até o Silmarillion publicado, tornam claro que o personagem de Nienna
era central para a mitologia de Arda e da Terra-média. Não apenas um
Vala relacionado com piedade e sofrimento; mas um que possui um
importante “ingrediente” na realização da visão de Eru.
“central”, eu não me refiro a seu papel como um dos Aratar de Arda.
Tampouco quero dizer que ela era uma parte muito importante da história
– um personagem essencial ao redor da qual ações de muitos dos temas
principais do livro são exploradas e realizadas. Sim, ela era um dentre
os grande Valar, consequentemente importante para a história de Arda
devido a este fato. Mas o que quero dizer com “central”é que ela [junto
com Manwë, certamente] era uma das armas principais contra os desÃgnios
de Melkor.
O personagem de Nienna, como concebido ao tempo do
The Book of Lost Tales I, era o de uma “deusa da morte” [Qalme-Tari], e
a esposa de Mandos. Como um dos Valar associados com o “pós-vida” dos
Homens, ela julgava aqueles que vinham a ela “por todas a multidão de
danos que a música maligna de Melko[r] colocou no mundo. Assassinatos e
incêndios, fomes e desgraças, doenças e golpes no escuro, crueldade e
frio horrÃvel e angústiae sua própria estupidez”. Em pé em seus
corredores chamados Fui, ela poderia ler seus corações; alguns ela
poderia manter em Mandos, e alguns ela poderia dirigir para as mãos de
Melko[r], que poderia então levá-los aos Infernos de Ferro [Angamandi].
e outros ela poderia enviar “a bordo do navio negro Mornie – para serem
levados à s grandes planÃcies de Arvalin… lá eles erravam ao por do
sol, acampando como podiam… e esperavam com paciência até que o
Grande Fim chegasse”. Nienna também poderia conceder a alguns poucos
homens permissão para morarem entre os Deuses em Valinor!
Apesar do personagem de Fui-Nienna neste momento ser mplamente
diferente daquele que ela veio a ser em O Silmarillion, ele mostra que
a posição dela no inÃcio da concepção da mitologia de Tolkien era
importante. Tolkien a este tempo não tinha favorecido os Homens com seu
“dom especial” – mortalidade e a liberdade das fronteiras de Arda
[embora a idéia esteja presente] – e determinou a Nienna a
responsabilidade de julgar os Homens! També, a este tempo, tanto quanto
Makar e Measse, Fui-Nienna pode ser vista como um dos Valar “em
harmonia” com Melko[r] – não exatamente o auxiliando a espalhar
discórdia e mal, mas o aceitando como necessário para a história de
Arda mais do que os outros Valar. Como a temÃvel “Deusa da Morte”, ela
reconhecia e validava a presença de Melkor enviando-lhe alguns dos
Filho de Ilúvatar para serem punidos!
Entretanto, em uma
revisão do Quenta Silmarillion [Lost Road, Cap. IV], a mitologia com
relação aos Homens foi alterada, e o personagem de Nienna mudou com ela
também. A este ponto, a idéia dela como esposa de Mandos foi descartada
[para ser assumida por Vaire] e ela era agora irmã de Manwë e Melkor.
Não mais a temÃvel deusa da morte que era, como Tolkien escreveu “fria
aos Eldar e a tudo mais”, Nienna tornou-se mais relacionada com a
piedade e sofrimento: “Pois ela é uma curadora de ferimentos, e torna
dor em remédio e tristeza em sabedoria”. Agora, onde ela era
indiferente aos problemas dos Filhos, e mesmo inspirava melancolia e
desespero, ela esta agora em bvias de se tornar o que é em O
Silmarillion – uma Vala com o poder de curar e remover a maldade de
Melkor.
E como este pode era expresso? Nienna não era um dos
Valar “criadores” que meditava sobre os elementos constituintes de
Arda, ou qualquer coisa que crescia nela ou era alimentada por ela. Ela
não era uma guerreira, tecelã de tapeçarias, criadora de animais ou
fazedora de estrelas. O poder e influência do pensamento de Nienna
sobre a história de Arda não era tangÃvel ou facilmente visto como os
trabalhos de seus semelhantes. Era de uma natureza mais espiritual; um
ideal que poderia ser alcançado apenas pela paciência e esperança, e
através da tolerância à dor e ao sofrimento.
A morte das Duas
�rvores é um exemplo importante de seu poder, e do modo como o mal pode
ser transformado em bem. Quando Nienna regou as raÃzes moribundas das
Duas Ã?rvores após Melkor as ter destruÃdo com a ajuda de Ungoliant, sua
lágrimas ajudaram no nascimento da última fruta das duas árvores, que
se tornou o Sol e a Lua. Do mal de Melkor veio o sinal do retorno de
Fingolfin e seus seguidores à Terra-média, e o despertar dos Homens.
Este foram dois poderosos presságios que assinalaram a eventual queda
de Melkor.
Contudo, Nienna não estava em oposição direta aos
desÃgnios de Melkor, como Manwë era. Como o terceiro tema de Eru, seu
poder contra os desÃgnios destruidores estava na aceitação de seu mal e
seus efeitos sobre Arda, incorporando a dor e sofrimento dentro de si e
então tornando-se mais bela e poderosa por causa disso. E apesar de
sofrer por cada ferimento que Melkor infligia sobre Arda, ela continuou
a auxiliá-lo com suas preces por perdão quando Melkor foi levado ante
Manwë após seu “acorrentamento”, a expressão definitiva de sua piedade
pelos outros. Ela tanmbém comprendia o papel de Melkor e tinha piedade
dele por isso.
Varda pode ter iluminado as estrelas, e Yavanna
pode ter preenchido Arda como todos os tipos de vida [Kelvar e Olvar],
e Eru pessoalmente pode ter feito seus Filhos, mas foi Nienna que
tornou possÃvel a todos viver e suportar o sofrimento que Melkor
causou. E, através de suas lições de piedade e esperança, ela ajudava
na concretização plena dos desÃgnios de Eru com respeito a seus Filhos
Fontes: THE BOOK OF LOST TALES, pt 1, THE LOST ROAD, THE SILMARILLION
[tradução de Fábio ‘Deriel Bettega]