A vida como obra de arte

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Escrito por Anica

O novo artigo de Ana "Glaunir" Curcia fala de "Folha por Niggle", conto que nós aqui na Valinor também conhecemos como "Folha de Cisco"
(por causa da excelente tradução de Reinaldo José Lopes). Caso você
ainda não tenha conferido este conto de Tolkien, saibam que vocês podem
baixar aqui mesmo na Valinor a tradução completa e comentada de Tree and Leaf de Reinaldo José Lopes (basta clicar aqui). Com vocês, "A vida como obra de arte", de Ana "Glaunir" Curcia.
 
 
A vida como obra de arte

Recentemente lançado aqui no Brasil, o livro “Sobre Histórias de Fadas”
apresenta o conto “Folha por Niggle” – uma história forte e tocante –
relatada por Tolkien, sobretudo, com profunda delicadeza.

Ao contrário do que se pode pensar, é um conto intimista e sem nenhuma
relação com os ardorosos épicos publicados pelo tão reconhecido autor
inglês. A linguagem usada na obra é simples, direta e envolvente –
apesar do realismo aparente, esconde traços religiosos.

Niggle era um morador pobre de uma região interiorana (pelos traços
descritos seria uma área rural da própria Inglaterra) e adorava pintar.
Possuía um mural enorme com suas pinturas de folhas e que a cada dia
crescia mais, contudo Niggle sentia que jamais iria terminar a sua obra
de arte pois a qualquer momento iria ter que fazer a sua viagem.

O artista tinha um vizinho, Parish, cuja esposa certo dia ficou doente
e o teto da casa passou a desmoronar pela chuva. Ele pediu a Niggle que
fosse buscar um médico e aos empreiteiros para consertar seu telhado.
Após muito duvidar e reclamar, o artista vai até a cidade fazer o que
seu vizinho pediu. No meio do caminho e durante todo o percurso da
volta, cai uma chuva torrencial e ele acaba ficando doente também;
embora consiga fazer tudo aquilo que havia prometido a Parish.

Poucos dias depois chega a hora de Niggle fazer a viagem da qual
durante tanto tempo se esquivou. Ele embarca no trem com um quê de
tristeza e decepção, pois jamais concluíra a sua grande obra de arte.

Todas as suas telas com imensas pinturas são usadas para consertar o
telhado de Parish, exceto um único pedaço mínimo que ficou guardado no
museu da cidade por muito tempo e acabou sendo queimado em um incêndio.

Como disse, esta é uma das composições literárias mais diferente de
J.R.R.Tolkien. É um conto intimista porque aborda a forma como o
próprio professor Tolkien se sentia em relação à sua arte. Embora já
tivesse publicado “O Senhor dos Anéis”, a história da Terra-Média
sempre parecia se desenrolar mais na mente do professor e, embora ele
se sentisse velho e soubesse que iria morrer, sempre desejava continuar
a sua obra e sentia que jamais a completaria.

Sendo assim, a “viagem” de Niggle é a sua morte e o lugar para o qual
viaja é uma parte do Paraíso, no qual irá aprender sobre os seus erros
até que esteja apto a continuar – essa é a visão profundamente
religiosa da qual comentei.

Com relação à destruição do grande mural de Niggle, esta é a maior
amostra de amor que o professor Tolkien já demonstrou por sua própria
obra. Ele temia que após a sua morte e com o passar do tempo, “O Senhor
dos Anéis” e a Terra-média caíssem no esquecimento e pudessem ter a sua
beleza perdida.

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