O turista que vai à Birmingham, Inglaterra, visitar Perrott’s Folly, a torre que supostamente influenciou J. R. R. Tolkien a criar o Pináculo de Orthanc – a torre construída por Númenóreanos e que é refúgio de Saruman, o Branco – pode ficar desapontado ao descobrir que esta curiosa torre não está aberta à visitação. Isso pode mudar, pelo menos por tempo determinado.
No próximo 26 de outubro, Perrott’s Folly estará aberta ao público, pois abrigará uma exposição de arte. Espera-se que boa parte do público que a visitará, no entanto, esteja mais curioso quanto à construção do que exatamente com a exposição, levando-se em conta sua suposta conexão com o criador da Terra-média.
A conexão Perrott’s Folly – Tolkien
A torre foi construída em Edgbaston, próximo à Birmingham, em 1758, em um magnífico parque de caça medieval, por John Perrott, um proprietário de terras local. Nunca se soube exatamente a real serventia dessa construção, mas o mais provável é que servisse de alojamento para hospedar os amigos abastados de Perrott, em época de caça, além de servir como símbolo de ostentação. No entanto, como todo lugar que já é mítico ou lendário, Perrott’s Folly também têm suas histórias não oficiais.
Conta-se que John Perrott usava a torre para observar o túmulo de sua falecida esposa, que ficava 24 quilômetros dali. Porém, antes de sua mulher morrer, Perrott usaria a torre para espioná-la, pois supostamente dava suas escapadelas com seu amante, o guarda-caça da região. Para ornamentar ainda mais as histórias que cercam a excêntrica torre, supostamente pode-se observar símbolos maçônicos no salão superior, e há até quem jure que o lugar têm passagens secretas e câmaras subterrâneas. Para visitar suas sete salas (uma por andar) é preciso percorrer 139 íngremes e sinuosos degraus. Em dias de ventos fortes e tempestades, a torre oscila perigosamente.
É esta estranha e um tanto sinistra torre que é creditada com sendo a fonte de inspiração de Tolkien na criação da torre Orthanc, de O Senhor dos Anéis. O autor viveu ali perto quando ainda era um menino. Para muitos fãs do autor, seria impossível que a sinistra sombra de Perrott’s Folly não tivesse exercido influência alguma sobre o jovem Tolkien, que mais tarde usou suas lembranças em seu famoso romance. Outro detalhe que colabora com essa história é que do alto de Perrott’s Folly, à curta distância, pode-se observar outra sinistra torre: a gótica e ornamentada torre da chaminé do sistema hidráulico de Edgbaston. O menino Tolkien passava por ela pelo menos duas vezes por dia, na ida e volta da escola, e viu muitas vezes a fumaça sair do alto da gótica torre. Estariam aí as origens das sinistras torres que povoam a Terra-média, nas histórias de J. R. R. Tolkien.
Caridade e Memória
No final do século XIX a torre foi adquirida pela Universidade de Birmingham e tornou-se um observatório astronômico. Funcionou até 1979, quando foi fechada em estado deplorável de conservação – e ainda se encontra assim. Em 2005 ela passou por reparos na estrutura para evitar que ruísse por completo, e no início de 2013 Perrott’s Folly foi “comprada” por uma instituição de caridade, a Trident Reach the People (que auxilia desabrigados e sem-tetos), por apenas 1 Libra Esterlina, um valor simbólico e para encorajar alguém a assumir a construção georgiana de 30 metros de altura e de mais de 250 anos.
O responsável pela instituição, Ben Bradley, é um aficionado por Tolkien, e pretende levantar 1 milhão de Libras para restaurar completamente o edifício e abri-lo permanentemente ao público. Apesar do estado de má conservação em que se encontra, a torre é aberta de tempos em tempos para abrigar exposições temporárias, de trabalhos geralmente feitos pelos atendidos pela Trident Reach the People, como a mostra de arte que acontecerá neste mês. Na torre também foi celebrado o centenário de J. R. R. Tolkien.
Bradley espera que o afluxo de turistas que visitam o local, procurando os lugares de inspiração de Tolkien e que fazem parte de sua história, aumente nos próximos anos e que possa ajudar, assim como os patrocínios e doações, a revitalizar a torre do século XVIII e o terreno a sua volta, que será usado como quartel-geral do voluntariado local, pois é uma região carente de programas de assistência social.
A esperança é que o dinheiro ajude a cumprir o seu sonho de transformar também os andares superiores e inferiores em espaço de exposições, mostrando o melhor do patrimônio local e preservar a ligação óbvia com Tolkien, o autor influenciado pela sombra de Perrott’s Folly e que mais tarde deitou sua própria sombra sobre o mundo da literatura contemporânea de fantasia desde que publicou O Senhor dos Anéis.
Fontes: The Guardian, Daily Mail, Birmingham.gov.uk
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