Tag: The Children of Húrin

  • "The Children of Húrin" na Lista dos Mais Vendidos NYT

    "The Children of Húrin" foi lançado e estreou de cara em primeiro lugar na lista de mais vendidos no New York Time, categoria "Ficção – Capa Dura". E quanto mais sucesso lá fora, mais rapidamente o teremos aqui no Brasil. Confira a lista completa do NYT.
     
  • Filhos de Húrin, ou Tolkien: Os Estudiosos e os Crí­ticos

    Em Babel-17, de Samuel R. Delany, há uma descrição de uma arma que
    pode se parecer como uma pedra ou um pedaço pequeno de metal. Ela é basicamente
    não é detectável, mas se você introduzi-la sorrateiramente em uma espaçonave e
    colocá-la perto de qualquer tipo de "sistema de estase-inércia", a
    nave irá se desintegrar assim que você tentar viajar pelo espaço.

     

    Acho que O Senhor dos Anéis possui o mesmo tipo de efeito nas teorias
    de boa literatura. Pegue a teoria de algum crítico a respeito do que é
    "boa literatura", coloque Tolkien nela e observe o edifício inteiro
    desmoronar sobre as suas próprias contradições.

    Por exemplo, como Tom Shippey mostra de maneira tão bela,
    Philip Toynbee diz que "O Bom Escritor" pode escrever sobre qualquer
    coisa, até mesmo "duques incestuosos na Terra do Fogo", e cabe ao
    público se ajustar à obra e não desconsiderá-la como estranha ou diferente
    demais. Aparentemente o Sr. Toynbee deixou de mencionar a cláusula adicional de
    sua teoria de que "duques incestuosos não tem problema, mas Elfos não são
    permitidos", pois Tolkien encaixa-se perfeitamente na descrição de Toynbee
    (e de muitos outros) de "O Bom Escritor", e ainda assim Toynbee, e
    "Bunny" Wilson, Salman Rushdie e, mais recentemente, Bryan
    Appleyard
    , claramente sequer colocariam Tolkien próximo do panteão deles
    dos "Bons Escritores".

    E mesmo assim ele se encaixa tão bem nos critérios:
    Lutar com a recalcitrância da língua inglesa? Confere (exceto que Tolkien sabia
    mais sobre a estrutura e complexidade do inglês, sua história e seu
    desenvolvimento do que Pound, Eliot ou Joyce – embora Joyce provavelmente
    tivesse um sentido fono-estético internalizado tão profundo quando o de
    Tolkien, ainda que não tão teorizado explicitamente). Seguir sua imaginação
    onde quer que ela vá? Confere. Recusar-se a aceitar os pressupostos de
    ideologias contemporâneas? Confere. Escrever para si próprio e não se preocupar
    com as opiniões ou com críticos ou com editores ou mesmo com a posteridade?
    Confere.

    Logo, o que isso mostra? É tentador tentar devolver as palavras dos críticos
    hostis a eles em um tipo de judô intelectual, mostrando que Tolkien tem
    o seu lugar entre os outros grandes escritores, adequando-se precisamente nas
    categorias de Bunny Wilson e outros. Tom Shippey (que é uma pessoa muito mais
    gentil e mais razoável do que eu) faz isso muito bem. Ele parece querer dizer a
    esses críticos: "Abram os olhos. Usem suas próprias teorias. Isto é o que
    vocês disseram que era boa literatura. Tolkien se encaixa em todos os seus
    critérios".

    Eu, por outro lado, (que não sou nem tão instruído nem tão legal quanto
    Shippey) acredito que Tolkien mostra que a maioria das teorias estéticas modernistas
    – pelo menos o tipo que foi internalizado pelos críticos que publicam no Times
    e em outros meios da elite – são uma bosta. Desculpe, isso não foi educado e
    poderia ser melhor reformulado: as teorias estéticas de pessoas como Bunny
    Wilson, Toynbee, Judith Shulevitz, Bryan Appleyard, Michiko Kakutani (quando se
    dão ao trabalho de articular todas elas) são compostas igualmente de evasivas e
    suposições profundamente enraizadas que, assim que são questionadas, não podem
    ser sustentadas.

