderar um assalto a Angband, pois estava
    consciente que corriam perigo enquanto o cerco estivesse incompleto e
    Morgoth tivesse liberdade para congeminar nas suas minas, elaborando
    planos cujo mal não se poderia adivinhar enquanto não fossem revelados.
    Mas a terra vivia em paz e os reinos dos Noldor prosperavam, pelo que
    poucos dera ouvidos ao Alto Rei e os seus desígnios de um ataque em
    larga escala, desta vez, ficaram por terra.

    E foi então que o grande mal que Morgoth tinha preparado em segredo foi
    revelado; e foi ainda pior e mais negro do que Fingolfin ou quaisquer
    outros haviam receado. O golpe com que Morgoth pretendia deitar por
    terra as defesas dos Noldor e envenenar as terras em que viviam foi
    disferido com um poder tal que ninguém lhe conseguiu resistir. Das
    Thangorodrim saltaram enormes rios de chama, que se alastraram por toda
    a planície, destruindo Ard-galen, sendo apenas contidos pelas Ered
    Wethrim e pelos montes de Dorthonion – não sem que todas as florestas
    nessa zona fossem completamente arrasadas. E com esse fogo seguiu
    Glaurung, já no máximo do seu poder e força, juntamente com Balrogs, à
    frente de multidões de orcs. Muitos dos maiores inimigos de Morgoth
    foram destruídos, e nunca mais houve paz em Beleriand.

    O cerco foi completamente rompido e os Noldor dispersos. Os exércitos
    de Fingolfin foram contidos pelos de Morgoth, sendo obrigados a recuar
    para Hithlum, e nada puderam fazer, ficando separados dos seus aliados
    a leste. Chegaram então notícias a Hithlum de que Dorthonion tinha sido
    conquistada, e tanto os filhos de Finarfin como os de Fëanor tinham
    sido obrigados a deixar as suas terras. A Fingolfin pareceu então que
    os Noldor tinham sido irremediavelmente derrotados e a ruína de todas
    as suas casas era iminente. Levado pelo desespero, num ato de valentia
    e loucura, montou o seu cavalo Rochallor e cavalgou até às portas de
    Angband, desafiando o próprio Morgoth para um combate.

    “Passou por Dor-nu-Fauglith como um vento entre a poeira, e todos
    quantos viram a sua aproximação fugiram cheios de espanto, pensando que
    o próprio Oromë chegara, pois possuía-o uma grande loucura de raiva, de
    tal modo que os seus olhos brilhavam como os dos Valar. Assim, chegou
    sozinho às portas de Angband, tocou a sua trompa, bateu de noto às
    portas de bronze e desafiou Morgoth para combate singular. E Morgoth
    veio.”

    Não foi de bom grado que Morgoth saiu da sua fortaleza, pois conhecia
    bem o medo. Mas não pôde ignorar o desafio de Fingolfin, cuja voz
    ecoava pelos túneis. Por muito tempo se bateu o elfo, com uma coragem
    nunca antes vista. Mas contra o mais poderoso ser de Arda mesmo o mais
    audaz e forte dos elfos só tinha um destino possível.

    “Então Morgoth levantou alto o Grond, o martelo do mundo subterrâneo, e
    deixou-o cair como um trovão. Mas Fingolfin saltou para o lado e o
    Grond abriu um grande buraco na terra, donde irromperam fumo e fogo.
    Muitas vezes Morgoth tentou acertar-lhe, e de todas elas Fingolfin se
    desviou, como um relâmpago a fugir debaixo de uma nuvem escura, e feriu
    Morgoth com sete feridas, e sete vezes Morgoth soltou um grito de
    angústia (…).

    Mas, por fim, o rei cansou-se e Morgoth bateu-lhe com o escudo. Três
    vezes o obrigou a ajoelhar-se e três vezes ele se levantou de novo e
    ergueu o escudo e o elmo atingido. Mas a terra estava toda lacerada e
    esburacada à sua volta, e ele tropeçou e caiu para trás, diante dos pés
    de Morgoth; e este apoiou-lhe o pé esquerdo no pescoço, e o seu peso
    foi como um monte caído. No entanto, com o seu último e desesperado
    golpe, Fingolfin cortou-lhe o pé com a Ringil, e o sangue esguichou
    negro e fumegante e encheu as covas abertas pelo Grond.”

    Antes de Morgoth se desfisesse do corpo do rei morto, Thorondor, rei
    das águias, desceu e, ferindo o Vala no rosto, levou o corpo para um
    monte no norte, perto do vale de Gondolin. Ali Turgon construíu um
    túmulo para o seu pai, do qual jamais algum orc se ousou aproximar.
    Fingon, desgostoso, assumiu a chefia dos Noldor.

    Assim morreu o mais altivo e valente dos reis élficos de antigamente, e
    a sua queda é recordada com grande desgosto entre todos os Elfos.

    Cronologia

    Era das Árvores

    4690 – Fingolfin nasce.
    4990 – Fëanor ameaça Fingolfin com armas e é banido de Tirion, se exilando em Formenos.
    4995 – Morgoth rouba as Silmarils e foge. Juramento de Fëanor e exílio
    dos Noldor, incluindo Fingolfin e os seus filhos. Primeiro fratricídio
    entre Elfos.
    4996 – Profecia de Mandos
    4997 – Traição de Fëanor. Fingolfin e os restantes dos Noldor iniciam a travessia do Helcaraxë.

    Primeira Era do Sol

    1 – Fingolfin e o seu povo chegam a Beleriand. Fingolfin se estabelece em Mithrim.
    75 – Dagor Aglareb e cerco a Angband.
    455 – Batalha da Chama Súbita. Cerco a Angband quebrado. Morte de Fingolfin às mãos de Morgoth.

    Nome

    É possível que Fingolfin seja a contração de Finwë Ñolofinwë, que significa "Finwë, sábio Finwë".

    Outros nomes:
    Fingolfin o Forte
    Alto Rei dos Noldor

    Árvore Genealógica: 

    fingolfin_tree

     

     

     

     

     

     

     

    (clique na imagem para ampliá-la)