A Paixão dos Edain – Parte 1, Pressa em Lothlórien

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Escrito por ungoliant

A Falha dos guardiães

Rúmil maldizia a si mesmo ao correr entre as árvores: Como aquela coisa passara por ele? Como conseguira chegar tão longe nos domínios da Senhora? Ele e seus irmãos tiveram de seguir seus rastros por horas, mas agora já avistavam a presa.
Os três elfos corriam silenciosamente para cercar a criatura esquiva. Na última meia hora não fora mais necessário inquirir a floresta sobre as marcas de sua passagem: bastara seguir o cheiro desagradável que agora ia se adensando.

 

Rúmil preparou a flecha em seu arco ainda correndo, mas foi detido pelo sinal de Haldir, seu irmão mais velho e Capitão dos guardiões da fronteira. Embora a criatura tivesse odor e aparência desagradáveis, Haldir sabia que não era um orc, e precisava se certificar do que era antes de atirar.

Avançando pela floresta com rapidez, mas sem correr, a coisa constantemente perscrutava o chão, em procura de algo, e a retaguarda, como se houvesse deixado algum perigo atrás de si.

Rúmil, Orophin e Haldir cercaram-no silenciosamente, mas no último momento o alvo sentiu mais que percebeu sua presença, e em sua mãos surgiu um galho pesado e longo o suficiente para atingir as setas dos dois primeiros e ser atirada contra o terceiro, ao mesmo tempo em que a criatura iniciava uma corrida desesperada.

– Não atirem! – comandou Haldir, interrompendo a ação dos irmãos, e correndo atrás daquilo que tinha reconhecido como um humano. Era preciso agora descobrir quem ou o que era aquele Edain, e como viera parar em Lothlórien.

Haldir alcançou o homem e os dois caíram ao chão para rapidamente se pôr de pé. O novo galho usado como arma não surpreendeu o Capitão dos galadhrim desta vez, e o braço que o empunhava foi imediatamente torcido. O Edain se contorceu violentamente tentando escapar, mas de repente começou a escorregar para o chão, o braço flácido sob as mãos do elfo, um gemido estrangulado na garganta. Haldir percebeu uma onda de dor assomando o corpo dobrado ao meio, e se abaixou até ele para entender o que acontecia.

Afastando a imunda massa de cabelo negro que cobria a figura, o capitão de Lórien descortinou um quadro inaudito: dois braços esquálidos apertavam um ventre protuberante por entre trapos encardidos e esfarrapados. O Edain era uma mulher, uma mulher grávida.

 

O Odor da agonia

Estarrecidos, os irmãos sentiram um odor que era pura agonia exalando daquele corpo. O cheiro azedo do sofrimento suplantava tão completamente todos os outros odores desagradáveis que os elfos já pudessem ter experimentado, que a piedade pelo destino dos Edain cresceu em seus corações. Os três irmãos já tinham visto a morte de várias criaturas, mas uma agonia avassaladora como aquela, a ponto de exalar pelos poros de forma tão contundente, era algo novo para eles.

Ainda ajoelhado, Haldir dirigiu palavras de conforto à mulher, estendendo-lhe a mão. Olhos de fera voltaram-se para ele, e o rosnado de uma fera foi sua resposta. Subitamente a dor atingiu aquele olhar, e o rosnado transformou-se num gemido sufocado, a respiração novamente suspensa.

A mulher devia estar morrendo alguma forma de morte horrível dos homens, pensou Orophin, o mais novo dos irmãos. Aos poucos os olhos entraram em foco novamente, mas sua expressão agora era de súplica. Haldir lentamente chegou suas mãos próximas àquele farrapo e da melhor forma possível afastou a massa espessa, suja e negra de cabelo para o outro lado do rosto descarnado. Como quem procura ganhar a confiança de um animal selvagem, começou a passar a mão nas costas da mulher com palavras suaves

– Calma, calma…

Haldir sentiu que finalmente a mulher começava a relaxar, quando uma série violenta de espasmos tomou seu corpo novamente, até que, com um ruído gutural, ela regurgitou pela boca uma água fétida. As narinas dos elfos se contraíram, e seus olhos procuraram se desviar daquele quadro de miséria.