    Deixe-me ver a primeira
    resenha de Os Filhos de Húrin de J. R. R. Tolkien, feita por Bryan
    Appleyard
    . É tentador (ah, tão tentador) "esmiuçar" a resenha,
    dividindo-a em parágrafos e mostrando o que há de errado com cada um, mas
    deixarei isso para outros. Em vez disso, quero chamar a atenção para algumas
    suposições muito importantes e não-questionadas as quais acredito que deveriam
    ser questionadas.

    Appleyard começa citando A. N. Wilson no argumento de que Tolkien "não era
    realmente um escritor" mas sim um criador de mundos. Esse é um insight
    muito útil das idéias de Wilson e Appleyard. Um "escritor", sob esse
    aspecto, não é alguém que publica livros ou mesmo escreve privadamente. Um
    escritor é algo mais, um membro de algum subgrupo de pessoas que publicam
    livros. Um "escritor" (ao contrário de um escritor) pertence a um
    grupo específico.

    Como é esse grupo? De acordo com o parágrafo seguinte, ficamos sabendo que
    escritores devem ser aquele subgrupo de pessoas que escrevem e que estão
    preocupadas com o estilo. Esse é um começo promissor; eu mesmo acredito que a
    maior lacuna entre Tolkien e os seus críticos é que as metodologias críticas
    contemporâneas não são muito aplicáveis ao estilo de Tolkien, de modo que talvez
    estejamos chegando a algum lugar.

    Mas então ficamos sabendo que Tolkien preocupava-se com o estilo, só
    que, aparentemente, da maneira errada. Ele estava interessando no estilo de Beowulf,
    de Sir Gawain e o Cavaleiro Verde, das sagas nórdicas "e,
    especialmente no caso deste último livro… de Wagner"
    (ênfase
    chocada minha): "A abordagem óbvia para um autor contemporâneo que queira
    recuperar tais formas é atualizar o estilo delas e, talvez, colocá-las em um
    contexto contemporâneo".

    Ficamos sabendo agora de coisas ainda mais importantes: para ser um escritor, é
    preciso "atualizar" o próprio estilo. Essa é a abordagem
    "óbvia". Então, se seguirmos essa linha de raciocínio, embora possa
    haver coisas boas e importantes em textos antigos, se alguém vivo agora quiser
    escrever sobre essas coisas boas, deverá "atualizar-se" ao estilo ou
    mesmo ao contexto contemporâneo. A suposição não-dita porém dominante deve ser
    a de que o estilo contemporâneo é melhor do que estilos mais antigos
    (do contrário, para que "atualizá-lo" – atualizar implica
    melhoramento).

    Vemos aqui então que Appleyard (e suponho que Wilson e muitos outros) vem
    aceitando inconscientemente uma ideologia estética progressista
    enunciada abertamente pela última vez por escritores do final da era vitoriana,
    mas que obviamente ainda exerce uma influência muito forte. Se você seguir essa
    linha de raciocínio, parece que a arte da escrita está sendo continuamente
    aprimorada, de modo que o que é mais recente é melhor (embora a distribuição
    desigual de talento no decorrer das eras signifique que alguns grandes
    escritores antigos ainda valem a pena ser lidos mesmo que não tenham sido
    "atualizados").

    Ou há a possibilidade de que possuímos uma variedade de progressivismo estético
    na qual não é preciso afirmar que, digamos, Hemingway é esteticamente superior
    a Shakespeare, mas que cada um é mais "adaptado" à sua época e,
    assim, se Shakespeare escrevesse exatamente as suas palavras em 1941, a obra de
    Hemingway seria superior. Creio que provavelmente é onde a maioria dos críticos
    literários jornalísticos (como Appleyard, Shulevitz, Kakutani) acabaria: não em
    um progressivismo estético absoluto, mas em um relativo: há um estilo
    que é apropriado para um determinado período de tempo, e desviar demais desse
    estilo constitui uma má literatura.

    Mas eis aqui uma rápida experiência de opinião: digamos que alguém descubra, em
    algum arquivo empoeirado, um soneto shakespeareano ou uma obra chauceriana
    genuína (por exemplo, o perdido Livro do Leão) ou outro poema escrito
    pelo poeta do Beowulf. Poderia essa ser uma grande obra de literatura?
    Não creio que alguém iria argumentar que não poderia (isso dependeria, é claro,
    da qualidade do texto). Agora, imaginemos que, após 100 anos, inúmeros artigos
    acadêmicos, etc., descobríssemos que o texto encontrado fosse na verdade uma
    criação do século XX. Aquelas mesmas palavras passariam de boa literatura para
    má literatura? E se fosse descoberto que uma obra canônica fosse uma invenção
    posterior? Se Beowulf tivesse sido escrito no período Tudor ele agora
    seria um poema ruim?

