O fedor da boca do warg é quente em meu rosto, e enquanto eu luto para me libertar dos arreios de couro que seguravam a criatura à sua sela, eu percebi que o tempo estava contra mim: o abismo se aproximava, e eu tinha certeza de que iria cair.
O tempo diminuiu a sua velocidade para um engatinhar, e cada lâmina de grama que voou com a nossa passagem foi percebida por mim. O cavaleiro goblin que havia desmontado estava mortalmente ferido, e enquanto a besta corria para o penhasco, a sua risada horrível ecoava em meus ouvidos.
/Arwen…/
É a luz dos olhos dela que eu vejo quando a escuridão começa a se apoderar de mim.
/…meu amor…/
As correntes batem contra o meu corpo, levando-me rapidamente através do grande rio de Rohan.
/Undomiel./
Minha donzela da noite; a estrela vespertina do seu povo. Com olhos da minha mente eu posso vê-la, e ele sussurra uma palavra que traz aos meus membros congelados força para bater contra as correntes desesperadoras.
*Lute.*
Minha cabeça quebra a superfície d'água e eu arfo por fôlego, tonto pela falta de ar.
O corpo do warg tinha sido levado pelo corrente para mais longe, e os seus urros há muito haviam cessado.
Meus músculos queimam enquanto eu luto contra a corrente, tentando com muito esforço manter minha cabeça flutuando.
*Lute, Estel…*
Novamente as palavras vêm até mim, e a suave carícia da sua mão alva paira pela minha fronte. E neste momento, se são lágrimas ou a água do rio que molha o meu rosto, eu não sei.
/Arwen…/
Eu luto contra as águas com toda a minha força, impulsionado apenas pelo desejo de retornar para ela e nada mais.
Minutos parecem horas enquanto eu continuo a lutar contra as águas turbulentas, e quanto tempo eu fiquei assim eu não sei dizer. Quando eu finalmente senti a correnteza acalmar, meus membros exaustos relaxaram na corrente.
Ainda estou longe da margem, mas a água é como uma carícia nesta parte do rio, e eu sei que eu não vou afundar.
Minhas pálpebras ficam pesadas enquanto o céu começa a escurecer, e mesmo tentando ao máximo, eu não consigo evitar a inconsciência de clamar os meus sentidos.
***
"Você fica lindo quando dorme, Estel."
A voz da minha senhora é tão doce quanto o mais maduro néctar, e acordar com ela a faz ainda mais doce.
"Minha senhora," eu murmuro, enquanto as suas pequenas e alvas mãos acariciam o lado do meu rosto. "Eu tenho sentindo tanto a sua falta."
"E eu de você, meu amor," ela sussurra em resposta, seus lábios curvando-se gentilmente.
Ela se debruça sobre mim, a seda suave de suas vestes espalhando-se sobre minha forma. Eu absorvo o seu cheiro em profundas respirações – mel e damasco no ar suspenso da noite – e ela ri.
"Você respira como um homem sedento beberia água,” ela diz.
"E assim eu sou," digo eu, e quando ela me beija é como se tudo no mundo estivesse certo.
Um pequeno gemido escapa dos meus lábios, e eu estendo a minha mão para segurar a dela.
"Não me deixe," Eu digo implorando, enquanto nos separamos. "Eu não posso suportar este fardo sozinho…"
"Eu não posso deixá-lo, pois você me leva dentro do seu coração sempre,” ela diz em resposta, e me beija mais uma vez.
Eu me aquieto com as suas palavras e a sensação da sua boca contra a minha, e quando os meus olhos se abrem, eles brilham com lágrimas não derramadas.
"Tenha esperança, Aragorn filho de Arathorn," ela sussurra. “Se você não acreditar em mais nada, acredite em nós…”
E então ela me deixa, minha estrela vespertina, e eu acordo ao som de água correndo e o sol quente da manhã batendo em mim.
"Arwen…" eu sussurro, e enquanto eu olho o sol no alto, vejo a sua face nas nuvens.
*Lute, Estel…*
E eu sorrio, pois sei que ela ainda está comigo.
"Eu lutarei."
*fim*