Entretanto a edain parecia ter obtido algum alívio. Sua respiração se foi acalmando. Suas vestes estava molhadas de suor, mas os poros já não exalavam mais tanta agonia. Enfim ela apoiou uma mão no chão e começou a aprumar o corpo lentamente, a outra mão afastou-se do ventre e procurou a mão estendida do Capitão de Lórien. Enquanto Haldir a ajudava a levantar, seus olhos se encontraram, e Haldir leu confiança naqueles lagos negros antes que eles se fechassem.

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A Jornada do desespero

Os irmãos conduziram o corpo inerte até um dos muitos talans – plataformas suspensas utilizadas pelos guardiões da fronteira – espalhados ao longo da floresta do Reino de Lothlórien.

Rúmil e Orophin correram a buscar água, aproveitando para lavar a sujeira pestilenta que aderira neles durante o transporte da mulher; mas retornaram rapidamente, depositando ânforas aos pés do estrado onde Haldir havia acomodado o corpo da Edain. Vestiram roupas limpas e voltaram para ajudar o irmão, que já havia começado a limpá-la com um pano úmido. Com nojo retiraram o vestido roto e grosseiro, apenas para descobrir que não havia nada embaixo, só ossos.

Três vezes os irmãos lavaram aquele corpo descarnado, em total desacordo com o ventre intumescido; três vezes a agonia reclamou-o como seu, invalidando seus esforços.

– Ela deve estar morrendo, Haldir, envenenada ou atingida por alguma doença terrível dos homens – tornou a dizer Orophin.

– Não – respondeu Haldir – Ela está em trabalho de parto.

Os irmãos mais novos encararam o mais velho.

– Se o surgimento de novos Edain significasse todo esse sofrimento, eles não se multiplicariam com a velocidade que o fazem– retrucou Rúmil – Há alguma coisa muito errada com essa mulher.

– Aye. Sim, muitas coisas – ponderou Haldir – Ela deve estar passando fome há meses e parecia claramente estar fugindo de alguma coisa … mas não está ferida, e se estivesse envenenada não teria avançado tanto em Lórien. É seu corpo que não está encontrando um caminho para a criança.

– Mas é preciso fazer algo, o sofrimento dela está se gravando em minha alma. – disse Rúmil.

Haldir lançou um olhar pesado ao irmão; as mulheres de seu povo tinham seus filhos suavemente, o que poderia ele saber sobre o parto das mulheres humanas, ainda mais um que não podia estar correndo naturalmente.

– Vamos levá-la até a Senhora, ela saberá o que fazer – disse Orophin, o caçula.

– E ousar perturbar a Senhora Galadriel com a desventura de uma Edain que nunca deveria ter entrado em Lothlórien? – Perguntou Rúmil

– Mas entrou, e agora não podemos conspurcar o Reino da Floresta negando-lhe auxílio. – Respondeu o jovem.

– Caras Galadhom está há mais de um dia de corrida veloz. – disse Haldir olhando para Orophin.

– Eu irei – respondeu Orophin.

– Ela não consegue andar –
argumentou Rúmil.

– Eu a carregarei! – respondeu de novo Orophin.

– Eu irei com você. – declarou Haldir.

Rúmil apressou-se em cumprir a ordem de reorganizar os galadhrim da fronteira para que cobrissem suas posições. Já que seus irmãos iam, ele iria com eles.

Haldir e Orophin vestiram a mulher com uma túnica grande, que lhe aos joelhos, e enrolando-a numa capa partiram imediatamente.

Rúmil corria e saltava com a velocidade do vento para alcançar os irmãos e revezar-se com eles no transporte da carga.

As forças da mulher esvaíram-se por completo, impedindo que ela tivesse consciência do que acontecia. Seu corpo se enrijecia à chegada das ondas de dor, mas ela já não se debatia mais, e era um fardo leve de ser carregado para os poderosos guardiões.

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