    De acordo com as suposições que Appleyard parece estar seguindo, me parece que
    o autor e o período são o que valem, não as palavras específicas no papel.
    Contudo, não estou ciente de qualquer argumento lógico para tal ponto
    de vista. Joyce ou Eliot serem melhores estilistas da prosa que Tolkien –
    "(artistas muito superiores)", diz Appleyard, sem explicar por que –
    pressupõe algum modo de julgar o estilo da prosa. Mas quando tentamos
    compreender o que o autor da resenha quer dizer com um melhor estilo de prosa,
    nos deparamos com evasivas: "profundidade" (indefinida) ou
    "tendências mais profundas" (indefinidas).

    Appleyard continua (a respeito de Os Filhos de Húrin): "O
    pensamento moderno está claramente sendo arrastado pelo pescoço para longe de
    sua zona de conforto literário". Essa é uma passagem muito boa, e bem
    provável que seja verdadeira, mas ele a diz como se fosse uma coisa ruim.
    Parece-me que a maior parte do que ouvi sobre o poder e a importância da arte e
    da literatura modernistas e pós-modernistas diz respeito a tirar as pessoas de
    suas zonas de conforto: não é essa a mensagem básica de cada uma das Bienais
    Whitney desde, digamos, a década de 80? Mas quando Tolkien faz isso é ruim. É
    por que há Elfos? (Alguém esqueceu de mencionar novamente a cláusula adicional
    "sem Elfos"?)

    Appleyard menciona que ele "desistiu" de O Senhor dos Anéis
    porque a prosa de Tolkien é "completamente superficial, sem nenhuma das
    tendências mais profundas que constituem uma boa ou excelente obra". Aqui
    fiquei realmente confuso. Se há algo que o estudo das obras de Tolkien mostrou
    é que há uma "profundidade" imensa por trás das escolhas de
    palavras e imagens de Tolkien: quando Tolkien usa "eyot" [arc.
    "ilhota"] ou "laving" ["lavando"] ou "louver"
    ["gelosia"] ou "ninnyhammer" [coloq. "idiota
    cabeça-dura"] ou "dwimmerlaik" [ing. médio "criatura
    espectral"], ele está usando termos técnicos precisos e fazendo a ligação,
    através de referências literárias, com obras de literatura mais antigas (assim
    como Eliot faz em "A Terra Desolada", que Appleyard menciona). Quando
    Tolkien usa construções sintáticas tais como "Come not between the Nazgul
    and his prey" ["Não te intrometas entre o Nazgul e sua presa"]
    ou "That was a grim meeting" ["Aquele foi um encontro
    sinistro"], ele faz uso de referencialidade tradicional para invocar
    contextos literários maiores. Quando conta a história de Túrin dormindo por fim
    com sua irmã e cometendo suicídio quando descobre, ele está fazendo referências
    ao Kalevala finlandês e pegando um tipo de motivo do folclore e
    transformando-o em uma história com personagens mais complexos e ironias mais
    específicas ("atualizando", se preferir). Infelizmente, se você for
    um crítico literário mas não um estudioso, se você for um jornalista que cita Beowulf
    ou Sir Gawain e o Cavaleiro Verde mas não os leu com atenção (ou, em um
    dos exemplos acima, Rei Lear), você não entenderá o recado.

    Logo, não é que a prosa de Tolken careça de profundidade, mas sim que as
    profundidades às quais ela faz referência não são as profundidades que o
    crítico conhece. Mas por que Tolkien é o culpado aqui? O grande escritor,
    segundo Toynbee, não tem que se adiantar e o crítico se esforçar para
    acompanhar? Quem determinou que o conjunto de referências e textos deve ser
    aquele com o qual o crítico sente-se confortável? Eliot parecia estar zombando
    da falta de erudição de muitos críticos quando publicou suas próprias notas de
    rodapé para "A Terra Desolada", e os críticos que não compreendem as
    referências de Tolkien também carecem de erudição (de um tipo diferente,
    "setentrional" em vez de clássica, por exemplo), mas em vez de se
    esforçarem para adquiri-la, eles supõem que as referências são obscuras,
    "provincianas", "dônicas", "pouco sólidas".

