Às vezes, pego-me admirando as chamas da indústria petroquímica de Capuava. Aquele fulgurante sinal de que fizeram cagada e estão queimando as provas do crime. Vendo o bruxulear daquelas labaredas, não consigo parar de pensar quão parecidas somos. As chamas e nossas vidas.
E penso que o justo seria podermos brilhar pelo tempo que nos é concedido. Viver se você me entende. Mas a vida parece injusta: quando nossa luz brilha mais forte, alguém vem soprar as velas.
Por brilhar, não quero dizer apenas fazer sucesso no mundo, ficar rico. Por brilhar eu quero dizer: fazer queimar aquela parte mais íntima de nossa alma, aquela de gente “que sabe e faz a hora, não espera aconteceer”.
Perdi a conta, sabe? De histórias de pessoas que se doaram por completo, fizeram acontecer… e suas chamas bruscamente apagadas, suas vidas extintas deste mundo.
Às vezes é uma médica que atendia na periferia e é morta na frente da clínica de atendimento gratuito. Outras vezes, um bombeiro que salva uma vida, mas voltando para casa é assaltado e morto. As vezes, uma criança… que ainda não teve tempo de dar sua contribuição (sei lá… de repente ela crescia e inventava a cura do cancer) e nos é tirada bruscamente de nós.
Gente que se doa… que faz esse mundo ficar um pouco melhor.
Essas chamas logo se extinguem. Consumidas por nossa apatia, por nossa incapacidade de assumir nossas responsabilidades. E nosso mundo caminha cada vez mais para a merda.
Mas se as coisas boas morrem e só ficam as merdas… não é de espantar que o mundo seja uma merda, não é mesmo? A mesma coisa com as pessoas: as pessoas boas morrem e só ficam os vasos ruins que não quebram.
O pessoal fala com temor de cultos satânicos. Acho que nós – a humanidade como um todo – já somos um culto satânico. Idolatramos as chamas da destruição, não as chamas que dão calor e proteção. Sacrificamos ovelhas para deuses da ganância, ambição e egoísmo. Deixamos morrer pessoas boas, pessoas que querem fazer um mundo melhor enquanto o sacrifício delas é usado para salvar gente que não merece nem lamber o chão onde elas descansam em paz.
Eu queria muito… que as pessoas parassem de esperar acontecer. Que elas se doassem mais sem esperar coisas em troca. Que tentassem fazer um mundo melhor, porque é do interesse delas também.
Queria que a vida daqueles que morreram e se sacrificam por nós pudesse ficar mais longa. E ficaria se todos tomassem as rédeas e responsabilidades de suas vidas, se todos parássem de ficar culpando os outros, parássem de ficar escondendo-se de suas obrigações. Parássem de exigir direitos que alguém conseguiu para eles e lutar também para que o mundo seja mais justo e melhor.
Queria que a chama da vida fosse tão intensa, que sua luz transfigurasse a Terra na terra prometida, Que criássemos Valinor.