    A comparação de Appleyard com o Único e Eterno Rei de T. H. White é reveladora. A obra de White é repleta
    de ironia, aquele condimento multiuso dos escritores modernistas,
    críticos e jornalistas. Tolkien tem realmente muito pouco interesse nesse tipo
    de ironia (que com freqüência é, na minha opinião, superficial, embora não no
    caso de White). A ironia, porém, é fácil para o crítico e lhe permite manter
    uma pose de superioridade, que é essencial se você vai dizer às pessoas do que
    elas devem ou não gostar (em vez, digamos, explicar como um artefato estético
    produz seus efeitos em diferentes leitores). É uma camada adicional de ironia:
    não apenas o leitor sabe de coisas que o personagem não sabe, como se supõe
    que o crítico sabe de coisas, coisas importantes, que o autor não sabe
    .

    É irônico, portanto, que Os Filhos de Húrin seja conduzido
    por uma série de ironias dramáticas, e talvez por isso Appleyard pareça
    basicamente gostar do livro, apesar do uso de "provincianas",
    "pouco sólidas" e a menção de que Dungeons and Dragons "dominava
    quartos fétidos de universitários" em 1974 (fale pelo seu próprio quarto,
    meu chapa) –, tudo com a intenção de mostrar que Appleyard é realmente um dos
    meninos legais, com um gosto discriminante.

    Há também muita "profundidade" em Os Filhos de Húrin, mas a
    profundidade, como Gergely Nagy mostrou no melhor artigo escrito sobre Tolkien
    na década passada, está relacionada com o próprio conjunto de textos de
    Tolkien. Ao contrário de outras fantasias imitativas, a obra de Tolkien produz
    a "sensação" de se estar lendo um mito. Suas camadas de poemas,
    histórias, anedotas, anais e rascunhos funcionam para produzir o tipo de
    textualidade possuída, por outro lado, apenas por obras que foram tratadas por
    muitos escritores e leitores no decorrer de muitos séculos. Nenhuma outra
    pessoa conseguiu esse feito, antes ou desde então: não Joyce, Pound, Eliot,
    Morrison, Rushdie ou mesmo Eco (Borges talvez chegue perto).

    Ora, esse não é o único critério para a excelência estética, mas ao menos
    possui a vantagem de ser explícito: O Senhor dos Anéis, e agora Os
    Filhos de Húrin
    , dispõe-se a algo que era impossível anteriormente:
    escrever uma história nova que dê ao leitor a impressão de estar lendo uma
    história muitíssimo antiga. Não tenho muito tempo para a discussão inacreditavelmente
    tediosa "Tolkien criou uma nova mitologia?" (minha resposta: não no
    início, mas talvez ela esteja se tornando uma), mas creio que está claro que
    ele conseguiu fazer com que a sua obra parecesse ser mitológica em vez de
    inventada. Esse efeito estético não fazia parte do projeto modernista (e é
    possível que seja bem contrário a ele), mas ele, no entanto, é um efeito que
    muitos leitores sentem intensamente. Um bom crítico deveria tentar explicar os
    efeitos do livro sendo criticado.

    Meus alunos se divertem com a metodologia crítico-literária (muito) antiquada
    de comparar cada obra de literatura com Homero e Virgílio (60% tão bom quanto
    Homero e 75% tão bom quanto Virgílio, simplificando). Mas a crítica
    jornalística em voga parece estar fazendo exatamente isso, sem o benefício de
    nomear os modelos ou de reconhecer a metodologia.

    Porém, talvez pudéssemos resolver muitos problemas tornando oficial uma nova
    máxima. Chame-a de lei de Dyson: É impossível que a boa literatura inclua um
    Elfo.

    Não acredito que tal regra tenha sido provada alguma vez, mas a impressão que
    fica é a de que muitos críticos a aceitaram como absoluta. Eu adoraria ver as
    linhas gerais do argumento.

    — 

    Michael D. C. Drout é Professor de Inglês na Wheaton
    College, em Norton, Massachussets, E.U.A, onde leciona Inglês Antigo (Anglo-Saxão),
    Inglês Médio, literatura medieval, fantasia, ficção científica e produção
    textual. É autor de Beowulf
    and the Critics
    , J. R. R. Tolkien Encyclopedia e editor do jornal
    literário Tolkien Studies.

    (Fonte: Wormtalk and Slugspeak)

     

  • "Por que demoraram tanto?", uma resenha de Os Filhos de Húrin

    Trinta anos depois de sua morte, Tolkien
    produziu um novo romance – com uma pequena ajuda de seu filho. Poderia esse
    grande mito levar os leitores de volta à Terra-média?
     

    Esta
    é, como colocou o neto de Tolkien, Adam, a "versão do diretor" de Os
    Filhos de Húrin – embora eu não tenha certeza se o diretor em questão é o
    pai ou o filho.

    Porém,
    o próprio fato de ser esse o modo pelo qual o livro surgiu aponta para uma das
    mais reveladoras estranhezas da obra de Tolkien. Ele não era, primeiramente, um
    romancista e, como sugeriu A. N. Wilson, não era realmente um escritor. A
    tarefa a qual ele se propôs foi a de criar o mundo, a Terra-média, que veio
    antes do nosso. Ele assim o fez através de mapas, etimologias, raças inventadas
    – principalmente elfos e orcs – e vastas e indecifráveis genealogias complexas.
    Os livros surgiram dessa montanha de invenções curiosas. Contudo, eles sempre
    foram fragmentos do todo. Ao ler Tolkien, a pessoa fica constantemente ciente
    da vasta história de fundo que provavelmente jamais completamente conhecida
    pois, como um todo, ela encontrava-se apenas na cabeça de Tolkien. Os romances,
    em outras palavras, foram produtos derivados de um projeto muito maior.

    A
    acusação de Wilson de que Tolkien não era realmente um romancista deixará
    milhões horrorizados, mas ele tinha razão. O estilo de Tolkien – de fato, sua
    abordagem inteira – era derivado de poemas narrativos ingleses tais como Beowulf
    e Gawain e o Cavaleiro Verde, das sagas nórdicas e, especialmente no
    caso deste último livro, de Wagner. Essas eram histórias de heroísmo e magia,
    de valores absolutos, das últimas coisas. A abordagem óbvia para um autor
    contemporâneo que queira recuperar tais formas é atualizar o estilo delas e,
    talvez, colocá-las em um contexto contemporâneo. Isso enfaticamente não é o que
    Tolkien se propôs a fazer. Ele queria recriar o mundo e os idiomas daquelas
    histórias, ajustadas apenas marginalmente aos ouvidos modernos. Uma frase do
    primeiro parágrafo de Os Filhos de Húrin confirma isso: "Sua filha
    Gloredhel casou com Haldir, filho de Halmir, senhor dos homens de Brethil; e,
    na mesma festividade, seu filho Galdor, o alto, desposou Hareth, a filha de
    Halmir."

    Essa
    é uma escrita demasiadamente "retrô".

    O
    pensamento moderno está claramente sendo arrastado pelo pescoço para longe de
    sua zona de conforto literário. O argumento de Wilson foi o de que, tendo feito
    esse gesto, o interesse de Tolkien no estilo terminara. Ele o compara a Iris
    Murdoch: "Na verdade, Murdoch e Tolkien tinham isso em comum, embora
    dificilmente pudessem ser mais diferentes em outros aspectos: como Murdoch,
    Tolkien não se preocupava com o 'estilo', simplesmente fazendo uso, onde O
    Senhor dos Anéis estava em questão, de sua prosa sub-William Morris".

    Isso
    está exatamente correto. Anos atrás, desisti de O Senhor dos Anéis e O
    Hobbit precisamente porque a prosa parecia ser completamente superficial,
    sem nenhuma das tendências mais profundas que constituem uma boa ou excelente
    obra. Minha fome infantil por fantasia foi saciada pela inteligência, elegância
    e poder da série de romances de T. H. White O Único e Eterno Rei. Depois
    disso, Tolkien pareceu raso e freqüentemente puritano, de uma maneira
    provinciana e "dônica" [N.T.: "dônica" = relativa aos dons
    de Oxford, como Tolkien]. Concordei inteiramente a afirmação de um certo Hugo
    Dyson, ao ouvir Tolkien ler uma parte de O Senhor dos Anéis: "Não
    outra mer** de elfo".

    Dito
    isso, Os Filhos de Húrin é um tipo diferente de maçada. Não desisti de
    lê-lo, principalmente porque um estilo intenso e muito adulto o salva das
    falhas de suas outras obras. A prosa ainda é mais gestos do que profundidade,
    mas há um sentimento real de grande seriedade. Não é uma história para crianças
    como O Hobbit e é muito mais sombrio do que O Senhor dos Anéis. É
    Tolkien no modo wagneriano. De fato, pode ser possível dizer que é o echt
    Tolkien [N.T.: echt = "genuíno", em alemão]. A popularidade de
    suas outras obras pode bem tê-lo desviado da seriedade e intensidade da sua
    visão da Terra-média. Ele era um católico devoto, e embora o cristianismo não
    esteja explicitamente presente, há um desenrolar dramático de história e
    salvação no decorrer da obra. Esse era um homem que realmente queria dizer
    aquilo com o que dizia. Mas por quê? O que tudo isso queria dizer? A primeira e
    mais óbvia afirmação a se fazer é sobre o contexto. A Terra-média nasceu nos
    dias sombrios da primeira guerra mundial e O Senhor dos Anéis foi
    escrito durante e logo após a segunda. Seria absurdo ver os senhores do mal
    Morgoth e Sauron como o Kaiser e Hitler; Tolkien de fato sempre negou qualquer
    intenção alegórica. Entretanto, seus sonhos de lutas antigas e épicas entre o
    bem e o mal parecem um modo de dar sentido à matança sem sentido e globalizada
    do século XX.


    mais uma peculiaridade nisso. Tolkien é visto convencionalmente como uma figura
    antimodernista. Ele tinha aversão à tecnologia, e sua busca pelo antigo parece
    ecoar aquelas dos Pré-Rafaelitas e do fantasista gótico Augustus Pugin,
    projetista do Palácio de Westminster.

    Isso
    pode ser visto como escapismo, uma rejeição do engajamento modernista com o
    presente e o futuro, mas não tenho certeza se isso é realmente justo. Compare,
    por exemplo, o projeto de Tolkien com duas das maiores obras da literatura
    modernista. Ulisses de James Joyce conta a história da vida comum de um
    dia de Dublin como uma recapitulação da lenda do herói errante grego. A
    Terra Desolada de T. S. Eliot é um panorama mitológico, baseando-se nas
    histórias do passado para lançar uma luz devastadora sobre a condição do
    presente, a coisa toda assombrada pelo espectro do colapso mental.

    Em
    outras palavras, embora completamente diferentes (e artistas muito superiores),
    esses escritores estavam fazendo algo similar a Tolkien: tentando lançar uma luz
    sobre o presente ao adaptar as histórias e mitologias do passado. O projeto de
    Tolkien, na verdade, era mais como simples escapismo – seu passado, afinal de
    contas, era inteiramente invenção sua – mas isso não diminui a importância
    desse projeto como um sintoma fundamental da condição moderna.

    De
    fato, em virtude das vendas e do impacto cultural global das histórias da
    Terra-média de Tolkien, seria insano tentar diminuir a importância de seu
    projeto. Esses livros claramente se fizeram sentir na atualidade. Há uma
    demanda, não exatamente por fantasia – tanto Christopher e como Lee concordam
    que não querem que Tolkien seja confinado confortavelmente ao gênero da
    fantasia –, mas por histórias que pareçam melhores, mais grandiosas, maiores e
    mais estranhas do que as narrativas monótonas do mero presente. Enquanto O
    Senhor dos Anéis encontrava-se no meio de sua ascensão nas listas de livros
    mais vendidos ao redor do mundo, o jogo de tabuleiro Dungeons & Dragons,
    vendido pela primeira vez em 1974, dominava quartos fétidos de universitários.
    Hoje, seriam jogos de computador igualmente fantásticos, como World of
    Warcraft. A magia, em uma era de descrença, persiste em curiosos intervalos do
    contemporâneo.

    Além
    disso, tanto os filmes de Star Wars como os livros de Harry Potter confirmam o
    anseio contemporâneo pela narrativa grandiosa e mágica. Glaurung, o dragão,
    parece-se muito com Jabba o Hutt, e a espada falante de Turin poderia pertencer
    a Harry. Parece haver uma necessidade, em todas as culturas modernas, pela
    história que transcenda tempo e espaço, que, ao escapar dos pormenores e
    compromissos do presente, trate diretamente das questões fundamentais da vida.
    Se o Tolkien provinciano eleva nossa vista acima do mundano com sua prosa
    precipitada e gestual e suas mitologias extravagantes, então quem sou eu para
    reclamar? De qualquer forma, como um livro, não apenas como um fragmento de um
    projeto, Os Filhos de Húrin, de seu próprio modo pouco sólido, porém
    também digno de admiração, funciona.

    Seis
    mil anos antes de Bilbo Bolseiro encontrar o anel de Sauron, nasceram Turin e
    Nienor, filhos de Hurin, chamado de O Inabalável, senhor de Dor-lomin, esposo
    de Morwen. Turin guerreou com Morgoth e matou Glaurung, o primeiro dos dragões
    de Morgoth. Mas…

    Não,
    é melhor eu não continuar. O enredo de Os Filhos de Húrin de J. R. R.
    Tolkien está prestes a emocionar e intrigar milhões. O livro possui uma tiragem
    inicial de 500.000 exemplares ao redor do mundo, mas isso será apenas o começo.
    O Senhor dos Anéis de Tolkien vendeu 150 milhões de exemplares –  50 milhões desses desde que os filmes de
    Peter Jackson foram lançados. Outros 50 milhões de exemplares de outros
    Tolkiens, principalmente O Hobbit, também foram vendidos. É seguro dizer
    que o "grande conto" de Turin está prestes a se tornar um mito
    global.

    O
    livro foi restaurado pelo filho de Tolkien, Christopher, a partir dos escritos
    reunidos de seu pai. A história foi iniciada em 1918, mas nunca foi formalmente
    organizada em um romance. Christopher agora realizou isso, usando, diz-se,
    apenas as palavras de seu pai, com poucas mudanças gramaticais. Em teoria, isso
    levanta possibilidade de restauração de outros grandes contos deste período – A
    Queda de Gondolin, Beren e Luthien foram sugeridos, e A Balada de Leithian – mas,
    na prática, nenhum desses parece estar no estado completo, porém disperso, de Os
    Filhos de Húrin. Esse provavelmente será o último conto completo de
    Tolkien.

    O
    momento é significativo. Os filmes mudaram fundamentalmente o status dos
    livros. Como me conta Alan Lee, o ilustrador de Os Filhos de Húrin e
    vencedor do Oscar pela direção de arte dos três filmes, há algo literal sobre o
    filme. Ao desenhar para Jackson, ele se viu tendo que detalhar cada nuance.
    Enquanto Tolkien podia rabiscar em uma página de prosa, a audiência do cinema
    moderno quer a coisa toda na tela. Além do mais, foi criada uma geração de fãs
    de o Senhor dos Anéis – mas não necessariamente de leitores de Tolkien. A
    ênfase deixou de estar nos livros.

    Isso
    parece explicar, pelo menos em parte, pontualidade de Os Filhos de Húrin.
    Christopher falou pela primeira vez com David Brawn, diretor de publicações da
    HarperCollins, sobre o livro há dois anos, quando o rebuliço dos filmes estava
    pronto para diminuir. Brawn acredita que foi uma clara tentativa de trazer a
    obra de seu pai de volta às páginas impressas. E de fato, para Lee, foi uma oportunidade de escapar do
    literalismo dos filmes e voltar para o seu estilo assombroso, sugestivo e muito
    inglês de contos de fadas.

    Contudo,
    um novo Tolkien póstumo é um risco. Em 1977, a publicação de O Silmarillion
    foi criticada porque o livro incluía interpolações de Christopher. A acusação
    era de que o espólio estava explorando o legado. O livro foi chamado em
    zombaria de "The Sell-a-Million" [N.T.: trocadilho com o nome
    "Silmarillion"; literalmente "O Vende-um-Milhão"]. A
    implicação era a de que Tolkien estava se tornando uma marca em vez de um
    autor, um processo certamente acelerado pelos filmes. Por outro lado, é
    trabalho dos executores literários encontrar bons materiais não-publicados. Se
    Christopher não fez mais do que amarrar uma história coerente a partir da prosa
    de seu pai, não vejo muito problema. Ele apenas fez o que seu pai pretendia.

    (Fonte: Times
    Online
    )

  • Trailer de The Children of Húrin

    A HarperCollins, editora das obras de Tolkien no Reino Unido, criou um "trailer" para o aguardado "The Children of Húrin", a ser lançado dia 17 de Abril no exterior.

    Confira o trailer no site da Tolkien.co.uk

     
  • Mimos para os primeiros compradores de "The Children of Hurin"

    Para o lançamento mundial de "The Children of Hurin", a Tolkien Society e a livraria Waterstone's oferecerão um mimo para os primeiros 50 compradores do livro: as cópias virão assinadas por Christopher Tolkien.
     
     
    Outro agrado para os fãs é a presença de Alan Lee, que assinará livros das 10 da manhã até às 3 da tarde. O lançamento também contará com a presença de Bernard Hill (que interpretou Théoden na trilogia O Senhor dos Anéis), fazendo uma leitura do primeiro capítulo do livro.
     
  • Esta é para morrer de inveja

    Não sendo o suficiente o fato de que o pessoal lá de fora logo terá o gostinho de poder comprar Os Filhos de Húrin, ainda por cima poderão fazê-lo de uma forma divertida. A comunidade tolkieniana da costa leste dos Estados Unidos está promovendo um grande evento para aqueles que ficarão na fila da Barnes&Noble no dia do lançamento, 17 de abril.

     

    O evento começará às 8:00h e contará com trívias (valendo prêmios), concurso de fantasia, leituras e muito mais. Dá para imaginar o cenário? Enquanto isso nós ficamos aqui, babando de inveja e lembrando com nostalgia das filas para as estréias dos filmes…

    Fonte: Tolkien Gateway 

  • Primeira Ilustração de 'The Children of Húrin'

    O site Tolkien Library disponibilizou a primeira ilustração de Alan Lee para "The Children of Húrin" (notem que a página tem um interessante contador para o dia do lançamento do livro, 17 de abril). A ilustração trata-se de Beleg Cúthalion partindo de Menegroth. Clique aqui para ver a imagem.
     
  • Conteúdo detalhado de "The Children of Húrin"

    O site Tolkien Gateway, publicou o conteúdo detalhado do livro "The Children of Húrin", a ser lançado em abril próximo. Segundo consta, a informação é proveniente de uma cópia preliminar da obra. Veja a seguir o que nos espera dentro do livro:
     

     

    • Prefácio (7)
    • Introdução (13)
    • Nota sobre pronúncia (28)
    • Narn I Chin Hurin (31)
    • O Conto dos Filhos de Húrin
    1. A Infância de Húrin (33)
    2. A Batalha das Lágrimas Incontáveis (52)
    3. As palavras de Húrin e Morgoth (61)
    4. A Partida de Túrin (66)
    5. Túrin em Doriath (80)
    6. Túrin entre os Proscritos (98)
    7. De Mîm o Anão (121)
    8. A Terra do Arco e Elmo (141)
    9. A Morte de Beleg (151)
    10. Túrin em Nargothrond (159)
    11. A Queda de Nargothrond (171)
    12. O Retorno de Túrin a Dor-lómin (182)
    13. A Vinda de Túrin a Brethil (192)
    14. A Jornada de Morwen e Niënor a Nargothrond (198)
    15. Niënor em Brethil (213)
    16. A Vinda de Glaurung (221)
    17. A Morte de Glaurung (234)
    18. A Morte de Túrin (248)
    • Tabelas (261)
    • Genealogias:
    1. A Casa de Hador e o povo de Haleth (262)
    2. A Casa de Bëor (263)
    3. Os príncipes dos Noldor (264)
    • Apêndices (265)
    1. A Evolução dos Grandes Contos (267)
    2. A Composição do Texto (281)
    • Lista de Nomes (291)
    • Nota sobre o mapa (319)
    ———-
     
    De quebra, confira o box da edição de luxo clicando aqui
  • The Children of Hurin: A Capa

    Esta semana noticiamos que foi revelada a ilustração da capa de "The Children of Hurin", feita por Alan Lee. Contudo, mostramos apenas a imagem desenvolvida pelo artista para o selo que enfeitará o livro. A capa em si é muito mais bonita. Clique aqui e veja.
    Em dezembro foi revelada a capa da edição holandesa do livro. Quem não conferiu ainda, pode vê-la clicando aqui. O livro será lançado dia 17 de abril. 
     
  • Revelada arte de Alan Lee para edição de luxo de "The Children of Húrin"

    Foi revelada a arte de Alan Lee que ilustrará a capa e a caixa da edição de luxo de The Children of Húrin. Para ver a imagem desenvolvida por artista para o selo que enfeitará o livro, é só clicar aqui. Lembrando que o livro tem como data de lançamento o dia 17 de abril, e também contará com outros mimos, como impressão em papel de alta
    qualidade e possuirá mais algumas coisas exclusivas a esta edição.